Designer Image Map

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

The Divide



                                  

capitulo 2





° Capitulo p.1
Essa cena fervia na minha cabeça. Tudo o que eu tinha comigo era uma mochila com alguns cadernos e a roupa do corpo, isso era tudo o que era de fato, meu. Nada mais era real. Meu pai estava morto. MORTO! Minha mãe morta e meu pai, morto. 
E agora? O que seria de mim? Eu não me imaginava mais, não sabia mais quem eu era, ou o que seria me mim. 
Tudo o que eu sabia, é que eles, aqueles três homens mataram meu pai, e estavam me levando pra algum lugar... uma floresta, ou praia deserta, ou sei lá... qualquer lugar onde pudessem me matar e jogar o corpo fora. 
Lua:  Pra onde você vai me levar, seu desgraçado? E quem é você? É o chefe deles? Ou está trabalhando pra alguém? E porque matou meu pai? Ele não roubou nada de vocês...
XxXx:   Você faz muitas perguntas.
Ele respondeu, sem ao menos olhar pra mim. 
Desgraçado. Eu não conseguia me conter, não ia esquecer nunca o que aquele filho da mãe fez. 
Sem pensar duas vezes, eu me virei em direção a ele, e comecei a chuta-lo, com força:                   

Lua: O QUE VOCÊ QUER SEU CRETINO? JÁ NÃO MATOU MEU PAI? VAI FAZER O QUÊ, ME MATAR TAMBÉM? 
E eu chutava aquele filho da puta com toda a minha ira, sujava todo a roupa de marca que ele usava, gritava e o xingava, mas antes que os amiguinhos dele tomassem uma providencia, ele mesmo o fez. Sacou um revolver do bolso e apontou para mim: 
XxXx: Eu acho melhor você cooperar agora!
Eu fiquei estática. Tudo aquilo era surreal. Hoje de manhã eu ia pro shopping com o meu pai, e agora eu ia pra onde? Pra guilhotina?
Lua: ATIRA, ATIRA AGORA SEU IMBECIL. ME MATA QUE NEM FEZ COM O MEU PAI. 
Eu cheguei perto dele, o mais próximo possível e encostei o cano da arma no meu peito:
Lua: ATIRA VAI, MATA UMA ADOLESCENTE DE 17 ANOS, À QUEIMA ROUPA. FAZ ISSO!
Ele me olhou fixamente, pensou por alguns segundos e abaixou a arma. Pegou o celular e discou um numero rapidamente: 
XxXx: Félix? Já estou a caminho. E a propósito: - ele me olhou fixamente – Eu já tenho a garota!
 Ele desligou após isso. E o carro parou. A porta do meu lado se abriu e um dos homens me puxou pelo braço, me arrancando do carro. 
Eu puxei minha mochila comigo, e a pus nas minhas costas. 
Do lado de fora, eu pude reconhecer facilmente onde eu estava. Era um aeroporto particular. Onde um avião de alto porte estava pousado, a alguns metros de distancia de nós. 
Eu tentei olhar pra trás e os outros dois homens também se dirigiam a ele. 
Lua: Pra onde você está me levando?
XxXx: Pra casa!
As escadas do avião desceram e ele me empurrou pra dentro do monstruoso transporte. Por dentro, era quase tão impressionante quanto por fora. Era claro que esses homens eram ricos, ou melhor milionários. Era tudo impecavelmente limpo e luxuoso, um avião inteiro para aqueles três maníacos. 
Ele me direcionou para uma das poltronas, e logo se sentou do meu lado. Mais a frente os outros dois se sentaram, em outras poltronas e o avião ameaçava decolar. 
Eu tirei minha mochila, e a apertei firme contra o meu peito. E eu chorei, novamente. 
Incrédula e perplexa com o que havia me acontecido. E me perguntava , o porquê de tudo aquilo ter acontecido comigo e com o meu pai. O que fizemos de errado? Será que era algum tipo de agiota? Eu não sei, eu não sabia de nada. 
Mas o que você faz quando seu pai é assassinado na sua frente? O que você sente quando esta sentada ao lado do homem que deu um tiro no seu pai? O que você diz quando está num avião com os caras que tiraram de você a pessoa que você mais amava, que você mais admirava, a pessoa que cuidou de você a vida inteira, aúnica pessoa que te restou no mundo desde que sua mãe morreu ? Aquela pessoa que te ajudou a dar os primeiros passos, que ficou triste em saber que sua primeira palavra foi ‘mamãe’ , mas que continuou lá, firme, te segurando. Te dando apoio moral, quando você conseguiu abandonar as rodinhas da sua primeira bicicleta. Que te deu um abraço forte e sorriu para o fotografo, na sua formatura da quarta serie. A pessoa que trabalhou por dois pra te sustentar, e nunca, jamais em nenhum instante, reclamou disso. O que você faz nessa hora? O que você sente? O que você diz? 
Eu me fazia todas essas perguntas, e as lágrimas rolavam instantaneamente. 
O brutamontes passou o braço na minha frente e abriu a janela: 
XxXx: Tem uma vista excelente daqui! Devia aproveitar Miss. Blanco.
Eu fiquei naquele avião por cerca de nove horas. A cada 10 minutos eu olhava o meu relógio de pulso, e enquanto o homem do meu lado dormia eu não preguei o olho, matutando alguma coisa pra ir embora dali. 
Não seria fácil, mas eu ia conseguir. Mesmo se eles tivessem me levando pra outro país, como eu entraria lá? Eu sou brasileira, e menor de idade, não tenho permissão para morar em outro pais sem passaporte ou greencard. Eles iam se ferrar, com certeza. As autoridade me deportaria pro Brasil e eu ficaria num internato, ou juizado, sei lá. Mas com certeza não ia ficar com aqueles homens.
Eu senti a turbulência, e pensei que o avião pousaria em breve. Eu olhei para a janela e senti frio. Já era noite e provavelmente era inverno, seja lá onde eu estava naquele momento. Olhei para baixo, avaliando as roupas que eu usava: Um tênis allstar preto, calça jeans, uma regata braça por baixo de um casaco de malha rosa claro, com um capús bem vagabundo nas costas. Pus o capús na cabeça e fiquei me alerta quando os homens que sentaram na frente se levantaram. 
Prontamente, eu fiz o mesmo, passando na frente do cara que ainda dormia do meu lado. Assustado, ele acordou e também desceu do avião.
Do lado externo, tinha um luxuoso carro à espera, com um motorista, à posto. Ele abriu a porta para os homens, sem abrir a boca pra dizer nada, e eu reivindiquei: 
Lua: Eu não vou entrar aí. – Eu dei uns passos pra trás, pronta pra correr.
XxXx: Julian, segure-a .    –  disse o suposto patrão deles. 
 E ele rapidamente, segurou meu braço, me empurrando em direção ao automóvel:
Lua: Vocês não podem fazer isso, é ilegal. Eu sou uma cidadã Brasileira. Não posso entrar em outro país assim, eu vou denunciar vocês, isso é seqüestro – eu gritava.   
Julian: Fica quieta garota. 
E novamente ele me jogou no carro. Eu já estava de saco cheio disso. Mas dessa vez ele ficou. Só o patrão, e o outro capanga seguiram viagem. E no banco traseiro, novamente, o homem sentou do meu lado. E eu precisava começar a entender o que acontecia ali:
Jennifer: Você é o patrão? É o chefe? - Perguntei, encolhida do canto, segurando minha mochila contra mim. 
XxXx: Rótulos e mais Rótulos. Eu sou Arthur.
Lua: O que você vai fazer comigo?
Arthur: Te levar pra casa!
Ele me olhou, sorriu, e voltou a olhar para frente. 
Seja lá o que viria, eu logo ia descobrir.
O trajeto de carro, durou cerca de 3 horas. Quando o motorista estacionou, eu logo me ajeitei, a fim de saber onde eu estava.
Arthur: Mudança de planos, Roger. Ela fica - Disse para o capanga. 
Roger: Mas senhor, como assim, ela fica? 
Arthur: É uma ordem.   – respondeu, enquanto mexia brevemente no celular.
Roger: Mas senhor, ela não pode ficar aqui, ela é uma...
Arthur: Obrigada pelos seus serviços, Roger. Dispensado por hoje. 
Ele saiu do carro e em seguida, bufando algumas coisas em outro idioma, o capacho logo saiu também. 
Eu não sabia o que estava acontecendo mas também desci do carro. E seja lá onde eu estava, era estranho porque era de dia. Muito confuso, porque só de viagem eu tinha calculado umas 6 horas. Talvez o fuso horário, tenha interferido. 
E ao olhar pra frente, eu vi umas das coisas mais inacreditáveis que eu já tinha visto na vida. Eu não ousaria chamar aquilo de casa, e nem de mansão. Talvez palácio, ou sei lá... 
Era branca e na entrada tinha um jardim, que simplesmente era fantástico. 
Dessa vez, ninguém saiu me puxando pelo braço. O capacho, tal de Roger, tinha saído de perto, o motorista tinha tirado o carro e o tal de Arthur, provável dono da casa, caminhava em direção à porta da mansão, sem me esperar , ou dizer nada. 
Sem pensar duas vezes, eu saí correndo, pra fora dali, ao lado oposto da casa. Corri desesperadamente, em busca da única chance de fuga que eu poderia ter.
Em vão. Mais adiante tinha um portão enorme de ferro, que mais pareciam grades de prisão. E no meu caso, eu acho que realmente eram grades de prisão. 
Eu segurei as barras do portão com força e as sacudi: 
Lua: SOCORROO!!!! SOCORROO! ALGUÉM ME TIRA DAQUI. 
Eu fiquei lá, durante um bom tempo. Gritando por misericórdia. E ninguém me ouvia. Eu tinha a conclusão que a sensação de estar em um lugar vazio, gritando sem ninguém me ouvir, não era só internamente, era externo também. 
Parecia que quanto mais eu gritava, mais sozinha eu ficava. Eu tentei escalar, mas não dava, não tinha suporte para eu apoiar, e os muros eram altos demais. Além do mais, pra onde eu ia, aliás, onde eu estava? Quem eram aqueles homens? Porque mataram meu pai? Eu não sabia de nada disso. Estava de mãos atadas. 
Lua: SEU FILHO DA PUTAAAAA, DESGRAÇADO! EU VOU MATAR VOCÊ.
Eu gritei mais uma vez, em direção a casa que estava a km de distancia de mim. Eu queria que ele ouvisse o amaldiçoando, que me deixasse ir embora ... que não me fizesse mal. 
E eu chorei novamente. Chorei até cair no chão. E fiquei lá por algum tempo. Praguejando o infeliz, tirando do meu peito toda a angustia daqueles sentimentos recém adquiridos. 
Mas eu já estava cansada de fica lamentando, de não ser ouvida, de não estar entendendo o motivo pelo qual mataram meu pai do nada. 
Eu me levantei e sai correndo, em direção a mansão. Eu corria num velocidade inacreditável, gritando e chorando, sentindo a raiva tomar conta do meu ‘eu’. Eu ia matar aquele cretino, eu ia acabar com ele, como ele fez com o meu pai. 
Eu atravessei o jardim como uma bala, cheguei a tropeçar e cair no chão, mas me levantei e continuei a correr, desesperadamente em direção a porta frontal, que estava aberta. 
Lua: Arthur? VEM AQUI SEU DESGRAÇADO, APARECE... 
Eu parei na entrada, e chamei por ele, eu gritei por ele. E ele não veio, nem que fosse pra me matar ali mesmo, mas eu queria que ele aparecesse novamente. Meu rosto estava quente e encharcado de lágrimas, mas eu não me contive e continuei gritando, até que uma voz, desviou minha atenção: 

XxXx: What are you doing? (O que você está fazendo?)

Uma mulher baixa, do peso ideial de meia idade ,apareceu falando alguma coisa em outro idioma, e sua feição parecia brava com a gritaria que eu fazia.Eu corri até ela e segurei seus braços com as duas mãos, sacudindo-os desesperadamente:
Lua: Cadê o Arthur? Onde ele está? Me fala, onde ele ta! 
XxXx: lemme go! (Deixa eu ir!)
Lua: Cadê ele? 
Eu estava tão revoltada, que não percebi direito que ela não falava minha língua. 
Eu a soltei, e levei minhas mãos até minha cabeça, apertando meus cabelos com força. Confusa com aquilo, querendo saber qualquer coisa...Eu dei um grito agudo tão forte que a mulher encostou no meu ombro, e eu a olhei: 
XxXx: Are you Ok? (Você está bem?)
Lua: Eu sei lá o que você ta falando!
Eu comecei a chorar novamente. E gritava cada vez mais alto, enquanto gritava. Eu olhava em volta, e a casa era enorme, varias escadas, e provavelmente ele nem estava me escutando. 
A mulher continuava lá me olhando, agora com cara de pena. Ela não sabia o que fazer, e estendeu a mão para mim. 
Eu não podia lutar mais, eu estava sozinha.
Enfim eu cedi e segurei a mão dela.
Ela me levou para uma cozinha do tamanho da minha casa. Puxou uma cadeira para eu sentar, e eu o fiz. 
Ela pegou um guardanapo e me entregou. Esperou mais alguns minutos até eu me acalmar e voltou a perguntar algumas coisas: 
XxXx: What’s you name, sweetie? (Qual é o seu nome, querida?)
Lua: Eu não sei o que a senhora ta falando.
XxXx: Name, your. My name is KATIA, and you? (Nome, o seu. Meu nome é KATIA, e você?)
Lua: Nome? Quer saber meu nome? 
Katia: Name, yes, your name. (Nome, sim, o seu nome.)–  ela fez sinal de positivo.
Lua: Eu sou Lua. 
Katia:Lua, this is your name? (Lua, este é o seu nome)
Jennifer: Eu não sei o que você ta falando moça. Mas é inglês não é? Eu não falo inglês, nunca aprendi nada na escola. Onde eu estou?
Eu tentei fazer algumas mímicas pra ela, mas ela não entendeu, e eu não a entendia. 
Até que ela saiu do nada, por uma porta anexo da cozinha, e alguns segundos depois, voltou com um homem, num macacão preto, meio sujo, e com o cabelo desgrenhado, parecia ser o jardineiro. 
Katia: She doens’t understand me. She is not american.( Ela não me entende. Ela não é americana)
Ela falava com o homem algumas coisas e ele me olhava fixamente, com as sobrancelhas franzidas, aparentemente confuso. 
XxXx: I don’t know. Do you think she’s brazilian?( Eu não sei. Você acha que ela é brasileira?)
Katia: Maybe. (Talvez.)
Eu olhava para eles como um peixe fora d’agua. Mas o homem se sentou em uma das cadeiras e falou comigo:          
XxXx: Você fala minha língua?
 Eu sorri, pela primeira vez.
Lua: Falo, graças a Deus. Eu sou Lua. Como eu posso ir embora daqui.
Eu levantei e me ajoelhei diante dele, segurei suas mãos e olhei com impaciência, depositando naquele homem as ultimas esperanças que eu tinha pra ir embora dali.
XxXx: Fica calma, mocinha. Eu sou o Pedro, por favor, acalme-se.
Lua: Eu fui seqüestrada, eles mataram meu pai, senhor. Me tire daqui, eu te imploro, vocês também estão em perigo, todos estão. Eles vão nos matar. 
Eu me levantei desesperada, peguei minha mochila e comecei a chorar novamente, já procurando a saída
Os dois me olhavam assustados, como se não soubessem de nada do que acontecia naquele lugar: 
Pedro: Fica calma. Primeiro me diz com quem você chegou aqui. 
Eu engoli o choro e me aproximei um pouco novamente. 
Jennifer: Com alguns homens, que mataram meu pai. Arthur é o homem que entrou nessa casa. 
Eles se entreolharam, e o homem, fez uma careta reprovativa.
Pedro: Você entrou na casa com o senhor Arthur Aguiar? 
Lua: Eu não entrei com ele necessariamente, você vai me ajudar ou não moço? Eles mataram o meu pai, senhor. Me ajude, a sair daqui , por favor.
Ele olhou para mim com piedade, e olhou para a mulher, a Katia. Provavelmente já estava a par da minha situação e não achou que era coisa boa. Obviamente. 
Pedro: She came with him! (Ela veio com ele!)
Katia: Oh my god! She is the girl!( Oh my god! Ela é a garota!)
Eles se olharam e eu deduzi que coisas horríveis iam acontecer comigo.
Pedro: Katia, can you leave us alone? (Katia,você pode nos deixar em paz?)
Katia: Sure. (Certo)

A mulher, pegou uma bandeja de café que estava em cima da pia e saiu do nada. Talvez o senhor Pedro tenha pedido para ela sair. 

Lua: Ele é o dono dessa casa? Esse tal de Arthur?
Pedro: Senhor Aguiar. Os criados não se dirigem a ele como Arthur. E sim, ele é o dono da casa e também é um dos homens mais ricos do mundo. Ele tem apenas 23 anos, mas apesar de novo, é o único herdeiro vivo da fortuna da família. E acredite o império Aguiar é imenso. Eles estão em tudo, desde a cama que você deita até o papel higiênico que você usa. Eles têm dinheiro investido em tudo. 
Lua: Império? Família? Não, esse homem é um criminoso. Ele matou o meu pai hoje de manhã, na minha frente... 
Pedro: Assuntos do trabalho do patrão não são discutidos, muito menos pelos empregados. 
Lua: Como assim?   – eu comecei a me exaltar.   – Ele matou o meu pai. Me trouxe pra cá... aliás, onde eu to? 
Pedro: Califórnia, Estados Unidos. Você vai morar aqui, provavelmente. 
Lua: Como assim? Eu não posso morar aqui. Eu vou morar com quem?
Pedro: Como o senhor Arthur. 
Lua: O quê?    – eu fiquei perplexa.   - Eu vou morar com o homem que matou meu pai? Quantas garotas moram aqui? Ele é algum cafetão americano?
Pedro: Não – ele diminuiu o tom da voz. –   Normalmente ele não deixa nenhum rastro. Nenhum. Se é que você me entende.
Eu pensei comigo, e se ele mata as pessoas e não deixa testemunhas pra trás, porque eu ainda estava viva?                  
Lua: Então o que eu estou fazendo aqui, senhor Pedro? 
Pedro: Eu tenho pra mim, que você é a escolhida.
Lua: Escolhida? Mas pra quê?
Pedro: Pra ser a esposa dele!


E o impacto foi tão intenso que eu senti alguns cacos entrarem na minha pele, mas eu não parei, eu gritava mais alto ainda, e com a palma da mão aberta eu continuava a quebrar o espelho, esfolando minha mão, sujando aquele quarto branco de vermelho, sujando aquela casa com o meu sangue. 
Eu gritava mais e mais e mais, sabia que ele podia me escutar. Eu chamava o nome dele, mas ele e ninguém aparecia. Eu resolvi começar a tomar minhas decisões e acabar com tudo aquilo. Peguei um pedaço grande de vidro e caminhei até a porta desesperadamente. 
Do lado de fora eu batia em todas as portas do corredor, as sujando de sangue e chamando por ele:

Lua: CADÊ VOCÊ, SEU CRETINO? NÃO É SANGUE QUE VOCÊ GOSTA DE VER? ENTAO EU VOU TE DAR. EU VOU ME CORTAR ATÉ NÃO SOBRAR NADA. EU MESMA ME MATO, MAS EU NÃO VOU FICAR AQUI NESSA MALDITA, MALDITA, MALDITA CASA!
Eu batia, na verdade esmurrava as portas, mas ele não ligava, não atendia. Até que do topo da escada, a alguns longos passos de mim, o Pedro apareceu: 
Pedro: Lua, o que está fazendo? - ele parecia assustado. 

Lua: Eu vou matar esse desgraçado, Pedro. Vou acabar com a vida dele. 

Ele se aproximava cuidadosamente e estendia sua mão para mim:

Pedro: Me dê o vidro, querida. Vai ficar tudo bem com você! 

Lua: Você acha que eu estou bem? Acha que eu devia soltar fogos, Pedro? 

Pedro: O que eu quero dizer, é que você precisa se acalmar.

 Eu o olhava fixamente, e antes que ele pudesse pegar o vidro da minha mão, eu mesma o joguei longe, o fazendo quebrar mais ainda no chão. E berrei: 

Lua: Então me mata, Pedro! Me leva pro meu pai. Me tira daqui! 

Ele me olhou com piedade e me abraçou forte. Apertava minha cabeça contra o peito dele, e repetia que eu devia me acalmar, mas o nervoso era maior que eu. Ele me levou lentamente de volta para o meu quarto, e me sentou na cama, se sentando do meu lado:

Jennifer: Não quero ficar aqui, Pedro, eu não posso!!!
Pedro: Acalme-se, Luh, você vai ficar bem, eu lhe garanto. Eu entendo o que você sente, sei que tem raiva do Sr. Aguiar, mas fazer o que está fazendo só vai piorar a sua situação, acredite em mim. 
Lua: Piorar? É possível que minha situação piore? - perguntei incrédula. 

Pedro: Acredite, é possível. Ele não vai tolerar esse tipo de comportamento, você precisa mudar. – ele me olhava fixamente, como se esse fosse o melhor conselho do mundo.

Pedro: Eu vou pedir que a Katia arrume alguma roupa pra você. Nessa porta da frente, - ele apontou para a porta. – é um banheiro, e tem uma banheira, você pode tomar um bom banho e pensar melhor. Tenho certeza que vai se sentir muito melhor. 
Lua: Promete que vai me ajudar a sair daqui? 
Pedro: Tome o banho e vai se sentir muito melhor.
Ele sorriu amigavelmente e deixou o quarto. Eu tirei minha mochila das costas e sequei o rosto com as mãos mesmo. Conseqüentemente sujando todo o meu rosto de sangue, eu realmente precisava tomar banho. 

Dei um tempo no quarto, respirando fundo, tentando não surtar outra vez e me levantei, indo até a porta da frente e a abrindo devagar. 
E como o Pedro tinha falado, era mesmo o banheiro. Eu entrei e tranquei a porta. Caminhei lentamente até o centro do banheiro que mais parecia um quarto de tão grande. Cuidadosamente, comecei a tirar minha roupa, atenciosamente para não machucar mais a mão. A calça foi mais difícil, mas eu o fiz sem reclamar. Deixei a roupa toda no chão e entrei no chuveiro, logo fechei a porta, eu ri. Sim, não era uma cortina, era uma porta de correr que eles usavam no Box, ricos miseráveis. Com a mão boa, eu liguei o chuveiro e logo senti a água morna cair sobre o meu cabelo. 
Eu abaixei a cabeça e olhei no chão, toda a sujeira indo embora pelo ralo. Todo o meu dia, indo embora pelo ralo. Eu levantei a mão machucada e deixei que a água o limpasse. Haviam muitos cortes, tantos que eu quase não enxergava mais nada na minha palma, em meio aos arranhões e alguns cortes profundos. 
E eu fiquei lá, dando um enorme prejuízo na conta de água dele. Acredito que por mais de 1 hora debaixo d’agua. E quando eu me cansei, quando meu corpo não suportava mais, eu saí de lá, me enrolei em uma toalha e dei o fora daquele banheiro. 
Quando entrei no meu quarto, em cima da cama, tinha algumas pelas de roupas e no chão, abaixada, próximo à cômoda, a Katia limpava os cacos de vidro: 
Lua: Katia, larga isso tudo, deixa que eu mesma me viro, por favor. 
Eu fui até ela e a puxava pelo braço, mas ela falava alguma coisa em inglês e sacudia o braço, como se pedisse pra eu soltá-la, eu não sei, mas eu o fiz. 
Eu sorri, meio sem graça e me sentei na cama, olhando as roupas que estavam lá. Quando ela terminou, pegou o saco de lixo e me olhou nos olhos, me hipnotizando com aqueles olhos castanhos:
Katia: That’s ok, don’t be mad, sweetie. (Tudo bem, não fique brava, querida)
Peguei uma escova de cabelo que eu tinha jogado no chão, e penteei meus cabelos loiros, longos, como os da minha mãe quando ela tinha minha idade. Senti a falta dela naquele momento. E agora eu tinha meu pai pra sentir falta também. Que ironia! 
Um bater na porta, me fez voltar a minha medíocre realidade. Eu me sentei na cama, e perguntei quem era:
Pedro: Eu, senhorita! 
Lua: Entre.
Ele me olhou sorridente, e entrou, carregando uma pequena maleta com ele: 
Lua: O que é isso? 
Pedro: Primeiro socorros. Posso? -Ele perguntou, referindo-se à cama. 
Lua: Claro que pode se sentar, Pedro. 
Pedro: Deixe-me ver o estrago. – Eu lhe dei meu pulso, ele arregalou os olhos. – Isso aqui está horrível, você tem um soco certeiro, heim garota!-ele riu,mas logo parou.- Er, me desculpe, não quis ser indelicado. 
Lua: Não se desculpe. – Em outra ocasião, eu teria rido da piada, mas hoje não era um bom dia.
 Ele enfaixou minha mão até o pulso em questão de minutos, e garantiu que em poucas semanas eu poderia tirar a atadura. 
Mas eu ainda queria saber algumas coisas, então antes que ele se retirasse, eu logo me aprontei: 
Lua: Você é brasileiro, não é? 
Pedro: Sim, criança. Eu mas eu moro aqui desde os 8 anos de idade. 
Lua: Trabalha aqui a muito tempo? 
Pedro: Bastante. 
Lua: Então sabe tudo o que o Sr. Aguiar faz, não é?
Pedro: Lua, aprenda uma coisa: - ele me olhou nos olhos e baixou a voz – Assuntos do trabalho do patrão, não é discutido pelos funcionários. 
Lua: Mas ele mata pessoas. Ele tem que ir pra cadeia.
Pedro: Ele é a autoridade. A família dele é. 
Lua: Mas você disse que ele é o único herdeiro, não é? 
Pedro: Não precisa ter uma família pra mandar na cidade, um Aguiar  já faz isso muito bem.
Lua: Me explique, Pedro. O que ele faz, exatamente? 
Pedro: Ele é empresário de muitos ramos, uma infinidade. Mas é mais conhecido pelos jogadores de futebol, beisebol, basquete, que já agenciou. É sócio fundamental da NBA, já ouviu falar, não é? 
Lua: A liga de basquete? 

Ele deu um pequeno sorriso irônico.
Pedro: Não é só ‘a liga’. É A LIGA, a mais importante, a milionária, a mais famosa, enfim. Mas não é só isso, os Aguiar tem dinheiro investido em tudo, como eu já falei.
Lua: Então porque diabos ele matou o meu pai? 
Pedro: Obviamente, os motivos eu não sei, criança. Mas se você está aqui, já é alguma coisa grande. 
Lua: Bom você falar nisso, que historia é essa de casamento? Se ele é tão milionário assim, porque não arruma umas prostitutas e curte a grana que os pais deixaram?

Pedro: Não é assim que funciona as coisas nessa casa.  – ele mudou a feição do rosto e logo se levantou. – Eu vou embora, você deve estar cansada. 
Lua: Não, - eu puxei sua mão. – me conta Pedro. Porque eu vou me casar com ele? 
Pedro: Procure dormir bem, criança. Boa noite. 
Ele apertou o passo, e rapidamente saiu do quarto, deixando pra trás um milhão de perguntas sem respostas. 
Tudo o que eu queria saber era o motivo da minha insignificante presença naquela casa, e porque eu deveria me casar com ele. Afinal de contas, não fazia nenhum sentindo. Ele era jovem, não era feio, e rico. Mulheres gostam disso, porque ele queria se casar comigo? Eu não sabia, e pelo visto não ia descobrir nada do Pedro, pelo menos não por hoje.
Eu olhei para a janela através das cortinas e vi que já era noite. Mas ainda deveria ser cedo, porem pelo fuso horário, eu já estava cansada. E amanhã seria um grande dia pra mim, um dia cheio de surpresas e eu ia torcer, pra sair daquela casa e voltar pro Brasil, para enterrar o meu pai. 
Eu joguei minha mochila pra fora da cama e deitei. 
A cena de ser arrastada pelos cabelos, do chão até o carro, não saia da minha mente. Porquê? Porquê meu Deus? 
Eu precisava de respostas, e não ia descansar até descobrir todas.
Mas por hora, eu precisava descansar, e o sono não demorou muito para me atacar violentamente.
Em poucos minutos, eu caí num sono profundo. E pela primeira vez, eu tive a certeza que o verdadeiro pesadelo acontecia quando eu estava acordada e não dormindo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário