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terça-feira, 29 de outubro de 2013

The Divide




Capitulo 9





Capitulo 9 parte 1
O sacrifício
O ar frio da Califórnia no inverno era chato. Me fazia sentir saudade do calor do verão brasileiro, mas quando a gente acorda, aquele friozinho que corre do corpo é tão bom. Mas eu sabia o motivo daquele súbito friozinho, e sem abrir os olhos eu implorei:
Lua: Katia, só mais 5 minutos....por favor!
Katia:Não, já passou da hora de levantar. Assim, vai perder a manhã toda. 
Ela abria as cortas, deixando o clarão invadir o quarto. 
Lua: Porque eu tenho que acordar cedo, se eu não faço nada?
Katia: Porque eu gosto de conversar com você. 
Eu ri e ela também. Eu levantei e a olhei, se aproximar da minha cama, e me olhar carinhosamente:

Katia: Como você se sente hoje, Lu?
Lua: Sozinha entre milhões. 
Ela esboçou um sorriso. E eu ignorei COMPLETAMENTE a idéia de dizer para ele que era meu aniversario. 
Katia: Vista-se, o Sr. Aguiar a espera.
Aff, obrigada por estragar meu dia Katia, pensei. 
Ela deixou o quarto e meu levantei, me espreguicei, enrolei.. tudo para atrasar mais ainda o meu dia de tortura. Tomei um banho demorado e deixei os cabelos molhados, vesti uma calça jeans, um moletom bem largo, mas que me acolhia no frio e o meu all star. Dispensei todas as dicas de moda da Lauren e coloquei a roupa mais a vontade possível.
Eu nunca ia me arrumar para o Aguiar, nunca.
E assim eu desci as escadas, já procurando com os olhos com ele estava, em vão. Na cozinha Pedro conversava com Katia, mas quando eu apareci eles pararam de falaram rapidamente: 
Lua: Tudo bem, gente?
Pedro: Ér, tudo sim. Porque não senta e toma café da manhã?
Ele tentou disfarçar mas eu senti o climão. Eu sorri e de pé mesmo, peguei um pedaço de bolo, e perguntei com a boca cheia: 
Lua: Cadê o homem?
Pedro me olhou triste, e fez um gesto com as mãos: 
Pedro: Acalme-se, criança. 
Eu franzi a testa mas antes que eu abrisse a boca pra perguntar o que estava acontecendo, o chefão do mundo deu o ar da graça, chamando meu nome e eu logo me virei, engolindo o bolo todo de uma vez e limpando a boca:   
Lua: Sim, senhor?

 Ele me olhou de cima a baixo e rolou com os olhos. Obviamente irritado por eu estar de moletom e jeans, sendo que no dia anterior eu estava tão .... bonitinha. 
Ele pareceu não gostar do que viu. Mas ao contrário de mim, ele estava de terno, como sempre, e eu perguntei se ele não tinha outra roupa.
Arthur: Você está pronta?
Lua: Para o quê, necessariamente?
Arthur: Para a cerimônia!!!
Eu apertei os olhos em cima dele, tentando me manter equilibrada, mas já sabendo onde essa historia terminaria.       
Lua: Que tipo de...cerimônia...Senhor?
Arthur: De casamento, é claro. Ou você não sabia que se casaria comigo?
Eu não quis mais ouvir aquilo, era loucura. Eu não podia me casar no dia do meu aniversario de 18 anos, com um estranho, assassino, nos Estados unidos. Era surreal, fora de cogitação, e minhas pernas bambeavam, o medo que me invadiu foi tão grande que eu deixei minha voz ser afetada, e gaguejando eu pedi:
Lua: Se-senhor Aguiar... eu te imploro, senhor. Não me obrigue, por – por favor. Eu quero me casar, senhor.
Ele me olhava neutro, sem denunciar qualquer tipo de emoção. 
Arthur: Já está decidido, Miss Blanco.
E assim ele se virou, mas antes que desse um passe eu puxei o braço dele:
Lua: Senhor, senhor... por favor, não faça isso comigo, eu não posso senhor. Sou menor de idade, não posso me casar. Eu posso trabalhar nessa casa de graça pelo resto da minha vida para pagar o que meu pai deve , mas por favor, não faça isso senhor. – eu já começava a chorar de desespero e o meu corpo cai ao chão, me deixando ajoelhava segurando a perna dele – Por favor senhor, eu te imploro, tenha piedade. 
Arthur: Levante-se, não me faça te arrastar até o salão. – ele disse, me olhando e desdenhando minha ação.
Capitulo 9 parte 2
Ele puxou a sua perna brutalmente me fazendo cair de lado e saiu caminhando em direção ao salão de festas. Antes que eu começasse a gritar, Katia veio até mim, também chorando. Claramente tinha presenciado tudo: 
Katia: Levante-se Lu, vá atrás dele. Vá, vá. 
Lua: NÃO. EU NÃO VOU ME CASAR COM ELE.- eu comecei a gritar e chorar. 
Katia: Lu,Lu ,olhe para mim. Você não vai querer afrontar esse homem. Eu digo por conta própria: Ele é perigoso, e não vai te perdoar se não entrar naquela sala agora e assinar aquele papel. Vá, e case-se com ele.
Ela me olhou fixamente, e eu senti o desespero no tom dela. E eu queria lutar, dar um jeito de acordar daquele pesadelo, mas não era possível, porque ali era a minha realidade, no chão, chorando por um pouco de compaixão.    
Ela me puxava, tentando me levantar, mas eu não fazia esforço para sair do chão, eu estava entregue. Eu desisti de tentar fazer parte daquele mundo. 
Até que Pedro apareceu, meio afobado e parou diante de mim: 
Pedro: Levante-se. – ele ordenou.
Lua: Ele vai me matar. Ele vai acabar comigo. – eu chorava, cada vez mais. 
Pedro: Pense em seu pai, criança. Pense nele.
Eu me recusava a pensar. Seja lá em que fosse, mas era impossível não pensar no que meu pai me disse sobre fazer o dever de casa!
Era isso, essa era a hora de eu começar a fazer. Era a hora de eu entrar naquele mundo definitivamente, e por mais que levasse uma vida inteira, um dia, eu ia vingar a morte dele. 
Essa sim, era a única certeza que eu tinha na vida.
Eu demorei pra levantar, mas quando o fiz, foi de uma vez só. Me ergui e limpei as ultimas lágrimas que eu deixaria cair. Sai caminhando em direção ao salão de festas e sem olhar pra trás, eu entrei lá. 
Tinha somente um homem de terno, o mesmo do dia anterior que falava com o cretino no hall, e outro homem que estava em pé atrás de um mesa. Talvez fosse o juiz que oficializaria o casamento, pensei. 
Quando eu entrei na sala, eu caminhei direto para a frente da mesa, sem perguntar nada. O Aguiar se aproximou, parando também do meu lado, e acenou positivamente para que começasse a cerimônia. 
E eu me lembrei que minha idéia de casamento não era essa. Eu estaria de vestido branco, véu e grinalda, entrando numa igreja com meu pai , caminhando até o homem que eu aceitaria passar todos os dias da minha vida. Não me casando numa sala, de moletom, cabelos molhados, com um assassino. Eu deixei uma lágrima cair, involuntariamente, mas minha postura era ereta, eu estava dura como uma pedra, olhando diretamente para o juiz, que logo começou a falar. 
Eu sentia meu corpo tremer de raiva, o ódio crescer mais , a sede de vingança tomar conta do meu eu. 
E na pergunta que mudaria minha vida, eu fiz questão de não pensar em mais nada, prestar bem a atenção para não me esquecer daquele momento nunca mais nada vida: 
Juiz: 
Arthur Queiroga Bandeira de Aguiar, você aceita essa jovem: Lua Maria Blanco para ser sua esposa, na alegria, na tristeza, na riqueza e na pobreza...Até que a morte os separem?
Eu não fiz questão de olhar para ele, mas ele prontamente, respondeu:
Arthur: Aceito! 
Juiz: Lua Maria Blanco, você aceita esse jovem
 Arthur Queiroga Bandeira de Aguiar  para ser seu marido, na alegria, na tristeza, na riqueza, na pobreza... Até que a morte os separem?
Lua: Eu sou ilegal no país, não posso me casar.
Eu senti a respiração do Aguiar acelerar, mas eu estava decidida a fazer de tudo para acabar com ele. O juiz me olhou estranhamente e logo se curvou na mesa para procurar alguns papeis que confirmasse o que eu disse, mas logo se virou para mim, ajeitando seus óculos e lendo um papel:
Juiz: Não, Miss. Blanco. Aqui consta que você é uma recente oficializada cidadã americana. 
Eu arregalei os olhos ,e quase gritei:
Lua: Cidadã americana???? Não senhor, eu sou Brasileira, pode procurar senhor...
Eu também me curvei, procurando alguns papeis que provessem o que estava falando. Aguiar permanecia ereto, sem mover um músculo:
Juiz: Não, esta tudo certo. Você é órfã, e atualmente mora aqui, não é? 
Lua: Sim ,mas ....
Juiz: Você foi oficializada como cidadã, sem mais, Miss. Blanco. 
Ele pareceu se irritar, e eu não sabia o que estava acontecendo, mas é claro que tinha o dedo do cretino nisso. 
Juiz: Então, você aceita se casar com o senhor Arthur Queiroga Bandeira de Aguiar?
Eu não pude acreditar, era o fim.  Eu virei todo o meu corpo para o Aguiar, que somente virou a cabeça para mim, me olhando fixo, mas visivelmente******com o que eu fiz. Com os olhos cheios d’agua eu sussurrei a ultima vez:   
Lua: Não, por favor...
Ele não disse nada, apenas olhava no fundo dos meus olhos.
Juiz: Aceita, ou não?
A lágrima caiu e eu pensei: Me desculpe, pai. 
E antes de dar a resposta, eu olhei para dentro dos olhos do Aguiar e sussurrei em português:
Lua: Seu desgraçado! 
Me virei para o Juiz e respondi:
Lua: Eu aceito!
Capitulo 9 parte 3
Eu respondi, ainda encarando o cretino, que fazia o mesmo. 
Juiz: Podem trocar as alianças.
Rapidamente, o homem que estava na casa ontem e assistia a cerimônia, tirou uma caixinha do paletó e entregou ao Aguiar, que a abriu e tirou minha aliança de lá.
Virou-se para mim, sem me olhar, e de qualquer jeito, enfiou o anel no meu dedo.
Eu também peguei o anel na caixinha, e segurei a mão dele na minha. Tentando enxergar onde eu havia errado, para estar ali naquele momento. 
Eu olhei para ele, e ele também me olhou. Seus olhos castanhos gritavam de raiva em cima dos meus, e seu corpo também queimava de ódio perto do meu, eu podia sentir. 
Ali não havia magia ou amor, coisas que um dia eu sonhei para o dia do meu casamento. Ali havia, tristeza, raiva, mágoa, saudade, ambição, interesse, medo... tudo o que não se devia ter em um casamento. 
Mas brevemente eu o fiz. Coloque a aliança da mão esquerda dele, bem devagar.
Juiz: Com os poderes à mim concedido pelo estado da Califórnia, eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noi....
Antes que o juiz terminasse de falar o Aguiar deixou sala, pisando forte.
E em seguida, o Juiz que parecia confuso com tudo aquilo, arrumou seus papéis e saiu, escoltado pelo o homem que também assistia a cerimônia. E eu fiquei sozinha, como já era de se esperar. 
Eu dei um tempo lá, não chorei mais , mas também evitava pensar em qualquer coisa que fosse, porque eu tinha certeza que em qualquer coisa que eu pensasse, eu sempre seria a errada. E eu era. Eu tinha a certeza disso. 
Eu ia ser a esposa dele, mas eu viver cada dia da minha vida pra destruir a vida dele. E por um momento e esqueci todos os bons modos e aquela historia de tentar fazer certo... Eu comecei a gritar, a libertar do pulmão toda a agonia que eu senti e toda a raiva que eu repreendi por meses.
Eu comecei a correr pelo salão de festas e pegava todos os jarros de flores que via ,os tacando contra a parede, desejando.. ou melhor rogando a pior das pragas para o filho da puta, desgraçado que me fez assim. Que me tirou de dentro da minha casa, pra me tornar uma pessoa má, com pensamentos ruins. E gritei, chutei, quebrei, arranhei as paredes com cacos de vidro ,mas nada , absolutamente nada do que eu fazia, amenizava a dor ou tapava o buraco do meu peito. E quando eu finalmente caí no chão, derrotada, eu me dei conta de que era meu aniversário de 18 anos. 
E eu comecei a rir, a gargalhar na verdade. Um ano atrás, no meu aniversario de 17, eu estava em casa, com o meu pai, apagando a vela de um bolo de padaria que ele tinha comprado, e hoje, eu estava casada, com o seu assassino.
E ri mais alto, e a gritar , para que minha voz ecoasse pela casa e atingisse os ouvidos do monstro chamando Arthur. Para que o remorso o comesse por inteiro, como uma praga come uma planta. Para que a dor que eu sentia, tirasse todo o sono dele, para que minha voz o fizesse lembrar de toda a vida que ele me tirara. 
Mas no final das contas, eu era a maluca ,que quebrava tudo. Ninguém apareceu, nem Pedro ou Katia. Mas essa era a minha vida agora, sem ninguém e casada com um ninguém.
Eu encostei a cabeça no chão e lá mesmo, eu peguei no sono.
Quando eu finalmente despertei, parecia que nada tinha mudado, e eu cheguei a duvidar se eu tinha dormido ou piscado os olhos por muito tempo.
   Me levantei devagar, e deixei a sala onde havia me casado a horas atrás. Casada, sim, agora eu era uma pessoa casada! Eu acho que nunca vou conseguir falar isso e não achar estranho.
    Andei pela casa vagarosamente, e tudo o que eu escutava era a minha respiração. Não tinha nada nem ninguém, nem os funcionários. Pedro e Katia não estavam na cozinha e em nenhuma outra parte, e nenhum sinal do meu...Marido! 
Eu não estava em condições de procurar, então eu subi e no quarto, escolhi um vestidinho para dormir que Lauren havia me dado. 
Acho que já tinha virado hábito meu, sempre que eu ficava muito tempo sozinho, eu me pegava pensando na minha vida. Acho que isso acontece com muita gente... mas ultimamente, minha vida não tem nada de bom para ser pensada. 
Então tomei um banho rápido, sem lavar os cabelos, que já estavam secos. Me vesti e voltei para o quarto. Sentei na cadeira, em frente ao espelho, e a pessoa ou melhor a senhora casada que refletia nele, se parecia muito comigo. 
Meus olhos castanhos claros, estavam avermelhados e meu cabelo todo desgrenhado. Eu fiquei me olhando e pensando, em como uma vida pode mudar tão radicalmente...E como do dia pra noite, acontecem coisas que mudam sua vida para sempre....e enquanto eu me olhava, eu procurava não chorar, e aos poucos eu ia aprender a controlar minhas emoções. 
Peguei a escova de cabelo e a passei entre os cabelos lentamente, olhando no espelho o reflexo na minha aliança. Tinha até me esquecido dela. Estendi minha mão adiante do rosto, a olhando. Era como uma aliança comum, dourada sem nada escrito.... E o que ele escreveria? Ele não sabe nada de mim...Como e porquê? Essas eram minhas perguntas para ele. Porque fez isso com meu pai? E como teve coragem de se casar comigo?... mas eu não as perguntaria. Não ia resolver nada, meu pai não ia voltar mais! 
Katia: Lu?
Capitulo 9 parte 4
Eu me assustei, mas virei rapidamente:
Lua: Oi, desculpa. Estava distraída!
Katia: Venha, querida. 
Lua: ir pra onde?
Katia: Venha, Lu. Anda logo. 
Ela fazia sinais da porta, e eu logo me levantei sem deixar que ela percebesse minha tristeza. Mas eu não precisava disfarçar, todos sabiam o quão infeliz eu estava. Eu a segui pelo corredor, e ela se dirigia até o lado oposto, no fim, na ultima porta. 
Katia: Entre, está na hora. 
Ela olhava pra baixo e sussurrava. 
Lua: Está na hora, pra quê?
Katia: Entre, Lu. Só...entre...por favor!
Lua: Katia? Porque você está chorando?Me diga.
Katia: Não é nada, me desculpe. Entre no quarto, logo.
Ela saiu depressa, com a cabeça baixa e eu temi o que teria do interior do quarto.
Mas respirei fundo e abri a porta lentamente.
Era um quarto magnificamente lindo. Era do mesmo tamanho que o meu, mas tinha uma vista maravilhosa para o jardim, quase tão bonita quanto a minha. No canto do quarto tinha uma mesa pequena, mas cheia de coisas, como frutas, vinho e champanhe e eu não precisei de muito esforço para adivinhar o que significava aquilo tudo. No mesmo instante, eu caminhei até a porta, mas antes que eu pudesse abri-la, a voz dele ecoou, vinda de uma sala que tinha dentro do quarto.
Arthur: Não saia. 
Eu me virei, procurando por ele, mas ele logo apareceu, como eu tinha visto da ultima vez, com a roupa do nosso...Casamento!
Ele parou na porta e cruzou os braços, me olhando: 
Arthur: Você não quer...conversar?

Lua: Sem mais perguntas...senhor!
Arthurl: Sério? Até ontem você era uma adolescente cheia de perguntas. E hoje, não tem mais nenhuma, o que aconteceu?
Ele tinha um sorrio sarcástico no rosto. A expressão raivosa que ele ficara da ultima vez que nos vimos, ficou para trás. Calmamente ele caminhou até a mesa e serviu-se do vinho, numa taça. E eu continuei parada perto da porta, de braço cruzados.
Lua: Eu posso me retirar? Estou cansada! 
Arthur: Deve estar cansada de quebrar a minha casa, não é?
Lua: Sim, por hoje, sim! 
Arthur: Por hoje...Entendo! 
Lua: Então, eu posso me retirar, senhor?
Arthur: Porque se retirar, se hoje você vai dormir aqui?
Ele me perguntou, enquanto me olhava e tomava uma golada do vinho. 
NÃO! Eu me recusava a isso. Por respeito ao meu pai, eu não dormiria com aquele crápula.

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