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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

The Divide

                                 

CAPITULO 3


Capitulo 3 p. 1 – Welcome to America
Os raios de sol matutinos atingiam minha pele como uma flor acariciando meu rosto. Eu apenas pedia silenciosamente por mais daquele toque. Eu mexia os dedos dos pés, os roçando na cama, sentindo o quentinho das cobertas, e sorri. Porque pensei por um instante que eu estava em casa, mas antes que eu pudesse curtir mais da falsa felicidade, eu me lembrei do que aconteceu na noite passada. E sem a menor força de vontade, eu abri lentamente os olhos. 
XxXx: Bom dia, criança. 
Eu tentei assimilar a voz de imediato, mas não consegui, era tudo muito novo pra mim. Então eu me sentei na cama e logo vi o Pedro abrindo as cortinas, permitindo o tal gracioso sol, adentrar o recinto: 
Pedro: Perdoe-me acorda-la, mas foi necessário. Eu trouxe o seu café da manhã.
Lua: Que cheiro é esse?   - Perguntei, ainda grogue. 
Pedro: Jasmim, uma delicia, não acha? 
Eu não respondi, ainda não estava acordada direito. 
Lua: Você falou café da manhã?

Pedro: Sim, senhorita. Lembra-se da ultima vez que comeu?
Enquanto ele perguntava, trazia para o meu colo, uma bandeja repleta de alimentos, dos mais coloridos e saudáveis possíveis. 
Lua: Faz bastante tempo. – Eu cocei os olhos, tentando imaginar se ainda estava dormindo. 
Pedro: Sei que deve ser horrível acordar aqui, e sinto muito por isso. Mas peço que passo o dia bem, sem maiores complicações. 

Ele sorria, sem graça, sentado na ponta da cama, vestindo seu macacão preto, e eu me perguntei se ele tinha o tirado para dormir. Ele parecia ser um homem honesto, pra lá de uns 50 anos, branco, de olhos negros, barrigudo, e com sobrancelhas enormes. 
Eu não respondi nada sobre o que ele falou, e comecei a passar manteiga em um pedaço de pão: 
Lua: O que você faz aqui, Pedro?
Pedro: Jardineiro. E lhe garanto que vou fazer meu melhor para que sempre acorde com esse cheiro no seu quarto. E por falar nisso, porque veio dormir nesse quarto?
Lua: Porque, não é permitido? – eu o encarei. 
Pedro: Não, criança. – ele riu. – Mas eu imaginei que você escolher um dos quartos principais e não um quarto de hospedes.
Eu passei as paginas da agenda, relembrando coisas que eu mesma tinha escrito, coisas que eu tinha até esquecido que um dia tinha escrito. Coisas como: Hoje, meu pai me tirou do sério. Como ele não deixou eu sair com a Bia? ‘’
E nesse momento, uma onde de arrependimento me invadiu. Nos momentos em que eu deveria abraçar forte o meu pai, beija-lo e dizer que o amo, eu estava com raivinha porque não podia sair com a Bia. A ironia disse é que a Bia nem gostava de mim. E eu nem gostava dela também, só andávamos juntas porque ... eu sei lá. Coisas banais, que não deveria acontecer, sabe. 
Eu tive tempo pra ficar com o meu pai e desperdicei. Deixei pra ‘amanhã’, eu ri comigo. O amanhã não existe, o amanhã é uma ilusão que criamos para fazer idiotices hoje. É uma desculpa barata para sermos negligentes. É estúpido. Eu sou estúpida. 
Eu agarrei a foto do meu pai contra o meu, e a apertei forte, sussurrando por desculpas, na esperança que ele pudesse ouvir e me perdoar.
Aí eu pensei comigo: Porque nós, humanos imbecil, deixamos para falar coisas que queremos somente quando nossos entes se vão? Eu te pergunto, pra você mesmo, você que está sentado, relaxado, lendo isso aqui: Você disse para seu pai que o ama? Disse para sua mãe o quanto é grato por ela lavar suas roupas, ou por limpar o seu traseiro quando você era pequeno? Deu um abraço no seu irmão hoje? Eu suponho que não. Mas se você fez uma dessas coisas, qualquer uma, eu invejo você. Invejo sim. Porque eu não tenho pai, nem mãe, nem irmãos. Tudo o que eu tenho, é... – risos - nada. Um monte de nada. 
E você ainda reclama da sua vida. Eu te pergunto: gostaria de trocar de lugar? , eu daria minha vida, pra dizer pro meu pai : Eu te amo. E estarei de volta para jantarmos juntos!’’
Eu deixei meus pensamentos retardatários de lado e antes que eu começasse a chorar miséria eu guardei minha agente na mochila e a deixei no chão novamente. 
Me levantei, arrumei a cama impecavelmente, do jeito que a encontrei e caminhei até a janela, que também era de correr, então eu a abri e ali tinha uma varanda que dava para as gloriosas flores do Pedro. Como ele disse, o cheiro de Jasmim era impregnante, no bom sentido, é claro. 
O jardim estava vazio, e eu me perguntei se essa casa era sempre assim, vazia. Bom, então para buscar tal resposta, eu me apressei e fui tomar um banho, rápido, sem lavar novamente os cabelos. 
Voltei ao quarto, enrolada na toalha e na pilha de roupa que Katia me emprestou, escolhi um vestido branco com flores azuis, lindo. 
Era simples, mas de muito bom gosto, parecia até com o tipo de roupa que eu usava em casa. Era de alças finas, e de decote reto e tinha uma faixa logo abaixo do busto que marcava bem as curvas, ele era curto mas nem tanto, e colado ao corpo mas nem tanto, era perfeito. 
Eu me vestia mas estava com dificuldades para terminar de fechar o zíper nas costas, até a porta do quarto se abriu, me fazendo tomar um susto:
Jennifer: HEIM ! Eu estou trocando de r... 
Capitlo 3 parte 2
Katia: Hey, it’s me. (Hey, sou eu)
Ela entrou devagar e sorridente, com uma caixa vermelha na mão, e mesmo sem entender o que eu falo, era tinha um ótimo astral e uma boa vontade inacreditável. 
Mas dessa vez ela não falou muito, entrou e logo percebeu minha dificuldade com a roupa. Ela a fechou e quando eu me virei, ela juntou as mãos perto da boca, parecia muito feliz por me ver com a roupa da filha. 
Ela puxou a cadeira giratória e pediu que eu me sentasse, rapidamente se esquivou até a cama e pegou a caixa vermelha, me entregou e pediu que eu a abrisse.
Katia: Open it! (Abra-o)

Eu a olhava atentamente, sentindo de perto a afobação da mulher. Sem esperar mais, eu abri a caixa e dentro, havia um lindo e singelo par de sapatilhas vermelhas com detalhes brilhosos na lateral. Sem salto, coberta por um lindo veludo, semi-nova, perfeita, como o vestido. 
Eu segurei os sapatas nas mãos, radiante. E Katia me acompanhava com seus olhos cheios d’água, provavelmente lembrando-se da filha.
Lua: Eu não posso aceitar, Senhora Katia. Desculpe. – e eu os empurrava para ela, os recusando. 
Mas ela fazia o mesmo, os empurrando de volta para mim, e me olhou nos olhos, acenando a cabeça positivamente. Talvez ela quisesse que eu ficasse com eles: 
Katia: Take it. They’re yours now. (Pegue-o. Eles são o seu agora.)

Ela falou alguma coisa que eu não entendi e sorriu. Então eu os calcei,que serviram perfeitamente e eu me levantei. Andei em direção ao grande espelho e me vi dos pés a cabeça. E sim, eu estava bonita. Acho que nunca estive tão bonita antes. Atrás de mim, Katia batia palmas de felicidade, era como se ela estivesse vestindo uma boneca. E eu sorria para ela, tentando me juntar a sua felicidade, como se isso fosse possível.
Eu levantei novamente o rosto e olhei ao espelho, que refletia minha mão enfaixada. Que refletia... uma órfã.
Eu engoli o choro por uns instantes, não queria causar mais frustrações à Katia e Pedro, que estavam sendo gentis comigo. Tratei de desenhar um falso sorriso nos lábios e agir como se eu estivesse amando aquilo tudo. Logo, Pedro apareceu na porta do quarto, e parou, me olhando espantosamente: 
Pedro: OH,my God! Ana? (Oh,meu Deus!Ana?)
E eu o olhei, sem saber o que responder. Logo, Katia começou a chorar, um choro baixo quase imperceptível, mas que a fez perder a base e sentar-se a cama em que eu havia dormido. Eu senti que tinha acontecido alguma coisa e prontamente me sentei ao lado dela, passando meu braço por suas costas, dando-lhe um abraço, na tentativa de acalma-la. 
Com um ar confuso eu olhei para Pedro, que não havia movido um músculo sequer, me olhava espantosamente e calmamente ele tirava da cabeça, um chapéu e o juntava ao peito o apertando com força. E eu não entendi bulhufas. 
Lua: O que aconteceu, seu Pedro? 
Ele saiu do transe, sacudindo a cabeça algumas vezes e Katia chegava a soluçar de tão nervosa. Pedro se aproximou, lançando um olhar desconfiado para mim:
Pedro: Desculpe, criança. É que você está espantosamente parecida com Ana. 
Eu franzi a testa. 
Lua: Mas, quem é Ana?
Pedro: É a filha da Katia. Devia ter sua idade quando foi embora. 
Eu arregalei os olhos e olhei para Katia, que ao ouvir o nome da filha, chorou mais alto. Bruscamente eu me levantei e já me preparava para arrancar a roupa do corpo: 
Lua: Me desculpe, eu não queria fazer nada de errado, eu tiro a roupa.
Desconfiando do que eu estava prestes a fazer, Katia limpou as lágrimas e com as mãos fez sinal para que eu parasse o que estava fazendo. 
Katia: No, i’m sorry sweetie, it’s yours now. You have to use something.( Não, sinto muito querida, é sua agora. Você tem que usar algo)
  Eu olhei rapidamente para Pedro, e ele traduziu simultaneamente: 
Pedro: Ela disse que você pode usar. Aliás, você precisa usar alguma coisa, não é? 
Eu me recompus e concordei com a cabeça. Pedro também se refez e estendeu a mão para a senhora, que também se acalmava. 
Pedro: Desculpe por isso. Você deve descer, e aproveitar o dia, conhecer a casa. Vai gostar dela. 
Eu sorri, totalmente sem graça e ele a ajudou a sair do quarto, segurando em sua mão. 
Eu senti que não devia usar as roupas de Ana, mas o que eu usaria? Infelizmente, seria uma tristeza para Katia me ver como sua filha, eu sabia disso. Mas porque ela teria ido embora? E essa era mais uma das milhares de perguntas a serem respondidas. E deu a ultima olhada do espelho, e sai do quarto, bati a porta atrás de mim, e atravessei novamente o enorme corredor branco, pronta para viver o primeiro dia naquele mausoléu.


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