Cap 2 ao Cap 8
2° Capítulo
Desde muito novo desejara mais do que
essas condições lhe proporcionariam, mais do que contar os centavos durante
toda a vida. Desde garoto quisera sair desse mundo sombrio onde sobreviver era
a única ambição.
Saber se safar de situações difíceis na
cidade grande era uma de suas metas. Estudar era a outra.
E Arthur lutou como pôde, ganhando
bolsas, formando-se com mérito, não pelo prestígio ou para agradar aos pais.
Por ele mesmo.
Tivera muito sucesso. Aos trinta e seis
anos, estava exatamente onde planejara. Podia ter qualquer mulher que desejasse,
e tinha, sempre que lhe aprazia.
Sua última companhia desejava um
compromisso, mas Arthur não queria uma relação duradoura, apesar de gostar de
dormir com ela.
Haveria uma só mulher para um homem?
Duvidava.
O telefone celular interrompeu-lhe o
devaneio. -Aguiar.
- Buenos dias, querido.
A voz era melosa e felina. Tencionava
acelerar seu coração e deixá-lo arrepiado, para que lembrasse o que dispensara
na noite anterior.
- Sasha...
- Estou incomodando?
- Não - respondeu com sinceridade. -
Que tal jantarmos hoje à noite?
Arthur admirava a avidez em uma mulher,
mas preferia tomar a iniciativa.
- Terei de estudar alguns papéis,
Sasha. - Outro dia, então?
Ela se recuperara rápido, mas Arthur
podia perceber a necessidade de afirmação, que preferiu ignorar.
- Quem sabe? - E desligou o aparelho.
Arthur observou o gramado impecável, a água azul da
piscina, a quadra de tênis, e voltou ao jornal.
Serviu-se de mais uma xícara de café,
consultou o relógio e passou geléia no último pedaço de torrada. Cinco minutos
depois entrou na cozinha, enxaguou e colocou os pratos na lava-louças, e
subiu para se vestir.
Possuía dezenas de ternos. Escolheu um
Armani e acrescentou um colete. Vestiu o paletó, verificou a carteira, apanhou
a pasta, o laptop e saiu.
O sistema de segurança estava acionado.
Na garagem, entrou no Mercedes último tipo e arrancou para a rua.
Seu escritório ficava em um andar alto
em um dos edifícios envidraçados do centro, uma obra-prima da arquitetura com
uma vista espetacular do porto.
O trânsito era intenso. Arthur abriu o
laptop, checou a agenda, marcou duas ligações que a secretária deveria fazer.
Quinze minutos depois, entrou no estacionamento e parou na vaga demarcada.
Com movimentos ágeis, desligou o motor,
pegou o laptop e a valise, e saiu do carro.
-Arthur Aguiar?.
Ele estacou diante da voz feminina e
virou-se devagar, o corpo em alerta apesar da aparência tranqüila, pronto para
reagir a qualquer sinal de agressão.
pequena, esbelta, traços
atraentes. Não parecia uma inimiga, mas isso não queria dizer nada. Arthur
sabia o que um expert em artes marciais era capaz de fazer, a despeito do sexo
ou tamanho.
Teria ela uma arma? Arthur a estudou
com cuidado, as mãos segurando a bolsa de couro. Se houvesse uma faca ou um revólver
ali, poderia desarmá-la antes que desse um passo.
Droga, havia seguranças no prédio
inteiro. Como a garota entrara?
- Sim.
- Preciso falar com você.
Arthur ergueu uma sobrancelha e a
encarou, estudando seu próximo movimento.
- Sou muito ocupado. - Puxou a manga do
paletó e consultou o relógio.
- Bastam cinco minutos. - Ela calculara
o tempo, medira as palavras, poderia dizer tudo mais rápido se fosse preciso. -
Marque um horário com minha secretária.
- Eu tentei. - Balançou a cabeça. Nada
na mídia poderia captar a essência daquele homem, ou transmitir sua constrangedora
aura de poder.
continua
3° Capítulo
- Não adiantou. - A jovem forçou um
sorriso. - Sua segurança é impenetrável.
- Mas você chegou até aqui. - Pura
astúcia.
Um pedido desesperado e verdadeiro ao
segurança. Ela só esperava que não custasse o emprego dele.
A mocinha tinha garra, ele precisava
reconhecer. - E agora quer fazer o mesmo comigo?
- E perder mais tempo? Arthur estava
intrigado.
- Dois minutos - estipulou. - Seu nome
é?
-Lua. - Sabia que o resto teria um
efeito desastroso. - Filha de Billy Blanco.
A expressão dele de súbito endureceu e,
quando falou, sua entonação foi glacial:
- Não.
Era o que Lua esperava, mas insistiu.
Precisava insistir. - Você me deu dois minutos.
- Podia ter dado vinte, e a resposta
seria a mesma.
- Meu pai está morrendo.
- Quer minha compaixão? - Tolerância.
Os traços do rosto dele se tornaram
ainda mais implacáveis, o olhar inflexível e perigoso.
- Você ousa pedir tolerância para um
homem que desvio centenas de milhares de dólares de mim?
Lua tentou manter a calma.
- Papai está hospitalizado, com um
tumor cerebral inoperável. - Fez uma pausa. - Se você acioná-lo, ele passará
suas últimas semanas de vida dentro de uma prisão.
- Não. - Arthur apertou o alarme do
carro, pôs as chaves no bolso e começou a andar em direção ao elevador.
- Eu faço qualquer coisa! - Era a
última tentativa desesperada. Duas cartas tinham sido ignoradas, e as ligações
não obtiveram retorno.
Arthur parou, virou-se e a mediu em uma
avaliação insultante.
- Você precisaria fazer mais... - Coçou
o queixo, pensativo. - Mais do que seria capaz.
- Como pode saber?
- Eu sei - disse com total segurança.
Se Arthur entrasse no elevador, seria o
fim. - Por favor...
Ele ouviu o pedido, percebeu o leve
tremor na voz e continuou andando. A porta do elevador se abriu e Arthur falou.
- Você tem um minuto para sair deste
estacionamento, ou será presa por invasão.
Arthur esperou raiva, fúria, ou mesmo
uma agressão. Ou uma cena de choro.
Mas viu apenas orgulho no pequeno
queixo empinado. A boca tremia enquanto ela procurava manter o controle, mas os
olhos ficaram úmidos de repente. Uma lágrima rolou por sua face.
Arthur entrou no elevador e pressionou
o botão. Sua expressão não mudara.
- Trinta segundos.
A porta se fechou e Arthur foi
transportado para o conjunto de escritórios em um andar alto.
continua
4° Capítulo
Acenou de leve para a morena na moderna
mesa de recepção, cumprimentou a secretária e entrou na sala.
A magia da eletrônica lhe rendera uma
fortuna. Desenvolver a tecnologia da informática e a internet eram sua
especialidade. Confirmou os compromissos com a secretária e se pôs a trabalhar.
Duas horas depois, gravou o arquivo em
que estivera trabalhando e puxou o de Blanco. Não para refrescar a memória.
Tinha já muita experiência para se incomodar com qualquer coisa. Mas o rosto de
certa garota o invadira, a imagem da lágrima em seu rosto não o
deixava, e ele queria esquecer.
Billy Blanco, viúvo, uma filha, Lua,
solteira, vinte e cinco anos, professora. Havia um endereço e um telefone, a
escola onde trabalhava. Hobbies.
Arthur levantou uma sobrancelha.
Imprimiu as informações, dobrou a folha
e a guardou no bolso do paletó. Então fez uma ligação:
- Descubra qual a situação de Billy
Blanco e seu estado de saúde.
O homem se dizia falido por dívidas de
jogo. Na época, Arthur não investigara a fundo.
Recebeu a resposta uma hora depois. As
informações sobre sua condição médica coincidiam com o que a filha afirmara. Arthur
imprimiu a folha com as informações e as releu. Havia provas de que Billy usara
o dinheiro para bancar os cuidados médicos da esposa acidentada durante meses,
na luta contra o coma que precedeu sua morte.
Seus olhos se fixaram na data... seis
meses atrás.
O sujeito quase escapara, mas um
auditor encontrara os depósitos irregulares, que eram uma tentativa de
reparação. E suas retiradas do jogo foram uma série de incidentes isolados no
período de um mês. Uma última tentativa para se redimir e pagar o que devia?
Arthur recostou-se na cadeira, estalou
os dedos e semicerrou os olhos.
A vista do porto de Sydney era
fantástica. E agora?
Madre de Dios, em que estava pensando? Blanco
era um ladrão. Por que se interessava por sua filha?
Estava intrigado, concluiu mais tarde.
Lealdade à família: até que ponto iria a dela?
Recordou sua expressão de orgulho,
comparou-a a emoção contida naquela lágrima e decidiu descobrir. Chamou a
secretária. – se Lua Blanco ligar, transfira.
Vinte e quatro horas depois aconteceu,
e Arthur se sentiu satisfeito por ter calculado certo.
Ele foi breve:
- Às sete e meia. - Escolheu um
restaurante. - Eu a encontro lá.
Lua se preparara para outra rejeição, e
ficou dividida entre a esperança e o desespero.
- Não posso.
- Por quê?
Ela vacilou perante o tom arrogante. -
Trabalho à noite.
- Diga que está doente.
"Céus, não posso perder o
emprego!"
- Eu saio as onze - Lua retrucou com
firmeza.
- Obrigações da escola?
- Sou garçonete.
continua
5° Capítulo
Houve um momento de silêncio.
- Onde?
- Longe da região nobre onde você mora.
- Onde?
Lua não poderia sequer imaginar os
lugares onde ele estivera.
Ela deu o endereço.
- Estarei lá.
Trinta minutos antes do combinado Arthur
entrou no bar e se sentou, pediu um café e observou o modo como Lua lidava com
a clientela.
Ele desejava deixá-la nervosa, e
conseguiu. Ficou irritado apenas quando um cliente que bebera demais passou a
mão em seu traseiro.
Arthur não ouviu o que ela disse, mas
não era preciso. Suas pupilas faiscavam, seu rosto estava vermelho.
Será que se ressentia de ter de
trabalhar em um segundo emprego, por seu pai tê-la deixado nessa situação?
Talvez não. Lua mostrara coragem e
orgulho, qualidades que Arthur admirava. Não era por isso que estava ali?
Às onze horas Lua levou uma pilha de
pratos para a cozinha e murmurou uma desculpa rápida sobre não poder ficar
mais. Desamarrou e pendurou o avental, retocou rapidamente a maquiagem e
passou a mão pelos cabelos antes de entrar no restaurante de novo.
Arthur Aguiar não era homem de se
fazer esperar, pensou. Ele estava ao pé da porta. Ela passou por ele e parou na
calçada.
Arthur apontou para o outro
lado da rua. Levou algum tempo até que houvesse uma brecha no fluxo de carros
para que pudessem atravessar.
O automóvel era grande e luxuoso, e Lua
sentiu a textura fina do couro.
Ele deu a partida e pôs o veículo em
movimento.
Ela não disse nada. Arthur decidiu que
parariam em um café. Em outra região da cidade, claro.
A quietude a punha com os nervos à flor
da pele. Afinal, conseguira uma chance e não podia perdê-la.
Não demorou muito para que saíssem
daquela parte insalubre de Sydney, onde a vida noturna não terminava antes do
amanhecer, e entrassem na nobre Double Bay, onde pessoas bonitas tomavam café
expresso e discutiam os eventos sociais passados, atuais e futuros. Ou
criticavam conhecidos e supostos amigos.
Lógico que havia uma vaga no exato
local onde ele queria, e Lua sentiu a tensão aumentar enquanto Arthur estacionava
com habilidade.
Será que iria demorar? Tinha de
preparar alguns pontos para a aula do dia seguinte. Fora direto da escola para
o hospital, e depois passara em casa para comer, se trocar e ir para o trabalho
na lanchonete.
E, como se não bastasse, seus pés a
estavam matando. Os saltos altos eram parte do uniforme; assim como a saia
curta e o top reduzido. Lua odiava o traje quase tanto quanto o emprego.
Estava na calçada, aguentando a dor, e
se forçou a andar com cuidado quando Arthur apontou um dos bares. Escolheu uma
mesa na calçada e logo um garçom veio tirar o pedido.
Lua pediu um descafeínado,
ou não dormiria mais tarde, e sentiu a fome se manifestar quando ele pediu
sanduíches também.
- Coma - Arthur ordenou minutos depois,
quando a comida chegou.
Ele conhecia a cena. Ela devia ter
engolido algo às pressas, ou talvez nada.
Arthur recostou-se no espaldar,
observando-lhe os movimentos controlados, os dentes muito brancos abocanhando pequenos
pedaços. Lua tentava não ser rápida demais para não parecer faminta.
Arthur esperou-a comer dois sanduíches
e terminar o terceiro café, e foi ao ponto:
- Sugiro que comece a falar.
Ela juntou as mãos no colo, odiando Arthur
quase tanto quanto as palavras que estava prestes a dizer. Ergueu o queixo, os
olhos assumindo um tom Castanho .
- Trabalho em dois empregos, um deles sete
noites por semana. Não paro nem nos finais de semana. Subtraia o aluguel e a
comida, e demoraria a vida inteira para eu pagar o que meu pai lhe deve.
Oh! Deus, como poderia sugerir?! Como
seria capaz?! Droga, não tinha escolha!
- Só posso oferecer a mim mesma. - Essa
era a pior coisa que tivera de fazer. Apressou-se em continuar: - Como sua
amante. Sexualmente, socialmente, por um ano.
continua
6° Capítulo
Arthur quis sacudi-la. Nem duvidou do
que acabara de ouvir. - Então esse é o acordo?
Sua voz soava calma demais, e Lua
sentiu um arrepio. Ele aceitaria? Pai Eterno, e se recusasse?!
- Estou pronta para negociar.
Arthur absorveu suas feições em um
exame minucioso, até deixá-la a ponto de explodir.
- Em que sentido?
- Assinarei um documento abrindo mão de
qualquer bem seu durante nossa ligação, no final dela e até o fim de meus dias.
Em troca, você retira todas as acusações contra meu pai.
Ele fez uma pausa antes de responder,
cínico:
- Tanta lealdade é admirável. Mas você
está preparada para isso?
Lua morria por dentro, aos
poucos. Forçou-se a encará-lo. Ele era um homem grande, pelo menos um metro e Setenta e cinco. Moreno, cabelos castanhos. Os ossos
do rosto, marcantes, maçãs largas, maxilar firme, a testa forte. Olhos escuros
e penetrantes, a boca sensual.
Algo em sua expressão a incomodava. Uma
aspereza que pouco tinha a ver com a astúcia do homem de negócios. Algo além
disso. Por trás das roupas caras e da aparência de sucesso, intuiu que Arthur
já vira e experimentara muita coisa.
Isso o tornava complexo, perigoso. Uma
característica que não aparecia em sua biografia, nem nas fotos da mídia ou comentários
das colunas sociais.
- Eu poderia ser uma companhia infernal
- Arthur murmurou, sutil, e percebeu que Lua se arrepiou por um momento. - Ou
péssimo na cama.
Ele sorriu divertido ante a audácia
dela.
Lua refletiu, apreensiva,
que ele tinha a aparência e o ar de um rapaz seguro e satisfeito com seu
desempenho sexual. Como Lua levaria aquilo adiante? A razão a incomodou. As
chances de ele aceitar uma proposta absurda como essa eram quase nulas.
Entrou em desespero, e quase perdeu o
fôlego.
Não havia mais o que fazer. Vendera o
apartamento, ficara só com os móveis básicos, comprara um carro mais barato e
esvaziara sua conta bancária para ajudar o pai. Não chegara nem perto de cobrir
o que ele devia.
- Você estabeleceu um preço alto por
seus serviços. - Arthur não parava de avaliá-la, e imaginava se ela percebia
como era fácil analisá-la.
Aceitar pagamentos dessa forma não era
novidade, Arthur pensava. Isso ocorria havia séculos.
Na sociedade atual, seria coerção. Mas
a proposta partira dela, o que modificava o acordo e abria a possibilidade de
torná-lo legal.
continua
7° Capítulo
Era intrigante. Sem falsos
mal-entendidos, nem interpretações errôneas. Poderia ser até interessante.
Satisfação masculina e gratificação.
Não era um motivo dos mais invejáveis, mas algo nele queria dominá-la, até o
limite da sanidade, até fazê-la clamar por liberdade.
Química sexual, Arthur concluiu, por
estranho que parecesse. Perguntou-se se ousaria levar aquilo adiante.
Lua terminou o último
sanduíche e o café. A palidez de seu rosto se fora, junto com o brilho de suas
pupilas.
- Mais café?
Lua passou o guardanapo nos lábios.
Estava cansada, e não queria outra coisa senão ir para casa.
- Não, obrigada - respondeu, muito
educada.
"Por favor", implorou em seu
íntimo, "me dê uma resposta". Seu coração pulava no peito, as batidas
rápidas. Arthur estaria considerando a proposta, ou apenas jogando, sem a
menor piedade?
Será que ele se dava conta do que ela
passara no último mês, ciente da situação do pai, à espera da queda da
guilhotina? Como vivia no extremo, dormindo pouco, perseguida pelo que estava
por vir?
- Eu a levarei a sua casa.
Lua ouviu o que Arthur disse e viu-se
envolta em clima de desânimo.
- Posso pegar um táxi até meu carro -
afirmou, seca, com a amarga consciência de que tinha o dinheiro justo para a
viagem na bolsa.
- Nesse caso, levo você até ele. Para
que gastar com táxis? - Sua firmeza indicava que contrariá-lo não seria nada
bom. Devia agradecer? Parecia inútil. Por isso, apenas inclinou a cabeça quando
Arthur chamou o garçom e pagou a conta.
Lua permaneceu calada no automóvel,
incapaz de pronunciar uma única sílaba enquanto o veículo deslizava pelas ruas
livres.
- Onde está seu carro? - Arthur quis
saber, quando chegou ao café onde ela trabalhava.
- Na próxima rua, à esquerda, no meio
da quadra.
A indicação precisa o levou até o
carrinho velho e gasto, seu único meio de transporte.
Lua alcançou a maçaneta e virou-se para
ele.
- Acho que minha proposta não lhe
interessou.
Arthur precisava falar com o advogado
antes de tomar uma decisão. Além disso, não faria mal fazê-la esperar.
- Entrarei em contato nos próximos
dias. Era melhor que um "não" definitivo.
- Obrigada.
Lua saiu, ciente de que ele a esperava
abrir a porta e ligar o motor. Então, a seguiu até a avenida principal, onde
tomaram direções opostas.
continua
8° Capítulo
Arthur apanhou a minuta do
documento trazida pelo mensageiro: o contrato entre ele e Lua. Muito bem
escrito, suas cláusulas cobriam qualquer eventualidade, e ainda mais.
Seu olhar percorreu as páginas com
atenção. Quinze meses. Por que capricho quisera aumentar o prazo? Ora, ele
poderia querer terminar tudo muito antes. Havia até uma cláusula que lhe
garantia esse direito.
Existia um documento separado, que
retirava todas as queixas contra Billy Blanco e ainda outro que versava sobre
o acordo pessoal entre Arthur Aguiar e Lua Blanco. A questão era... Ele
aceitava sua parte?
Arthur mediu os prós e contras, e
decidiu ser ousado. Como sempre fora.
Havia uma vantagem em ter uma amante.
Os limites eram claros, quase como em um negócio.
Brincou com uma caneta, pensativo.
Procurou uma ficha no arquivo, anotou um endereço, verificou as horas e
resolveu sair.
Antes avisou a secretária que demoraria
um pouco e, em caso de urgência, deveria ser contatado pelo celular. Então,
vestiu o paletó e pegou as chaves.
Lua ouviu o sinal que
anunciava o fim da aula e do dia escolar, e suspirou de alívio. Ensinar
literatura inglesa para adolescentes de dezesseis anos, de culturas e origens
tão diversas, era uma arte. Conquistar e manter seu interesse ia mais além. Em
geral, ela fazia tudo com bom humor.
Estava cansada, pois dormira pouco,
sentia-se ansiosa pelo estado de saúde do pai, e tensa sobre o contato de Arthur.
Já fazia três dias que tinham se
encontrado. Não recebera nenhuma ligação, e o nervosismo começava a se
instalar.
- Não esqueçam, as tarefas são para
amanhã - lembrou aos alunos apressados.
Lua arrumou uma pilha de
papéis, guardou-a na sacola e pendurou-a no ombro. Recolheu alguns livros,
apoiou-os no quadril e seguiu o último aluno pelo corredor.
Graças a Deus não estava escalada para
as aulas de reforço; podia voltar para casa, preparar o exercício para a aula
do dia seguinte, tomar um banho, comer e passar no hospital antes de ir para o
bar.
- Olá, srta. Blanco.
Lua ergueu a cabeça e sorriu para o
aluno.
- Como vai, Sammy?
- Posso carregar seus livros?
- Se quiser... - Ela lhe passou uma
parte e pôs a mão no bolso da jaqueta. A ajuda era bem-vinda.
Caminharam em silêncio até o carro,
estacionado na vaga perto dos portões de entrada.
- Está com algum problema, senhorita? A
pergunta a pôs em alerta.
- Não, Sammy. Por quê?
- Tem um sujeito de terno perto de seu
automóvel. Lua deu uma olhada e sentiu o sangue sumir das faces. Arthur Aguiar.
- Quer que eu o enfrente?
A imagem de Sammy desafiando Arthur
chegava a ser engraçada, mas ela nem sequer sorriu.
- Está tudo bem.
Sammy olhou para sua professora e
depois para o homem de ar indolente em pé, ao lado do veículo, esperando como
se tivesse todo o tempo do mundo.
- Tem certeza? - indagou, em dúvida,
sem saber se Lua tinha idéia do poder que emanava daquele estranho. - Posso
buscar ajuda.
- Eu o conheço. - Não era bem verdade.
Além do que lia nos jornais, nada sabia do verdadeiro ser existente por detrás
daqueles fatos.
- Obrigada por carregar meus livros. Lua
esticou o braço para apanhá-los, mas desistiu, suspirando, ao ver Sammy dar a
volta até o carro. Ele a esperou destravar a porta e colocou-os no banco do
passageiro.
- Agradeço por sua gentileza, Sammy.
O rapaz lhe deu um sorriso gentil antes
de ir.
- Você tem um protetor e tanto - Arthur
comentou, enquanto ela abria a porta.
continua
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