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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

The Divide

                                       

Capitulo 4

Capitulo 4 p.1
Eu desci as escadas lentamente, passo por passo, e enquanto descia, olhava para o chão, onde na noite anterior eu estava jogada, acabada olhando cara a cara para o homem que matara meu pai. E me lembrei de quando estive a menos de um passo diante dele, na minha casa, segundo antes dele mandar matar meu pai. Os olhos castanhos claros dele penetravam nos meus, como se estivesse decidindo meu futuro ali, e realmente estava. Minha boca, trêmula implorava perdão, e tudo o que ele fez foi apertar meu braço, e finalizar o trabalho. 
Mas eu tratei de respirar fundo e continuar descendo as escadas, como se tudo estivesse bem, perfeitamente bem.
Eu olhava em volta, e já havia me esquecido da imensidão da casa, era realmente deslumbrante. Tudo ali parecia valiosíssimo, até as paredes. No teto, o lustre estava apagado obviamente, porque ainda era manhã, mas mesmo assim, o objeto era incrível, como pérolas penduradas. O chão possuía um desenho abstrato, mas não deixava de ser bonito, e possivelmente símbolo para a família Aguiar. 
As grossas pilastras escuras que suportavam as escadas, tinham desenhos minuciosamente decorados, dando um ar de sofisticação além do necessário. 
Eu caminhava pelo hall de entrada da casa, espantada com tanto luxo, e me perguntei por várias se eles realmente precisavam de paredes decoradas para sobreviver, ou um lustre luxuoso. Será que eles não conheciam as simples, lâmpadas?
Pedro: O que gostaria de fazer, criança? Ver a casa? Eu posso te mostrar muitas coisas, mas levaria dias para conhece-la completamente...
 Eu o interrompi. 
Lua: Eu quero ver o seu Jardim. 
Eu sorri e ele pareceu ficar surpreso, mas logo acenou positivamente. Abriu caminhou para eu passar, como se eu fosse uma realeza e me dirigiu até o lado externo. 
Enquanto caminhávamos até o jardim, que ficava numa distancia significativa da casa, eu o perguntei: 
Lua: Está tudo bem com Katia?
Pedro: Oh, sim. Ela fica emotiva facilmente quando se trata da filha, mas não queira vê-la brava, ela é um bicho feroz. – ele riu. 
Lua: O que aconteceu com a filha dela? Ana, não é? 
Ele tossiu, e eu supus que fosse um método de desconversar, mas eu não mudaria o assunto:
Pedro: A filha dela foi embora quando tinha uns 14 ou 15 anos, eu já não me lembro bem. 
Lua: E isso já faz muito tempo? 
Pedro: Sim, por volta de 7 anos.
La: Mas ela...está...viva? 
Pedro: Sim, mas não vem visitar a mãe à anos. 
 Eu resolvi não perguntar mais, não queria abrir feridas de ninguém, já bastavam as minhas. 
Pedro: Você é muito parecida com ela. A não ser pelos cabelos, os cabelos de Ana são cacheados.
Ele pareceu viajar por um instante enquanto falava na menina, como ele trabalha aqui a muito tempo, obviamente a conhecia. 
Lua: Não quis causar problemas a Katia. 
Pedro: Você não causou. Ela gostou muito de você, apesar de você não falar inglês. Disse que você é uma pessoa boa. 
Eu sorri, agradecida. 
Lua:É uma pena que eu não a entenda. 
Pedro: Não se preocupe, seu professor deve chegar em alguns dias, em poucos dias, na verdade. 

Nós finalmente chegamos no imenso jardim do Pedro, que tinha o organizado em forma de labirintos, mas eram baixos, na altura de minha cintura, mais ou menos, então eu não tinha como ficar perdida lá. Era todo colorido, mas com flores devidamente separadas. Nos andávamos entre eles, conversando calmamente: 
Lua: Porque veio trabalhar aqui, seu Pedro? 
Pedro: Meu pai trabalhou para essa família, e eu segui os caminhos dele. 
Lua: Então você conhece muito bem a família, não é?
Pedro: O necessário para saber que não devo me meter no que não me diz respeito. 
Ele falou diretamente olhando para mim e deu um sorriso. 
Lua: Entendi. E quem mais mora aqui? Além de você, Katia e o Sr. Aguiar?
Pedro: Você!    - ele riu.
Lua: Só? Mas... 
Pedro: A família dele morreu, todos. Ele não tem primos ou tios. Então, ninguém mais mora aqui.
Eu me espantei, isso beirava ao trágico. 
Lua: Ele fica nessa casa enorme, sozinho a maior parte do tempo?
Perguntei, olhando parando e olhando para a casa, que de longe parecia cada vez maior. Ele me acompanhou e também a admirava de longe.
Pedro: É uma bela casa, não acha? Um dia, ela já esteve cheia, mas agora, só escutamos os ruídos de cigarras, isso quando elas vêem nos visitar, porque o Sr. Aguiar odeia cigarras.   – Ele riu novamente, e eu fiz a tal pergunta que esperei tanto tempo para fazer: 
Lua: Seu Pedro, seja sincero comigo – o olhei fixamente, apertando os olhos, me protegendo dos raios solares. – É possível que eu consiga ir embora dessa casa?
Ele relaxou sua expressão e também me olhou fixamente. 
Pedro: Deixe-me perguntar uma coisa, criança: Seu pai está morto, não é? 
Eu engoli seco, mas isso era uma realidade: 
Lua: Sim, está. 
Pedro: E pra onde você iria? Com quem ia viver? Sua mãe está lá? 
Lua: Não, senhor. – eu baixei a cabeça e voltei a caminhar, logo ele me acompanhou. 
Pedro: Não estou pedindo para que sorria e seja feliz nessa casa, criança. Mas que saiba viver aqui. Se fizer as coisas como devem ser, tudo será diferente, eu garanto isso. 
Capitulo 4 parte 2

Lua: Fazer como deve ser, o quê? Me casar com ele? – eu perguntei num tom mais elevado. 
Pedro: O seu destino, só pertence a Deus. Eu disse isso, mas foi uma idéia. Eu também não sei o porquê você está aqui. 
Ele parou subitamente e segurou meu braço delicadamente, para que eu também parasse. Lentamente, ele pôs a ponta dos dedos no meu queijo e o erguei, me fazendo olhar diretamente nos olhos negros que ele tinha. 
Pedro: Acredite em mim, criança, permita-se viver um pouco disso aqui. O que mais você teria a perder? 
Boa pergunta. Ótima pergunta na verdade! 
Lua: Seu Pedro, o senhor tem filhos? – eu o perguntei.
Logo ele soltou meu rosto, e olhou para frente, fazendo uma careta de reprovação. 
Lua: Se tem, o senhor gostaria que sua filha morasse com esse monstro?
 Xeque-mate. 
Ele engoliu seco, olhou para o céu, pensando talvez, mas logo voltou a me olhar:
Pedro: Se eu tivesse uma filha, não ia gostar que isso acontecesse com ela.
Ele ergueu sua voz, não gritando, mas respondendo a altura da minha pergunta, rapidamente segurou meu punho e o levantou, erguendo a mão enfaixada que eu tinha. Fazendo a atadura já manchada de sangue aparecer na minha frente.
Sem pensar duas vezes eu recolhi minha mão, e voltei a caminhar, sem falar mais nada. Sem ter que enfrentar a realidade, sem querer saber mais daquela vida que eu estava levando. 
Eu queria chorar mais, chorar até secar e morrer. Queria desistir de viver. Porque eu não merecia viver naquela casa, com aquele homem, sozinha com ele. Era castigo demais passar o resto da minha vida convivendo com o cara que matou meu pai, dormindo com ele, almoçando com ele, rindo das piadas dele. Isso é vida? Era isso que ia acontecer comigo?
Eu continuei caminhando, pensando na minha miserável vida e Pedro não veio atrás de mim, continuou lá, acredito que ele sabia o que deu devia estar passando e deixou a poeira da minha vida abaixar, se é que um dia minha vida ia ser calma de novo.
Eu olhava aquelas flores lindas e bem cuidadas do meu lado, sentia o perfume delas e aos poucos eu ia para cada vez mais longe, porém quanto mais eu anda eu ainda tinha a sensação que ainda estava no mesmo lugar. Talvez, por eu estar em um labirinto, pensei eu. Ou talvez, porque esse seria meu destino: Andar, andar, andar e nunca, jamais conseguir sair daquele lugar. 
E quando eu me cansei, eu finalmente parei e virei meu corpo para frente, olhando para a fachada da mansão. Que tinha uma porta enorme e muitas, muitas janelas. Dei uma olhada rápida e logo achei o quarto onde eu dormi, o reconhecendo pelas cortinas brancas. Mas estava longe, parecia até um pontinho no espaço. Eu ri, ironicamente. 
Eu, Lua Maria Blanco, pobre, moradora do RJ, 17 anos, que viveu a vida inteira nunca casinha pequena, sem luxo nenhum, agora estava vivendo numa mansão. 
Eu ri novamente, tendo em mim, a certeza que eu trocaria até duas mansões para viver numa casa menor ainda que a minha, contando que meu pai estivesse dentro dela.
Eu olhei em volta e o Pedro já não estava mais no Jardim, ou talvez estivesse do outro lado, onde minha visão já não alcançava. 
E eu começava a me desesperar, porque por mais que eu andasse eu não conseguia sair do labirinto.
Mas quando eu abri a boca para chamá-lo, eu percebi uma coisa que não devia passar despercebida. Formigas. Sim ,formigas. Elas carregavam pequenos pedaços de plantas das costas e eu as segui. 
Eram muitas, milhares de formigas no chão, trilhando um caminho único que eu tinha a certeza que me tiraria dali, e estava certa, em poucos minutos, eu sai do labirinto e as continuei acompanhando até que chegassem a sua casinha, no gramado. 
Eu as agradeci silenciosamente e estava ciente que elas eram umas das poucas ‘pessoas’ que me ajudaram desde que eu cheguei. 
E enquanto eu voltava para dentro da casa, eu parei subitamente e ri, na verdade eu gargalhei comigo mesma. 
É claro, sua idiota, pensei. Isso é um sinal. Eu tinha concluído que por mais que eu andasse, eu nunca ia achar uma forma de sair dessa casa, como no jardim. Mas eu estava errada, eu achei uma saída. Eu ri mais alto ainda, e olhei para o céu, sorridente, agradecendo a quem quer que tenha me dado essa luz. Era tão obvio. Tão obvio. Claro, eu achei a saída onde e quando eu menos esperava, então eu ainda tinha chances de sair daquela casa. 
Era só procurar. Brevemente, eu estaria livre, livre pra viver a minha vida.


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