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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Three Cheers For Sweet Revenge


Capitulo 16 e 17




Berlim. Não havia cidade que eu mais amava no mundo que Berlim. Seu ar parecia mais leve, sua população parecia mais alegre, suas árvores pareciam mais verdes. Não que eu não amasse Londres. Mas em Berlim existia algo que em Londres eu jamais teria: um futuro. 
Aquela cidade conseguia me fazer sorrir quase a maior parte do tempo e até mesmo me arrancava algumas gargalhadas de tempos em tempos. Me mudar de volta para aquela cidade havia sido a melhor decisão que tomei em séculos. 
Morar com meu pai era a coisa mais maravilhosa do mundo. Ele era a pessoa mais calma do universo, e era inevitável que sua calma me contagiasse. Perto dele era como se nada tivesse acontecido nos últimos meses, como se eu nem ao menos tivesse saído da Alemanha para voltar a morar em Londres há um ano. 
Mesmo com as inscrições para as faculdades alemãs encerradas, com sua influência ele foi capaz de me fazer ser aceita na Humboldt-Universität. Quando eu não estava focada nos meus estudos de Direito, meu pai, sua esposa e eu divertíamo-nos nos diversos bares de Berlim. Outra coisa que eu simplesmente amava em meu pai: seu espírito eternamente jovem que me fazia esquecer rapidamente de todos os pensamentos turbulentos que de vez em quanto insistiam em perseguir minha mente. 
A verdade era que ali, em Berlim, depois de um e meio, o tempo que passei em Londres parecia um passado distante demais. Mudei-me depois de uma festa de despedida – para mim – que nem ao menos compareci. Todas as pessoas que nela estariam, eram pessoas das quais não queria nenhuma despedida, afinal, nem ao menos conheceria metade delas. No dia seguinte à festa – que foi de cara um escândalo sem a minha presença, mas que depois com muito álcool todos se esqueceram do motivo que os levaram até ela – encontrei-me com os poucos amigos que me restavam em uma cafeteria e me despedi de cada um. Brevemente de Sophia e Aaron, e um abraço surpreendente de Micael que sinceramente disse que sentiria minha falta , e mais longamente de Chay e Sophia. Eram esses os resquícios de Londres que eu ainda insistia em ter. Falava quase toda semana com minha irmã e até mesmo com minha mãe – que, agora que não mais morávamos juntas, se tornara incrivelmente dócil. Com Sophia e Chay era a mesma coisa. Os dois inclusive me visitariam nas férias de verão. 

Quando meus pensamentos foram me levando em um caminho que eu tentava esquecer – ou ao menos não me lembrar muito – tomei um longo gole da cerveja forte e escura que se encontrava em um copo enorme na minha frente. 
No entanto, eu nunca conseguia ficar muito tempo sem pensar nele. Quer dizer, os pensamentos não eram frequentes, mas vez ou outra eu me surpreendia ao relembrar de um cheiro, de algumas palavras e de alguns raros sorrisos. Para falar a verdade, quando o ato de pensar em Arthur Aguiar não era mais doloroso, eu me pegava rindo de tudo o que aconteceu. Isso pode parecer incrivelmente mórbido, e talvez eu até mesmo ria ironicamente, mas o fato de nossa relação ter sido tão distorcida me fazia rir. Principalmente porque ali em Berlim eu não me sentia mais culpada de nada. É claro que nada mudava o fato de eu ser, obviamente, quase culpada de tudo, mas ali eu não precisava sentir a culpa propriamente dita. Tudo estava no passado, como deveria estar. E era por esta razão que pensar nele de vez em quando não doía. Mas eu havia selecionado apenas as coisas boas sobre Arthur: nossa infância, nossos sonhos de adolescentes, nossas conversas na época tão profundas, os nossos sorrisos e abraços, enfim, da nossa amizade. Por mais que fosse bom lembrar de seus beijos e daquela sensação maravilhosa que tinha toda vez que suas mãos me tocavam, essas lembranças traziam outras que não eram tão agradáveis de se recordar. Por isso me limitava a pensar no tempo em que nada era complicado, do tempo que jamais imaginaríamos que tudo se complicaria. 
Eu não tinha noticias dele. Sophia não me dizia, nem eu perguntava. É claro que queria saber como ele estava, se era feliz, mas achava que nada daquilo me dizia respeito. Ele tinha o direito de seguir em frente, mas eu também tinha. Berlim me dava essa chance. 

Na faculdade, nada de olhares. De nenhum tipo. Eu era completamente invisível, e a sensação era indescritível. Já fizera algumas amizades, já havia saído para algumas boates, beijado Stephen Würz, o garoto que ficava antes de me mudar para Londres e a vida era boa. Simples. Normal. Eu podia ser apenas , uma garota normal de Londres. Tinha um carro normal, nada de limusine, vestia roupas de uma universitária normal – vez ou outra apelava para um Chanel por pura saudade, e frequentava festas normais de pessoas normais. Eu não podia pedir por mais nada. 
E lá estava eu, em um kneipe com vista para o rio Spree junto de meus colegas de faculdade. Eles conversavam animadamente, mas minha cabeça ainda vagava pelo passado. Às vezes era inevitável sentir um certo vazio que me atingia em cheio o peito. O vazio que eu sentia desde que Nova York roubara o que era de mais precioso pra mim. Talvez um ano e meio não fosse o suficiente para me fazer esquecer, afinal. 
Foi apenas quando meu celular tocou que minha mente finalmente se despertou. Pedi licença para meus colegas quando vi o nome de Brie no visor e atendi com certa alegria na voz. 
- Como está, irmãzinha? 
- Oi, Lu... 
A voz de Brie estava um tanto trêmula, e aquilo me fez ficar em estado de alerta. 
- Está tudo bem com você? 
- Sim, está... – ela agora soava insegura. – Eu estou em uma festa no Aguiar  Hotel... – não era novidade festas no hotel da família Aguiar, mas algo em seu tom me alarmou. Eu sabia o que estava por vir. – Eu vi Arthur, Lua. 
Respirei fundo. Havia um motivo para eu nunca ter noticias de Arthur por parte da Sophia, era porque ele não ia a Londres desde que se mudara. Saber que ele estava naquela cidade – e eu não – fez meu coração se apertar. 
- Esta é a cidade de sua família, Brie, ele eventualmente voltaria para fazer uma visita aos amigos... – falei para tentar acalmá-la. 
Talvez ela estivesse tensa, pois não sabia se eu queria ou não ter notícias de Arthur, e a verdade era que eu estava feliz por ela ter me ligado. Saber que minha irmã estava a alguns metros de Arthur me fazia sentir estranhamente próxima, por mais ridículo que parecesse. Aquele seria o máximo de proximidade que teríamos, de qualquer maneira. 
Quis estar em Londres pela primeira vez em meses, e aquilo me surpreendeu. Queria estar naquela festa, escondida em algum canto apenas para observá-lo de longe. Queria se estava vestido de seu modo característico – calça jeans e camisa social e terno. Queria saber se seu cabelo estava bagunçado daquele jeito que eu amava, queria saber se agora sorria já que eu não estava mais por perto. Mas quando abri a boca para perguntar, as palavras de Bridget congelaram meus músculos e abriram um buraco abaixo dos meus pés. 

- Lu... Arthur voltou para apresentar sua noiva para a família. 
 XOXO BIA BERNARDO

Cap 17 Time To Figure This Thing Out

Eu encarava aquele círculo de ouro com uma atenção de outro mundo. Parecia-me um pedaço de metal radioativo, e eu tinha muito medo de chegar mais um milímetro perto dele. Era tão bem polido que eu podia ver meu reflexo distorcido se eu me atrevesse a chegar mais perto. 
Não sabia quanto tempo eu estava encarando aquela aliança posta em cima da mesinha de centro da sala, mas provavelmente se passaram horas desde que Stephen a deixara ali. 
Milhares de pensamentos passavam pela minha cabeça naquele momento, nenhum concreto ou nítido o suficiente para me ajudar a tomar uma decisão. Dizer sim me parecia a resposta mais correta, afinal, estávamos juntos a sete anos. As pessoas deviam se casar depois de tantos anos comprometidos, mas o sim ainda estava destorcido na minha mente. 
Minha hesitação passou a me irritar depois de um tempo. Stephen era o homem perfeito para mim. Era um dos caras mais lindos que eu conhecia, com seus cabelos pretos penteados de uma forma séria que, somado à covinha em seu queixo, lhe davam um ar incrivelmente sexy. E seu sorriso extremamente branco era meu calmante natural. Era um homem responsável e agora muito bem sucedido, trabalhando como promotor para a prefeitura de Berlim, sendo considerado um dos melhores em seu ramo. Quando engatamos nosso romance, eu não pensava que ele iria a lugar algum devido à minha péssima experiência em relacionamentos. Mas estar com Stephen fez de mim uma expert no assunto e eu me surpreendia toda vez que realizava quanto tempo estávamos juntos. Ele me dava uma segurança que nunca senti antes com um homem, e ele me amava do jeito mais simples e descomplicado do mundo. 
Eu também o amava... Provavelmente não da mesma maneira e intensidade, mas o tempo é uma coisinha milagrosa que me fez acomodar completamente ao lado de Stephen. Agora me restava saber se eu queria ser Würz, e não mais Aguiar. 

Ele havia me proposto em casamento da maneira mais romântica possível. Fizera um jantar maravilhoso em nosso apartamento, um discurso de tirar o fôlego e uma aliança que provavelmente custava três vezes o meu salário de advogada. Quando ele viu que minha reação não era a que ele esperava, beijou minha testa e disse que me daria um tempo para pensar. Passara-se um dia, e lá estava eu, ainda pensando. O fato era que eu não sabia por que ainda estava pensando. Se eu o amava, não era para ser uma decisão difícil, muito pelo contrario. Dizer sim parecia o mais certo a se fazer. 
Mas aceitar um pedido daqueles não deveria apenas parecer certo. E eu não tinha a certeza absoluta de que aquilo era o que eu queria. No entanto, se eu não aceitasse, provavelmente ficaria sozinha para o resto da vida, pois jamais encontraria outro Stephen Würz no mundo. 

Soltei o ar que estava segurando em meus pulmões há muitos segundos quando meu celular tocou e vi que alguém da companhia me ligava. Trabalhar era a maior distração que existia. 
- Sim? 
- Lua, é o Hissnauer. Preciso de você urgente. Sei que é o seu dia de folga, mas... 
- Estarei aí em vinte minutos. 
Hissnauer, meu chefe, concordou meio hesitante e assim que desliguei o telefone, tratei de trocar os pijamas por minha roupa social de trabalho. Fazia três anos que eu trabalhava na Hessnauer Gesellschaft, a maior companhia de advocacia de Berlim – e provavelmente de toda Alemanha – e já me tornara uma das advogadas favoritas do meu chefe. Qualquer grande caso que aparecesse, ele me chamava de imediato, e eu me sentia incrivelmente convencida. Eu amava o que eu fazia, e o salário era generoso. 
O transito me favoreceu e suspirei aliviada; se tivesse que enfrentar algum tráfego que me desse tempo para pensar no que dizer a Stephen, eu provavelmente surtaria. Em menos de dez minutos eu já adentrava o grande saguão da empresa e me dirigia à sala de reuniões, com Claudia ao meu encalço. 
- Temos um grande cliente hoje, Srta. Blanco – a minha assistente dizia animada tentando acompanhar meu passo. Claudia era uns cinco anos mais nova que eu, uma garota bonita de cabelos castanho claros e olhos pretos como carvão. – É uma grande firma inglesa que está com problemas na filial alemã, e claro que nos requisitaram. Você não tem ideia do quanto estão nos oferecendo para defendê-los... 

Eu não estava muito preocupada com quanto eu receberia de comissão daquele caso que, modéstia parte, provavelmente venceria; estava apenas procurando algo que me distraísse por um longo prazo até que eu pudesse responder à grande pergunta de Stephen. Isso me daria alguns dias para pensar e desculpas para dar. 
- Nossa melhor advogada já deve estar chegando... – escutei a voz grossa do senhor Hessnauer soar em um inglês arrastado. 
- Obrigada pela atenção no nosso caso – respondeu provavelmente o dono da empresa. 
Mas aquela voz havia soado incrivelmente familiar à medida que eu me aproximava da sala de reuniões e instintivamente senti todos os meus músculos congelarem e meus pés fincarem no chão de mármore. 
- Qual é a firma que estamos defendendo, Claudia? – perguntei alarmada, temendo a resposta que eu já sabia que ela daria. 
- A rede de hotéis Aguiar. 
Quando ela sanou as minhas duvidas, senti minha cabeça girar e uma náusea atingir em cheio meu estômago. Passara-se tanto tempo que eu não tinha a mínima ideia de como reagiria se me encontrasse novamente em frente a ele. A verdade era que, depois de oito anos, eu tinha certeza de que jamais o veria de novo. Qualquer coisa relacionada a Arthur Aguiar havia desaparecido da minha vida há sete anos, quando a última notícia que recebi foi que estaria se casando em breve. 
Mil imagens apareceram como um flash em minha cabeça. Sua cerimonia de casamento, sua esposa que provavelmente era maravilhosa, e depois de sete anos de casado, provavelmente teriam dois ou três filhos. A imagem de Arthur se casando era, na verdade, completamente inimaginável, e a ideia de que ele poderia ter filhos fez com que eu quisesse correr dali. 
Mas eu estava sendo boba e completamente infantil. Passaram-se oito longos anos desde que tudo aconteceu, Arthur provavelmente tinha uma vaga lembrança de mim, e eu agora tinha vinte e cinco anos nas costas, era uma mulher, não deveria estar abalada daquela maneira. Era apenas uma grande surpresa. 
Afinal de contas, quais eram as chances de nos reencontrarmos novamente, naquelas circunstancias? 

Claudia me encarava com apreensão, sem entender por que eu estava à beira de um ataque de nervos. Sorri nervosa, respirei profundamente e ajeitei meu paletó. Dei duas batidas na porta ornamentada de madeira entreaberta da sala de reuniões, anunciando minha presença, e finalmente entrei. Eu sabia que me chocaria ao vê-lo depois de tanto tempo, mas vê-lo daquela maneira fez com que fosse impossível espantar a expressão surpresa que provavelmente dominava meu rosto. 
Eu jamais havia visto Arthur tão... sério. Seus cabelos estavam perfeitamente penteados para trás; sua camisa social agora estava envolta por uma gravada vermelha e preta, por cima da camisa um terno que provavelmente custava minha casa inteira, e a calça jeans usual fora substituída por uma de linho preta. Em seus olhos estava a mesma surpresa que estava estampada nos meus que, somados à boca entreaberta, lhe dava uma expressão extremamente chocada. 
- Senhor Aguiar, esta é a Srta... 
- Lua – Arthur interrompeu Hessnauer com os olhos arregalados, mas um singelo sorriso que cobria os lábios. O agora homem estendeu sua mão e eu tive que limpar o suor da minha singelamente em minha saia antes de apertar a sua. 
- Arthur Aguiar... – deixei que seu nome escapasse da minha boca sem que eu percebesse, e ignorei completamente as perguntas curiosas que o senhor Hessnauer agora fazia. 
Nossos olhos estavam compenetrados um no outro, nossas mãos ainda agarradas e apenas quebrei nosso contato visual para olhar sutilmente na mão abaixada de Arthur, a esquerda, que não possuía aliança como eu esperava ver. Ele percebeu para onde eu olhava e apenas sorriu quando voltei a encará-lo. Não sabia dizer exatamente o que aquele sorriso significava.
- Quais são as chances de nos reencontrarmos nessas circunstancias? – ele perguntou em um tom divertido, sua voz soando mais grossa e firme do que eu me lembrava. 
- Eu estava pensando a mesma coisa... – foi tudo que consegui responder enquanto me perdia por alguns instantes naqueles olhos que haviam sido apagados da minha mente. Depois de sete anos a imagem de Arthur se tornara turva nas minhas, para falar a verdade. Eu raramente pensava nele, para não falar que nunca pensava nele. Com a notícia de que se casaria, resolvi apagá-lo completamente. Não porque estava com raiva, longe disso. Mas porque decidi que era o melhor a se fazer. É claro que a minha mente, na época ainda um pouco perturbada, me fez querer pegar o primeiro avião para Londres e tentar acabar com seu noivado, mas que tipo de pessoa eu seria se fizesse isso? Estava tudo claramente acabado entre nós, e eu não podia – mais uma vez – acabar com a felicidade de Arthur. Ele iria se casar e iria ser feliz. Meu lado altruísta decidiu que era melhor para ele ser feliz longe de mim, no final das contas. Por estas razões, eu não havia apagado, mas apenas me esquecido de lembrar de tudo que passamos, de suas feições e de seu jeito, apesar de que agora que ele estava ali, ao vivo e a cores depois de tanto tempo, me realizei de que não havia esquecido absolutamente nada. Arthur era exatamente tudo o que eu me lembrava, entretanto os anos havia feito dele um homem, e ele estava trezentas vezes mais bonito do que nas minhas memórias.
O senhor Hessnauer começou a tagarelar sobre o caso da companhia de Arthur, mas nem eu, nem ele parecíamos prestar muita atenção. Sentei-me no lugar de costume e Arthur se sentou à minha frente, sem desgrudar seus olhos dos meus por um segundo sequer. Talvez ele estivesse pensando o mesmo que eu: estávamos há tanto tempo sem nos encarar que parecia uma missão praticamente impossível desgrudar os olhos um do outro. Eu não queria nem tentar, na verdade. Lembrei-me instantaneamente de como seus olhos costumavam ter um efeito magnético sobre os meus, de como eu nunca conseguia desviar meu olhar quando null me encarava. Lembrei também de todas as sensações que me atingiam no momento em que elas voltaram a me atormentar. Eu parecia uma garotinha de treze anos, com o estômago se revirando, a cabeça zonzeando, o ar escapando dos pulmões e o sangue se concentrando em minhas bochechas. Não sabia o que null estava sentindo, mas ele mantinha um sorriso quase inexistente no canto dos lábios, o mesmo sorriso que ele sempre lançava em minha direção nos tempos da escola. Aquele sorriso que dizia que ele sabia o que eu estava pensando, e que gostava daquilo. Não sei quanto tempo o senhor Hessnauer ficou falando, podiam ter sido segundos, horas, semanas, mas o tempo passava devagar. 

- O que você acha de me apresentar a cidade? – Arthur interrompeu meu chefe sem a mínima educação, afinal, ele não se importava. Ele era um bilionário e a honra era de Hessnauer por tê-lo aqui, então Arthur não tinha cerimônias. Senti que meu coração estava prestes a quebrar minhas costelas e minha boca abriu e fechou diversas vezes, mas, diferente da outra resposta que eu teria que dar a uma outra pessoa, aquela veio quase de imediato. 
- Claro... 
Arthur se levantou no mesmo instante de sua cadeira e estendeu a sua mão através da mesa para que eu fizesse o mesmo, e eu o fiz sem pestanejar. Senhor Hessnauer fazia perguntas em alemão, mas eu nem ao menos me dei ao trabalho de responder. Arthur era o maior cliente que aquela companhia já teve, ele não precisava de desculpas obviamente. 
Dirigimo-nos até a saída da empresa sem uma palavra, com os olhos ainda fixos um no outro. Arthur abriu a porta de seu carro preto para mim e o rodeou para sentar ao meu lado. 
- Ainda não estou acreditando nisso... – ele disse depois que o carro começou a andar lentamente pelas ruas movimentadas de Berlim. Sua cabeça balançava em negação e seu sorriso agora era mais largo. Até me assustei um pouco ao vê-lo, já que antigamente ele aparecia nos lábios de Arthur muito raramente. 
Ele estava completamente diferente. E não era apenas pelo fato de estar mais velho, mas ele estava mais radiante, mais feliz. De um jeito que pensava que ele jamais ficaria diante da minha presença. Na minha cabeça, eu tinha a ideia de que Arthur jamais me perdoaria pelo nosso passado. Mas pelo jeito – e eu realmente torcia para isso – estava enganada. 
- Eu também não... Você está tão... 
- Velho? – ele me interrompeu com uma risada. 
- Como se vinte e cinco anos fosse velho, né Arthur? Você pode até estar, na verdade está mesmo parecendo velho com essa calça e essa gravata, mas eu estou mais jovem do que nunca! – brinquei com um humor recém adquirido, deixando com que a aparente alegria de Arthur me envolvesse. Nos nossos tempos juntos de colegial, eu jamais havia visto ele tão alegre, a não ser naquele breve momento na festa de Arthur, oito anos atrás, um tempo depois de termos gravado algumas confissões de Ava e que pensávamos que finalmente ficaríamos juntos. A lembrança de tudo o que aconteceu depois tirou rapidamente o sorriso que tinha no rosto. Desviei de seu olhar e passei a reparar nos pedestres que passavam rapidamente por nós. 
- Para onde você vai me levar? – ele perguntou animado, talvez ainda sem perceber o clima tenso que se instalou entre nós, ou talvez tal clima tivesse se instalado apenas em mim. Espantei o passado da minha cabeça e me limitei a pensar apenas naquele momento, naquele estranho e surpreendente momento. 
Arthur Aguiar estava na minha frente depois de oito anos. Era inacreditável. 
- Já que temos pouco tempo, vou te mostrar o melhor da Alemanha logo de cara... 
- Espero que você esteja me levando para a sua casa, então... – Arthur disse e soltou uma risada estridente em seguida. Abri a boca chocada e dei um tapa forte em seu braço, não resistindo e rindo histericamente também, vendo que, na verdade, Arthur Aguiar não tinha mudado nada. 


- É basicamente isso. Seu novo país está querendo roubar milhões de euros de mim... – Arthur deu de ombros e deu um longo gole em sua cerveja. 
- Se eu te conheço bem, você provavelmente fez alguma coisa errada e isso não é roubo nenhum... – dei de ombros também e acenei para que o garçom trouxesse mais dois chopps. Estávamos no meu kneipe favorito com vista para o rio Spree e nossa comanda já marcava oito chopps. 
- Você realmente me conhece muito bem – ele disse com aquele sorriso no canto dos lábios antes de tomar a cerveja recém-chegada. Tal comentário me esquentou por dentro, ou talvez fosse só o álcool. – Vai me ajudar? 
- Vou. – rolei os olhos. – Mesmo indo para o inferno por isso... 
Rimos e Arthur passou a me encarar profundamente enquanto eu bebia mais um pouco. Não pude controlar a vergonha pelo modo intenso que ele me olhava e senti minhas bochechas formigarem. 
- Você está diferente... – ele disse, estreitando os olhos como se tentasse descobrir o que estava diferente em mim. – Você está mais linda que a última vez que eu a vi, mas não é só isso... – era como se Arthur estivesse tendo os mesmos pensamentos que eu. – O ar em volta de você está diferente... Isso é ridículo? – ele soltou uma risada. 
- Não... Eu estou diferente mesmo. Mas eu não mudei. Somente voltei a ser quem eu realmente era. 
E era verdade. A mudança de ares e o tempo fizeram com que eu deixasse completamente de lado os pensamentos maldosos que sempre passavam pela minha cabeça quando eu morava em Londres. A Alemanha fez com que eu me esquecesse porque havia me mudado para Londres, e ali eu voltei a ser aquela adolescente simples e divertida que sempre fora antes de Giovana Caldwell colocar minha vida de cabeça para baixo. Arthur então aumentou seu sorriso, porque percebera que aquilo era verdade. Mas ele também estava diferente. 
- Acho que posso dizer que o mesmo aconteceu comigo... Talvez Londres tenha um ar maldoso que nos torna diferente – ele disse num misto de seriedade e divertimento. Talvez aquilo fosse verdade.
Um silêncio se instalou entre nós, mas não o do tipo constrangedor, muito pelo contrário. Era um silêncio que nos deixava ler os pensamentos um do outro, que nos devolvia uma intimidade que antes existia entre nós. Um silêncio que foi interrompido pelo toque do meu celular. 
Simplesmente gelei quando vi o nome de Stephen, mas decidi que era melhor eu atender, e uma hora ou outra eu teria que falar sobre ele para Arthur. 
- Oi... – falei simplesmente, tentando não demonstrar muita coisa. 
- Onde você está, meu bem? – Stephen perguntou do outro lado da linha, com um tom preocupado, provavelmente por que eu não estava em casa no meu dia de folga, e uma certa aliança estava posta sobre a mesa até agora. 
- Estou no Spree. Encontrei um antigo amigo de Londres. Estarei logo em casa... – tentei não enrolar aquela conversa, então tratei de logo desligar após escutar Stephen concordar. Nem ao menos tive tempo de sentir remorso quando Arthur veio me perguntar. 
- Estará em casa... com sua colega de quarto? 
Eu sabia o que ele queria dizer. E sabia que ele sabia a resposta. 
- Era Stephen... Meu... Namorado. 
Arthur ficou em silêncio por alguns instantes, desviando seu olhar do meu pela primeira vez naquela noite. Passou a encarar seu copo de cerveja. 
- Mas e você, Arthur? A última vez que tive notícias suas, você estava para se casar... – tentei tirar o assunto de mim, tentando colocar um pouco da culpa em Arthur. Afinal de contas, ele fora o primeiro a seguir em frente. O garoto – homem, ainda tinha certa dificuldade em assimilar o período de tempo que se passou – hesitou um pouco antes de responder. 
- Não deu certo... – ele deu de ombros. – Natalie era ótima, mas... Acho que não era pra ser. – Arthur finalmente pôs seu olhar sobre o meu novamente, fazendo-me formigar. Tudo o que eu queria naquele instante, depois da cerveja tomar conta de mim, era poder segurar sua mão. Colocar minhas pernas entre as suas. Meus braços ao redor de seu pescoço. Como não podia fazer nada, cerrei meus punhos. – Pra te falar a verdade Lu, fiquei noivo duas vezes nesses oito anos que não te vejo... 
Não sei se fiquei mais chocada pelo fato de ele ter me chamado de Lu – o que me fez estremecer por completo – ou por ele dizer que ficou noivo duas vezes. Provavelmente os dois ao mesmo tempo. Era muita informação. 
- Du-duas vezes? Mas o que aconteceu? – quis saber com mais detalhes. 
Arthur hesitou mais uma vez antes de responder, tomando um grande gole de sua cerveja. Seus olhos ainda fixos em mim, fazendo com que minha vontade de agarrá-lo fosse ainda mais urgente. 
- Não sei, Lu – ele repetiu novamente meu apelido daquele jeito que me fazia arrepiar. Minhas mãos formigavam para tocar as dele que estavam sobre a mesa. – Mas nunca consegui levar meus relacionamentos adiante, principalmente essas duas que noivei. No final, sempre parecia que tinha algo faltando... – soltei um ar pesado que estava guardando no meu peito por tempo demais. – Mas e esse Stephen? É algo sério? 
Eu sabia que Arthur tentava parecer o mais casual possível, mas sua expressão e os anos que eu o conhecia tornava fácil lê-lo. Eu tinha certeza absoluta de que ele tinha os mesmos pensamentos que eu, a mesma urgência que eu tinha. Mas a cautela que tínhamos era extremamente necessária. 
- Ele... Ele me pediu em casamento. – desembuchei, vendo os olhos de Arthur saltarem das órbitas e sua posição ficar meio em defensiva. Me apressei em voltar a falar. – Mas eu ainda não aceitei... – hesitei em dizer o que estava prestes a dizer. Não resisti. – Não entendia por que eu estava demorando tanto tempo para ter uma resposta... Até hoje... 
O que vi em Arthur foi um misto de alivio, confusão, alegria e transtorno. Sua feição mudou mil vezes em menos de um minuto. Talvez eu fosse muito idiota de dizer o que vinha em minha mente antes de pensar muito bem no que eu falava. 
- Acho que devíamos ir embora... Amanhã terei que trabalhar que nem uma condenada para conseguir ganhar seu caso, Arthur – falei, tentando quebrar o clima tenso que se instalou sobre nós depois que me declarei indiretamente. Arthur concordou com um sorriso e, quando me ofereceu uma carona. Recusei, pegando o primeiro taxi que apareceu na minha frente. 
XOXO BIA BERNARDO

4 comentários:

  1. MAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIS

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  2. `++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

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  3. quando vc vai postar mais capitulos
    ass:luuh

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