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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Three Cheers For Sweet Revenge



Capitulo 4 e 5



Cap 4
You Know I’m No Good



A aula de Trigonometria estava entediante como sempre. Eu não fazia a minha idéia do que era um arco trigonométrico, muito menos das fórmulas seno/cosseno/tangente. Para melhorar tudo, a professora Constance Welch fazia canções rítmicas para que decorássemos as fórmulas mais facilmente.
‘Nem por osmose, querida’, pensei. Eu, particularmente, preferia geometria à trigonometria. 
Após longos e intermináveis quarenta e cinco minutos, a sirene apitou indicando o fim daquela aula. Quando saí da sala, Sophia me esperava do lado de fora. 
- Já escutou a nova música da tangente da Sra. Welch? - ela me perguntou com um sorriso maléfico no rosto. 
- Vou ficar com essa música na minha cabeça o dia inteiro - falei irritada, ao me pegar repetindo a melodia da canção. 
Continuamos nosso caminho até o refeitório falando mal dos professores e suas péssimas – e até engraçadas – maneiras de nos fazer aprender. 
- Oi, minha pitchuca - escutei alguém atrás de nós dizer e soltei uma risada ao escutar o apelido ridículo. Quando dei por mim, Sophia já estava no colo do namorado, Micael Borges. Rolei os olhos. 
- Pitchuca? Sério? - debochei quando Micael a colocou no chão. 
- É o nosso modo carinhoso de chamar um ao outro - Sophia disse alheia, sem se importar com a minha feição devassa. 
- É o modo ridículo de se chamarem, certo? - continuei, mais para irritar minha amiga do que qualquer coisa. 
- Deixa ela, pitchuca. Essa sua amiga não tem amor no coração - Micael disse com um tom infantil e abraçou a garota pela cintura. 
- Você vai ver a falta de amor na sua cara daqui a pouco, Micael - falei ameaçadoramente e o garoto simplesmente deu língua. Por que é que eu tinha que aturá-lo mesmo? 

O refeitório já estava lotado e havia poucos lugares vagos. A única mesa que nos restava era, por coincidência, a de Arthur Aguiar. Aquilo era perseguição? Destino? Carma? 
Vi Soph e Micael irem de mãos dadas até a devida mesa e se sentarem perto de Arthur.Aaron o quarto membro da trupe,também estava sentado.Vi Arthur tirar seus olhos de  Micael e se encontrarem com os meus. Por que diabos ele sempre conseguia me encontrar no meio de uma multidão? 
Rolei os olhos e comecei a caminhar em sua direção, tendo seus olhos casatanhos ainda fixos em mim. Quando eu já estava relativamente próxima, vi Pedro também se aproximar. 
- E aí, caras? - ele cumprimentou sorridente. Tudo em mim, como era de se esperar, pareceu se esfacelar. Todos o cumprimentaram de volta e, como Arthur, seus olhos por um acaso se encontraram com os meus.
Seu sorriso se desmanchou no momento seguinte. Ele fazia menção de sentar-se à mesa, mas, aparentemente, ao me ver mudou de idéia. Micael pareceu sussurrar algo para o amigo, algo que eu não pude ouvir, e Pedro se afastou. 
Suspirei pesarosamente e encarei minhas sapatilhas. Aquilo – mesmo não tendo nem começado – já havia ficado cansativo. Pelo menos a parte em que Pedro se mantinha afastado de mim. Olhei novamente para frente a ponto de ver Arthur me encarando sem expressão, apenas com uma das sobrancelhas arqueadas. Ele provavelmente sorria por dentro. 
Cumprimentei Aaron ao sentar-me à mesa e nada mais disse. Não estava com humor – na verdade nunca estava – para gastar saliva com Arthur. 
Olhei de relance para a mesa de Giovana, onde ela e as amigas riam debochadamente, provavelmente riam de mim. Entretanto, percebi que uma delas olhava insistentemente para nossa mesa. Não para mim, mas para outra pessoa. Vi Arthur virar sua cabeça e encarar a mesma garota, a qual reconheci por sendo Gina Holden, uma morena alta do segundo ano. 
Ri fracamente ao perceber o flerte descarado entre os dois. Devo admitir que algo – ainda não sabia se era meu coração estúpido ou meu estômago – deu reviravoltas ao observá-los. Apesar de querer ignorar Arthur, ele tinha que olhar para mim. 
Quando o garoto finalmente resolveu voltar a sua posição inicial, tomou um gole de se refrigerante e respondeu algo que Aaron havia perguntado. Eu continuava a encará-lo, testando a teoria de que olhares atraiam olhares. E ela não falhou. Segundos depois os olhos de Arthur estavam fixos nos meus. Eu não sabia se era por causa da teoria em si ou se Arthur simplesmente não conseguia ficar cinco minutos sem dar uma checada em mim. Talvez fossem as duas ao mesmo tempo. 
Bufei e, ao ver um sorriso cínico em seus lábios, senti minhas bochechas queimarem. Ele provavelmente sabia que eu o observava. E ele também sabia da minha reação mais profunda... Ciúmes... 
Após alguns minutos, Calliope e Chay se sentaram à mesa ao lado de Arthur, e a primeira apenas me lançou um olhar sem expressão, enquanto o segundo deu uma piscadela. Fiquei sem dizer uma palavra durante todo o intervalo, sem saber por quê. Estava apenas sem motivação alguma naquela manhã. 
- Soph, esqueci que tenho alguns livros de História no meu armário e como está quase no horário da aula, vou lá pegá-los, okay? - interrompi o chamego da minha amiga com Micael e ela me encarou, assentindo em seguida. Eu simplesmente precisava sair dali. 
Levantei-me da mesa em silêncio e andei rapidamente até a saída do refeitório. Sobrepus um braço sobre o outro enquanto encarava o piso sob meus pés. Eu precisava de algo para ocupar minha mente. Mente vazia é arma para a loucura. Principalmente se você é um ser cheio de conflitos internos. 
Quando cheguei ao meu armário e o abri, peguei alguns livros e os coloquei dentro da minha bolsa. Sorri ao ver uma foto minha e de Pedro pregada na porta do escaninho. Ríamos abertamente com o mar de Ibiza de paisagem. A foto fora cortada na parte onde Giovana antes estava. Verão de 2007. 

"- Olha só aquele garoto de bermuda vermelha! - Giovana sussurrou animadamente, apontando para um garoto a alguns metros de nós. Alto, cabelos castanhos, costas incríveis. Sophe eu entreabrimos a boca, totalmente absortas ao observar aquela paisagem. - Estou apaixonada - a garota completou, fazendo-nos cair na gargalhada.
Aquela era Giovana, sempre encontrava algum garoto para se apaixonar à primeira vista e dizer que era sua alma gêmea. 
- Ele olhou para cá! - Sophia disse histérica quando o garoto lançou-nos um olhar totalmente hipnotizante. 
- Tirem o olho! Ele é meu! - Giovana completou autoritária, arrumando seus cabelos loiros e sentando-se sensualmente na espreguiçadeira. 
O sol de no mínimo trinta e seis graus quase torrava nossa pele, mas insistíamos em voltar com um bronzeado decente para Inglaterra. Qual era a graça de ir para um paraíso daqueles se for para voltar com a mesma cor? Apesar de odiar sol, concordei que eu realmente precisava dourar-me um pouco. E além do mais, precisávamos provar o quanto as férias haviam sido boas, e nada melhor para isso que um bronzeado tropical. 
Tirei meus óculos de sol para observar melhor aquele pedaço de mau caminho. Para mim, não havia algo mais atraente do que costas... E as suas eram... Esplêndidas. Vi o garoto desviar sua atenção do amigo que conversava e lançar um olhar em nossa direção. Mais especificamente, a mim. Sorri com discrição e coloquei meus óculos novamente. 

- Soph, se você demorar mais um pouco eu te deixo para trás! - Giovana disse de braços cruzados, encarando o reflexo de Sophia no espelho. Eu e Giovana estávamos prontas há mais de meia hora e Soph ainda estava indecisa sobre qual vestido usar. A minha escolha havia sido fácil. 
- Como você é chata - Sophia rolou os olhos e optou por um vestido vermelho e tomara-que-caia. Eu já havia feito sua maquiagem, então estava tudo pronto. 
Iríamos a uma festa à beira da praia, em um clube chamado Pitch Point. Cabanas na areia, fogueira, bebidas e DJs. 
Com o carro que havíamos alugado fomos em direção ao clube, com The Hives no último volume. O vento bagunçava descaradamente nossos cabelos graças à parte destampada do conversível e isso pouco nos importava. 
Sophia, que dirigia, cantava compulsivamente e eu, ainda sem álcool, já me sentia entusiasmada demais. Aquelas estavam sendo as melhores férias da minha vida. 
Estacionamos no devido lugar e já pudemos ver a movimentação na entrada do local. 
A música era animada e contagiante. Não podíamos conter os sorrisos e os gritos de êxtase. 
Entrelaçamos nossos braços e entramos no clube altamente luxuoso. Já havia pessoas dentro da piscina, outras se agarrando sobre as espreguiçadeiras... Todos queriam aproveitar o máximo que podiam de suas férias de verão. Muitos alunos do Drayton estavam ali, uma vez que a notícia de que Ibiza prometia as melhores estruturas para as férias, todos combinaram de se encontrarem. Ninguém tinha interesse de passar o verão em uma praia fria e cheia de pedras na Inglaterra. 
Encontramos Calliope Rote e Keira Dawson, as quais já estavam bêbadas, e elas nos mostraram onde pegar bebida. 

- Achei que nunca ia te encontrar aqui - escutei uma voz atrás de mim enquanto esperava o barman preparar minha Marguerita. Senti seu corpo prensar o meu contra a bancada e suas mãos passaram pelos meus braços lentamente até se encaixarem em meus dedos. Meus pelos da nuca se eriçaram e meus olhos se fecharam. 
- Eu até me esqueci que teria férias de você também. Doce ilusão... - tentei me controlar, lembrando o quão desprezível Arthur era. Mas meu corpo me dizia o contrário... 
- Você nunca vai ter férias de mim... Eu nunca vou te dar esse... desprazer... - ele riu fracamente perto do meu ouvido e depositou ali um leve beijo. 
- Não é só porque Pedro não está aqui que você pode ser descarado - falei lentamente, ainda tentando manter meu autocontrole, quando o barman me entregou a bebida esverdeada. 
Virei-me e continuei presa pelos braços de Arthur, mantendo seu corpo perigosamente próximo do meu. 
- Pedro pouco me importa - o garoto retrucou com malícia e aquele típico sorriso cínico em seu rosto. Era verdade: ele pouco se importava em dar em cima da namorada de seu melhor amigo, qual fosse o lugar que ele estava. 
- Você é um péssimo amigo... - arqueei uma das sobrancelhas e levei a taça à boca, sentido o sal se misturar com a bebida assim que a tomei. A cena pareceu excitar Arthur de alguma maneira. 
- Você é uma péssima namorada... - ele disse por fim. Suspirei e bufei em seguida, dando um leve empurrão no garoto para que ele finalmente me desse espaço. 
Aquela noite era minha, e só minha. Nada de Arthur Aguiar, Pedro Cassiano ou qualquer problema que eu deixara para trás na Inglaterra. Espanha: novos horizontes. Pelo menos naquele verão. E o que acontecia em Ibiza, ficava em Ibiza. "



- Você está pensativa hoje... - uma voz me acordou dos meus pensamentos e no momento seguinte fechei meu armário. 
- Eu sou muito pensativa,Arthur... - falei com descaso, dando as costas ao garoto e andando para a sala 13, onde eu teria aula de História Geral. 
- Hoje você está mais... O que te aflige? - ele perguntou assim que me alcançou. O jeito observador de Arthur às vezes me irritava. Ele sabia o que você sentia sem nem mesmo te perguntar. Isso era perigoso. 
- Deixa seu espírito detetive de lado, vai - rebati, impaciente, tentando contornar a situação e não ter que admitir qualquer sentimento a Arthur. Sentimentos aflitos os quais nem eu mesma sabia os motivos. - Por que você não me explica a tal historia de que você me levou para seu quarto para cuidar de mim no seu brunch? 
Ótimo jeito de encurralar Arthur: fazê-lo admitir algo que antes ele havia negado. 
Ele jamais reconheceria que cuidara de mim enquanto eu estava desacordada. Arthur era feito de aparências, e ser bonzinho e gentil não era uma delas. Muito menos para mim. Ele gostava de jogar, trapacear, enganar; tudo apenas para provar ser alguém frio e calculista, alguém que precisava ou se preocupava com ninguém. 
- Que história? Eu, cuidar de você? Endoidou de vez, não foi? - sua voz saiu trêmula como esperado. Suas sobrancelhas estavam contraídas e ele mexia a cabeça freneticamente. Fiz uma careta. 
- Vamos... Admita... - falei provocante, chegando perto de seu corpo e o vendo ficar ainda mais nervoso. 
- Admitir o quê,Lua ? - perguntou, irritado. Levou uma mão aos cabelos e os bagunçou. Ponto para mim! Ver Arthur nervoso não tem preço. 
- Que me ama... - sussurrei perto de seu ouvido, vendo-o arrepiar. O corredor ainda estava vazio, já que todos estavam no refeitório. Mas Arthur fez questão de olhar para os lados. 
O garoto segurou em meus ombros e me empurrou com leveza.
- Você... - ele disse com dificuldade. - Você é louca! Louca!
Não pude deixar de rir de sua expressão de desespero. Um a zero. 
Deixei Arthur murmurando palavras nada amigáveis enquanto voltei a andar por aquele corredor. Segundos depois a sirene tocou e indicou o fim do intervalo; e então toda a boiada voltou a encher o curral. 

Os pensamentos que me assolavam com nostalgia antes de Arthur me interromper, voltaram a todo vapor para minha mente. Não hesitei em relembrá-los com pesar. 



"Eu dançava como se ninguém pudesse me ver. E não me importaria se alguém visse, de qualquer maneira. O clube estava lotado, e a música saía frenética das caixas de som. Todos curtiam tão intensamente que dava a impressão de que aquela seria a última noite de suas vidas – e provavelmente seria para aqueles que bebiam e se drogavam loucamente. 
Mas eu não me importava. Cada um tinha sua maneira de curtir, e a minha era com um copo de Gin Tônica na mão e a pista de dança só para mim. 
Algo me chamou a atenção ali. O mesmo garoto que havíamos visto na praia – o das costas maravilhosas e alma gêmea de Giovana– me encarava com olhos nem um pouco amáveis. Eram olhos cheios de lúxuria e desejo. Olhos que eu já acostumara a ter me seguindo. 
O garoto misterioso levantou-se da espreguiçadeira e começou a andar em minha direção com todo aquele charme. Usava uma bermuda preta e uma camiseta branca. Os cabelos castanhos tinham um corte impecável; os olhos verdes não se moviam e um sorriso buliçoso brincava em seus lábios. 
Quando ele estava a poucos metros de mim, vi uma pessoa interceder entre nós. Aqueles cabelos loiros encaracolados eram totalmente reconhecíveis, bem como seu vestido de seda branco. 
- Hey... - aquela voz melódica assoreou o ambiente e eu arqueei as sobrancelhas. O olhar do garoto ainda estava preso em mim. Ao mesmo tempo, vi um vulto parar ao meu lado. Só pelo perfume Dior Homme eu reconhecia quem era. 
- Olá - o garoto disse à Givana por simpatia. 
Não escutei mais uma palavra. Caldwell o tinha visto primeiro de qualquer maneira, deixe que ela se divirta. No entanto, os olhos do loiro continuavam sobre mim, fazendo Giovana direcionar seu olhar para o mesmo canto, encontrando com os meus. Estreitou o olhar. Dei de ombros. Sabia que ela havia bufado, mas manteve a classe. 
Eu não tinha a mínima culpa. 
Giovana passou a mexer compulsivamente nos cabelos, talvez para chamar a atenção, ou talvez por raiva. Sorri e dei um gole na minha bebida, cortando meu contato visual com o misterioso. Ele pareceu notar a presença de Giovana novamente. E a garota parecia fazer o possível para se mostrar. 
- Não cobiçai o homem do próximo... - a voz sádica de Arthur despertou-me, fazendo-me dar um grande gole no Gin. 
- Quem é você para pregar a palavra de Deus, Arthur? - falei com humor, vendo-o parar em minha frente. Eu ainda não o encarava, observava o movimento no clube e acenava para alguns conhecidos. 
- Eu sou um santo... Você sabe disso... - ele respondeu com um sorriso de meia boca. Ri e dei tapinhas em seu ombro. 
- Hoje não, Arthur... Hoje não... - falei apreensiva e o deixei falando com seus botões. "



Já em casa, eu encarava meu guarda-roupa com Berta do meu lado. Ela mantinha uma mão no queixo e forjava uma expressão pensativa. 
- Acho este conjunto aprrropriado... - disse ela, finalmente, com seu sotaque forte. 
- Mas e o vestido verde? - indaguei, passando a mão sobre a malha do vestido Chanel. 
- Nah, o conjunto. 
- Certo, o conjunto. 
Peguei o conjunto e coloquei sobre o corpo, analisando os prós em usá-lo. Hoje teria um jogo de pólo na propriedade dos Linus em prol do Hospital Pedro II. Pura fachada, eu diria. 
Ricos normalmente não se importam com outras classes. É tudo pura publicidade. 
Eu enjoara de toda aquela falseta da sociedade, mas eu pretendia pôr um dos meus planos naquele dia. 
Arthur passaria para me pegar às dezessete horas, e eu faria meu melhor para convencê-lo a me ajudar. Não seria muito difícil. Talvez um beijo no pescoço fosse o suficiente. 

Em menos de quarenta minutos eu já estava pronta e encarava o grande relógio na sala de estar, impaciente. Faltavam cinco minutos para as dezessete horas, mas eu já estava ansiosa. Já havia tomado as devidas providências para meu plano não ter uma falha sequer, ainda assim estava apreensiva. 
Hora nenhuma hesitei. A sede por vingança borbulhava na minha corrente sanguínea. Era como a felicidade - ou até mesmo amor - que te consome inteiramente, e não te deixa pensar em mais nada. Te cega e guia seus atos, por mais inconsequentes que sejam. A vingança não perdoa e não sente pena. Te domina inteiramente, e é difícil de ser exorcizada. 

- Senhorrrita, o senhorrr Arthur está aqui - Berta anunciou e eu assenti distraída. Levantei-me do sofá e esperei que Arthur entrasse sala adentro. 

*

Não me surpreendi ao sentir minha respiração falhar. Era impressionante seu charme exacerbado. Com apenas um olhar ele poderia ter o que quisesse. E ele tinha. Usava uma calça jeans meio surrada - não por ter usado demais, era um modelo único da Calvin Klein - fazia a combinação perfeita com o terno preto de linho aberto. Uma regata branca por baixo e um Addidas Star nos pés. 
Suas mãos estavam dentro dos bolsos do terno e, por um segundo, o sorriso estampado em seu rosto não parecia ser falso nem maléfico. Era um sorriso ingênuo, sincero, quase imperceptível. Acho que nem ele sabia que o tinha no rosto. 
Eu pareci esquecer-me de tudo, esqueci do meu propósito ali. Esqueci que tinha boca para falar, nariz para respirar, cérebro pra raciocinar... 

Mova-se,Lua! Mova-se!

Mas eu não conseguia mover um músculo. Seus olhos me hipnotizavam de uma forma mágica. Parecia que Arthur lia meus pensamentos de tão intenso era seu olhar sobre mim. 
Um impulso assustador me assoreou: eu queria tocá-lo. Queria beijá-lo como nunca havia antes, queria ter seu suor fixado em mim, suas mãos passando por meu corpo... 

Era só desejo. Era só desejo. Tinha que ser só desejo. O que mais poderia ser? 

E de repente ele se aproximou. Tudo se movia em câmera lenta diante dos meus olhos. Então ele parou defronte a mim. Continuamos a nos encarar. Sua respiração descompassada alcançava minha bochecha e seus lábios estavam entreabertos e convidativos. Seu típico Dior Homme invadiu minhas narinas sem o menor pudor, e eu tinha certeza que eu tinha uma expressão patética no rosto. 

Você é patética,Lua .

Sim, eu era. E fiquei mais ainda quando senti uma das mãos ásperas de Arthur tocar meu pulso. Seus olhos não se moveram um milímetro sequer. Mas suas mãos passaram a subir pelo meu braço todo. Lentamente... Aumentando a sangria dentro de mim. Eu nunca o desejara tanto na minha vida. E por que isso estava acontecendo agora? Por que diabos agora? 

- Arthur, meu querido! 

Uma voz ao longe nos despertou. Eu levei um susto - literalmente. Pulei meio metro para trás, me distanciando de Arthur. O garoto, no entanto, pareceu sair ileso do transe, apenas movendo seus olhos para a origem do som: minha mãe. 
- Senhora Blanco - o garoto cumprimentou, esbanjando todo seu charme e elegância. 
- Janette, Arthur! Janette! Me chamando de senhora faz parecer que tenho oitenta anos de idade! - a mais velha forjou indagação em seu rosto. 
- Imagine. Você está cada dia mais nova. 
O sorriso da minha mãe alargou. Não restavam dúvidas de que Arthur era o genro que ela pedira a Deus. Os dois trocaram mais algumas palavras, mas o feitiço de Arthur parecia estar sobre mim ainda. 
- Vamos? - o garoto me perguntou, despertando-me finalmente do transe. Acenei com a cabeça e nos despedimos de Janette. 

Dentro do elevador, o silêncio prevaleceu. Vi pelo canto do olho que Arthur me encarava, mas não ousei olhá-lo de volta. Tinha medo de entrar em hipnose novamente. Ainda estava assustada por tudo que ocorrera minutos antes. Não entendia por que me sentira daquele jeito... Tão tonta e entorpecida... Nenhum outro garoto jamais me deixara assim. 
No hall do condomínio fora a mesma coisa. O mesmo silêncio perturbador nos dominara até entrarmos em seu Porche Carrera. Ele não estava com motorista aquele dia. Talvez quisesse mais privacidade para me torturar mais. 
- Você está deslumbrante - disse Arthur enquanto dava partida em seu carro. Sorri apenas, sem olhar para ele. 
Quando parou no primeiro sinaleiro, senti sua mão tocar meu queixo e virar meu rosto sutilmente em sua direção. 
- Por que está assim? - perguntou calmamente. 
- Assim como? - rebati a pergunta, tentando o possível para parecer... Normal. 
- Você sabe como... Nunca vi me olhar do jeito como me olhou hoje... - continuou no mesmo tom neutro. Eu não estava tão neutra dentro de mim. Respirei fundo, tentando assassinar todas aquelas borboletas insistentes de dentro do meu estômago. 
- O sinal está verde... - falei simplesmente. 
A calma pareceu voltar para mim aos poucos. Quero dizer, por quê? Acho que isso ficaria matutando em minha cabeça. 
E então, o motivo principal de eu ter chamado null ali voltou para minha mente. 
- Er... Você conhece Gina Holden? - perguntei com indiferença, encarando minhas unhas vermelhas. O garoto riu. 
- Ah, se conheço... 
Fiz uma careta. Ele era repugnante. - Vocês são próximos? - insisti. Sentei-me de fronte para Arthur, de modo que encarasse suas expressões maliciosas. 
- Se sexo casual faz as pessoas serem próximas, então sim. - sorriu malicioso. Como um dos impulsos loucos que eu estava tento, tive uma vontade tremenda de estapeá-lo. Murmurei um som qualquer e assenti. - Por quê? - ele perguntou de sobrancelhas arqueadas, olhando-me de esgoela por alguns segundos. Dei de ombros, fingindo indiferença. - O que você quer, ? 
- Por que acha que quero alguma coisa? - mostrei-me ofendida e voltei a encarar seu perfil. Sua boca entreaberta em um pequeno sorriso. Olhou-me novamente.
- Acha que eu não te conheço? - indagou com humor. - Pois eu te conheço muito bem. Principalmente quando faz essa cara de indiferença. 
Ri nervosa e passei a mão pelos cabelos. 
- Se eu quisesse alguma coisa... Você faria? - perguntei sem emoção, tentando parecer o mais natural possível, enquanto meu coração batia forte contra o peito sem razão aparente. Ele riu baixinho. 
- Você ainda não sabe que eu faria qualquer coisa por você? - hesitou por alguns instantes. - Quero dizer, para você... 
Um frio percorreu por toda a minha espinha. Engoli seco. Então ele continuou: 
- Ainda mais se for para uma de suas maldades... - Arthur sorriu mais abertamente. Recompus-me para que pudesse continuar. 
- Então eu tenho um trabalho pra você... E não vai ser tão difícil, já que você está familiarizado com Gina... - fiz uma careta novamente. - Eu preciso de informação,Arthur. Preciso saber o que a Giovana faz durante o dia, aonde ela vai, com quem conversa... Preciso saber das fofocas... De cada detalhe de sua vida. - falei devagar para que ele entendesse bem. 
- O que você tem em mente pra ela? - Arthur me perguntou curioso, enquanto vi a velocidade do carro diminuir. Havíamos chegado ao sitio. 
- Você vai ver, Arthur. Você vai ver... - sorri com um tanto de maldade. Meu celular tocou e me despertou dos pensamentos mirabolantes. 

“Ele já está aqui comigo e com Chay no estacionamento. Venha logo, tenho medo dele. 
Xx Sophia”

XOXO BIA BERNARDO

Cap 5 I’m Feeling Good

Arthur abriu a porta do carona para mim e me ajudou a descer. Deu a chave do Porche ao manobrista, e então entramos sítio adentro. O local estava todo decorado com margaridas e forros branco, dando àquele local uma tranquilidade estupenda. Meu braço estava entrelaçado ao de Arthur, e nós cumprimentávamos algumas pessoas pelo caminho até o grande gramado. Havia mesas sob tendas brancas e algumas cadeiras ao redor do que era um campo de futebol. Alguns cavalos estavam amarrados nas traves do gol, cavalos extremamente bem cuidados. Eles provavelmente valiam uma fortuna. 
O sorriso educado estava estampado em minha face ao cumprimentar a elite, assim como no de Arthur. Avistamos Micael Borges e Aaron Belmont acenando de longe, então fomos em sua direção para nos sentarmos. 
- Boa tarde, Lua- o garoto se levantou e sorriu galanteador. Ele tinha um charme, eu não podia negar. 
- Boa tarde, Aaron - sorri de volta. Apenas acenei com a cabeça para Micael, que desmanchou o sorriso no mesmo momento. Longe da minha amiga, eu não o aturaria. 
Arthur arrastou uma cadeira para que eu me sentasse, mas hesitei. Tinha outros planos naquele momento, poderia ficar sentada por muito tempo enquanto assistia ao show. 
- Preciso encontrar Sophia. Ela trouxe alguém especial para a festa - falei insinuante, e eu sabia que, com apenas um olhar, Arthur sacaria o que eu queria dizer. 
- Quer que eu vá com você? - Arthur perguntou, com um toque de excitação na voz. 
- Não, fique aqui. Caso Giovana apareça, chame-a para se sentar aqui. 
O garoto concordou com a cabeça e eu então parti para o estacionamento. 

Meus saltos afundavam na grama enquanto eu andava, então tive que me equilibrar na ponta dos pés. Eu olhava atentamente pelo ambiente à procura da loira e Pedro, mas nenhum sinal do casal do ano. Ou ex-casal do ano, já que eu havia estragado o relacionamento perfeito deles após a festa de Arthur.
Quando cheguei ao estacionamento, vi três pessoas viradas de costas para mim. O cabelo castanho e liso de Chay eu reconheci de longe. Usava uma calça social preta e terno de mesma cor. Ele sempre conseguia ser charmoso ao extremo... 
Soph usava um vestido branco e tomara-que-caia, enquanto seus longos cabelos estavam presos em um rabo de cavalo baixo e torto para o lado direito, caindo-lhe sobre um ombro. E havia um garoto - melhor dizendo, um homem - entre os dois. Tinha o cabelo preto arrepiado, um terno azul marinho e calça jeans. Eu me lembrava bem de sua fisionomia. Era moreno e tinha olhos verde-oliva. Era bonito, mas sua profissão me impedia de sentir algum interesse por ele. 
Pigarreei quando me aproximei. 
- Jeremy... Como é bom te ver! - menti. Por mim, jamais o veria novamente. Mas as circunstancias pediam por aquilo. O homem sorriu abertamente, deixando seus dentes extremamente brancos entrarem em contraste com sua pele. 
- Igualmente,Lua ... - ele disse com sua voz grossa. Eu sabia que ele pouco se importava em me ver. No entanto, tínhamos um interesse em comum: derrubar Giovana. Na verdade a sua vontade não abrangia o mesmo sentido que a minha. Eu tinha desejo por vingança, ele queria apenas seu dinheiro de volta. 

Jeremy e Giovana namoraram quando a garota tinha seus quinze anos. O garoto era três anos mais velho e de uma classe social bem abaixo da de Giovana. Quando os pais da garota descobriram a profissão de Jeremy, proibiram-na de namorá-lo, mas aquilo não seria suficiente.Giovana era mimada demais para fazer algo que os pais mandaram. 
Jeremy era traficante. Mas não um simples traficante: ele comandava toda a rota de drogas de Londres, logo, a maior rota de todo o Reino Unido. 
Giovana quis aproveitar-se desse fato, e os dois planejaram um assalto. Sim, um assalto. E contra sua própria família. 
Contara os pontos estratégicos da segurança da mansão dos Caldwell, a senha do cofre principal... 
Como ela foi capaz de trair a própria família? 
Bom, essa era uma boa pergunta. Na verdade,Giovana Caldwell jamais se importara com sua família. Pensava que tudo o que eles faziam por ela não passava de sua obrigação. Ela queria o que era deles para que pudesse sair dali, fugir e viver sua vida. 
Então Jeremy, por mais perigoso e esperto que fosse, caiu na lábia da garota e aceitou participar do plano. Roubara a família Caldwell o máximo que conseguira e entregara a fortuna a Giovana. E o que a garota fizera? Pegou todo o dinheiro e jóias da família, e em seguida, denunciou o namorado à polícia. Jeremy ficara preso por dois anos, e eu fiz questão de pagar sua fiança. 
Eu queria ver a cara de Giovana quando o visse ali. Eu queria que ela visse que eu era capaz de colocá-la em sono profundo e mergulhar em seu pior pesadelo. 
Olhei Sophia e Chay de relance e os dois lançaram-me um sorriso. Aquilo era infalível. 

Entrelacei meu braço no de Jeremy e tomamos o rumo para fora do estacionamento. 

Algumas pessoas mais conhecidas olhavam-me com receio. 
O que ela está fazendo com esse criminoso?, pensavam. 
E eu me importava? 
Eu estava pouco me lixando. Pensassem o que quisessem, eles não eram meu problema. 
O sorriso continuava estampado em minha face, por estar finalmente colocando a primeira parte do meu plano em prática. 
Avistei a mesa onde Arthur estava sentado e, como de esperado, seu olhar fora atraído pelo meu. Seus olhos sorriam, e ele tentava disfarçar o riso que queria soltar. Micael também pareceu ser atraído pelo olhar da namorada que andava atrás de mim, mas sua reação foi diferente. O choque pareceu consumi-lo, e no momento seguinte, todos daquela mesa já estavam nos encarando. Vi Pedro virar sua cabeça para nossa direção, e sua reação não fora diferente da de Micael. Seus lábios se entreabriram em choque. 
A última que pareceu notar o que estava acontecendo foi Giovana. Ela demorou alguns segundos para lançar sua atenção para mim. Mas quando lançou, o que eu mais quis fazer foi gargalhar. Eu queria rir de sua feição de choque, medo, aflição... Seus lábios tremiam cada vez mais, à medida que nos aproximávamos. 
Olhei para cima a ponto de ver o meio sorriso nos lábios de Jeremy. Então ele se sentia tão realizado quanto eu... 

- Olá, pessoal... Lembram-se de Jeremy Maddson? - apontei com sutileza para o garoto ao meu lado. Ninguém disse uma palavra. - Lembram-se também que ele estava preso, não lembram? Bom, ele foi solto... E não vejo nada mais justo do que trazê-lo novamente para a sociedade. Toda aquela filosofia de dar uma nova chance, não é verdade, Jeremy? 
O garoto sorriu com humor para mim e arrastou uma cadeira para que eu me sentasse ao seu lado. No mesmo lugar em que Giovana se encontrava. 
- Lembra-se de Jeremy, Giovana? - direcionei-me à garota. - Como poderia esquecer, não é mesmo? 
Seu peito subia e descia com velocidade, de acordo com sua respiração desesperada e descompassada. Seus olhos tinham um misto de fúria e medo. Tudo o que eu queria. 
Todos ficaram em silêncio por longos segundos, até que lancei um olhar a Arthur e o garoto pigarreou, puxando um assunto qualquer. Um garçom passou servindo aperitivos e champanhe, e o clima pareceu descontrair ao longo dos minutos. Não para mim, Jeremy e Giovana. Até Pedro parecia ignorar nossa existência. Encarei-o por alguns segundos. Ele estava com uma camisa pólo branca, com os primeiros botões abertos... Bem do jeito que eu amava... 

"- Pedro, eu estou nervosa! - apertei sua mão com força, à medida que saíamos do elevador. Puxei-o, de modo que me encarasse. Eu estava tremendo! 
- Nem tem por que ficar assim, Lua! Eles vão te adorar! - o garoto envolveu meu rosto com suas mãos. - Para falar a verdade, eles já te amam... - concluiu com um sorriso sapeca. Bufei, ainda não me convencendo. 
Pedro estava me obrigando a conhecer seus pais. Fazia apenas sete meses que estávamos namorando – tudo bem, era muito tempo, no entanto, eu tinha apenas treze anos e realmente não fazia questão de conhecer os pais deles. Podia parecer rude, mas eu não estava preparada!
Claro que os Cassiano já me conheciam, mas não oficialmente. 
Pedro nunca dissera: “Oi pai, oi mãe, essa é minha namorada, !” 
Éramos muito novos, mas agora a família Cassiano fazia questão que Pedro me apresentasse como sua namorada. 
E eu? Eu estava apavorada. E se eu fizesse algo de errado? Se eu não segurasse o garfo de forma errada? Se caísse ou falasse algo inapropriado? 
- Vamos, respire fundo - Pedro disse calmamente, ainda com as mãos em meu rosto. Entrelacei nossos e inspirei profundamente. - Melhorou? 
Abri os olhos e encarei aquele mar intenso que eram seus olhos. Como não acalmar diante daquilo? 
Sorri docemente e beijei a palma de sua mão. 
- Estou. 
Pedro sorriu de volta e selou seus lábios aos meus. 
- Vamos? - perguntou com ternura. 
- Vamos. 
Ele abaixou suas mãos e continuou com uma entrelaçada na minha. Bateu na porta de madeira perfeitamente desenhada e envernizada, e a Sra. Cassiano a abriu em seguida com um sorriso enorme e gentil. Toda a tensão desapareceu completamente do meu corpo assim que fui acolhida como se fosse parte da família. Nunca me senti tão feliz... "



- Er, ... Posso falar com você? - a voz veluda de Giovana despertou-me de meus pensamentos. Meu estomago congelou. 
- Claro... - forcei minha voz a se acalmar e me levantei. 
Andamos silenciosamente pelo gramado, até estarmos relativamente longe da mesa onde nos sentávamos. 
- O que você está fazendo? - a loira me perguntou com a voz trêmula. Eu sabia que ela estava prestes a ter um ataque. E eu veria aquele espetáculo de camarote. 
- O que você quer dizer com isso? 
- Você quer destruir a minha vida, é isso? - ela tentava manter a calma, mas suas mãos tremiam freneticamente. Um riso explodiu da minha garganta sem pudor. 
- Oh, porque se eu destruir sua vida vai ser muito injusto, não é mesmo? - perguntei com o máximo de cinismo na minha voz. Ela queria mesmo bancar a vítima para mim? 
- Olha aqui,Lua, você mereceu o que eu fiz com você! - apontou o dedo em meu rosto ameaçadoramente. Que medo.
- Eu mereci, Giovana? Eu mereci? Eu era sua amiga! Sua amiga! Nunca fiz mal algum pra você! Eu te amava incondicionalmente, e por que você fez isso comigo? Por quê? 
Eu cuspia as palavras com o mínimo de pena. 
- Você ficava com Arthur! Ficava com Pedro enquanto estava com o Arthur! 
- E desde quando você é boa samaritana? Você traía Chay todo final de semana e agora quer me julgar? - falei com indignação. Aquilo não era possível. Tinha que ser brincadeira! 
- Não é disso que eu estou falando! - ela gritou.- Eu amava o Arthur, Lua! Eu sempre o amei, e você ficou com ele! O fisgou, deixou-o cego por você! Enquanto você não escolhia entre Arthur e Pedro, eu ficava sofrendo! E você nunca se importou com isso! 

Um minuto. Planeta pare de girar porque eu quero descer. Ela amava Arthur? Desde quando? 
Uma onda de raiva ainda maior correu por meus ossos como uma corrente elétrica. 
- Você amava Arthur? Desde quando? E eu por acaso sabia disso? E isso é motivo para acabar com a minha vida? - meu tom de voz agora era o mesmo que o de Ava. Eu não ia mais segurar aquela fúria dentro de mim; eu precisava vomitar todas aquelas palavras. 
- Você devia saber! Já que diz ser tão minha amiga... - ela rolou os olhos. - E não foi só por isso! Você sempre foi a queridinha de todos. Sempre chamando atenção, querendo que todos olhassem pra você... Sempre foi egoísta e nunca pensou em nada a não ser em você! - apontou novamente o dedo em meu rosto. Bati minha mão ferozmente em seu dedo. Quem era ela para me ameaçar daquele jeito? 
- Eu sempre fiz tudo por você, Giovana, e eu sou egoísta? Menti, magoei, perdi pessoas... Tudo por você! Eu sempre te idolatrei, sempre te amei, te considerei como uma irmã! Não venha me chamar de egoísta! 
- Tanto faz,Lua . Eu estava cansada de você! Queria você longe da minha vida, da de Arthur e de Pedro! Queria que todos vissem quem você realmente era... E não é que eles acreditaram? Para você ver o quanto era importante para todos... - riu debochadamente. Sorri. 
- Pois é... Mas quem você queria que acreditasse... Não acreditou. Ele continua fiel ao meu lado. É isso que te mata, não é mesmo,Giovana? - aproximei-me da garota, e a cada passo que eu dava para frente, ela dava para trás. - Arthur continua atrás de mim como sempre esteve. O que acha disso? 
- Não por muito tempo, Lua. Você vai ver. Quando Arthur rastejar por mim, você vai ver que não tem mais nada. E quando eu fizer coisas piores com você, piores do que o que já fiz, você vai implorar por perdão. - Seu tom era de extrema ameaça. Se eu estava com medo? Se eu me sentia ameaçada? Eu não tinha o mínimo de medo, não sentia o mínimo de ameaça. Eu ia usar o veneno contra a própria cobra. 
- Você está muito enganada se eu vou ficar parada vendo você planejar minha queda,Giovana. Vai ser você quem vai implorar por perdão. 
- Hey Lua... - escutei uma voz ao fundo tirar minha atenção dos olhos raivosos de Giovana. - Posso falar com a Giovana por um instante? - era Jeremy. O show estava prestes a começar. 
- Claro, querido - sorri educada. Lancei um ultimo olhar mortal à garota antes de me retirar. Enfiei a mão em minha pequena bolsa e retirei de lá meu celular. Procurei pelo número de Arthur e comecei a escrever uma mensagem. 

“Mudança de planos. Tenho algo mais interessante pra você. Xx Lua”

Sentei-me novamente à mesa. Havia uma cadeira vazia que me separava de Pedro. Ele tentava não me olhar, eu sabia que ele fazia um esforço grande para não fazê-lo. Sua mão estava posta sobre a mesa, e ele batia os dedos compulsivamente, em um ritmo sincronizado. 
O que eu mais quis fazer naquele momento foi agarrar sua mão. Sentir a textura de sua pele em contraste à minha. Beijá-la, entrelaçar seus dedos nos meus... Aquilo era uma tortura. 
E quando um baque de vento passou por nós, trouxe com ele o perfume de Pedro. Ele invadiu minhas narinas sem pudor algum, e desceu rasgando a minha faringe até chegar aos pulmões. 
Senti meus olhos formigarem e se embaçarem por alguns instantes. Ficar ao seu lado era mais do que eu podia aguentar. Era o pior tipo de tortura que podia existir... 



"- Nós vamos ter um consultório só nosso... Onde vamos poder nos ver o tempo inteiro, e no intervalo entre um paciente e outro... Você sabe... - Pedro disse com uma voz marota e beijou meu pescoço. Sim, eu sabia o que ele queria dizer. Dei um tapa de leve em seus ombros. 
Estávamos deitados em sua cama, enquanto Amsterdam da banda Anberlin tocava em seu mp3. Eu havia colocado a música para repetir; ela era, simplesmente, a musica mais linda que eu já ouvira. Apesar de a letra melancólica e triste não ter nada a ver comigo e Pedro, eu gostava de escutá-la. 
- Você não vai enjoar de me ver o tempo inteiro? - indaguei, brincando com seus cabelos. Eu estava com a cabeça em seu peito, mas encarava seu queixo, enquanto ele olhava para o teto. Eu gostava de ficar naquela posição, só para sentir o cheiro gostoso que exalava de seu pescoço. 
- Acha mesmo que vou me enjoar de você? - Pedro rebateu, apertando minha cintura contra seu corpo. Dei de ombros. - Você é muito boba por pensar isso. É bem capaz de você se enjoar de mim, não o contrário. 
- Até parece... - murmurei baixinho contra sua nuca. Pedro riu docemente e beijou o topo da minha cabeça. Aconcheguei-me ainda mais, de modo que agora pudesse encarar seu rosto de perto. 
Nossos narizes estavam quase se encostando, e eu chegava a ver apenas um olho de Pedro, tamanha nossa proximidade; sua respiração batia em minha boca. 
Espalmei minhas mãos em seu peito, e elas se moviam para cima e para baixo lentamente, de acordo com sua respiração. 
Eu não precisava de mais nada. Eu estava completa. 
Pedro e eu tínhamos planos de nos formarmos em Medicina e abrir nossa própria clínica. Eu sabia, apesar dos meus quatorze anos, o que queria. Queria ter Pedro para o resto da minha vida, queria formar uma família, ter uma casa, cinco filhos e dois cachorros. Não importava como, eu só queria tê-lo para sempre. Nada podia nos separar, eu tinha certeza disso. "

*

De repente, como se fosse uma falcatrua do destino - para quem nisso acredita -, uma melodia conhecida saiu das caixas de som ali perto. A música era baixa, para que não atrapalhasse os convidados a conversarem. Mas ainda assim, eu a escutei. E sabia que o garoto ao meu lado havia escutado também, já que suas mãos fecharam em punho. 
Meu coração passou a bater descompassado. De movimentos rápidos a movimentos quase parando. Minha respiração falhou totalmente e meu cérebro pareceu parar de trabalhar. Era a nossa música. 
Ela nunca fizera muito sentido quando estávamos juntos, mas escutando agora, parecia que fora feita para nós. 

I don’t wanna be where you are
I don’t wanna be here even now
I don’t wanna be by your side

Sim… Nós não entendíamos como ela nos tocava naquela época... Talvez estivesse traçado em nossos caminhos os acontecimentos recentes. Talvez não era para ela fazer sentido naquela época, mas em um futuro próximo... 
Vi o peito de Pedro subir e descer rapidamente, como se sua respiração estivesse falhando como a minha. Não sei explicar por que ela tocou naquele momento, naquele exato momento em que eu estava prestes a desistir de tudo e pedir desculpas. Eu estava quase desistindo do meu propósito... Por ele... 

This is our last goodnight

Vi seus olhos encontrarem os meus por um milésimo de segundo. Eles, por um momento, não pareciam cheio de ódio, mas sim, decepção. 
Ele era a última pessoa do universo a qual eu queria decepcionar. Se eu pudesse, pularia em seu colo, o encheria de beijos e pediria desculpas por ter esquecido quem eu realmente era... De quem nós realmente éramos. Falaria que ele era a única pessoa que fazia a minha vida ter sentido, a única que eu queria ter um futuro... Mas eu não podia. Eu não podia, pois algo maior dentro de mim fazia questão de me lembrar todas as palavras horríveis que ele já dissera. Mas eu queria esquecer. Eu queria esquecer as palavras e me lembrar dos atos... Lembrar-me de todas as maravilhas que já passamos juntos... 
No entanto, no fundo - bem no fundo de mim - eu sabia que eu não merecia... Não merecia seu amor, seu afeto, sua amizade... Mas tampouco Giovana. Ele merecia alguém que retribuísse toda sua bondade, que o amasse como ele merecia ser amado. Não alguém como eu. 

Pedro pareceu não aguentar. Empurrou a cadeira com força e saiu batendo os pés fortemente no chão. Passou pela gritaria que acontecia entre Giovana e Jeremy, e saiu do meu campo de visão. 
Uma tristeza imensurável me assoreava. Era uma dor horrível. Uma vontade de gritar, chorar, dormir e não acordar. 
Por um lado, Giovana tinha razão. Eu era mesmo egoísta. Quando eu o tinha para mim, brincava com seus sentimentos como se fosse um jogo estúpido. O enganei, o trai, o magoei... Eu não era digna de seu amor. 
Eu era digna de nada. 

XOXO BIA BERNARDO,SÓ POSTO O PRÓXIMO SE TIVER 10 COMETÁRIOS.

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