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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Three Cheers For Sweet Revenge

   

capitulo 6 e 7

Cap 6 I Don’t Wanna Know
"- Oh, Chay... Estou tão cansada de tudo... - queixei enquanto nos sentávamos no chão do almoxarifado. Era aula de latim, e nós sempre dávamos um jeito de cabulá-la. Normalmente Giovana e Sophia estariam ali, mas as duas haviam sido suspensas da escola por dois dias devido a mau comportamento. Eu estava dormindo nessa hora, senão estaria em casa nesse momento também. 
- Calma, Lu... As férias já estão chegando... - ele disse com tranquilidade. Encostei minha cabeça em seu ombro e encarei algumas vassouras velhas e descascadas à nossa frente. 
- Eu sei... Mas em pensar que ano que vem terei que enfrentar tudo isso de novo. Eu não aguento mais tanta hipocrisia, Chay. Sabe que continuo aqui só por vocês... - falei com melancolia, enquanto meu amigo passava a mão sobre meus cabelos. 
Se alguma pessoa que não nos conhecesse nos visse, provavelmente acharia que éramos um casal de namorados. Mas Chay e eu éramos amigos demais para sermos namorados. Ele era o irmão que eu nunca tive. 
Nem ao menos Sophia me entendia como Chay entendia. Ele sabia dizer as palavras necessárias nos momentos mais delicados. Ele sabia como me acalmar, como me entreter... Sabia o que eu sentia apenas com um olhar. 
- Eu sei. Mas pense, será nosso ultimo ano. E depois, olá Cambridge! - ele disse com humor, fazendo-me rir só de imaginar. 
- Seria ótimo se nós quatro fossemos aceitos em Cambridge... - suspirei. 
- Nós quatro? - ele pareceu meio confuso. 
- É. Eu, Pedro, você e Giovana... 
- Oh, claro - Chay disse num murmúrio. Ele pareceu surpreso por um instante, mas acho que não percebeu que vi sua expressão. 
Um silêncio calmo pairou sobre nós por alguns instantes. 
- Você gosta muito dele? - Chay pareceu ter dificuldades ao falar. - De Pedro, quero dizer. 
Suspirei. Não hesitei, somente refleti por alguns instantes. Eu não tinha dúvida alguma. 
- Sim. Eu o amo, Chay. Eu o amo como nunca amei ninguém - falei meio romanesca. - Na verdade acho que nunca amei alguém além dele... - ri baixinho. 
- Mas e Arthur? - ele perguntou com receio. Suspirei novamente. 
- Não sei o que acontece entre Arthur e eu... Acho que é apenas uma aventura, tanto pra mim quanto pra ele. É algo que eu não consigo resistir. Mas eu não o amo. Longe disso... 
Chay riu. E depois suspirou, um tanto quanto pesaroso. 
- Sabe, Lu, eu queria te dizer uma coisa... – Chay começou com desconfiança. 
Virei meu rosto em sua direção, encorajando-o que continuasse. 
- Eu... Eu... 

E então um baque ensurdecedor nos assustou.
- Aqui estão eles! - uma voz feminina - e familiar - gritou. 
No momento seguinte, uma multidão apareceu diante da grande porta do almoxarifado. O lugar, que antes a escuridão dominava, agora estava repleto de feixes de luz que escapavam por entre as pessoas. 
Vários cochichos e murmúrios abafaram o lugar. Cochichos maldosos, murmúrios de julgamento. Eu não entendia o que estava acontecendo. 
- Eu sabia! - reconheci a voz de Giovana gritando. - Eu sabia que vocês dois estavam juntos! Eu sabia que você estava me traindo com ela! - apontou para Chay. 

Meus olhos se arregalaram. O que estava acontecendo? 
- Giovana, do que está falando? - o garoto perguntou, levantando-se do chão. Fiz o mesmo. 
- Aí está a prova! Vocês escondidos nesse almoxarifado enquanto estou procurando por vocês! Como você pode fazer isso comigo, Chay? - ela agora chorava e gritava descontroladamente. E eu estava perplexa. 
- Giovana, você está louca? Por que está falando isso? Sabe que ficamos aqui durante as aulas de latim! E o que você está fazendo aqui, por falar nisso? - Chay continuou, tão perplexo quanto eu. Só que eu ainda não havia absorvido aquele momento. 
- Vocês esperaram eu não estar aqui para me apunhalar pelas costas, não é mesmo? - a garota se aproximou; os murmúrios cada vez mais intensos. - E você, Lua? Que diz ser minha amiga... Como teve a audácia de fazer isso comigo? Que tipo de cobra você é, que fica com o namorado da sua melhor amiga? - ela gritou cruelmente. 
- Ei, o que está acontecendo aqui? - outra voz familiar apareceu no meio dos murmúrios. Era Pedro, mais confuso que eu. 
- Quer saber mesmo o que está acontecendo, Pedro? - Ava riu maleficamente. - Sua namorada, que todos pensam ser uma santinha, estava aqui de amassos com o meu namorado! 

Pedro não falou nada por alguns segundos. Ele me encarava com uma expressão vazia, com a boca entreaberta. 
- Pedro, isso é mentira! - acordei, e foi minha vez de gritar. Fui em direção ao meu namorado e fiquei de frente a ele. - Pedro, é mentira!
Mas ele continuou sem expressão alguma. Nem ao menos me encarava. 
- Acha mesmo que é mentira, Pedro? Repare em todo o tempo que eles passam juntos! Viajam juntos, jantam juntos, saem quando nem ao menos estão conosco! E as tardes de sábado no parque? Não me venha dizer que nunca desmarcou um encontro pra encontrar Chay! - a língua afiada de Giovana continuava a soltar um veneno peçonhento. 
O garoto moveu a cabeça lentamente em direção à garota. 
- Você sabe, não sabe? Sabe que no fundo o que eu falo é verdade! - ela gritou. 
- Não dê ouvidos a ela! Pedro, pelo amor de Deus, olhe pra mim! - sacudi o garoto em minha frente. - Você não confia em mim? Pedro, olhe pra mim! - supliquei. As lágrimas já começavam a descer dos meus olhos sem pudor algum. 
- Por que está fazendo isso, Giovana? Por que está inventando essas coisas? - fui até Giovana com toda a minha fúria. 
- Inventando? Você devia ter vergonha de dirigir a palavra a mim. Você é uma vadia,Lua . Uma vadia! - ela gritou e me empurrou com força. 
No momento seguinte, ela atravessou a multidão que me encarava com olhos cheios de julgamento. Pedro continuava parado, atônito. 
- Pedro... 
- Não encoste em mim - ele disse com o tom de voz assombrado. Ainda não me encarava. - Não encoste em mim... 
Sacudiu a cabeça e saiu a passos largos do almoxarifado. 

Mas a aglomeração continuava ali... Olhando-me como se fosse um animal em exposição. Um animal que tinha assassinado outro do mesmo bando. 
O que tinha acabado de acontecer? Por que Giovana tinha feito isso? Por que Pedro havia acreditado nela? Por que isso estava acontecendo comigo? "

Acordei do cochilo que tirei durante a aula de História do Reino Unido quando a sirene tocou. Ainda tive que aturar um sermão do Sr. Meyers por ter dormido. ‘Não irei tolerar isso da próxima vez, Srta. Blanco, ele dissera. Isso, suspenda-me, Sr. Meyers, é tudo o que eu preciso nesse momento. Encontrei Sophia no corredor e tomamos rumo à saída do colégio, já que aquela era a última aula do dia, com a graça do Senhor. Combinamos de nos encontrar ao crepúsculo daquele dia para lancharmos em algum Café. 
O motorista de Sophia chegara antes do meu. Na verdade o meu estava demorando uma eternidade. 
Após longos quarenta e cinco minutos, não restavam muitas pessoas ali. Mas uma em particular chamou minha atenção. Levantei-me e fui em sua direção. Ele estava sentado sob a copa de uma árvore, com fones no ouvido e olhos fechados. Tinha as pernas cruzadas e braços em cima da cabeça. 
Aproveitei seu momento de distração e me sentei ao seu lado, passando despercebida. Foi o que achei. Pedro abriu os olhos e me encarou com certo espanto. - Se importa? - perguntei docemente, tomando cautela com as palavras que eu usaria. O garoto simplesmente deu de ombros, sem tirar os fones do ouvido. 
- O que está ouvindo? - me atrevi a perguntar. Pedro arqueou as sobrancelhas e me olhou novamente, agora um tanto desconfiado. 
- Mayday Parade - ele respondeu, sem muito interesse. Oh, como senti falta de escutar sua voz! 
Murmurei ‘hm’ e pensei no que dizer em seguida. Pedro voltou a fechar os olhos. 
- Miserable at Best? - perguntei novamente. Eu sabia que aquela era sua música favorita. Pedro tirou bruscamente os fones. 
-Lua ,o que você quer? - rebateu com certa rudez. Encarei minhas sapatilhas por um instante. Quero você. 
- Queria... Um novo começo... - falei sem nem mesmo pensar. Pedro riu. 
- Você é inacreditável,Lua ... - disse em meio de risadas. - Você faz tudo o que fez, some, não dá sinal de vida, volta completamente diferente, e ainda pede por um novo começo? - ele cuspiu as palavras sem pena alguma. Respirei, a fim de me acalmar. 
- Você não sabe das coisas que aconteceram de verdade, Pedro... 
- Então me explique,Lua ! Me explique, por favor! - falou com um tanto de cinismo. Eu iria manter a minha calma. 
- Não vou te explicar nada, Pedro. Você escolheu seu lado, escolheu não me escutar... Já quis explicar e você não me ouviu. Mas não é isso que eu quero dizer... 
- Então o que quer? - ele pareceu desorientado. - O que você quer? Quer me enlouquecer, é isso? 
- Não, Pedro. O que passou, passou. Mas nós podemos pelo menos... Ser amigos... - falei com timidez, brincando com meus próprios dedos. Pedro balançou a cabeça e depois suspirou. 
- Não sei como posso ser seu amigo, Lu... - meu coração revirou ao escutá-lo falando meu apelido novamente. - Não pelo que você fez... Mas pelo que você se tornou... Eu não te reconheço mais! Eu não sei quem você é! 
- Eu sou a mesma de antes, Pedro! Acredite, eu sou! - me virei de frente a ele, com um olhar de súplica. 
- Não parece... A minha Lua ... - parou de falar subitamente ao realizar o que tinha falado... Minha ... Meus olhos formigaram. - A antiga jamais agiria como você está agindo... Ela não era má. Era ingênua, queria sempre o bem dos outros... Não humilhava, não mentia... Acho que na verdade eu era o ingênuo da historia... - concluiu ele com pesar. 
- É... Talvez eu não seja como a antiga ... - Mas eu ainda posso ser sua... - Mas se te incomoda tanto a nova, eu... Eu posso voltar a ser ela... 

O garoto passou a encarar a rua. Seu perfil maravilhoso, exatamente como eu me lembrava. Fechou os olhos de repente. 
Resolvi aproveitar daquele momento de hesitação. Foi mais por impulso que qualquer outra coisa. 
Minha mão parecia ter vontade própria. Ela se levantou e se moveu lentamente em direção ao rosto de Pedro. Puxei-a por um instante. 
O que poderia acontecer?, me perguntei. 
No máximo, ele tiraria minha mão. 
E por mais um impulso, ela voltou a se mover. 
Um arrepio percorreu todo o meu corpo no momento em que senti sua pele tocar meus dedos. Pedro pareceu se assustar, mas não abriu os olhos. Isso me fez querer continuar. Comecei a passar a mão por todo seu rosto. Primeiro pelas maçãs do rosto. Sua barba estava malfeita, por isso senti um pouco de cócegas. Subi para suas sobrancelhas e desci para seus olhos fechados. Trilhei o caminho lentamente até seu nariz perfeito, fazendo a curva da ponta com meu dedo indicador. E então, faltava sua boca. Ela estava entreaberta; Seus lábios rosados e convidativos. Eu podia sentir sua respiração descompassada sair pelas narinas e pelo pequeno espaço entre os lábios. Levei meu dedo até o lábio superior e fiz o contorno indefectível do mesmo. Pedro suspirou pesadamente, eu notei. Contornei até o lábio inferior, demorando mais ali. 
Quando dei por mim, meu rosto já estava tão próximo do seu, e meus lábios formigavam para tocar os dele. 
Pedro abriu os olhos lentamente e encarou os meus. 
- Eu sinto tanto a sua falta... - ele disse com tamanha angústia que fez meu coração ser comprimido dentro de mim. 
Segurei seu rosto entre minhas duas mãos. 
- Eu estou aqui agora... - falei com a voz trêmula, segurando para não deixar lágrimas caírem dos meus olhos. - Me dê outra chance! Deixe-me recomeçar! Eu vou te mostrar que ainda posso ser a sua Lua ! - meu tom era um misto de desespero e felicidade. Escutar aquelas palavras da boca de Pedro era tudo o que eu precisava para largar tudo. Eu jogaria tudo pro alto, por ele...
Uma buzina nos acordou do transe profundo em que nos encontrávamos. Pedro pareceu ter dificuldade para olhar para o lado. Vi que era seu motorista. E vi também que ele fechou os olhos e abaixou a cabeça. Ele iria falar algo. Mas acho que tudo o que eu escutaria seria as batidas fortes do meu coração. 
- Eu... - ele começou, fazendo o ar ficar preso dentro de mim. - Desculpe, eu preciso ir... 
Tirou as minhas mãos de seu rosto e se levantou. Parou por alguns segundos, de costas a mim, e então partiu, sem ao menos olhar para trás. 
Uma lágrima solitária rolou pela minha bochecha. Apesar de tudo, eu já havia escutado o que queria. 


"Os olhares continuaram ao longo da semana. Eu não mais os suportava.Pedro não falava mais comigo. Giovana me ignorava completamente. Chay havia sumido. Sophia não sabia como me ajudar. Eu não tinha mais opções. Eu estava acabada, martirizada, humilhada... Até mesmo minha irmã, Bridget, me olhava de maneira diferente. Não tocara no assunto, no entanto. 
Eu estava vivendo um pesadelo. Daqueles em que você não consegue acordar de maneira alguma. Só me restava uma coisa a fazer... 

- Arthur! - gritei o garoto que conversava com uma ruiva qualquer. Aproximei-me mais. - Arthur... 
A garota me olhou do mesmo jeito que todos me olhavam: como se eu fosse uma aberração. A tal rolou os olhos e sibilou um ‘Converso com você mais tarde’ e saiu de perto. 
Arthur, entretanto, não me olhava como os outros... Continuava normal, exceto por um brilho incomum. 
- Você está sabendo de tudo? - perguntei um tanto eufórica, enquanto tentava fazer minha respiração voltar ao normal. Estávamos no gramado da escola e era a hora do intervalo. 
- Do seu adultério? - ele rebateu com humor. 
- Você sabe que eu não fiquei com Chay, Arthur! - contrapus com furor. 
- Mas você continua sendo uma adúltera... - o garoto continuou com seu cinismo infernal. 
- O que quer dizer com isso? - franzi o cenho, quase pronta para pular em seu pescoço. Eu precisava descontar minha raiva de qualquer maneira. 
- Esqueceu das nossas noites esplendidas em Ibiza? Não só em Ibiza, é claro, mas é nessa que tenho as melhores recordações... - concluiu com um sorriso sacana no rosto. 
- Mas eu estou sendo acusada de algo que não fiz! Se ela pelo menos tivesse falado de você, mas não! Ela falou de Chay! Por que ela fez isso? Eu não estou entendendo... - passei as mãos por meu cabelo, um tanto desesperada. Eu estava prestes a enlouquecer. 
- Não tente entender a mente de Giovana, ainda mais uma mente tão ingênua quanto a sua... - Arthur disse com audácia. Passou o braço sobre meus ombros. - Vamos, se acalme. As coisas não vão se resolver se ficar nesse estado. 

Por um segundo, quase acreditei que Arthur realmente se importava comigo. 
- Por favor, Arthur, me ajude! - meu tom foi de extrema súplica. Ali estava eu, implorado por ajuda a Arthur Aguiar.
- O que quer que eu faça? - me encarou com apreensão. 
- Diga a Pedro que é tudo mentira! Ele é seu melhor amigo, vai acreditar em você! - continuei desesperada. 
- Pra que eu faria isso, Lua? 
Fiquei sem entender. 
- Está tudo do jeito que eu sempre quis! – Arthur continuou. – Olhe, eu amo Pedro, mas ele agora está finalmente fora do meu caminho... - o garoto disse com um pequeno sorriso. Eu não podia acreditar. 
- Você acha mesmo que vou ficar com você? - cuspi aquelas palavras. Eu estava cansada da arrogância de Arthur. 
- Acho, Lua. Acho que em certo ponto da sua vida, você vai ver que quem é o seu grande amor... - deu uma pausa e aproximou sua boca ao meu ouvido. - Sou eu. 
- Foi você quem armou tudo isso, não foi? Você que está por trás disso tudo, não é mesmo, Arthur? - minha voz já era mais descontrolada que o normal, e eu estava – literalmente - parecendo uma doida. 
- Não,Lua . Para o meu desprazer a anta da Giovana teve essa idéia antes de mim. Quero dizer, sempre tive a idéia, mas nunca consegui colocá-la em prática. - Ele estava um tanto quanto impaciente, pelo seu tom de voz. - Mas se não tivesse dado certo, eu o faria se fosse preciso. - Sorriu vitorioso por fim. 
O que eu queria fazer naquele momento? Estapeá-lo. 
- Eu tenho nojo de você, Arthur. Nojo! 
Dei as costas e sai pisando forte pelo caminho até a escola. "


De volta para aquela escola maldita. Fazia apenas um mês que eu estava ali, mas eu já queria ir embora. Voltar para Frankfurt era uma boa ideia... 
- Então, podemos começar com nosso trabalho sobre os animais em extinção do planeta? - Sr. Morrison perguntou por trás de seus óculos redondos. Ele era um homem de estatura muito baixa e poucos cabelos na cabeça. 
- Como vocês nunca chegam a um acordo, eu escolherei os grupos desse trabalho - ele continuou com toda aquela simpatia exagerada. Minha respiração falhou. Pedro estava na minha classe! 
Com a força do meu pensamento, eu pedia sem parar: Pedro e Lua , Pedro e Lua , Pedro e ... - Giovana Caldwell e... - Não sou eu, não sou eu, não sou eu - Lua. 

Um suspiro unânime percorreu a classe. Quer saber? Aquela merda de O Segredo é pura mentira! 
- Er, professor Morrison - levantei a mão. O baixinho me encarou. - Tem alguma maneira de trocar minha parceira? - coloquei toda a minha simpatia em prática. 
- Não, Srta.Blanco- ele respondeu com um sorriso. Quis matá-lo. 
- Mas... 
- Não, Lua!- foi mais severo dessa vez. Eu definitivamente iria matá-lo. - Amanda Cook e Robert Stevens. Albert Sabin e Tyler Grey... 
Não era possível. Aquilo tinha que ser brincadeira. Uma piadinha de muito mau gosto. 
Encarei Giovana do outro lado da sala. Ela tinha a mesma expressão que eu. 
- Venha para cá - li em seus lábios. Era só essa que me faltava. 
- Venha você para cá! - rebati a contragosto. 
- Eu não vou pra aí! - ela aumentou seu tom de voz. 
- Caldwell e Blanco! Juntas! Agora! - Sr. Morrison ordenou. Quem aquele energúmeno pensava que era? 
Bufei raivosa e me levantei, indo em direção à carteira da garota. Ela tinha um sorriso vitorioso no lábio. E eu queria esmurrá-la até sobrar apenas um dente. 
O professor começou a distribuir papeis e alguns folhetos para servirem de inspiração. Sorri totalmente cínica quando ele passou e fez uma cara do tipo: Viu como estou ajudando vocês duas? 
Sim, Morrison, você estava me ajudando a planejar formas de suicídio! 

- E ai... Como foi a conversa com Jeremy no Pólo? - se era para aturá-la do meu lado, eu ia fazer o possível para infernizá-la. 
- Cale essa sua boca antes que eu te estapeie em plena sala de aula – Giovana disse num murmúrio raivoso, fazendo uma explosão de risos sair da minha garganta. Tive de colocar as mãos sobre minha boca para abafar o barulho que faria. 
- Você sabe ser engraçada quando quer, Giovana... – sorri, completamente cínica. 
- Eu não estou fazendo graça,Lua . Faz tempo que quero estragar esse seu rosto com uns belos tapas – a loira rebateu entre dentes. – Meus pais tiraram meu carro e eu estou sendo obrigada a trabalhar na lanchonete da esquina do meu prédio para conseguir dinheiro pra sair... 
- Oh, você não imagina a pena que sinto de você! – falei em um tom infantil, colocando as mãos nos ombros da garota. Ela desvencilhou-se de mim imediatamente. – Pode deixar que irei à lanchonete e lhe darei boas gorjetas... 
No minuto seguinte senti um dos pés de Giovana indo de encontro com minha canela. Senti o local latejar e todo meu humor indo embora. 
- Eu falei para calar a boca – Caldwell balbuciou e me olhou ameaçadoramente, como se aquilo pudesse me assustar. Instintivamente minha mão foi de encontro com seu pulso e eu o apertei com toda a força que eu podia fazer, vendo os lábios de Giovana se retorcerem. 
- Você acha que eu tenho medo desses seus braços desnutridos? Você sabe como sou boa de briga, Caldwell, pense duas vezes antes de levantar um dedo contra mim.- Eu olhava fixamente naqueles incríveis olhos azuis, vendo um pouco de terror ser plantado ali. 
- E você acha que eu vou ficar parada? Acha mesmo que vai ficar tudo assim e você vai sair ganhando? – a garota disse com os dentes cerrados, aproximando seu rosto do meu. 
- Sim Giovana, eu acho que vou sair ganhando. Porque tudo o que você fizer, eu vou fazer duas vezes pior. 
Giovana riu. 
- Lua, você não sabe ser má. Não como eu. Ficarei apenas assistindo você queimar a si mesma. Eu não precisarei fazer nada. 
As palavras de Giovana me acertaram em cheio por alguma razão. Eu não me rotularia como uma pessoa má. Realmente, não como ela. Eu estava apenas me divertindo. Mas porque eu me queimaria? 
Ela não tinha a mínima ideia do que dizia, era isso. Estava na defensiva, queria que eu saísse da retaguarda para poder dar o bote, mas eu não era tão inocente. 
- É o que veremos... – sibilei com os olhos estreitos. Queria que ela visse a certeza neles, a certeza de que eu acabaria com a sua vida. Não no modo literal como ela fizera comigo; queria apenas que ela sofresse um terço do que sofri. Queria ver Giovana humilhada, com sua reputação no chão. 
- Sem conversa! Mais trabalho! – o professor nos interrompeu com gestos exagerados com as mãos. 
Lancei um ultimo olhar aborrecido à Giovana antes de começar a escrever sobre as capivaras no Brasil. 

Pedro parecia estar mais flexível em relação a mim. Ele não mais me evitava como antes, e não fugia de mim como se eu tivesse uma doença contagiosa. Ele até se sentara na mesma mesa que eu naquele intervalo - causando a fúria de Giovana, que estava sentada com suas súditas. 
Não direcionou a palavra a mim, no entanto. Ríamos das mesmas piadas, concordávamos com a mesma pessoa, mas hora nenhuma trocamos palavras. Olhares eram raros, mas houveram certos momentos que fizeram meu coração parar por alguns segundos. 
Eu sabia que Micael notara, pois de tempos em tempos me encarava e depois Arthur, com um olhar indignado. Mas também nada disse. Sophia também notara; soube disso no momento em que ela apertou minha mão e sorriu abertamente. Eu apenas dei de ombros. 

No final do intervalo, Arthur me abordou na entrada do refeitório. Sua feição não era das mais amigáveis. 
- Vejo que você e Pedro voltaram a ser amigos... - começou com um tom melindrado. E não daria importância. Continuei andando - e ele me seguindo. 
- Não somos amigos... Ainda - sorri sonhadora. Arthur bufou. 
O garoto puxou meu braço com força e me puxou por uma porta adentro. Reconheci por sendo o banheiro masculino. Ele correu até o box mais próximo. 
- Então é isso? Tudo o que você quer é ganhar Pedro de volta? - perguntou com raiva estampada em seus olhos. 
- Não, não é isso. Claro que quero ganhá-lo de volta, mas não é tudo o que eu quero - rebati a raiva. O corpo de Arthur estava perigosamente próximo do meu, fazendo-me afastar e bater em uma parede. Eu estava encurralada. 
- O que você quer então? Me enlouquecer? - ele disse impaciente. As mesmas palavras que antes Pedro dissera. Minha intenção - pelo menos conscientemente - não era enlouquecer ninguém. Aquilo era consequência. 
- Não seja tolo, Arthur - falei com cinismo. - Eu bem que podia acabar com você também, já que quando te pedi ajuda, você me ignorou totalmente. 
- Quando você me pediu ajuda, pediu que eu ajudasse com Pedro! - ele falou entre dentes, aproximando-se ainda mais de mim. Eu não tinha saída. Seu rosto estava ameaçadoramente próximo, e eu podia ver sua ira claramente. - Acha mesmo que eu faria isso, quando o que eu mais quero é você para mim? 
Ele cuspiu as palavras sem compostura alguma. E aquilo teve um efeito extraordinário sobre mim. Por que diabos eu tinha que estar sempre tão dividida? 
- Mesmo assim. Eu podia acabar com você - falei com indiferença, tentando não mostrar minha fraqueza. 
Arthur apoiou os dois braços na parede atrás de mim e aproximou ainda mais seu rosto do meu. Sua boca estava perto demais para meu gosto... E eu era muito fraca quando o assunto era ceder ao desejo. 
- Então vai. Acaba comigo - Arthur sussurrou em meu ouvido. Estremeci da cabeça aos pés. 

*

Ele não podia fazer aquilo comigo. Era injustiça! Eu estava vulnerável demais com tudo o que estava acontecendo. E eu não sentia o gosto de Arthur há mais de um ano. Era injustiça... Injustiça... 
Arthur parou de se aproximar quando não sobrava espaço nenhum entre nós. Seu tórax estava colado em meu peito, suas pernas estavam encaixadas entre as minhas. Não moveu mais seu rosto, no entanto. Eu sabia o que ele queria. Queria que eu mostrasse o quanto o queria. Era sempre assim, aquele jogo interminável. 
- Vamos... O que está esperando? - murmurou contra meus lábios. 
Minhas mãos estavam trêmulas ao extremo. Elas queriam tocá-lo desesperadamente. E como esperado, ela novamente criou vontade própria. Tocaram a coxa do garoto por cima da calça jeans e subiram. Pararam por alguns instantes em sua bunda, fazendo o contorno perfeito. Invadiram sua camisa azul turquesa, e foi ai em que eu mais me arrepiei. Sentir sua pele quente e macia sob minha mão me fez suspirar em seu ouvido. 
Continuei subindo, fazendo a curva que suas costas definidas tinham com as mãos; parei em seus ombros contraídos. 
Eu sabia que Arthur não aguentaria por muito tempo. Logo ele já começou a beijar meu pescoço com furor, como se aquilo fosse a ultima coisa que faria na vida. Cravei minhas unhas em seus ombros ao sentir sua língua áspera na curva da minha nuca. Aquilo era demais para eu aguentar... 
O corpo de Arthur já se pressionava contra o meu, e eu pude sentir o quanto ele me queria. 
Tirei minhas mãos de dentro de sua camisa e segurei seu rosto com minhas mãos, acabando com o que ele estava fazendo. O garoto me encarou entorpecido. Seus olhos estavam confusos e cheios de cobiça. Eu sabia que os meus não estavam diferentes. 
Não aguentei por mais tempo. Colei nossos lábios com desespero e procurei por sua língua urgentemente. A cada suspiro, Arthur se pressionava ainda mais contra mim. Minhas mãos entrelaçaram-se em seus cabelos e os puxavam de tempos em tempos. O garoto, por sua vez, levou suas mãos até meus seios e os apertou com urgência. 
Pulei em seu colo. Eu não ligava para coisa nenhuma naquela altura do campeonato. Tudo o que eu queria era sentir Arthur em mim, era tê-lo novamente. Eu não me importava se aquilo era certo ou errado, se ia ou não contra meus princípios. Eu havia mandado todas aquelas indagações para o inferno. 
Arthur já beijava meu colo descoberto por um decote e apertava minha bunda com força. Passei a beijar seu pescoço, enquanto minhas mãos foram até a barra de sua camisa. Eu iria arrancá-la quando escutei duas vozes familiares no banheiro. 

- Ela é louca, Mica... Completamente pirada. 
Era Pedro. Congelei completamente, assim como Arthur. Nossas respirações até se prenderam no mesmo instante. 
- Ela disse que quer recomeçar... - ele continuou. Sua voz era um misto de angústia e emoção. 
Eu estava encarando Arthur, e ele me devolvia o olhar. Meus olhos - assim como os dele - estavam arregalados, eu tinha certeza. 
- Você sente falta dela? - foi a vez de Micael falar. Meu coração desacelerou por alguns instantes. Pedro hesitou. 
- Sinto, cara. Sinto demais...- o garoto suspirou. - E quero dá-la outra chance, mas só não sei se isso é o certo... 

É o certo, Pedro! É o certo!

Por um instante esqueci que estava no colo de Arthur. E era isso o que eu mais odiava sobre toda aquela situação. O modo como um me faz esquecer o outro. Apesar da certeza de que se Pedro me quisesse, eu não hesitaria em deixar Arthur fora da história. 
- Pensa, cara. Pensa muito antes de tomar qualquer decisão... - Micael disse com pesar. Pedro concordou. A sirene então tocou, e escutei os dois garotos saindo do banheiro. 
Meu peito subia e descia no mesmo ritmo que o de Arthur. Ele ainda me encarava, totalmente absorto. Não mais que eu, entretanto. 
- Eu... Eu preciso ir... - sibilei nervosamente. Pulei do colo de Arthur e, sem ao menos ver se havia ou não pessoas dentro daquele banheiro, saí feito um furacão. Havia poucas pessoas ali no corredor, mas elas notaram minha presença. 
- O que estão olhando? - soltei com o mínimo de humor. 
Eu não podia ficar ali. Eu precisava espairecer. Precisava clarear minhas ideias. 
Minha cabeça estava mais embaralhada que o possível. 
Pedro iria me aceitar de volta. Eu sabia disso. 

XOXO BIA BERNARDO


Cap 7 Standing in the Way of Control

Especial POV Arthur Aguiar

Eu observava a Regent Street passar lentamente por meus olhos. Pessoas normais andando pelas calçadas e indo para seus trabalhos. Eu me indagava: O que elas pensavam naquele momento? 
Era tão engraçado pensar assim. Cada uma daquelas pessoas tinha uma história para contar. 
Mas, na verdade, aquilo tudo era só uma distração para minha mente. Porque o que eu mais pensava era no dia anterior. 
Sentir os lábios de Lua sob os meus era uma sensação que eu não cansava de ter. E como eu sentira falta de suas mãos explorando meu corpo, das puxadas de cabelo, de sua voz suspirando em meu ouvido... 
Ela me fazia sentir tão... Idiota. É, essa era a palavra certa. Eu era tão vulnerável à presença daquela garota. E por que diabos ela me fazia sentir assim? Eu realmente não entendia. Não era como se eu ignorasse tudo aquilo que passava comigo e fingisse nada sentir. Eu sentia. Mas o que era? Desejo? Paixão? Amor? Não... Não podia ser a ultima opção. Pelo simples fato de eu não acreditar em amor. Era apenas uma desculpa para duas pessoas monopolizarem a vida uma da outra. Não fazia sentido... Apesar de eu querer monopolizar a vida de Lua ... Tê-la só para mim... 

Não, não era amor, definitivamente. Era um jogo. Um desses bem interessantes, que você não se cansa de jogar, pois, a cada dia, uma tarefa nova lhe é dada e você tem que completá-la para passar para o próximo level. E o jogo com era interminável... Quem sabe ela não fosse o troféu final? E sempre quando você ganha o que queria tudo fica sem graça. Você perde o tesão por jogar. 

Então pronto. Não era amor. Era outra coisa. 

Mas, disso tudo, o que mais me intrigava era Pedro. Ele realmente estava disposto a perdoá-la depois de tudo? 
Certo, eu sabia que o tudo era nada, já que a ingenuidade de Pedro o impedia de ver a armadilha que Giovana havia plantado para ele. E ele havia caído feito um pato. 
De qualquer maneira. Sabendo o que ele sabia, iria perdoar ?
Eu não perdoaria. 

Sim, você perdoaria. 

Sim, eu perdoaria. Aquela garota maldita tinha algo de sobrenatural. Algo que, quando você olhava profundamente em seus olhos, fazia com que você cedesse tudo. Era o famoso você pula, eu pulo. 
Eu pularia. E nem ao menos hesitaria. 
Mas Pedro tinha tanta raiva, e assim, do nada, iria esquecer-se de tudo? Como isso era possível? 
Isso me preocupava. Intrigava-me até o ultimo fio de cabelo. 
Eles não podiam ficar juntos novamente. Eu sabia que, se Pedro ficasse com Lua, ela ia esquecer-se de mim. Talvez não esquecesse, mas me ignoraria. E eu não suporto ser ignorado por pessoa alguma, imagine por Lua .
No entanto, quando eles estavam juntos, nem assim ela me ignorava. Sempre cedia aos meus charmes em um segundo ou em um mês. Por que seria diferente agora? 
Era melhor não arriscar, de qualquer maneira. Eu precisava deixá-los separados. Sinceramente, eu amava Pedro. Mas meu prazer era mais importante. 


"- O que está fazendo aqui? - perguntei curioso quando vi a figura de Lua sentada em minha cama. 
Era minha festa de dezesseis anos, e eu havia ido a meu quarto apenas para pegar um saquinho de maconha que estava escondido em meu guarda-roupa. 
- Ah... Pedro  e eu brigamos... - ela disse chorosa. Sentei-me ao seu lado. 
- O que aconteceu? - atrevi-me a perguntar, observando algumas lágrimas saltarem de seus olhos. Independente do que tivesse acontecido, Pedro era um idiota. 
- Sabe... Eu realmente não sei se isso é minha culpa. É provável que seja... - parou de falar um pouco e suspirou. - Quero dizer, estou com Pedro há tanto tempo... Ele foi meu primeiro namorado... Faz sentido que ele seja meu primeiro naquilo também... 
- Ele está te pressionando? - a interrompi um pouco impaciente. Ela negou com a cabeça. 
- Não... Muito pelo contrário. Ele é paciente. Mas é que toda a vez que tentamos, eu... Eu... Bem, eu amarelo... - ela disse com um tom triste. Minhas mãos tremeram só de imaginar Lua fazendo qualquer coisa com Pedro.
Não era segredo para ninguém minha paixão por ela, nem ao menos para seu namorado. Nós vivíamos em uma competição, desde a infância até a adolescência, sobre quem a teria primeiro. Ela sempre fora muito cobiçada no colégio, desde quando era pequena, digamos assim. Lua tinha algo que as outras não, eu não sabia muito bem o que era... Talvez fosse seu olhar misturado com seu sorriso doce, aquele que poderia te desmanchar a qualquer momento. De qualquer forma, Pedro saíra ganhador. Lua o escolheu sem aviso prévio, deixando-me às traças. Pode parecer um pouco dramático, mas era daquela maneira que eu me sentia; nunca fui de perder nada, então aquilo me irritou profundamente. A partir de então, eu sempre tentei ter algo mais com Lua, e ela jamais cedeu. No entanto, nunca pensei em desistir. Se eu era masoquista? Talvez... 
- Por que isso acontece? - continuei a perguntar. Não tinha o mínimo de interesse na vida sexual - ou a falta dela - dos dois. Mas estava triste e eu precisava fazer algo para acalmá-la. 
- Na verdade, eu não sei... -Lua  fungou. - A única coisa que sei é que deveria ser ele, mas eu não quero que seja... Quero dizer, eu quero! Mas não consigo sentir... 
- Tesão? - a interrompi rindo. Ela me lançou um olhar furioso. 
- Na hora, quando estamos prestes a fazer, passa pela minha cabeça que não é com ele que quero perder minha virgindade... 
- E com quem é? - a interrompi novamente, meu coração a mil por hora. 
Ela me encarou por alguns instantes. Não consegui decifrar aquele olhar. 
- Eu não sei. Talvez, simplesmente, não seja a hora certa. Talvez Pedro seja mesmo o mais apropriado para ser meu primeiro. 
- Não seja tola. Você não tem que ficar com uma pessoa só porque é apropriado - fiz uma careta. - Tem que ter paixão. Tem que sair faíscas quando vocês se encostam... - me aproximei um pouco mais. - Seu estômago tem que revirar ao olhar nos olhos dele... - levei uma mão até sua maçã do rosto. Ela fechou os olhos por alguns instantes até me encarar novamente. - Quando seus lábios tocam os dele, você sente o ar chegar com dificuldade até seus pulmões... - aproxime-me ainda mais. Minha boca estava a milímetros da dela, e eu me martirizei para manter o autocontrole. Podia sentir sua respiração pesada bater contra meus lábios. Seus olhos estavam semicerrados. Eu senti paixão. Senti faíscas ao encostar seu rosto. Senti meu estômago revirar. E ao pressionar meus lábios contra os dela, senti o ar deixar meus pulmões e não voltar mais. Segurei sua nuca. Ela não pareceu responder a início. Separei nossos lábios. 

- Por que fez isso? - perguntou com a voz tremula. 
- Porque eu quis... - falei simplesmente. - Não gostou? - rebati. 
*
Lua ficou calada por alguns longos segundos. Tudo o que eu podia ouvir, além da barulheira no andar de baixo, era sua respiração descompassada. Não vi mais nada no minuto seguinte. voltara a colar nossos lábios, dessa vez numa intensidade maior. Abri passagem para sua língua, e no momento em que a senti tudo pareceu desaparecer. Não sei exatamente o que aconteceu. Eu me senti meio tonto e passei a indagar sobre minha sanidade mental. O que estava acontecendo comigo? Eu jamais me sentira daquela maneira... 
Não me lembrava que beijar fosse ser tão... Surreal. 
Passei a outra mão em sua cintura e a puxei mais pra perto do meu corpo. A garota entrelaçou os dedos no meu cabelo e os puxava à medida que nosso beijo ia ganhando mais intensidade. 
Eu já não pensava em nada mais a não ser naquele momento. Sentir o gosto de seu beijo, suas mãos puxando meus cabelos... Aquela situação toda estava me deixando louco; completamente louco. 
Lua se inclinou mais contra mim, e eu aproveitei a brecha para deitá-la em minha cama. Passei a beijar seu pescoço enquanto ela se encaixava entre as minhas pernas e passava as mãos por minhas costas. 

- Estou sentindo... - disse ela ofegante, partindo nosso beijo. 
Olhei-a profundamente, sem entender o que ela queria dizer. Depois de um tempo, um sorriso sincero brotou no canto dos meus lábios. 
Não precisei dizer mais nada. Beijei-a novamente, com a mesma intensidade de antes. Sua boca junta à minha era algo que eu jamais havia provado antes. Uma sensação completamente nova, como se aquele fosse o primeiro beijo da minha vida. Não era o primeiro, mas com certeza era o melhor. 
No momento seguinte, para a minha surpresa, Lua tirou a blusa branca que usava. Eu já havia visto a garota de biquíni, mas vê-la ali, na minha frente, naquela situação, apenas de lingerie, fez meu sangue borbulhar dentro das correntes. 
Ela aproveitou e tirou a minha também. Nem percebi e ela já estava por cima de mim, beijando meu pescoço, meu tórax... Eu perdia noção de tempo e espaço a caba beijo, a cada suspiro. 
Passei a mão por suas costas descobertas e aproveitei para abrir o fecho do sutiã. Comecei a admirar toda aquela beleza sobre mim, aproveitando de cada cheiro, cada pedaço de pele... Aquilo tudo era demais para mim. Eu estava completamente entorpecido. 
Comecei a desabotoar sua saia e a tirei em seguida. Percorri toda a extensão de sua coxa, querendo explorar cada centímetro de seu corpo. 
Lua suspirava cada vez mais alto em meu ouvido, e eu pressionava ainda mais meu corpo contra o dela. Queria nos tornar um só se eu pudesse. 
A garota arranhava minhas costas sem pudor à medida que eu beijava cada parte de seu corpo e eu não sabia até quando seria capaz de manter minha sanidade. Não por muito tempo, eu supunha. 
Sentei-me, levando ela em meu colo. Nosso beijo ficava mais intenso - se isso era possível, mas pela voracidade tudo indicava que sim - assim como nossas respirações. desafivelou meu cinto e desabotoou minha calça em seguida. Levantei-a sutilmente, terminando de tirar a roupa. O contato com suas roupas íntimas fez-me estremecer ainda mais de desejo. Eu nunca quis tanto algo como eu a queria naquele momento. 
Voltei a beijar seu pescoço com avidez, enquanto ela puxava meus cabelos sem dó. 

- Arthur, eu não entendo... - ela sibilou ofegante, enquanto eu ainda estava concentrado em seu pescoço, descendo para seu colo. - Isso não está certo! - continuou, antes de balbuciar meu nome com paixão. 
- Acho que estou meio absorto para julgar a situação, Lua- respondi alheio, segurando seu rosto com as duas mãos, deixando com que nossos lábios se encaixassem perfeitamente. 
- Por quê, Arthur... - Lua voltou a falar com a mesma dificuldade. - Por que estou sentindo isso com você e não com Pedro? Não era assim que as coisas deveriam acontecer! 
Eu não respondi. Não queria pensar em Pedro naquele momento, muito menos se aquilo era certo ou errado. Que tudo se explodisse, eu queria viver o aqui e o agora, sem pensar em mais nada! 
Voltei a deitá-la. Prendi seus braços na altura de sua cabeça, vendo seu olhar enlouquecido sobre mim. Observei seus seios. Eles subiam e desciam rapidamente, de acordo com sua respiração completamente descompassada. Passei meus dedos delicadamente por entre eles, vendo Lua  suspirar. Os desci, passando lentamente por sua barriga e contornando a curva de sua cintura perfeitamente esculpida. Subi por aquele caminho, vendo-a arrepiar-se por completo. Desci meus lábios e fiz todo o caminho anterior com eles, escutando suspirar meu nome em sua bela voz. 
Inconscientemente - talvez nem tanto - minhas mãos desceram para o fino elástico de sua calcinha. Ela estremeceu. Encarei-a, pedindo permissão através do olhar, quase que como uma súplica. Ela apenas fechou os olhos. Levei aquilo como um sim. E então, a tirei lentamente, arrastando meus lábios por cada centímetro pelo qual a calcinha passava. E suspirava ainda mais. Voltei beijando todo seu corpo até chegar a sua boca. Não cansava de sentir seu gosto... 
Tirei minhas boxers em seguida. Meu corpo já estava suado e grudado ao de Lua , enquanto ela olhava profundamente em meus olhos, como nunca havia feito antes. Aquilo fez meu coração bater ainda mais contra meu peito, de uma maneira muito mais frenética. Aquela vez estava sendo a mais estranha da minha vida. Não um estranho ruim, muito pelo contrário. A diferença era as sensações completamente novas que estava me fazendo sentir. Aquilo era estranho. Um estranho que eu gostaria de sentir em cada segundo da minha vida. 
- Posso te contar um segredo? - sussurrei em seu ouvido, com uma dificuldade incomum. Eu estava ofegante e sedento. Lua murmurou algo indecifrável. Continuei: - Sonho com isso há um bom tempo... - ri baixo, depositando um beijo em seu lóbulo. Senti Lua tremer sob mim. 
- Fico feliz por realizar seu sonho, Arthur - ela sussurrou, puxando meu rosto com sutileza. Meu rosto estava entre suas mãos. 
Gotas de suor caíam de sua testa, e eu estava maravilhado com tudo aquilo. Eu queria gravar cada detalhe daquela noite na minha mente de forma cautelosa. 
Encarei-a nos olhos, e descobri que aquilo acabava com o resto de razão que ainda sustentava minha sanidade. 
Ela sorriu docemente, passando os dedos sutilmente por minha face. Fechei os olhos inconscientemente e peguei sua mão, beijando-a suavemente. 
E o maior prazer estava por vir, quando eu juntei nossos corpos em um só e fiz daquela noite memorável, para Lua  e, especialmente para mim. 
Eu estava estranhamente... completo. "


Cheguei à escola e tudo estava do mesmo jeito de sempre. As garotas com as saias do uniforme encurtadas e os primeiros botões da camisa abertos, alguns garotos já relaxavam suas gravatas e levantavam as mangas de suas camisas. 
Tudo normal demais, monótono demais. A partir do momento em que eu a vi. Eu não podia negar que ela tinha um poder extraordinário sobre mim, mas eu não gostava de admitir nem a mim, imagine a ela. Era insuportável a ideia de pensar que tem algum controle sobre mim. Ela tinha que saber o seu lugar, saber que pessoa alguma comanda null null. Por isso mantinha todo aquele mix de sentimentos somente para mim. 
Ela estava graciosa, como sempre. Ria de algo que Sophia havia dito. Sua risada indiscreta ecoou no fundo da minha mente, fazendo um riso sair da minha garganta sem que eu quisesse. Abanou o rosto, e eu supus que suas bochechas estivessem queimando de tanto rir. Aquilo era contagiante. 
No entanto, algo prendeu minha atenção. Vi Pedro se aproximar de longe, e observei prender a respiração, do jeito que eu queria que ela fizesse por mim. 
O garoto chegou timidamente, cumprimentando a todos. Cheguei a pensar que ele não cumprimentaria , já que olhou para os pés e mexeu com a grama por alguns milésimos. Não sei se os outros observaram isso, mas aquilo me intrigou bastante. 
Lua colocara uma mecha do cabelo atrás da orelha, seu olhar carregado de um misto de pesar e timidez. O que Pedro iria fazer? 
- Olá,Lu... - meu amigo a cumprimentou embaraçoso. 
Lu? Chegou a esse ponto? 
- Oi, Pedro - ela respondeu no mesmo tom. Senti que o clima ficou tenso por alguns segundos, até Micael começar a contar alguma piada idiota. 

Pensei seriamente em girar meus calcanhares e sair dali. Mas por que eu faria isso? Desistiria da batalha sem lutar? O quão covarde eu era? 
Nem um pouco. Eu jamais seria covarde a esse ponto. Afinal, eu ainda tinha um resto de dignidade. 
Coloquei um sorriso no rosto e caminhei até eles como se nada no mundo importasse. Como se a existência de não me afetasse em nada e ela fosse uma garota qualquer. Do modo como eu sempre - pelo menos tentava - a tratava. 
- E aí, Arthur! - Micael gritou quando eu me aproximava, acenando em seguida. 
- Fala, cara - apertei sua mão estendida e o abracei desengonçadamente. 
Cumprimentei cada um da mesma forma, até chegar em Lua . Eu não tinha me esquecido do dia anterior, quando quase transamos no banheiro masculino; mas ela provavelmente faria questão de fingir que nada acontecera e me trataria com seu jeito repugnante de sempre. As máscaras... Sempre as máscaras. 
-Lua ... - a cumprimentei galanteador, expondo meu melhor sorriso cínico que eu possuía. A garota estreitou os olhos e os rolou. Sussurrou um ‘Arthur’ quase inaudível e fingiu prestar atenção no que Micael falava. Ela odiava Micael, eu sabia que ela pouco se importava com o que saía de sua boca. 
Todos riram em uníssono, mas minha atenção continuava fixa em Lua e sua risada alta e contagiante. 

A sirene estridente tocou e me acordou do transe, obrigando-me a entrar escola adentro. Percebi que Pedro me seguia, alcançando-me em segundos. 
- Oi, Arthur - o garoto disse, e senti a tensão por seu tom de voz. Encarei-o curioso. 
- E aí, Pedro - respondi intrigado. Lancei-o um olhar desconfiado e meu amigo coçou a nuca com nervosismo. Eu sabia o que estava por vir. 
- Você reparou que eu e ...
- Sim, Pedro, eu reparei - o interrompi, já sabendo do que se tratava. Pedro sabia muito bem do meu poder de observação. Nada passava despercebido por meus olhos. 
- Eu... Eu estou pensando em... - ele gaguejava e mexia cada vez mais no cabelo. Eu riria daquela situação se o nome de Lua não estivesse envolvido. - Não sei. Mas estava pensando em dá-la outra chance... 
- Está pensando em reatar o namoro? - perguntei, contendo meu tom restritivo. Não queria que pensasse que eu me importava. 
- Não! - Pedro se apressou a dizer. - Não... Eu estava pensando em pelo menos sermos... Amigos. Sabe que eu sinto muita falta dela... 
- Sim, eu sei - e realmente sabia. Sabia do quão acabado ficara depois da fuga de Lua . Nunca o vi tão abalado em toda minha vida. Até um toque de pena e compaixão caíram sobre mim. 
Eu não iria negar jamais: Pedro era meu irmão. Não importava o que acontecesse, minha afeição por ele sempre seria a mesma. As coisas que eu fazia não eram nem de longe aceitáveis, mas ninguém podia julgar meu amor por Pedro. Eu sempre fiz tudo para protegê-lo, fui até capaz de defender quando todos a acusavam ano passado. Quando a idéia de ajudá-la a reatar o namoro não parecia tão absurda, até tentei convencê-lo de que ela era inocente. Não fiz isso por ela, fiz isso por ele. 
Esse era um dos motivos de nunca querer algo mais... Oficial com Lua . Porque eu sabia que aquilo o magoaria. Mas eu era extremamente egoísta e queria ter os dois: o amor de Lua e de Pedro. O que eu podia fazer se a meu pai me ensinara a ser ganancioso e querer mais, sempre mais? Eu era completamente inocente. 
- Você acha que isso seria errado? Sabe que confio em você e que julgará a situação de maneira adequada... - sua voz era suplicante. Eu jamais mentiria a ele. Jamais faria algo que o prejudicasse. 
- Olhe, Pedro, você tem que fazer o que julga que é certo - comecei, sem encará-lo. Eu olhava a multidão passar por mim. - Se a ama o suficiente para esquecer o passado, então te digo para tentar. 
Eu era sincero. Que diferença faria Pedro com ou  sem Lua? As coisas continuariam como eram. Ela me ignoraria, mas no final cederia. 
- Mas foi sempre você que disse que ela nunca fez nada... - ele afirmou com incerteza. Assenti com a cabeça. 
- Sempre disse e você nunca escutou - o lembrei. Foi sua vez de assentir. 
- Arthur... - ele me chamou após alguns segundos que andávamos em silencio lado a lado. O encarei. - Posso te fazer mais uma pergunta? 
- Fique à vontade. 
Coçou a nuca novamente. Seu desconforto era notável. 
- Você ainda gosta dela? - ele pareceu tímido ao perguntar, pois não me encarava nos olhos. Soltei uma risada relutante. Ele me olhou assustado. 
- É claro que não, Pedro - falei, como se fosse óbvio. O mais convincente que fosse, melhor. - Nunca gostei. 
Menti descaradamente. Gostar de ainda era um fato que eu escondia até para mim. Eu sempre mentia e me enganava, insistindo que tudo o que eu sentia não passava de ereções precoces simultâneas, nada mais. Puro prazer e desejo. Completamente carnal. Aqueles sentimentos eram apenas... Ilusão de óptica. 
- E você sente raiva de mim? - Pedro continuou com seu tom inseguro. 
- Agora são duas perguntas. 
Ele me encarou impetrante, como se sua vida dependesse daquela resposta. Pedro jamais se importou em me perguntar isso no momento em que começou a namorar . No entanto, eu não conseguia sentir um pingo de raiva de meu amigo, ele é que deveria ter de mim se soubesse de todo meu histórico com Lua . Consideremo-nos quites, então. 
- Você ainda tem a capacidade de perguntar, Pedro? É obvio que não... 
- Por quê? - continuou ele. - Você tem todo direito de ficar com raiva... 
- Quantas vezes vou ter que te dizer? - coloquei a mão em seu ombro, obrigando-o a parar de andar. Ele finalmente me encarou. - Só existem três coisas que eu me importo nesse mundo, Pedro. Dinheiro, o prazer que o dinheiro me traz, e você. Agora deixe de bobagem. 
O garoto suspirou e me puxou para um abraço. Fiquei surpreso e tenso no começo, mas cedi durante os segundos. 
Todas as palavras que eu dissera não passavam de puras verdades. Pedro era realmente tudo que importava para mim, e qualquer pessoa no mundo sabia disso.Lua sabia disso. Eu não garantia que nada - nem paixão alguma que passava pela minha vida - seria eterno, mas eu sabia que meu apego por Pedro seria algo que eu levaria comigo para sempre, não importa o que acontecesse. 

Pedro fez questão de mudar de assunto rapidamente assim que me largou, e a carga pesada sobre nós espaireceu num piscar de olhos. 


"Tudo o que eu conseguia pensar era na noite anterior. Lua havia ido embora havia algumas horas, mas essas horas insistiam em me perseguir a cada passo. Minha festa parecia se arrastar, e tudo o que eu queria era expulsar todas aquelas pessoas dali e ficar sozinho para poder absorver todos os acontecimentos daquele dia. Eu queria poder fechar os olhos e imaginá-la sob mim, beijando-me e me acariciando. Queria me lembrar do cheiro de seu cabelo, ou pelo menos procurar por rastros de seu perfume em meus travesseiros. 
Eu sabia que ela era inexperiente, mas ainda assim, aquela fora a melhor noite da minha vida. Não por causa do sexo em si, mas da pessoa que estava comigo. Por causa da respiração ofegante, das batidas aceleradas do coração, por causa de seu olhar incomum e de seu toque sutil. Tudo era muito diferente e novo para mim, e eu não via um modo de como me acostumar com aquilo. 
Mas o que mais me afligia, e de certo modo me instigava ainda mais, era o fato de não saber como seria o próximo dia. Com todas as outras garotas eu sabia. Elas me ligariam e pediriam com um tom suplicante por uma segunda noite. Não era uma lei, era apenas um acontecimento constante. 
Eu sabia que Lua não ligaria. Ela sabia que eu não ligaria. Eu era da filosofia Carpe Diem, aconteça o que tiver que acontecer, jogue tudo para os altos, confie no destino ou o inferno que isso significava. Eu simplesmente deixava as coisas acontecerem, sejam elas por força do destino ou do acaso, as duas eram satisfatórias para mim; contanto que no final eu tivesse saído vitorioso da situação. 
Entretanto, eu não sabia se sairia vencedor naquele assunto. Não sabia se o destino trabalharia a meu favor. Aquilo poderia estar me desencorajando, mas me deixava demasiadamente curioso... 

Naquele dia haveria certa festa de certo alguém insignificante ansiando por popularidade. A festa seria em um iate na costa de Dover, e eu estava animado. Animado por ter certeza que a veria. Sabia que ela odiava aquele tipo de festa, mas se contradizia ao ir a todas. 
Arrumei-me e não hesitei ao pegar meu Porche e passei na casa de Micael para apanhá-lo. A viagem não durou mais de uma hora de muita conversa inútil, e eu já estava à procura do porto onde seria a festa. 
Já havia dezenas de carros no estacionamento improvisado, e eu entreguei a chave do carro ao manobrista, seguindo o fluxo de pessoas muito bem arrumadas pela ponte de madeira. 
A brisa das ondas se chocando umas às outras soprou violentamente meus cabelos e balançou as abas dos vestidos das mulheres. Aquele clima deixava meu humor ainda mais aguçado... 
Inspirei profundamente aquele ar salino e me preparei para entrar no iate. Não sei por que me sentia tão nervoso, só sabia que sentia como se estivesse doente, algo agitando dentro do meu estômago. 
O iate era gigantesco. Todo o chão revestido de um mármore polido e impecável, refletindo a imagem de cada pessoa. Tinha no mínimo dois andares, e eu podia jurar que entrara enganado em um navio. Já havia pessoas o suficiente para as conversas serem exaltadas através da musica animada que um DJ tocava dentro de uma cabine contornada por vidros. 
Um garçom bem vestido passou por mim e Micael, e tratamos de pegar um copo de uísque. Vimos Aaron e uma garota mais à frente e fomos até eles, sentindo a energia do lugar nos contagiar. Meus pés já se moviam e eu já ria das bobagens que meus amigos diziam. 
Cumprimentei algumas garotas que passavam por mim, sem deixar de observar seus atributos nem um pouco discretos. 

- Olá, Arthur - escutei uma voz doce e reconhecível atrás de mim. Virei-me  dei de cara com Giovana. A garota usava um vestido amarelo até os joelhos, com um decote extravagante na frente. Não deixei de admirá-lo, é claro. 
- Olá, Giovana- dei um gole em meu uísque, tentando apagar o fogo dentro de mim. O que podia fazer se meus instintos eram exorbitantes? 
A garota passou a língua sutilmente na borda de sua taça de champanhe tão discretamente que eu duvidava que alguém mais tivesse visto. 
Depois, interpretou a boa moça e riu timidamente ao encarar o sorriso nada amistoso em meu rosto. Jogou os cabelos louros para o lado e deu as costas, afastando-se de mim. 
Oh, ela foi em direção a Chay. Pobre Chay merecia alguém que não colocasse chifres tão pesados em sua cabeça. Não que eu algum dia tenha contribuído para o crescimento deles... 

*

Dando um gole final em meu uísque e olhando em volta em busca de um garçom foi que eu a vi. Usava uma roupa casual, adequada para a ocasião, e tinha os cabelos soltos, impecavelmente ondulados. Estava de mãos dadas com Pedro, mas eu ignorara esse fato. Os dois estavam parados, conversando descontraidamente com algumas pessoas que os rodeavam. Inegavelmente, eles faziam um belo casal. Eu odiava admitir aquilo. Mas realmente pareciam aquele casal tirado de um filme clichê de romance. Por isso era enjoativo de olhar. 
Roubei um copo de uísque de um garçom que passava do meu lado, sem desgrudar os olhos dos dois. 
Por coincidência - ou algo mais - os olhos de encontraram os meus enquanto vagavam calmamente pelo local. Eles se arregalaram por alguns instantes. Ela pareceu prender a respiração por algum motivo, eu percebi. Dei um longo e sutil gole da minha bebida, sem momento algum desviar minha atenção. 
Havia um brilho novo em seus olhos. Um brilho que eu não pude decifrar. Talvez fosse arrependimento. Ou quem sabe desejo por mais. 
A garota piscou algumas vezes, como se tentasse desviar sua atenção. Conseguiu depois de muito esforço, quando alguma garota passou a conversar com ela. 
A coisa que se mexia antes no meu estômago, agora parecia tentar dilacerá-lo. Eu queria tomar aquela bebida logo para ver se conseguia acalmá-lo. 

Após alguns minutos Pedro finalmente notou nossa presença e passou a andar em nossa direção. Eu podia até ler os pensamentos de Lua. ‘Não Pedro, não para lá!’, eu também estaria relutante se estivesse em seu lugar. - Ei, caras! - Pedro nos cumprimentou radiante, pegando um copo de vodca da bandeja de um dos garçons. Lua roubou a bebida da mão do namorado e a bebeu em um gole, causando euforia de todos na roda. 
- Já começou bem, Lua! - Micael gritou entusiasmado, recebendo um olhar restritivo. Eu achava graça nas brigas dos dois, era realmente hilário. 
Um por um dos garotos - Micael e Aaron, quero dizer - a cumprimentaram com um abraço desajeitado, e a vi puxar assunto com eles para poder evitar que eu a cumprimentasse. Aquilo tudo estava me instigando ainda mais. 
Cutuquei Aaron e ele deu espaço para que eu me juntasse a eles. 
- Lua... - a cumprimentei com um sorriso no canto dos meus lábios. Eu nunca conseguia esconder meu cinismo, às vezes isso podia ser ofensivo - ou irritante. 
Puxei-a sutilmente para um abraço, e observei Pedro por cima de seus ombros. Ele estava entretido numa conversa com Micael e Aaron. 
- Não consigo te tirar da minha cabeça... - sussurrei perto de seu ouvido e a vi estremecer. 
- Não faça isso, Arthur... Não aqui... - seu tom era de súplica, o que deixava aquilo ainda mais excitante. 
- Desculpe, não consigo me conter - admiti, rindo baixo. Olhei Pedro de esguelha novamente. Totalmente distraído. Atrevi-me a beijar sutilmente seu lóbulo. 
- Pare! - ela sibilou entre dentes, empurrando-me com discrição para que ninguém percebesse a tensão ali. 
- Amor, vou ver se encontro Giovana ou Soph por aí, tudo bem? - ela forçou um sorriso ao namorado, puxando-o para um beijo rápido. Rolei os olhos com repulsa. Lua sumiu dali tão rápido quanto um relâmpago, me deixando com a vontade enorme de segui-la. 
E assim o fiz depois de alguns míseros segundos; ela ainda estava em meu campo de visão. 
Lua subiu as escadas do iate que davam para o segundo andar, pegando uma taça de champanhe no caminho. Assim eu também fiz, trocando o champanhe por uísque. 
Eu não tinha pressa. Subi os degraus lentamente, escutando a música ficar cada vez mais distante. 
O segundo andar estava relativamente vazio, exceto por casais que se amassavam aqui e ali, principalmente sobre as espreguiçadeiras com vista para o mar. 
Lua foi até a poupa do iate, segurando nas grades de aço que estavam ali para proteção. Tudo o que podia ser escutado ali era o rugido do motor se debatendo contra a água do mar. 
Parei bem ao seu lado, colocando as mãos nos bolsos da minha calça jeans. Não a encarei de início, e nem ela o fez. Mas de esguelha, vi que o vento rude desgrenhava seu cabelo seu pudor. Tive que fechar um pouco meus olhos para proteger tanto das ultimas rajadas do sol que se punha quanto do vento salino. 
- Custa ser um pouco mais discreto? - ela soltou num sussurro, pegando-me de surpresa. Encarei-a finalmente. 
- Desculpe-me - pedi com sinceridade. - Eu realmente não consigo me conter. 
Lua ainda não me olhava. Parecia concentrada em algum ponto fixo do oceano infinito. Balançou a cabeça, demonstrando um tanto de perplexidade. 
- O que te aflige? - perguntei curioso após alguns minutos de um silêncio desconfortante. 
- Noite passada foi... - A melhor noite da minha vida, pensei - um erro - ela disse num suspiro. 
Foi como um soco certeiro na boca do meu estômago. As coisas que lá viviam com certeza estavam mortas depois dessa. 
- Por favor, não diga isso - supliquei ridiculamente. Eu jamais dissera - e jamais diria - algo assim a ninguém. Eu nunca precisei de misericórdia alguma, mas aquelas palavras realmente me feriram. 
- Falo sério, Arthur - vi uma lágrima rolar de seus olhos, dificultando ainda mais aquela situação. - Eu não devia ter feito aquilo... Agora é algo irreversível... - ela disse com um pesar enorme. 
- Está arrependida, então? - perguntei com o maior esforço do mundo. Eu, sinceramente, não queria saber a resposta. suspirou pesadamente. 
- Estou - respondeu simplesmente, ainda sem me encarar. 
- Olhe para mim e diga que está arrependida - forcei minha voz a sair decente. Eu não gaguejaria ou hesitaria naquele momento. Precisava ser forte, não mostraria fraqueza alguma. 
Lua negou com a cabeça. - Olhe para mim, Lua! - exigi mais agressivo. A garota continuou sem me encarar. Eu não suportaria aquilo. 
Puxei seu braço com força, sem me importar se a machucaria ou não, e a virei de frente para mim. A prendi entre meus braços, encurralando-a completamente. Ela agora olhava para os pés. Mas que diabos era aquilo? 
E então, por um impulso inconsequente, segurei seu rosto com firmeza e pressionei meus lábios contra os dela com o mínimo de sutileza que consegui. 
Lua não moveu um músculo, nem ao menos seu maxilar. Sua postura, no entanto, era tensa. 
Continuei pressionando meus lábios, tanto quanto meu corpo contra o dela. 
Ela não pareceu ceder nem relutar. E eu novamente me perguntava: O que diabos era aquilo? Ela queria me enlouquecer, não era? Se era, estava conseguindo sem o mínimo de esforço. Separei nossas bocas, relutante e cheio de raiva. Eu estava morrendo de raiva. Ela achava que era tão simples assim? Transava comigo e no outro dia vinha com a laia de que estava arrependida? 
- Tem certeza de que está arrependida, Lua? - demonstrei toda a minha fúria em minha voz, e tenho certeza de que minha expressão não mostrava outra coisa. Ela, finalmente, olhou-me dentro dos olhos. Por um momento, todo o ódio pareceu extravasar. 
Mas voltou no momento em que disse: 
- Não chegue perto de mim novamente. 

Desvencilhou dos meus braços e deu as costas. "

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