Cap 18 ao 21
18° Capítulo
Quase de imediato os portões começaram a se abrir,
e, quando voltou ao veículo, já era possível passar.
Um gramado perfeito cercava a bela
mansão de dois andares em estilo mediterrâneo, as paredes cor creme, o telhado
de terracota, as janelas grandes curvadas. Era elegante, graciosa.
Estacionou a menos de um metro do
Mercedes de Arthur. Ali estava. Seu coração começou a pular quando saiu do carro.
Quase alcançava as pesadas portas duplas quando uma delas se abriu e Arthur
surgiu a sua frente.
O que dizer? Qualquer coisa soaria
banal. Desse modo, inclinou a cabeça e se virou.
- Minhas coisas estão no porta-malas.
Ele tirou a bagagem com uma
facilidade admirável.
- Levarei o resto - ela disse. Só
havia a sacola e duas caixas com livros. Era tudo o que possuía.
- Deixe as caixas, Lua. Eu as
carrego.
Como Arthur achava que elas tinham
ido parar no automóvel?
- Eu dou conta.
- Uma só, então - ele permitiu. -
Pegarei a outra.
- Está bem.
Lua nem entrara e já se estranhavam.
- Não estava duvidando de sua
capacidade. Só tomando cuidado para não machucá-la.
O hall de entrada era amplo. O chão
de lajotas, armários de mogno em posições estratégicas nas paredes. Uma grande
escada ornamentada levava ao andar superior, e um magnífico lustre de cristal
pendia do teto. Frisos e candelabros adornavam as paredes, bem como as obras de
arte.
A riqueza, Lua percebeu, estava em
tudo o que olhava.
- Vamos levar suas coisas para
cima.
"Por favor, por favor me diga
que tenho um quarto só para mim!", implorou aos céus ao subirem as
escadas. Com certeza, não seria demais pedir um pouco de privacidade...
Havia muitos quartos, pelo menos
cinco, Lua se deu conta, ao contar depressa as portas fechadas.
Lua parou em frente a uma delas,
abriu-a e colocou a bagagem ao pé da cama.
Um leito enorme, ela observou,
aflita. Talvez aquela fosse sua suíte, e Arthur só viesse quando requeresse
seus serviços. - Há dois closets e dois banheiros. Eu ficarei com os da
direita. Você pode ficar com os da esquerda.
Bem, suas dúvidas acabavam ali.
- Eu preferia ter um dormitório só
para mim - informou com cuidado, e recebeu o olhar duro dele.
- Nada feito.
-Em geral, uma amante tem sua própria
residência, Arthur. Sendo assim, uma suíte própria não é pedir muito.
- Não. - Sua voz era suavemente
perigosa. - Já tomei banho e me troquei. Sugiro que faça o mesmo. Vamos jantar
fora.
- Ah, é? Preciso desfazer as
malas.
- Terá tempo para isso amanhã.
- Não - negou com cuidado. - Não terei.
A não ser que se levantasse de madrugada. - Imagino que avisou a escola.
Lua retesou-se.
- Isso não estava em nenhum documento
que assinei. Você trabalha. O que devo fazer o dia todo enquanto está no
escritório? Arthur reparou no nariz empinado e observou o Castanho explodir
nos expressivos olhos.
- A não ser que queira que o sirva lá
também.
Uma imagem interessante surgiu na
mente dele, e quase sorriu.
continua
- Prefiro o conforto, Lua. Mas estou
preparado para adaptar meu gosto a lugares que não o quarto. Se isso for o que
você gosta...
Gostar? Droga, ela não gostava de
nada!
- Falou em jantar fora, não é? - Ela
foi até uma das malas, abriu o zíper e tirou lingerie e um terninho
verde-escuro. Apanhou uma nécessaire e foi até o banheiro.
- Vou pegar a outra caixa e travar
seu carro – Arthur informou, mas ela já fechara a porta.
Era um banheiro bonito. Belos
azulejos, mármore, vaidade feminina. Muitas gavetas e armários, uma pilha de
toalhas caras. Vinte minutos depois, Lua voltou ao quarto e pegou o estojo de
maquiagem.
Prendera os cabelos em um coque alto,
deixando duas mechas soltas sobre as têmporas. Maquiava-se muito rápido, e em
poucos minutos ficou pronta. Sua roupa estava mais que adequada.
A blusa de seda de mangas compridas
escondia seu braço ferido. Não era a última moda, mas optava pela qualidade e
não quantidade, escolhendo peças de bom corte e tecido.
Arthur aparentava mesmo ser
quem era, refletiu enquanto retornava ao dormitório. Um homem de
sucesso, cuja aparência sofisticada escondia uma certa rudeza.
Terno escuro, camisa branca, gravata
de seda. Havia algo mais, bem no fundo, que não podia definir.
Lua percebeu que Arthur a avaliara de
relance, e sentiu um arrepio na espinha quando o encarou. Se a intenção era
perturbá-la, ele conseguiu, mas ela não permitira que Arthur percebesse.
- Vamos - chamou-a, com gentileza.
Desceram a escada lado a lado e
atravessaram o hall. Lua devia conversar, pensou, quando o poderoso carro os
levava para o centro. Era função de uma amante, não era?
- Devo indagar sobre seu dia? - Lua
arriscou, sem saber se preferia a quietude.
Arthur poderia colaborar também... -
Está interessada?
Ela o fitou de soslaio.
- Sei o que faz, é claro. Mas não
conheço seu cotidiano. - Concentração, pesquisa. Busco estar à frente dos
concorrentes sempre.
- É muito bem-sucedido, Arthur . -
Sim.
A maioria dos homens que Lua conhecia
iria começar um discurso sobre seus feitos. Mas não Arthur. - E o seu?
- O meu? - Seu dia.
continua
- Por
onde quer que eu comece? A senhoria insuportável? Uma briga entre dois grupos
de estudantes? Conjugar verbos, estudar pronomes ou convencer adolescentes de
dezesseis anos de que há um paralelo entre dois grandes autores?
- Posso apostar que foi fascinante. -
Arthur estacionou ao lado do porto.
"Ah, sim, sem dúvida!" Lua
sorriu, com ironia. Não lidava com a elite em escolas particulares. Seus
alunos eram de uma classe social baixa, onde a taxa de divórcios chegava a
setenta e cinco por cento, e a de desemprego, a cinqüenta por cento. Metade dos
pais não sabia se os filhos freqüentavam a escola, e a outra metade não dava a
mínima.
Seu trabalho era uma batalha
constante, e só conseguia ter um pouco de êxito porque tratava os alunos com
respeito e tentava mostrar que a educação e o saber eram os únicos caminhos
para melhorar sua condição.
Arthur desligou o motor. Eles
passearam um pouco ao longo do porto. Havia muitos restaurantes, e ele a
conduziu a um em que o maitrê os saudou com efusividade e os levou para a mesa
reservada.
A comida e o vinho eram fantásticos.
Lua escolheu com cuidado e comeu com apetite e prazer. Tomou mais de um copo do
excelente chadornnay.
- Você vem sempre aqui? - Chegara a
essa conclusão pelo tratamento que recebiam e porque a equipe conhecia Arthur
pelo nome.
- Uma vez por semana, mais ou menos.
Ela recostou-se no espaldar e o
observou com cuidado. - Acompanhado.
Arthur a encarou e deu um sorriso
cínico. - Sim.
Lua pegou o copo e tomou um pequeno
gole do vinho. - Há alguma mulher em sua vida que se sentirá ultrajada pelo
nosso... Acordo?
Os lábios dele tornaram a se curvar.
- Ultrajada, não. - Ergueu uma
sobrancelha pensativo. - Surpresa.
- Decerto serei o alvo de sua ira.
- Não sou responsável por nenhuma
mulher. Nem me sinto obrigado a dar explicações a ninguém.
Bem, isso se percebia com facilidade.
- Quer café?
- Gostaria mesmo de dar um passeio,
Arthur. Quem sabe ir até a areia, sentir o cheiro fresco do mar, a brisa no rosto...
- E parar para tomar café em algum outro lugar.
- Sim.
Lua observou Arthur chamar o garçom e
pagar a conta. Então, eles se levantaram e deixaram o estabelecimento.
O ar estava frio, com um gosto
salgado. Viam-se muitas luzes iluminando centenas de janelas nos altos prédios,
hotéis, escritórios, apartamentos, e se refletindo nas águas escuras.
Uma melodia suave tocava um pouco
distante. Havia indivíduos de origens diversas: italianos, gregos, japoneses,
coreanos. Os estilos dos trajes variavam do casual ao sofisticado.
continua
21° Capítulo
Existiam lojas e mercados para olhar,
sob um céu escuro cheio de estrelas.
Arthur a estudava. O coque acima da
cabeça começava a cair, e não pôde resistir ao impulso de solta-lo.
Lua o viu estender a mão, e ficou
imóvel, sem poder respirar, enquanto ele soltava as pequenas fivelas. As mechas
caíram de uma vez, formando uma cascata. Ela ajeitou uma atrás da orelha.
Arthur quis deslizar os dedos por
entre os fios, segurar seu rosto enquanto a beijava. Conteve o impulso,
entretanto, seguindo o ritmo dela, preparando-se para comprazê-la com o que a
noite lhes prometia.
Andaram por uma hora, e então
pararam para tomar café. - Obrigada - Lua disse ao irem para o carro.
- Pelo quê? Uma refeição agradável?
Não sabia ao certo como responder.
- Também.
Arthur desativou o alarme e destravou
o automóvel. Então, fitou-a por sobre a superfície lisa.
- Entre, Lua.
Ele parecia quase assustador, e ela
resolveu manter-se calada, ao enfrentar o trânsito pesado.
Lua esforçou-se para respirar devagar
quando chegaram perto de Woollahra, mas ao pararem na garagem se sentia
perdida.
Arthur lhe lançou um olhar
especulativo ao passarem pelo hall, percebeu-lhe a pulsação acelerada nas veias
do pescoço e o nervosismo pelo jeito como segurava a bolsa, e ficou intrigado.
Perguntava-se qual seria o motivo de
sua tensão. A intimidade desejada por dois adultos era uma descoberta de sensações.
Uma exploração mútua que trazia deleite. Franziu a testa, e passaram a subir as
escadas.
O que Lua achava que ele iria fazer,
por Deus?! Rasgar suas roupas, atirá-la na cama e violentá-la?
Queria uma mulher quente e cheia de
desejo, não retraída e tímida.
Chegaram ao quarto. Arthur acendeu os
abajures, tirou o blazer e a gravata e com cuidado observou-a tirar os sapatos
e a jaqueta.
Lua foi até a mala e apanhou a
camiseta comprida de algodão que usava para dormir, e voltou ao dormitório.
- Por que se preocupar? Não vai usar
isso por muito tempo - ele murmurou com a fala arrastada.
continua
*------------* continuaaa <3
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