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domingo, 27 de outubro de 2013

Proposta Indecente

Cap 18 ao 21


18° Capítulo  
Quase de imediato os portões começaram a se abrir, e, quan­do voltou ao veículo, já era possível passar.


Um gramado perfeito cercava a bela mansão de dois andares em estilo mediterrâneo, as paredes cor creme, o telhado de ter­racota, as janelas grandes curvadas. Era elegante, graciosa.


Estacionou a menos de um metro do Mercedes de Arthur. Ali estava. Seu coração começou a pular quando saiu do car­ro. Quase alcançava as pesadas portas duplas quando uma de­las se abriu e Arthur surgiu a sua frente.


O que dizer? Qualquer coisa soaria banal. Desse modo, in­clinou a cabeça e se virou.


- Minhas coisas estão no porta-malas.


Ele tirou a bagagem com uma facilidade admirável.


- Levarei o resto - ela disse. Só havia a sacola e duas caixas com livros. Era tudo o que possuía.


- Deixe as caixas, Lua. Eu as carrego.


Como Arthur achava que elas tinham ido parar no automóvel? 

- Eu dou conta.


- Uma só, então - ele permitiu. - Pegarei a outra. 

- Está bem.


Lua nem entrara e já se estranhavam.


- Não estava duvidando de sua capacidade. Só tomando cuidado para não machucá-la.


O hall de entrada era amplo. O chão de lajotas, armários de mogno em posições estratégicas nas paredes. Uma grande es­cada ornamentada levava ao andar superior, e um magnífico lustre de cristal pendia do teto. Frisos e candelabros adornavam as paredes, bem como as obras de arte.


A riqueza, Lua percebeu, estava em tudo o que olhava.

 - Vamos levar suas coisas para cima.


"Por favor, por favor me diga que tenho um quarto só para mim!", implorou aos céus ao subirem as escadas. Com certeza, não seria demais pedir um pouco de privacidade...


Havia muitos quartos, pelo menos cinco, Lua se deu conta, ao contar depressa as portas fechadas.


Lua parou em frente a uma delas, abriu-a e colocou a bagagem ao pé da cama.


Um leito enorme, ela observou, aflita. Talvez aquela fosse sua suíte, e Arthur só viesse quando requeresse seus serviços. - Há dois closets e dois banheiros. Eu ficarei com os da direita. Você pode ficar com os da esquerda.


Bem, suas dúvidas acabavam ali.


- Eu preferia ter um dormitório só para mim - informou com cuidado, e recebeu o olhar duro dele.


- Nada feito.


-Em geral, uma amante tem sua própria residência, Arthur. Sendo assim, uma suíte própria não é pedir muito.


- Não. - Sua voz era suavemente perigosa. - Já tomei banho e me troquei. Sugiro que faça o mesmo. Vamos jantar fora.


- Ah, é? Preciso desfazer as malas. 

- Terá tempo para isso amanhã.


- Não - negou com cuidado. - Não terei. A não ser que se levantasse de madrugada. - Imagino que avisou a escola.


Lua retesou-se.


- Isso não estava em nenhum documento que assinei. Você trabalha. O que devo fazer o dia todo enquanto está no escritório? Arthur reparou no nariz empinado e observou o Castanho explo­dir nos expressivos olhos.


- A não ser que queira que o sirva lá também.


Uma imagem interessante surgiu na mente dele, e quase sorriu.




continua


 19° Capítulo  
- Prefiro o conforto, Lua. Mas estou preparado para adaptar meu gosto a lugares que não o quarto. Se isso for o que você gosta...


Gostar? Droga, ela não gostava de nada!


- Falou em jantar fora, não é? - Ela foi até uma das malas, abriu o zíper e tirou lingerie e um terninho verde-escuro. Apanhou uma nécessaire e foi até o banheiro.


- Vou pegar a outra caixa e travar seu carro – Arthur informou, mas ela já fechara a porta.


Era um banheiro bonito. Belos azulejos, mármore, vaidade fe­minina. Muitas gavetas e armários, uma pilha de toalhas caras. Vinte minutos depois, Lua voltou ao quarto e pegou o estojo de maquiagem.


Prendera os cabelos em um coque alto, deixando duas mechas soltas sobre as têmporas. Maquiava-se muito rápido, e em poucos minutos ficou pronta. Sua roupa estava mais que adequada.


A blusa de seda de mangas compridas escondia seu braço ferido. Não era a última moda, mas optava pela qualidade e não quantidade, escolhendo peças de bom corte e tecido.


 Arthur aparentava mesmo ser quem era, refletiu enquanto retornava ao dormitório. Um homem de suces­so, cuja aparência sofisticada escondia uma certa rudeza.


Terno escuro, camisa branca, gravata de seda. Havia algo mais, bem no fundo, que não podia definir.


Lua percebeu que Arthur a avaliara de relance, e sentiu um arrepio na espinha quando o encarou. Se a intenção era perturbá-la, ele conseguiu, mas ela não permitira que Arthur percebesse.


- Vamos - chamou-a, com gentileza.


Desceram a escada lado a lado e atravessaram o hall. Lua devia conversar, pensou, quando o poderoso carro os levava para o centro. Era função de uma amante, não era?

- Devo indagar sobre seu dia? - Lua arriscou, sem saber se preferia a quietude.


Arthur poderia colaborar também... - Está interessada?


Ela o fitou de soslaio.


- Sei o que faz, é claro. Mas não conheço seu cotidiano. - Concentração, pesquisa. Busco estar à frente dos concor­rentes sempre.


- É muito bem-sucedido, Arthur . - Sim.


A maioria dos homens que Lua conhecia iria começar um discurso sobre seus feitos. Mas não Arthur. - E o seu?


- O meu? - Seu dia.




continua
 20° Capítulo  
- Por onde quer que eu comece? A senhoria insuportável? Uma briga entre dois grupos de estudantes? Conjugar verbos, estudar pronomes ou convencer adolescentes de dezesseis anos de que há um paralelo entre dois grandes autores?


- Posso apostar que foi fascinante. - Arthur estacionou ao lado do porto.


"Ah, sim, sem dúvida!" Lua sorriu, com ironia. Não li­dava com a elite em escolas particulares. Seus alunos eram de uma classe social baixa, onde a taxa de divórcios chegava a setenta e cinco por cento, e a de desemprego, a cinqüenta por cento. Metade dos pais não sabia se os filhos freqüentavam a escola, e a outra metade não dava a mínima.


Seu trabalho era uma batalha constante, e só conseguia ter um pouco de êxito porque tratava os alunos com respeito e ten­tava mostrar que a educação e o saber eram os únicos caminhos para melhorar sua condição.


Arthur desligou o motor. Eles passearam um pouco ao longo do porto. Havia muitos restaurantes, e ele a conduziu a um em que o maitrê os saudou com efusividade e os levou para a mesa reservada.


A comida e o vinho eram fantásticos. Lua escolheu com cuidado e comeu com apetite e prazer. Tomou mais de um copo do excelente chadornnay.


- Você vem sempre aqui? - Chegara a essa conclusão pelo tratamento que recebiam e porque a equipe conhecia Arthur pelo nome.


- Uma vez por semana, mais ou menos.


Ela recostou-se no espaldar e o observou com cuidado. - Acompanhado.


Arthur a encarou e deu um sorriso cínico. - Sim.


Lua pegou o copo e tomou um pequeno gole do vinho. - Há alguma mulher em sua vida que se sentirá ultrajada pelo nosso... Acordo?


Os lábios dele tornaram a se curvar.


- Ultrajada, não. - Ergueu uma sobrancelha pensativo. - Surpresa.


- Decerto serei o alvo de sua ira.


- Não sou responsável por nenhuma mulher. Nem me sinto obrigado a dar explicações a ninguém.


Bem, isso se percebia com facilidade. - Quer café?


- Gostaria mesmo de dar um passeio, Arthur. Quem sabe ir até a areia, sentir o cheiro fresco do mar, a brisa no rosto... - E parar para tomar café em algum outro lugar.


- Sim.


Lua observou Arthur chamar o garçom e pagar a conta. Então, eles se levantaram e deixaram o estabelecimento.


O ar estava frio, com um gosto salgado. Viam-se muitas luzes iluminando centenas de janelas nos altos prédios, hotéis, escri­tórios, apartamentos, e se refletindo nas águas escuras.


Uma melodia suave tocava um pouco distante. Havia indi­víduos de origens diversas: italianos, gregos, japoneses, corea­nos. Os estilos dos trajes variavam do casual ao sofisticado.






continua

21° Capítulo  
Existiam lojas e mercados para olhar, sob um céu escuro cheio de estrelas.


Arthur a estudava. O coque acima da cabeça começava a cair, e não pôde resistir ao impulso de solta-lo.


Lua o viu estender a mão, e ficou imóvel, sem poder respirar, enquanto ele soltava as pequenas fivelas. As mechas caíram de uma vez, formando uma cascata. Ela ajeitou uma atrás da orelha.


Arthur quis deslizar os dedos por entre os fios, segurar seu rosto enquanto a beijava. Conteve o impulso, entretanto, se­guindo o ritmo dela, preparando-se para comprazê-la com o que a noite lhes prometia.      


 Andaram por uma hora, e então pararam para tomar café. - Obrigada - Lua disse ao irem para o carro.


- Pelo quê? Uma refeição agradável? Não sabia ao certo como responder. 

- Também.


Arthur desativou o alarme e destravou o automóvel. Então, fitou-a por sobre a superfície lisa.


- Entre, Lua.


Ele parecia quase assustador, e ela resolveu manter-se ca­lada, ao enfrentar o trânsito pesado.


Lua esforçou-se para respirar devagar quando chega­ram perto de Woollahra, mas ao pararem na garagem se sentia perdida.


Arthur lhe lançou um olhar especulativo ao passarem pelo hall, percebeu-lhe a pulsação acelerada nas veias do pescoço e o nervosismo pelo jeito como segurava a bolsa, e ficou intrigado.


Perguntava-se qual seria o motivo de sua tensão. A intimi­dade desejada por dois adultos era uma descoberta de sensa­ções. Uma exploração mútua que trazia deleite. Franziu a testa, e passaram a subir as escadas.


O que Lua achava que ele iria fazer, por Deus?! Rasgar suas roupas, atirá-la na cama e violentá-la?


Queria uma mulher quente e cheia de desejo, não retraída e tímida.


Chegaram ao quarto. Arthur acendeu os abajures, tirou o blazer e a gravata e com cuidado observou-a tirar os sapatos e a jaqueta.


Lua foi até a mala e apanhou a camiseta comprida de algodão que usava para dormir, e voltou ao dormitório.


- Por que se preocupar? Não vai usar isso por muito tempo - ele murmurou com a fala arrastada.




continua

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