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domingo, 27 de outubro de 2013

Proposta Indecente

Cap 9 ao Cap 13


9° Capítulo 


Tentar descobrir por que ele estava ali era inútil. Mas sem dúvida sua presença em pessoa significava algo.


- Sim.


Ele tinha as cartas na mão. Era só começar a jogar. Arthur ergueu uma sobrancelha.


- Há algum lugar onde possamos conversar?


O estômago de Lua deu um nó.


- Existe um parque perto daqui.


- Seu apartamento seria melhor.


É claro que ele investigara onde ela morava.


- A dona do lugar proíbe visitas.


Arthur podia imaginar.


- Entre no carro, Lua, eu a seguirei.


Cinco minutos depois Arthur estacionava próximo aos dois, velhos prédios de tijolos. O portão estava quebrado, a tinta das caixas de correio, descascada, e a grama, alta.


- Segundo andar. - Ela passou pela entrada da frente e foi até as escadas, ciente de que Arthur a seguia.


O cheiro de comida atravessava as paredes finas, que não eram pintadas fazia anos.


O apartamento dela era o que Arthur esperava. Avistou um fogão portátil; embaixo do balcão, um frigobar. Uma pia e uma tomada. Concluiu que a porta à direita daria para um minús­culo banheiro.


Um sofá-cama, uma escrivaninha com um laptop, uma cadeira à esquerda. O básico. Ele vivera em condições muito piores.


- Quer sentar-se?

 - Eu fico de pé.


Arthur perceberia o quanto o lugar parecia menor com sua presença? Era alto demais, grande demais.


Ele notava o nervosismo dela, quase podia senti-lo, e admi­rava-lhe o autocontrole.


- Preciso marcar uma hora para você encontrar-se com meu advogado.


Lua juntou as mãos.


- Isso é um "sim", sr. Aguiar?


Arthur não queria dar margem a mal-entendidos.


- Estabeleci minhas condições. - Seu olhar era direto, in­flexível. - É fundamental que você as compreenda.


Um "sim" condicional, baseado nas exigências dele. O que a fez imaginar que seria diferente?


- Só tenho tempo disponível entre as três e meia e cinco horas.


Ele apanhou o celular, discou alguns números, iniciou uma conversa rápida e desligou.


- Às quatro da tarde, amanhã. - Arthur puxou um cartão e fez algumas anotações. - Nome e endereço.


Lua baixou a cabeça.


- Obrigada. Mais alguma coisa?


- Por ora, não.


- Então, se me der licença... - Foi até a porta, girou a maçaneta e ficou esperando Arthur sair. Percebeu um discreto divertimento e um sorriso sutil quando ele passou.






continua




10° Capítulo 


Arthur fechou a porta e recostou-se nela por um longo mo­mento, até que as batidas de seu coração voltassem ao normal. Então, foi até a sacola e escolheu um livro. Tinha de preparar a aula do dia seguinte.


Selecionou os pontos que queria enfatizar. Depois, fez torra­das, esquentou uma lata de feijão e comeu a refeição improvi­sada antes de ir para o chuveiro.


O estado do pai não se alterara. Lua ficou ao seu lado por quarenta minutos, e foi para o Darlinghurst.


O pequeno restaurante estava mais cheio do que de costume. Lua ficou até tarde para satisfazer o dono italiano, que parecia estar ainda mais temperamental. O ruído dos pratos era ensurdecedor, o serviço, feito às pressas, o som de vozes, animado. Até os clientes pareciam mais exigentes.


Foi um alívio sair e ir para o carro.


Estava a apenas três metros dele quando estremeceu. Virou­-se e viu que dois garotos a cercavam, um puxava sua bolsa, o outro tinha algo na mão.


A reação de defesa foi automática, o chute, bem dado, mas estava em desvantagem e logo sentiu um corte no braço. As luzes de faróis se aproximando a salvaram de algo pior, e os garotos correram.


Na pressa, deixaram a bolsa cair. Lua a recolheu, veri­ficou a carteira e correu para seu carro. Travou as portas e ligou o motor.


Não parou nem para checar o braço, apenas dirigiu até al­cançar seu prédio. Foi só sob a luz forte que percebeu que o corte profundo requeria pontos.


Para quem ligar àquela hora? Ninguém decidiu, enquanto envolvia o braço em uma toalha, pegava a bolsa e voltava ao carro.


Havia um hospital público não muito longe. O pronto-socorro daria conta do ferimento.


Foi atendida após duas horas de espera. Havia casos mais urgentes.


Já passava das três quando Lua retornou. Tomou o se­dativo que o médico receitara, puxou o sofá-cama e entrou de­baixo das cobertas.


Analgésicos a ajudaram a agüentar as aulas do dia seguinte. Lua usou uma jaqueta, e ninguém suspeitou que levara dezesseis pontos no antebraço, e que estava morrendo de dor.






continua




11° Capítulo  


O escritório do advogado de  Arthur ficava em um dos prédios envidraçados do centro. Ela estacionou nos ar­redores e pegou um ônibus.


Chegou um pouco antes das quatro, e mal se sentara para esperar quando uma mulher elegante surgiu na recepção e a acompanhou até a luxuosa sala, na qual um homem de quase quarenta anos a recebeu.


- Srta. Blanco, sente-se por favor. - Indicou uma das quatro confortáveis cadeiras e voltou para seu lugar atrás da escrivaninha. - Arthur se atrasou.


0 cavalheiro apanhou três documentos e se ateve ao primeiro.


- Mas podemos começar sem ele. - Entregou-lhe três có­pias. - Examinemos o contrato.


O rapaz era direto, Lua reparou, e esclareceu cláusula por cláusula. Todas as possibilidades foram consideradas. Ela ficou consternada por ter de morar na casa de Arthur. Uma amante em geral ficava em um aparta­mento próprio, atendendo quando solicitada.


Arthur  também aumentara o período de doze para quinze me­ses. Por que Lua imaginara que podia impor-lhe condições?


Ele também podia terminar o relacionamento a qualquer mo­mento, durante aquele período, mas ela não. Se Arthur o fizesse, Lua teria de pagar o correspondente aos meses restantes.


Não tinha como escapar, como negociar. Arthur a tinha na palma da mão, legalmente.


Arthur entrou quando Lua começava a examinar o segundo documento.


Ela lhe dirigiu um olhar breve e frio.


O acordo pessoal abrangia questões íntimas e envolvia exa­mes de saúde e de sangue. Lua se sentiu ofendida, quase insultada. Ficou vermelha, e só se acalmou quando viu que Arthur já se submetera aos mesmos exames.


- Uma precaução necessária - o advogado explicou com de­licadeza, diante de sua perplexidade com a lista de exigências. Ela leu tudo com muita atenção, e esclareceu todas as dúvidas.


- É claro que você é livre para rejeitar essas exigências. Livre para ir embora daquele edifício e não ter nada com Arthur. Mas, se o fizesse, herdaria uma dívida de meio milhão de dólares, o que a deixaria falida. As chances de continuar a lecionar seriam mínimas.


Afinal, quinze meses não eram uma vida. Depois de tudo, estaria livre, pronta para retomar o próprio rumo.


Pelo silêncio, o advogado supôs que ela estava de acordo. - Algum pormenor que queira esclarecer?


Lua tinha de parecer profissional.


- Não. - Por dentro, entretanto, estava arrasada.






continua




12° Capítulo 


- Foi marcada uma consulta com um médico para depois desta reunião. Também marquei hora com um outro advogado, para que a aconselhe. Os resultados dos testes devem ficar prontos em quarenta e oito horas, e uma cópia lhe será enviada.


Não podia haver maior eficiência. Então por que Lua se sentia como se estivesse em uma montanha-russa?


Era isso o que planejara, que perseguira. Todas as queixas contra seu pai seriam retiradas. Não teria de servir mesas todas as noites e poderia sair do apartamentinho alugado.


- Obrigada. - Lua se levantou e pegou o cartão do advogado.


- O consultório médico fica no terceiro andar - o homem informou. - E meu colega está no décimo.


Conveniente, evitando a perda de tempo indo de um lugar ao outro, e poderia chegar ao trabalho no horário.Lua  inclinou a cabeça na direção de Arthur e foi até a saída. O advogado a deixou passar, e a secretária a acompanhou até os elevadores.


O advogado fechou a porta e foi até Arthur. - Espero que saiba o que está fazendo.


- Tomou mesmo todas as providências para que tudo dê certo - Arthur respondeu com tranqüilidade, enquanto seu ve­lho amigo lhe servia um drinque.


Gelo, uísque, soda, e o advogado encarou Arthur, que havia tantos anos percorria o caminho do sucesso com ele.


- Desta vez você está lidando com um ser humano, Arthur,  não com ações, títulos, tijolos e argamassa.


- O acordo me intriga. - Arthur inclinou-se, indolente. - E a mulher também.


- Há muito dinheiro envolvido.


- Só posso esperar que a recompensa seja adequada.


O advogado tomou um longo gole.


- Espero que sim.


- Gracias, amigo.


Às seis horas Lua foi para o restaurante. Calçou os sa­patos de salto alto, vestiu o avental e começou a trabalhar.


 Não tivera espaço para pensar nos últimos acontecimentos, e a falta de sono a fez trocar dois pedidos, deixando o dono furioso.






continua

13° Capítulo  


Após horas carregando bandejas e pratos, seu braço começou a doer, e jurou que, se recebesse mais um tapinha no traseiro, iria embora.


Conseguira uma vaga na rua principal, após muitas voltas. Às onze em ponto pegou a bolsa, o pagamento e saiu.


- Lua?


A voz a assustou, e seu dono ainda mais.


 Arthur tinha uma aparência formidável, o rosto sombreado pelas luzes de néon.


- O que faz aqui?


Ele lhe lançou um olhar duro.


- Pondo fim a seu tormento. Chega desse trabalho miserável.


- Você não pode... - ela protestou, a boca entreaberta. - Veja.


Minutos depois, Arthur estava de volta, e seu jeito a deixou perplexa.


- Entre no carro. Eu a sigo até sua casa.


- Daqui a dois ou três dias você poderá mandar em mim. Agora, esqueça! - Altiva, Lua o encarou.


- Que coragem, pequena. - A tranqüilidade dele era insultante. - Teve a mesma coragem ontem quando foi atacada?


Lua se lembrou do médico lhe perguntando sobre o an­tebraço machucado.


- As notícias voam...


- Você entrou no hospital à meia-noite e saiu às três. Céus, ele era rápido!


- Suas fontes são admiráveis, sr.Aguiar. - Da próxima vez, não diga que sabe se cuidar.


- Faço isso há algum tempo. - Ela não queria ser tão cínica. - Entre no carro, Lua.


Ela o obedeceu, dirigiu até seu prédio e estacionou. Quando saiu do veículo, Arthur apareceu a sua frente.


- Estou cansada demais para censuras. - Se não entrasse e se sentasse rápido, iria desmaiar.


- Tome um sedativo e falte amanhã.


- Sim e não. - Lua começou a andar e disse-lhe um breve boa-noite.


Arthur  ficou parado, ciente de que não podia impedi-la. Es­perou que a luz do quarto se acendesse, entrou no Mercedes e ligou o motor.


O final de semana se aproximava. Na segunda-feira os resul­tados dos exames estariam prontos, e eles assinariam os papéis.


Enquanto guiava, perguntou-se por que se preocupava com aquela coisinha loira tão pequena e fragil.


Lua não significava nada para ele. Arthur tinha todos os motivos para não gostar dela e nem confiar nela. Além disso, seu advogado achava que estava louco por aceitar tal proposta.


Então por que levava aquilo adiante e dava vazão a instintos protetores que jurara não possuir?


Chegou em casa e estacionou. Fez café, tomou só a metade e foi para o escritório trabalhar no computador, até que a exaus­tão o fez ir se deitar.


continua
Autor: luan

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