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domingo, 27 de outubro de 2013

Proposta Indecente

Cap 2 ao Cap 8


2° Capítulo 


Desde muito novo desejara mais do que essas condições lhe proporcionariam, mais do que contar os centavos durante toda a vida. Desde garoto quisera sair desse mundo sombrio onde sobreviver era a única ambição.


Saber se safar de situações difíceis na cidade grande era uma de suas metas. Estudar era a outra.


E Arthur lutou como pôde, ganhando bolsas, formando-se com mérito, não pelo prestígio ou para agradar aos pais. Por ele mesmo.


Tivera muito sucesso. Aos trinta e seis anos, estava exata­mente onde planejara. Podia ter qualquer mulher que desejas­se, e tinha, sempre que lhe aprazia.


Sua última companhia desejava um compromisso, mas Arthur não queria uma relação duradoura, apesar de gostar de dormir com ela.


Haveria uma só mulher para um homem? Duvidava.


O telefone celular interrompeu-lhe o devaneio. -Aguiar.


- Buenos dias, querido.


A voz era melosa e felina. Tencionava acelerar seu coração e deixá-lo arrepiado, para que lembrasse o que dispensara na noite anterior.


- Sasha...


- Estou incomodando?


- Não - respondeu com sinceridade. - Que tal jantarmos hoje à noite?


Arthur admirava a avidez em uma mulher, mas preferia to­mar a iniciativa.


- Terei de estudar alguns papéis, Sasha. - Outro dia, então?


Ela se recuperara rápido, mas Arthur podia perceber a ne­cessidade de afirmação, que preferiu ignorar.


- Quem sabe? - E desligou o aparelho.


Arthur  observou o gramado impecável, a água azul da pisci­na, a quadra de tênis, e voltou ao jornal.


Serviu-se de mais uma xícara de café, consultou o relógio e passou geléia no último pedaço de torrada. Cinco minutos de­pois entrou na cozinha, enxaguou e colocou os pratos na lava­-louças, e subiu para se vestir.





Possuía dezenas de ternos. Escolheu um Armani e acrescen­tou um colete. Vestiu o paletó, verificou a carteira, apanhou a pasta, o laptop e saiu.


O sistema de segurança estava acionado. Na garagem, en­trou no Mercedes último tipo e arrancou para a rua.


Seu escritório ficava em um andar alto em um dos edifícios envidraçados do centro, uma obra-prima da arquitetura com uma vista espetacular do porto.


O trânsito era intenso. Arthur abriu o laptop, checou a agen­da, marcou duas ligações que a secretária deveria fazer. Quinze minutos depois, entrou no estacionamento e parou na vaga demarcada.


Com movimentos ágeis, desligou o motor, pegou o laptop e a valise, e saiu do carro.


-Arthur Aguiar?.


Ele estacou diante da voz feminina e virou-se devagar, o corpo em alerta apesar da aparência tranqüila, pronto para reagir a qualquer sinal de agressão.


 pequena, esbelta, traços atraentes. Não parecia uma inimiga, mas isso não queria dizer nada. Arthur sabia o que um expert em artes marciais era capaz de fazer, a despeito do sexo ou tamanho.


Teria ela uma arma? Arthur a estudou com cuidado, as mãos segurando a bolsa de couro. Se houvesse uma faca ou um re­vólver ali, poderia desarmá-la antes que desse um passo.


Droga, havia seguranças no prédio inteiro. Como a garota entrara?


- Sim.


- Preciso falar com você.


Arthur ergueu uma sobrancelha e a encarou, estudando seu próximo movimento.


- Sou muito ocupado. - Puxou a manga do paletó e con­sultou o relógio.


- Bastam cinco minutos. - Ela calculara o tempo, medira as palavras, poderia dizer tudo mais rápido se fosse preciso. - Marque um horário com minha secretária.


- Eu tentei. - Balançou a cabeça. Nada na mídia poderia captar a essência daquele homem, ou transmitir sua constran­gedora aura de poder.






continua



3° Capítulo 


- Não adiantou. - A jovem forçou um sorriso. - Sua se­gurança é impenetrável.


- Mas você chegou até aqui. - Pura astúcia.


Um pedido desesperado e verdadeiro ao segurança. Ela só esperava que não custasse o emprego dele.


A mocinha tinha garra, ele precisava reconhecer. - E agora quer fazer o mesmo comigo?


- E perder mais tempo? Arthur estava intrigado.


- Dois minutos - estipulou. - Seu nome é?


-Lua. - Sabia que o resto teria um efeito desastroso. - Filha de Billy Blanco.


A expressão dele de súbito endureceu e, quando falou, sua entonação foi glacial:


- Não.


Era o que Lua esperava, mas insistiu. Precisava insistir. - Você me deu dois minutos.


- Podia ter dado vinte, e a resposta seria a mesma.


- Meu pai está morrendo.


- Quer minha compaixão? - Tolerância.


Os traços do rosto dele se tornaram ainda mais implacáveis, o olhar inflexível e perigoso.


- Você ousa pedir tolerância para um homem que desvio centenas de milhares de dólares de mim?


Lua tentou manter a calma.


- Papai está hospitalizado, com um tumor cerebral inoperável. - Fez uma pausa. - Se você acioná-lo, ele passará suas últimas semanas de vida dentro de uma prisão.


- Não. - Arthur apertou o alarme do carro, pôs as chaves no bolso e começou a andar em direção ao elevador.


- Eu faço qualquer coisa! - Era a última tentativa desesperada. Duas cartas tinham sido ignoradas, e as ligações não obtiveram retorno.


Arthur parou, virou-se e a mediu em uma avaliação insultante.


- Você precisaria fazer mais... - Coçou o queixo, pensativo. - Mais do que seria capaz.


- Como pode saber?


- Eu sei - disse com total segurança.


Se Arthur entrasse no elevador, seria o fim. - Por favor...


Ele ouviu o pedido, percebeu o leve tremor na voz e continuou andando. A porta do elevador se abriu e Arthur falou.


- Você tem um minuto para sair deste estacionamento, ou será presa por invasão.


Arthur esperou raiva, fúria, ou mesmo uma agressão. Ou uma cena de choro.


Mas viu apenas orgulho no pequeno queixo empinado. A boca tremia enquanto ela procurava manter o controle, mas os olhos ficaram úmidos de repente. Uma lágrima rolou por sua face.


Arthur entrou no elevador e pressionou o botão. Sua expres­são não mudara.


- Trinta segundos.


A porta se fechou e Arthur foi transportado para o conjunto de escritórios em um andar alto.






continua

4° Capítulo 


Acenou de leve para a morena na moderna mesa de recepção, cumprimentou a secretária e entrou na sala.


A magia da eletrônica lhe rendera uma fortuna. Desenvolver a tecnologia da informática e a internet eram sua especialidade. Confirmou os compromissos com a secretária e se pôs a trabalhar.


Duas horas depois, gravou o arquivo em que estivera traba­lhando e puxou o de Blanco. Não para refrescar a memória. Tinha já muita experiência para se incomodar com qualquer coisa. Mas o rosto de certa garota  o invadira, a imagem da lágrima em seu rosto não o deixava, e ele queria esquecer.


Billy Blanco, viúvo, uma filha, Lua, solteira, vinte e cinco anos, professora. Havia um endereço e um telefone, a escola onde trabalhava. Hobbies.


Arthur levantou uma sobrancelha.


Imprimiu as informações, dobrou a folha e a guardou no bolso do paletó. Então fez uma ligação:


- Descubra qual a situação de Billy Blanco e seu estado de saúde.


O homem se dizia falido por dívidas de jogo. Na época, Arthur não investigara a fundo.


Recebeu a resposta uma hora depois. As informações sobre sua condição médica coincidiam com o que a filha afirmara. Arthur imprimiu a folha com as informações e as releu. Havia provas de que Billy usara o dinheiro para bancar os cuidados médicos da esposa acidentada durante meses, na luta contra o coma que precedeu sua morte.


Seus olhos se fixaram na data... seis meses atrás.


O sujeito quase escapara, mas um auditor encontrara os de­pósitos irregulares, que eram uma tentativa de reparação. E suas retiradas do jogo foram uma série de incidentes isolados no período de um mês. Uma última tentativa para se redimir e pagar o que devia?


Arthur recostou-se na cadeira, estalou os dedos e semicerrou os olhos.


A vista do porto de Sydney era fantástica. E agora?


Madre de Dios, em que estava pensando? Blanco era um ladrão. Por que se interessava por sua filha?


Estava intrigado, concluiu mais tarde. Lealdade à família: até que ponto iria a dela?


Recordou sua expressão de orgulho, comparou-a a emoção con­tida naquela lágrima e decidiu descobrir. Chamou a secretária. – se Lua Blanco ligar, transfira.


Vinte e quatro horas depois aconteceu, e Arthur se sentiu satisfeito por ter calculado certo.


Ele foi breve:


- Às sete e meia. - Escolheu um restaurante. - Eu a encontro lá.


Lua se preparara para outra rejeição, e ficou dividida entre a esperança e o desespero.


- Não posso.


- Por quê?


Ela vacilou perante o tom arrogante. - Trabalho à noite.


- Diga que está doente.


"Céus, não posso perder o emprego!"


- Eu saio as onze - Lua retrucou com firmeza.


- Obrigações da escola?


- Sou garçonete.








continua


 5° Capítulo 


Houve um momento de silêncio.
- Onde?


- Longe da região nobre onde você mora.


- Onde?


Lua não poderia sequer imaginar os lugares onde ele estivera.


Ela deu o endereço.


- Estarei lá.


Trinta minutos antes do combinado Arthur entrou no bar e se sentou, pediu um café e observou o modo como Lua li­dava com a clientela.


Ele desejava deixá-la nervosa, e conseguiu. Ficou irritado apenas quando um cliente que bebera demais passou a mão em seu traseiro.


Arthur não ouviu o que ela disse, mas não era preciso. Suas pupilas faiscavam, seu rosto estava vermelho.


Será que se ressentia de ter de trabalhar em um segundo emprego, por seu pai tê-la deixado nessa situação?


Talvez não. Lua mostrara coragem e orgulho, qualidades que Arthur admirava. Não era por isso que estava ali?





Às onze horas Lua levou uma pilha de pratos para a cozinha e murmurou uma desculpa rápida sobre não poder ficar mais. Desamarrou e pendurou o avental, retocou rapidamente a ma­quiagem e passou a mão pelos cabelos antes de entrar no res­taurante de novo.


 Arthur Aguiar não era homem de se fazer esperar, pensou. Ele estava ao pé da porta. Ela passou por ele e parou na calçada.


Arthur  apontou para o outro lado da rua. Levou algum tempo até que houvesse uma brecha no fluxo de carros para que pu­dessem atravessar.


O automóvel era grande e luxuoso, e Lua sentiu a tex­tura fina do couro.


Ele deu a partida e pôs o veículo em movimento.


Ela não disse nada. Arthur decidiu que parariam em um café. Em outra região da cidade, claro.


A quietude a punha com os nervos à flor da pele. Afinal, conseguira uma chance e não podia perdê-la.


Não demorou muito para que saíssem daquela parte insalu­bre de Sydney, onde a vida noturna não terminava antes do amanhecer, e entrassem na nobre Double Bay, onde pessoas bonitas tomavam café expresso e discutiam os eventos sociais passados, atuais e futuros. Ou criticavam conhecidos e supostos amigos.


Lógico que havia uma vaga no exato local onde ele queria, e Lua sentiu a tensão aumentar enquanto Arthur estacio­nava com habilidade.


Será que iria demorar? Tinha de preparar alguns pontos pa­ra a aula do dia seguinte. Fora direto da escola para o hospital, e depois passara em casa para comer, se trocar e ir para o trabalho na lanchonete.


E, como se não bastasse, seus pés a estavam matando. Os saltos altos eram parte do uniforme; assim como a saia curta e o top reduzido. Lua odiava o traje quase tanto quanto o emprego.


Estava na calçada, aguentando a dor, e se forçou a andar com cuidado quando Arthur apontou um dos bares. Escolheu uma mesa na calçada e logo um garçom veio tirar o pedido.


Lua  pediu um descafeínado, ou não dormiria mais tarde, e sentiu a fome se manifestar quando ele pediu sanduíches também.


- Coma - Arthur ordenou minutos depois, quando a comida chegou.


Ele conhecia a cena. Ela devia ter engolido algo às pressas, ou talvez nada.


Arthur recostou-se no espaldar, observando-lhe os movimen­tos controlados, os dentes muito brancos abocanhando pequenos pedaços. Lua tentava não ser rápida demais para não pa­recer faminta.


Arthur esperou-a comer dois sanduíches e terminar o terceiro café, e foi ao ponto:


- Sugiro que comece a falar.


Ela juntou as mãos no colo, odiando Arthur quase tanto quanto as palavras que estava prestes a dizer. Ergueu o queixo, os olhos assumindo um tom Castanho .


 - Trabalho em dois empregos, um deles sete noites por semana. Não paro nem nos finais de semana. Subtraia o aluguel e a comida, e demoraria a vida inteira para eu pagar o que meu pai lhe deve.


Oh! Deus, como poderia sugerir?! Como seria capaz?! Droga, não tinha escolha!


- Só posso oferecer a mim mesma. - Essa era a pior coisa que tivera de fazer. Apressou-se em continuar: - Como sua amante. Sexualmente, socialmente, por um ano.






continua



6° Capítulo 


Arthur quis sacudi-la. Nem duvidou do que acabara de ouvir. - Então esse é o acordo?


Sua voz soava calma demais, e Lua sentiu um arrepio. Ele aceitaria? Pai Eterno, e se recusasse?!


- Estou pronta para negociar.


Arthur absorveu suas feições em um exame minucioso, até deixá-la a ponto de explodir.


- Em que sentido?


- Assinarei um documento abrindo mão de qualquer bem seu durante nossa ligação, no final dela e até o fim de meus dias. Em troca, você retira todas as acusações contra meu pai.


Ele fez uma pausa antes de responder, cínico:


- Tanta lealdade é admirável. Mas você está preparada pa­ra isso?


Lua  morria por dentro, aos poucos. Forçou-se a encará-lo. Ele era um homem grande,  pelo menos um metro e Setenta  e cinco. Moreno, cabelos castanhos. Os ossos do rosto, marcantes, maçãs largas, maxilar firme, a testa forte. Olhos escuros e penetrantes, a boca sensual.


Algo em sua expressão a incomodava. Uma aspereza que pouco tinha a ver com a astúcia do homem de negócios. Algo além disso. Por trás das roupas caras e da aparência de sucesso, intuiu que Arthur já vira e experimentara muita coisa.


Isso o tornava complexo, perigoso. Uma característica que não aparecia em sua biografia, nem nas fotos da mídia ou co­mentários das colunas sociais.


- Eu poderia ser uma companhia infernal - Arthur murmu­rou, sutil, e percebeu que Lua se arrepiou por um momento. - Ou péssimo na cama.


Ele sorriu divertido ante a audácia dela.


Lua  refletiu, apreensiva, que ele tinha a aparência e o ar de um rapaz seguro e satisfeito com seu desempenho sexual. Como Lua levaria aquilo adiante? A razão a incomodou. As chances de ele aceitar uma proposta absurda como essa eram quase nulas.


Entrou em desespero, e quase perdeu o fôlego.


Não havia mais o que fazer. Vendera o apartamento, ficara só com os móveis básicos, comprara um carro mais barato e esvaziara sua conta bancária para ajudar o pai. Não chegara nem perto de cobrir o que ele devia.


- Você estabeleceu um preço alto por seus serviços. - Arthur não parava de avaliá-la, e imaginava se ela percebia como era fácil analisá-la.


Aceitar pagamentos dessa forma não era novidade, Arthur pensava. Isso ocorria havia séculos.


Na sociedade atual, seria coerção. Mas a proposta partira dela, o que modificava o acordo e abria a possibilidade de tor­ná-lo legal.






continua



 7° Capítulo 


Era intrigante. Sem falsos mal-entendidos, nem interpreta­ções errôneas. Poderia ser até interessante.


Satisfação masculina e gratificação. Não era um motivo dos mais invejáveis, mas algo nele queria dominá-la, até o limite da sanidade, até fazê-la clamar por liberdade.


Química sexual, Arthur concluiu, por estranho que parecesse. Perguntou-se se ousaria levar aquilo adiante.


Lua  terminou o último sanduíche e o café. A palidez de seu rosto se fora, junto com o brilho de suas pupilas.


- Mais café?


Lua passou o guardanapo nos lábios. Estava cansada, e não queria outra coisa senão ir para casa.


- Não, obrigada - respondeu, muito educada.


"Por favor", implorou em seu íntimo, "me dê uma resposta". Seu coração pulava no peito, as batidas rápidas. Arthur es­taria considerando a proposta, ou apenas jogando, sem a menor piedade?


Será que ele se dava conta do que ela passara no último mês, ciente da situação do pai, à espera da queda da guilhotina? Como vivia no extremo, dormindo pouco, perseguida pelo que estava por vir?


- Eu a levarei a sua casa.


Lua ouviu o que Arthur disse e viu-se envolta em clima de desânimo.


- Posso pegar um táxi até meu carro - afirmou, seca, com a amarga consciência de que tinha o dinheiro justo para a via­gem na bolsa.


- Nesse caso, levo você até ele. Para que gastar com táxis? - Sua firmeza indicava que contrariá-lo não seria nada bom. Devia agradecer? Parecia inútil. Por isso, apenas inclinou a cabeça quando Arthur chamou o garçom e pagou a conta.


Lua permaneceu calada no automóvel, incapaz de pro­nunciar uma única sílaba enquanto o veículo deslizava pelas ruas livres.


- Onde está seu carro? - Arthur quis saber, quando chegou ao café onde ela trabalhava.


- Na próxima rua, à esquerda, no meio da quadra.


A indicação precisa o levou até o carrinho velho e gasto, seu único meio de transporte.


Lua alcançou a maçaneta e virou-se para ele.


- Acho que minha proposta não lhe interessou.


Arthur precisava falar com o advogado antes de tomar uma decisão. Além disso, não faria mal fazê-la esperar.


- Entrarei em contato nos próximos dias. Era melhor que um "não" definitivo.


- Obrigada.


Lua saiu, ciente de que ele a esperava abrir a porta e ligar o motor. Então, a seguiu até a avenida principal, onde tomaram direções opostas.






continua




 8° Capítulo 


Arthur  apanhou a minuta do documento trazida pelo mensageiro: o contrato entre ele e Lua. Muito bem escrito, suas cláusulas cobriam qualquer even­tualidade, e ainda mais.


Seu olhar percorreu as páginas com atenção. Quinze meses. Por que capricho quisera aumentar o prazo? Ora, ele poderia querer terminar tudo muito antes. Havia até uma cláusula que lhe garantia esse direito.


Existia um documento separado, que retirava todas as quei­xas contra Billy Blanco e ainda outro que versava sobre o acordo pessoal entre Arthur Aguiar e Lua Blanco. A questão era... Ele aceitava sua parte?


Arthur mediu os prós e contras, e decidiu ser ousado. Como sempre fora.


Havia uma vantagem em ter uma amante. Os limites eram claros, quase como em um negócio.


Brincou com uma caneta, pensativo. Procurou uma ficha no arquivo, anotou um endereço, verificou as horas e resolveu sair.


Antes avisou a secretária que demoraria um pouco e, em caso de urgência, deveria ser contatado pelo celular. Então, vestiu o paletó e pegou as chaves.


Lua  ouviu o sinal que anunciava o fim da aula e do dia escolar, e suspirou de alívio. Ensinar literatura inglesa para adolescentes de dezesseis anos, de culturas e origens tão diver­sas, era uma arte. Conquistar e manter seu interesse ia mais além. Em geral, ela fazia tudo com bom humor.


Estava cansada, pois dormira pouco, sentia-se ansiosa pelo estado de saúde do pai, e tensa sobre o contato de Arthur.


Já fazia três dias que tinham se encontrado. Não recebera nenhuma ligação, e o nervosismo começava a se instalar.


- Não esqueçam, as tarefas são para amanhã - lembrou aos alunos apressados.


Lua  arrumou uma pilha de papéis, guardou-a na sacola e pendurou-a no ombro. Recolheu alguns livros, apoiou-os no quadril e seguiu o último aluno pelo corredor.


Graças a Deus não estava escalada para as aulas de reforço; podia voltar para casa, preparar o exercício para a aula do dia seguinte, tomar um banho, comer e passar no hospital antes de ir para o bar.


- Olá, srta. Blanco.


Lua ergueu a cabeça e sorriu para o aluno.

 - Como vai, Sammy?


- Posso carregar seus livros?


- Se quiser... - Ela lhe passou uma parte e pôs a mão no bolso da jaqueta. A ajuda era bem-vinda.


Caminharam em silêncio até o carro, estacionado na vaga perto dos portões de entrada.


- Está com algum problema, senhorita? A pergunta a pôs em alerta.


- Não, Sammy. Por quê?


- Tem um sujeito de terno perto de seu automóvel. Lua deu uma olhada e sentiu o sangue sumir das faces. Arthur Aguiar.


- Quer que eu o enfrente?


A imagem de Sammy desafiando Arthur chegava a ser en­graçada, mas ela nem sequer sorriu.


- Está tudo bem.


Sammy olhou para sua professora e depois para o homem de ar indolente em pé, ao lado do veículo, esperando como se tivesse todo o tempo do mundo.


- Tem certeza? - indagou, em dúvida, sem saber se Lua tinha idéia do poder que emanava daquele estranho. - Posso buscar ajuda.


- Eu o conheço. - Não era bem verdade. Além do que lia nos jornais, nada sabia do verdadeiro ser existente por detrás daqueles fatos.


- Obrigada por carregar meus livros. Lua esticou o braço para apanhá-los, mas desistiu, sus­pirando, ao ver Sammy dar a volta até o carro. Ele a esperou destravar a porta e colocou-os no banco do passageiro.


- Agradeço por sua gentileza, Sammy.


O rapaz lhe deu um sorriso gentil antes de ir.


- Você tem um protetor e tanto - Arthur comentou, en­quanto ela abria a porta.








continua

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