Cap 14 ao 17
14° Capítulo
Lua teve uma noite péssima. Acordou
diversas vezes com a dor no braço. Às três da madrugada, tomou mais dois analgésicos,
então caiu em um sono pesado e só acordou as oito, com o despertador.
O desjejum consistia em suco de
laranja, café e cereais. Envolveu o braço em um saco plástico para tomar
banho.
Vestiu uma jeans é uma blusa de algodão
larga, amarrou um lenço roxo nos cabelos, acrescentou diversos acessórios de
prata e dirigiu até a loja Mai`s New Age, onde sua amiga vendia velas,
cristais, brincos e CDs.
- Querida, que acessórios radicais! - Mel
a cumprimentou. Lua apenas sorriu e se perguntou se lançara uma nova moda.
O braço doía menos, e até domingo
estaria bem melhor.
O dia passado na loja a manteve
ocupada. À noite não foi preciso correr para o trabalho, e assim decidiram
lanchar juntas em um restaurante que servia comida natural.
Lua sentia um forte impulso de abrir-se
com Mel, mas o que diria? "Ei, Mel, estou me mudando da quitinete alugada
para uma mansão!"? Era irônico. Seis meses antes saíra de um confortável
apartamento. Agora, reverteria o processo por quinze meses.
Era melhor não falar nada. O negócio
não estava fechado ainda.
Sentiu um frio no estômago.
Quando Arthur Aguiar iria consumar a relação? Ouviu uma voz
interior: quando Arthur irá querer que você faça sexo com ele? Com que
freqüência? "Todas as noites, Lua."
A imagem daquele corpo másculo sobre o
seu a fez perder o fôlego. A quantia envolvida a obrigaria a trabalhar muito.
Céus, ele exigiria que ela mostrasse tudo o que sabia!
Lua desistiu de tomar o suco de cenoura
e deixou a salada pela metade.
- Está sem fome?
Ela olhou para Mel e depois para o
prato, e se sentiu mal. - Estou.
Ainda podia desistir. Só precisava
fazer uma ligação.
- Querida, me escute: alimente-se, você
não pode ficar fraca.
- Eu como algo mais tarde. - Lua pegou
algum dinheiro na bolsa e o pôs sobre a mesa. - Tenho de ir.
Foi direto ao hospital, atravessou os
corredores, entrou no elevador e seguiu para a enfermaria, que seu pai dividia
com mais três pacientes.
Hesitou quando viu que Billy tinha uma
visita. Não era um amigo, mas sim ninguém menos que Arthur.
A expressão de Lua se tornou feroz,
protetora e mudou de novo quando o pai notou sua presença.
Arthur a observou tomar as mãos de Billy
e beijar-lhe a face.
- Você estava ajudando Mel - Billy
disse, com a voz fraca.
Ele tinha um sorriso débil, e o coração
dela se partiu ao pensar em como a doença transformara o homem orgulhoso que sempre
fora.
- Olhe quem veio me visitar, filhinha. Lua
fitou Arthur, desconfiada.
continua
Autor: luan
15° Capítulo
- Estou vendo, papai.
Em silêncio, Lua enviava a Arthur uma
nítida mensagem: "Se você disse qualquer coisa para aborrecê-lo..."
Era como uma leoa defendendo o filhote,
Arthur concluiu. As garras à mostra, prontas para contra-atacar.
- Tenho certeza de que preferem ficar
sozinhos. - Arthur fez um aceno com a cabeça para Billy e depois para Lua, e se
despediu: - Boa noite.
Lua ficou imaginando a razão da visita.
Permaneceu no hospital por uma hora,
grata por Billy estar lúcido. A hora da visita quase terminara quando saiu da
enfermaria.
Lua imaginou que veria a
figura de ucker no corredor ou perto do elevador. Mas não havia
sinal dele.
Em casa, fez dois ovos mexidos com
queijo, tomate e torradas, e comeu enquanto verificava as lições do dia
seguinte.
A segunda-feira frustrou as
expectativas de Lua. Arthur não a esperava ao término das aulas.
Lua foi direto ao hospital, onde ele
também não apareceu. Não recebeu nenhuma ligação à tarde, passou outra noite
desassossegada e chegou atrasada à escola.
Às dez horas, a secretária lhe deu um
recado de Arthur com um número de telefone.
Os estudantes correram para a saída
assim que o sinal anunciou o intervalo. Lua apanhou os livros e os
papéis, guardou-os na sacola e foi até o telefone público.
Era o número de um celular, que engolia
moedas sem parar. Arthur, decerto, estava em uma reunião, pois foi breve e
direto: - Pode vir ao escritório de meu advogado às quatro?
- Hoje?
- Sim.
- Posso tentar. - Suas moedas acabaram,
e ela pôs o fone no gancho.
Tomou o ônibus para a cidade. Era mais
barato que pagar estacionamento, mas a fez atrasar-se quinze minutos.
Arthur já estava esperando. Lua entrou,
se sentou e aceitou um copo de soda gelada.
O advogado a observou com atenção.
- Ficou satisfeita com o aconselhamento
do outro advogado? "Satisfeita" não era o termo adequado.
- Ele conseguiu esclarecer minhas
dúvidas.
- Os resultados dos exames médicos
chegaram - o advogado continuou. - Não há nenhum problema em relação a eles.
Não poderia haver, e Lua se viu tentada
a dar uma resposta insolente. Mas não era hora para fazer cenas. Assim, se
limitou a assentir.
- Está pronta para assinar os papéis?
O cerco se fechava. Ela se sentiu como
uma das esposas de Henrique VIII, pronta para enfrentar a guilhotina.
Lua se concentrou apenas em
seu pai e confirmou: - Sim.
Tudo foi feito em poucos minutos. Lua e
Arthur assinaram, tendo o causídico como testemunha.
Tinha de sair dali. Ficar para trocar
palavras de agradecimento não fazia o menor sentido.
- Se me dão licença... - Lua se
levantou. - Preciso ir ao hospital.
- Eu também já vou. - Arthur se ergueu,
apertou a mão do advogado e a seguiu pela recepção. - Onde está seu carro? As
portas do elevador se fecharam atrás deles.
- Na escola. Peguei um ônibus para cá.
Alcançaram o térreo.
- Sendo assim, eu a levo ao hospital e
depois passamos para pegar seu automóvel - Arthur afirmou com delicadeza.
- Não precisa ir comigo. - Lua
necessitava de tempo sozinha para absorver o que acabara de fazer.
- Meu carro está do outro lado da rua.
- Não.
Arthur estava tão calmo que ela sentiu
vontade de agredi-lo. Passaram pela porta circular e chegaram à calçada.
- A tinta nem secou e você já quer
brigar comigo.
continua
16° Capítulo
Apesar do modo suave como ele falava,
ela sabia que ele estava no comando.
- Eu preferia visitar meu pai sozinha.
E ficar em meu apartamento esta noite. - Céus, o dia seguinte chegaria rápido
demais. - Preciso fazer as malas, limpar o imóvel e avisar a proprietária.
Que não ficaria alegre em receber a
notícia de repente, e com certeza exigiria uma indenização.
Arthur a observou por um longo momento.
- Não pretendo desistir - ela
tranqüilizou-o.
- Espero que não. Saiba que sou um
inimigo implacável.
O farol para pedestres se abriu, e eles
atravessaram.
- Muito bem. Já que insiste, leve-me à
escola. Lua permaneceu calada durante todo o percurso.
Mal olhou para Arthur ao sair do
veículo. Segundos depois, destravou a porta e entrou em seu carro. De repente
percebeu que Arthur a seguira e estava
ao seu lado.
Ela virou e arqueou as sobrancelhas. -
O que foi agora?
- Seria bom você ficar com o endereço
de minha casa. Eu a esperarei lá amanhã à tarde.
Lua colocou o cartão e a caneta sobre o
banco do passageiro. - Depois das aulas e da visita ao meu pai.
- Às seis - Arthur insistiu - no mais
tardar.
Ela ligou o motor, e ele fechou a
porta. Então, pôs o veículo em movimento.
Estava quase escuro quando Lua chegou
ao hospital. Demorou-se, relutante em deixar Billy.
Terminado o horário de visitas, deu
boa-noite ao pai e foi embora.
Não comera nada, e preparou feijão
enlatado, torradas, e chá. Quando acabou a refeição, ligou para a proprietária.
Lua já esperava ter de pagar uma multa, mas a agressividade com que a
exigência foi feita a surpreendeu.
- Tire do fundo de depósito - Lua
falou, com delicadeza, sabendo que a senhoria iria criticá-la e reter toda a
quantia.
Em seguida, fez as malas e encaixotou
tudo o que levara para o apartamento. Fez faxina, esfregando o chão até que
seus braços doessem. À meia-noite, tomou um banho e se deitou. Lua acordou com
a chuva torrencial.
continua
17°
Capítulo
- Seria
um mau agora? - perguntou-se, ao se vestir. Tomou um café rápido, temerosa de
que a proprietária surgisse a qualquer momento.
Foram
necessárias duas viagens para pôr tudo no carro. Ao sair do prédio, não olhou
para trás.
O guarda-chuva
não foi suficiente para protegê-la da borrasca, e ficou ensopada no trajeto do
estacionamento até a sala de aula.
Luaia
ficando cada vez mais tensa à medida que o dia transcorria. Quando a campainha
anunciou o término da última aula, estava com os nervos à flor da pele.
No
hospital, passou o novo endereço e telefone na recepção e foi visitar Billy.
Ele não melhorara, e ela sentiu uma dor no peito.
Durante
todo o dia, pensara em um modo de contar-lhe que sua dívida para
com Arthur não mais existia. O pai não precisava saber da verdade,
mas era um homem esperto Ela não conseguiria enganá-lo com uma
desculpa qualquer.
Na
angústia da dúvida, pesou os prós e os contras e decidisse por um pouco de
honestidade: a meia verdade.
- Tenho
boas notícias, papai. - Lua puxou uma cadeira para perto dele e lhe tomou a
mão. - Tenho motivos para crer que Arthur não vai processá-lo.
Os lábios
dele tremeram. - Tem certeza?
- Sim.
- Mas o
dinheiro...
Billy não
precisava saber dos detalhes. - Creio que será possível resolver tudo.
- Por
isso Arthur veio me visitar?
- Acho
improvável que tenha vindo por outro motivo - Luaprosseguiu com firmeza.
- Como
assim?
Ela não
fingiu não compreender.
- Vamos
conversar quando eu souber mais.
Uma enfermeira
entrou para checar os pacientes, e dez minutos depois trouxe o jantar.
- Eu já
vou, papai. Durma bem. Virei vê-lo amanhã.
Eram
quase cinco e meia quando Lua entrou no automóvel e dirigiu até
Woollahra. Perto de seu destino, verificou o guia de ruas, marcado onde devia
virar.
Seu
estômago deu um nó quando encontrou a rua certa. Havia árvores frondosas dos
dois lados, os grandes galhos exibindo o verde da primavera. Dirigiu devagar
observando os números até chegar à ampla entrada protegida por altos portões de
ferro. Estavam fechados. Uma câmera fora instalada em uma coluna alta. Lua
encostou o carro e pressionou o botão eletrônico.
continua
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