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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Three Cheers For Sweet Revenge

Cap 19 You’re Never Gonna BAlone




Quando a luz do dia era suficientemente forte para me acordar, insisti em manter meus olhos fechados. Eu tinha medo de abri-los e ver que meu maior medo se tornara realidade e Thur não estaria mais ali comigo, como na última vez. Mas quando senti seus braços me envolverem a cintura, não consegui conter um sorriso enorme que se abriu em meu rosto. Envolvi suas mãos com a minha e senti a respiração tranquila de Thur em meu pescoço. - Nunca pensei que acordar ao seu lado fosse tão bom... – ele disse com um tom sonolento, apertando-me contra seu corpo. Então realizei que nunca havíamos dormido juntos – quero dizer, 
acordado juntos. Era absurdo o tanto de tempo que perdemos – ou que eu nos fiz perder – com joguinhos ridículos e sem sentido.
- Eu poderia ficar aqui pra sempre... – eu resmunguei. 
Mas eu não podia. Eu tinha assuntos a resolver, e pessoas com quem lidar. Eu me sentia um pouco mal, não pelo fato de ter traído Stephen, mas por não sentir um pingo de remorso por tê-lo feito. No entanto, eu não sabia ainda se o certo seria largá-lo, afinal, eu não sabia o que estava acontecendo entre Thur e eu. Eu morava na Alemanha, tinha uma vida ali, e Thur morava em Nova York. E nem ao menos tínhamos falado sobre o que aconteceria a partir daquele momento. 
Virei-me a fim de ficar de frente para Thur. Ele entrelaçou suas pernas nas minhas e continuou a me abraçar. Tinha um singelo sorriso no rosto, um dos mais bonitos que já vi na vida. Seus olhos castanhos cintilavam com a luz que escapava pela cortina da grande janela e seu cabelo estava charmosamente emaranhado. Não resisti e passei a acariciar seu rosto maravilhoso, vendo-o fechar os olhos. 
- Eu tinha me esquecido do poder que você tem sobre mim... – sussurrei, fazendo com que Thur voltasse a me encarar. Ele estava um pouco confuso, talvez até um tanto transtornado, e sua boca abriu e fechou algumas vezes antes que conseguisse falar. 
- Eu passei muito tempo da minha vida tentando te entender, Lu... – ele começou hesitante, com os olhos apertados e a voz vacilante. – Tentando entender sua sede de vingança, tentando entender por que nós simplesmente não podíamos ficar juntos. Porque... Apesar de tudo, eu sabia que você gostava de mim, apesar do Pedro, apesar dos nossos joguinhos... Eu sabia que você gostava de mim, mesmo quando você insistia em dizer que não. Seus olhos sempre me diziam diferente. – Não sei o que Thur via nos meus olhos naquele momento, mas eu esperava profundamente que ele visse o quanto eu 
ainda gostava dele. – Eu nunca entendi por que nunca ficamos juntos. Mas sei que o melhor que fiz foi me afastar... 

Eu não sabia o que Thur queria dizer com aquelas palavras, ou qual era sua intenção em dizê-las. Qual fosse ela, senti um aperto no peito ao escutá-lo confirmar todas as minhas suspeitas: de que aquilo que estava acontecendo entre nós era algo apenas passageiro. Um
 flashback. Thur acabara de dizer que a melhor coisa que fizera fora ficar longe de mim, nada mudara nesse tempo e provavelmente o melhor a se fazer ainda era ficar longe. Senti meus olhos arderem e fiz o possível para não derramar nenhuma lágrima. Não importa o tempo que se passe, certas cicatrizes nunca se curavam. Tudo o que eu podia fazer naquele momento era aproveitar a presença de Thur o máximo que eu podia. E então aqueles incríveis dias que passamos juntos seriam as memórias mais perfeitas que eu teria dele. 
- Eu sei que você deveria ir para Nova York hoje, mas... Fica mais um pouco... – pedi com minha voz mais melindrosa possível, vendo um sorriso se alargar no rosto de Thur. – Eu ainda nem te mostrei metade da metade de Berlim. Seria um desperdício você partir assim... 
Thur fingiu que pensava, fazendo uma cara incrivelmente fofa e então me beijou com uma sutileza incrível, acordando todo aquele alvoroço dentro de mim. Mas antes que pudéssemos fazer qualquer coisa, eu tinha que resolver meus assuntos com urgência. Eu sabia que Thur não ficaria por ali por muito tempo, mas de qualquer maneira eu não poderia ficar mais com Stephen; não seria justo com ele, nem comigo. Ele merecia mais que qualquer pessoa alguém que o amasse do jeito que ele me amava. E eu precisava que 
certo alguém me amasse como Stephen me amava. - Pode dispensar seu motorista. Hoje quem dirige sou eu! – Beijei Thur novamente antes de me levantar daquela cama enorme e começar a procurar minhas roupas pela cobertura, ouvindo reclamações de Thur. – Esteja pronto até meio-dia! 

O tempo que levei para chegar até meu apartamento pareceu uma eternidade. Agradeci o transito por isso, porque assim pude ensaiar mil discursos diferentes sobre como recusar educadamente o pedido de casamento de Stephen. Poderia parecer loucura, recusar algo tão certo ali, bem na minha frente, por outra coisa completamente duvidosa – para não falar inexistente. Mas era o que eu tinha que fazer. Mesmo que eu fosse ficar sozinha a partir dali, eu tinha que fazer a escolha certa pelo menos uma vez na vida. Ainda não tinha decidido se eu estava mais uma vez sendo egoísta, ou se estava, na verdade, sendo altruísta. Eu realmente acreditava que Stephen merecia coisa melhor. 
Entrei em casa sabendo que Stephen estaria ali naquele horário e o encontrei sentado no sofá encarando a aliança onde eu a havia deixado três dias atrás. Ele colocou seus olhos cansados sobre mim e nem ao menos perguntou por onde eu andei. Pareciam que quilômetros nos separavam, então andei rapidamente até me sentar ao seu lado. Ele sabia o que estava por vir. 
Pequei sua mão e senti meu coração apertar, sabendo que minha decisão o faria sofrer, e essa era a ultima coisa que eu queria fazer, mas não tinha outra escolha. 
- Stephen, se lembra de quando me mudei da Alemanha de volta para Londres? – perguntei com a voz um pouco vacilante. Ele fez um sim com a cabeça e eu respirei fundo. – Se lembra por que eu fui embora? – ele acenou novamente, voltando a encarar a aliança. – Lá em Londres, tinha esse garoto, o Thur...
- Seu melhor amigo de infância... – Stephen completou. Talvez eu não precisasse dizer mais nada, talvez ele já tivesse ligado os pontos, mas eu precisava lhe dar uma explicação. 
- Sim... Quero dizer, quando voltei para Londres já não éramos amigos há muito tempo. Eu deveria ter voltado para lá com outro objetivo, agora eu percebo... Eu o magoei muito Stephen, muito mais que qualquer pessoa nesse mundo. Eu deveria ter voltado para Londres a fim de acertar as coisas com ele, para fazer com que ele me perdoasse por todo o mal que eu havia lhe causado. Mas não... Voltei e o magoei muito mais do que antes. 
Stephen passou a me encarar com uma expressão confusa. 
- Aonde você quer chegar? 
- Eu queria poder aceitar seu pedido, Stephen. Você é uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci, mas... Eu não posso. Eu não posso mentir pra você como eu menti pra ele. Não posso te enganar como enganei a ele, não posso cometer os mesmos erros do meu passado. – seus olhos castanhos me encaravam com profundidade, e no fundo, mesmo magoado, eu sabia que ele me perdoaria, e até mesmo me entenderia. – E eu tenho uma chance de fazer as coisas certas, não só com você, mas com ele também... 
Stephen fechou os olhos com força e inspirou profundamente, talvez lutando com uma possível disputa de interesses dentro de si. 
- Eu sempre soube que eu te dividia com alguém... Nunca sabia quem era, muitas vezes pensava que era só coisa da minha cabeça. Mas você nunca foi minha, Lu, eu sempre soube disso. Mas sou egoísta, mesmo sabendo que você não me amava, – pelo menos não do mesmo jeito que eu – eu insisti em ter você... 
Me senti estranha ao ouvir Stephen dizendo que
 ele era egoísta, sendo que esse papel sempre foi meu a desempenhar. Peguei sua mão com delicadeza e sorri sinceramente. 
- Eu sinto muito. De verdade. Quero muito que você seja feliz... 
- Eu também quero que você seja, Lu. Você merece mais do que ninguém. 
Deixei que uma lágrima solitária caísse, ao acreditar pela primeira vez em anos que sim, eu merecia ser feliz. 
Dei um beijo sutil em seus lábios antes de me levantar e ir atrás da minha felicidade. 


Quando estacionei em frente ao Poynter Hotel, Thur já me esperava no saguão, conversando distraidamente com o recepcionista. Vestia jeans, uma camisa branca por baixo de um terno e um tênis largo nos pés. Era uma dejá-vù. Eu adorava seu estilo, aquela combinação já era sua marca registrada, mas seus cabelos ao invés de estarem desarrumados como ficavam antigamente, agora estavam penteados para trás – o que o deixava ainda mais charmoso, se é que era possível. 
Não contive o sorriso quando seus olhos encontraram os meus e um sorriso largo também abrir em seu rosto. Thur veio em minha direção e me beijou no canto dos lábios. 
- Estou pronto para você me mostrar o que Berlim tem de melhor. – Thur entrelaçou sua mão na minha até chegarmos ao meu carro. 
- Olha, eu sei que você é todo bilionário agora, quero dizer, você sempre foi, mas agora está todo chique, provavelmente cheio de frescuras... Pensando bem, você sempre foi cheio de frescuras, então não reclame do lugar que eu vou te levar para almoçar! – Disparei a falar de tanto nervosismo, já que queria desesperadamente agradá-lo na intenção de fazê-lo ver que eu agora era uma nova/velha Lua. Thur riu e depositou sua mão sobre minha coxa, enquanto já dirigíamos sobre as ruas movimentadas de Berlim. 
- Lu, tenho certeza que vou gostar de qualquer lugar que você vá me levar. – ele disse sorrindo, todo carinhoso. Meu coração só faltava saltar pela boca, e minha perna formigava onde a mão deThur ainda depositava. 
- Você ainda não me contou como é ser o novo Imperador Aguiar... – falei com certo sarcasmo na voz. – Se eu me lembro bem, você queria montar uma banda. 
- Se 
eu me lembro bem, você seria a vocalista dessa banda... – ele respondeu divertido. – Acho que nenhum de nós tornou o que sonhávamos... – falou pensativo, olhando a paisagem histórica que passava por nos. – Mas respondendo a sua pergunta, ser o novo Imperador até que não é tão ruim... Afinal, olha só onde eu estou. – Thur voltou a me encarar, agora com uma expressão completamente safada, o que me fez soltar uma risada estridente. 
Quando avistei o Portão de Brandemburgo, estacionei e desci do carro, sendo seguida por Thur. Entrelacei nossas mãos e o levei até a minha barraquinha de currywurst favorita de toda Berlim. Eu adorava vir ali depois de um longo expediente e me deliciar com aquela comida típica alemã. 
- O que é isso? – Thur perguntou curioso enquanto olhava Klaus (sim, eu até sabia o nome do carinha que fazia o currywurst) montava uma de suas delicias para outros clientes. 
- Não vou te dar uma aula de história agora, Aguiar, mas isso é basicamente a comida favorita de todos os alemães. É salsicha de porco com um molhinho especial de ketchup e curry. Por apenas cinquenta cêntimos! E Klaus faz o melhor currywurst de toda a Alemanha! – sorri orgulhosa, quando Klaus finalmente voltou sua atenção para nós. 
Hallo, mein lieber! – Klaus cumprimentou animado. – Hoje serão dois? - Quatro, por favor, Klaus. Estamos morrendo de fome! 
Thur me olhava com curiosidade enquanto eu conversava com o cozinheiro, sempre com um sorriso no rosto. E eu não me cansava de vê-lo sorrir, coisa que antigamente era muito rara – tirando pelos sorrisos irônicos que sempre mantinha nos lábios. 
- Você falando alemão é uma das coisas mais sexys que eu já vi... – ele disse com uma sobrancelha arqueada e 
aquele sorriso. 
Sie haben nichts gesehen... – sussurrei em seu ouvido, vendo-o arrepiar. 
- O que você disse? 
- Você ainda não viu nada... – sorri marota e peguei dois currywurst, deixando que Thur pegasse os outros e me seguisse, ainda com aquela expressão atônita. 


Thur observava com atenção o que havia restado do Muro de Berlim, um trecho de 1,3 km, decorado com trabalhos de centenas de artistas. Eu havia ido ali apenas duas vezes – uma assim que mudara para a Alemanha pela primeira vez, e outra assim que voltara – o que era uma verdadeira vergonha. O lugar era tão magnífico que eu deveria visitá-lo quase todos os dias. Ali exalava uma ar de paz, mas ao mesmo tempo de conflito. Aquele muro significava a separação de pessoas que se amavam, mas ao mesmo tempo marcava seus reencontros. Thur e eu não podíamos estar em um lugar mais perfeito para nós. 
- É incrível... – ele murmurou, ainda impressionado com a obra de arte que o Muro havia se tornado. 
Aquela semana não poderia ter passado mais rápido. Tão rápido que eu já queria revivê-la antes dela ter terminado. Meus dias com Thur se resumiram a passeios turísticos, mas tudo havia sido perfeito. Dormi e acordei todos aqueles cinco dias ao seu lado, tendo seus braços me abraçando como se nunca mais fosse me largar; tendo seu corpo tão próximo do meu como se pudéssemos nos tornar um só a qualquer momento. Com seus lábios a explorar cada pedaço do meu corpo a fim de reviver e criar outras memórias. Era como se o passado não existisse, e Thur e eu fossemos estranhos se conhecendo, e eu estava amando aquela nova chance de mostrar a Thur quem eu realmente era. Uma pessoa completamente diferente daquela que o machucara tantas vezes no passado. Uma pessoa que jamais seria capaz de enganá-lo ou de usá-lo novamente. 
Entrelacei nossos dedos, adorando aquela sensação de ter sua mão colada à minha. Eu havia andado tantas vezes de mãos dadas com Thur naquela semana, compensando o fato de jamais termos feito isso quando morávamos em Londres. Para falar a verdade, agora, nossas mãos raramente estavam longe uma da outra. E aquela era a melhor sensação do mundo. 
- Eu juro que não queria ir embora... – Thur disse com pesar, ainda sem me encarar. Ele tinha que voltar para Nova York, onde sua vida de verdade o aguardava. Eu sabia que seu lugar não era ali comigo, que agora não era mais um garoto sem responsabilidades. Mas eu não podia deixar de insistir. 
- Então não vai! – falei manhosa, abraçando-o pela cintura. – Uma semana é pouco tempo demais para compensar os oito anos... 
Recostei minha cabeça em seu peito, sentindo seus braços me envolverem de uma maneira que me fazia ter vontade de afundar em seu corpo. Thur beijou o topo da minha cabeça e respirou profundamente. Eu não tinha a mínima ideia do que se passava na cabeça de Thur, e aquilo me assustava profundamente. Agora que estávamos perto de nos despedir, eu começava a ficar desesperada de verdade. Eu não sabia como superaria ter que me separar dele novamente, ainda mais agora que havíamos passado os momentos mais perfeitos juntos. Eu não queria voltar a levar a mesma vida de antes pelo simples fato de não conseguir voltar a viver sem ter ele do meu lado. 
Apertei ainda mais seu corpo contra o meu ao sentir uma brisa fria passar por nós. O adeus estava cada vez mais próximo e eu não sabia como lidaria com aquela situação. 
- Eu tenho que ir... – sussurrou próximo ao meu ouvido, envolvendo meu rosto com suas mãos. Seu olhar era indecifrável, diferente de todas as vezes que sempre consegui lê-lo. Tentei segurar o choro, mas ele era simplesmente inevitável, e quando os lábios macios de Thur tocaram os meus, o beijo tomou um gosto salgado pelas minhas lágrimas. 
Fomos em direção ao meu carro e seguimos caminho até o aeroporto. Thur segurava uma das minhas mãos com firmeza enquanto eu dirigia e observava a paisagem que passava pensativo. Eu estava curiosíssima para saber o que ele pensava, mas não me atrevi a perguntar. 
- Você tem visto Micael? – perguntei a fim de quebrar aquele clima melancólico que se instalara entre nós. Thur suspirou. 
- Infelizmente não... É muito raro eu conseguir ir pra Londres. Deve fazer uns três anos que não vou lá, então... – Thur voltou a me encarar. – Você foi ao casamento deles? 
- Claro. Sophia é minha melhor amiga. Vou confessar que fui na esperança de encontrar você lá... – falei timidamente, não me atrevendo a olhá-lo. Mas eu sabia que um sorriso singelo abrira em seus lábios. 
- Eu sabia que se fosse a veria lá. Não sei se estava preparado pra isso... – Thur disse com um tom sério, ainda me olhando. 
- E dessa vez você estava? 
Ele suspirou pesadamente e apertou minha mão contra a sua. - Aparentemente sim. 

Nossa despedida foi cruel. Talvez tivesse sido três vezes mais difícil que todas as outras vezes que nos despedimos. Thur segurou meu rosto entre suas mãos e me olhou profundamente. Eu sabia que ele podia ver tudo o que eu sentia através dos meus olhos, daquela maneira que ele sempre fazia. Não precisava dizer nada para que ele soubesse o tanto que aquilo doía em mim. Ainda não havia decidido se reencontrá-lo havia sido bom ou ruim. Se nós ao menos tivéssemos um futuro juntos, se eu soubesse que aquilo iria a algum lugar, teria sido a melhor coisa que já me aconteceu. Mas sabendo que Thur estaria indo embora para provavelmente nunca mais voltar, talvez fosse melhor se não tivéssemos passado todo aquele tempo juntos, pois agora deixá-lo ir havia se tornado a tarefa mais difícil de todas. Que tipo de brincadeira sádica era essa que o destino me colocou para jogar? Me proporcionou um dos melhores momentos da minha vida para logo depois arrancá-lo de mim? 
- Vamos manter contato, okay? – ele murmurou contra meus lábios, e eu acenei com a cabeça vacilante. Não seria mais difícil ainda manter contato há milhas e milhas de distância? – Esse tempo que passamos juntos, Lu... Foi perfeito. Estou falando sério. Foi incrível te ver de novo depois de tanto tempo. 
Sorri ao vê-lo sorrir e me segurei para não chorar novamente. Não havia nada que eu pudesse fazer. Eu poderia comprar uma passagem para Nova York, mas para que iria se Thur não queria minha companhia? Afinal, se quisesse, já teria feito uma proposta há muito tempo, e aquele pensamento apertou meu coração de uma maneira quase insuportável. 
Thur me beijou com carinho, com gosto de despedida, e todas aquelas sensações que somente ele me proporcionava me atingiram em cheio. Eu só queria ter aquela boca colada na minha pro resto da minha vida... Era pedir demais? 
Aparentemente era, já que ele nos separou com um olhar pesaroso, depositou um leve beijo na minha testa e deu as costas, entrando no portão de embarque. 
O ar faltou nos meus pulmões de uma maneira não muito agradável, e eu senti que o chão poderia desabar sob os meus pés a qualquer momento. Corri para fora daquele aeroporto, mas o ar limpo de Berlim não me fez sentir nem um pouco melhor. Eu queria chorar, gritar, entrar naquele portão de embarque e implorar para que ele não fosse embora, mas eu me sentiria ridícula se fizesse qualquer uma dessas coisas. 
Thur não me queria, e pronto. Tudo o que acontecera entre nós nesse reencontro não passara de um passatempo para ele. 

Não fui direto para o meu apartamento. Eu sabia que Stephen não estaria lá mais, mas eu ainda não queria voltar. O perfume de Thur ainda estava na minha pele, e seu gosto ainda estava na minha boca. 
Então vaguei sem destino pelas ruas de Berlim, parando na rua paralela ao rio Spree e me sentei no gramado de sua margem junto com centenas de outros turistas. 
Eu sabia que Thur gostara do tempo que passamos juntos, sabia que se sentia bem na minha presença, mas por algum motivo que era desconhecido por mim, ele não queria ficar comigo. Eu teria então que me limitar com as memórias de uma semana perfeita e tentar de algum modo seguir em frente com a minha vida – mais uma vez. Isso me fez pensar que eu jamais conseguiria verdadeiramente ser feliz, pois sempre que eu achava que havia chegado lá, algo acontecia e eu voltava à estaca zero. 
Isso me mostrava, de certo modo, como eu havia mudado ao longo do tempo. Eu poderia dizer que havia me tornado um tanto quanto altruísta. Não podia cobrar nada de Thur, não podia implorar para que ele ficasse, não podia cair de joelhos e fazer com que ele me amasse. Eu o entendia. Talvez o passado não estivesse realmente no passado, e Thur ainda me via como aquela garota mimada que fazia tudo para conseguir o que queria. 
Já havia perdido as contas de quantas vezes passara por cima de seus sentimentos pensando apenas em mim, no meu tolo sentido de vingança. Onde aquilo havia me levado, afinal? O que eu havia ganhado com aquela sede insaciável? 
No fim descobri que Ava não valia nem metade do que ela – ou até mesmo eu – pensava que valia. Eu me martirizava por ter perdido tanto tempo da minha vida pensando em meios de como acabar com sua vida, sem saber que eu estava acabando com a minha. Coloquei amigos e família em risco, quase acabei por completo com a minha chance de ser feliz. 
Mas a verdade é que eu havia sim sabotado com a minha chance de ser feliz. Porque eu queria ser feliz ao lado de Thur. E isso eu jamais teria. 
Eu entendia o lado dele. Como ele iria querer ficar do lado de alguém como eu? Ou da pessoa que fui? Eu provavelmente fiz mal a ele de uma maneira que nenhuma pessoa jamais faria. Como ele poderia amar alguém que pisou tanto em seu ego? Alguém que o maltratara de todas as maneiras possíveis, alguém que o esnobou e fez tão pouco caso de seus sentimentos? Eu estava suficientemente feliz por ter tido aquele pequeno reencontro com Thur, aquilo talvez fosse tudo o que eu merecia ter. Quem imaginaria, que depois de tanto tempo, tantos momentos vividos separadamente, uma vida inteira formada, eu o veria novamente? Eu ainda não acreditava completamente em minhas memórias e achava que tudo aquilo não passava de uma ilusão, uma peça que o passado havia pregado em mim. 

Quando deixei Londres, cheguei à Alemanha com a cabeça feita: o passado era passado e estava definitivamente enterrado. Havia visitado Londres pouquíssimas vezes, até mais do que gostaria, e sempre que lá aparecia, as memórias de alguém que hoje em dia nem reconhecia – eu mesma – me assombravam. Eu tinha certa vergonha, certo receio. Não sei se poderia dizer que era uma daquelas pessoas que não se arrependem de nada, pois seus erros é o que fazem você ser quem é. Teria eu aprendido com meus erros? Teria meus erros me transformado em uma pessoa melhor? 
Uma pessoa superior, eu com certeza era. Mas se eu pudesse, de verdade, mudar meu passado, talvez eu não pensaria duas vezes. Jamais teria ficado com Pedro ao invés de Thur por puro orgulho. Jamais teria abandonado Thur naquela estação de trem. Eu teria enfrentado meus problemas com ele, assim como havia sugerido. Não teria colocado a raiva por Ava por cima do amor que sentia por ele. Não teria ignorado esse amor. 
Mas o passado não pode ser desfeito, e mesmo depois de oito anos, eu ainda não sabia como conviver com ele. Ainda não conseguia conviver com o fato de não poder fazer nada para ter de volta a pessoa que mais me fez feliz a vida inteira. 
E no fim, as coisas acabam fugindo do seu controle, suas atitudes passam a não fazer mais sentido, o que parecia não ter volta nunca teve fim e você se dá conta do estrago que fez. 
Isso me trazia de volta à minha indagação: eu havia me tornado uma pessoa altruísta? 
Por mais que a maior parte de mim gritasse para que eu fosse atrás de Thur, que implorasse e caísse de joelhos, essa não era uma decisão que cabia a mim. Eu já havia manipulado sua vida de mil jeitos diferentes, eu não tinha o direito de deixa-lo com dúvidas. Não tinha o direito de força-lo a sentir algo que não existia. 
Talvez pra ele fosse como para mim, só que de pontos de vistas diferentes: era passado. Ele havia superado sua raiva, como ele mesmo havia dito, talvez também tivesse superado seu amor por mim. E sobre isso, eu não tinha nada o que fazer. 

Não podia dizer quanto tempo fiquei por ali, observando casais alegres e barcos passando pelo Spree, mas quando dei por mim o sol já sumia no horizonte do rio e sua margem já esvaziava de pessoas. Resolvi que finalmente era hora de ir para casa e organizar minha vida. Amanhã minha semana de folga – que Hessnauer havia me dado por ganhar o grande caso de Thur – acabaria e talvez minha rotina espantasse meus pensamentos de Nova York. 
Cumprimentei o porteiro quando adentrei o saguão do meu prédio e a subida de elevador até meu apartamento pareceu uma eternidade. Quando a porta do mesmo se abriu diretamente em meu apartamento, meus olhos saltaram das órbitas e eu não consegui respirar por alguns segundos. Thur estava sentado em meu sofá. 
- O... O que você está fazendo aqui? – foi o que consegui perguntar, enquanto cada parte do meu corpo queria correr de encontro a ele. Mas eu estava 
muito surpresa. O que havia acontecido? Teria ele perdido o voo? Mas eu havia o visto entrar no portão de embarque! 
- Lu, eu só percebi que estava prestes a cometer o pior erro da minha vida quando eu me sentei naquele avião. – ele levantou afobado do sofá, vindo em minha direção e colocando as mãos em meus ombros. – Eu jamais seria capaz de viver normalmente sabendo que eu havia deixado você aqui! – ele pegou meu rosto com as duas mãos enquanto eu ainda tentava assimilar o que acontecia. Era realmente Thur ali parado na minha frente? Aquilo estava mesmo acontecendo? – Olha, eu admito que tive medo de voltar aqui e te dizer todas essas coisas, mas... Eu sei que você mudou. Eu sei que você não é mais 
aquela Lua... Nunca vou entender seus motivos para fazer tudo o que fez, mas eu não quero mais entender, porque tudo aquilo está no passado. Eu finalmente entendi isso, Lu, e esse tempo que passamos afastados foi a melhor coisa que nos aconteceu, porque finalmente podemos ficar juntos de novo... Eu não quero mais viver no passado e saber que eu poderia ser o cara mais feliz do mundo ao seu lado. Eu só quero o futuro, e um futuro ao seu lado. – Thur falava tão rapidamente que, com a minha mente ainda surpresa e incrivelmente lerda, quase não acreditei em todas as palavras que saía de sua boca. Thur tirou um envelope de dentro do seu bolso e entregou a mim. Quando o abri com as mãos trêmulas e suadas, vi uma passagem só de ida para Nova York. – Diz que vem comigo, por favor, diz que vem. Eu não quero passar nem mais um minuto longe de você. 

Tudo o que consegui fazer foi soltar uma risada estridente – que poderia ter soado até mesmo histérica – e pulei em seu colo, beijando-o com toda a urgência que meu corpo necessitava naquele momento. Quando nossas línguas se encontraram e se exploraram como velhas conhecidas, tive a absoluta certeza – não que houvesse quaisquer dúvidas – de que aquilo era tudo o que eu queria na vida. 
- Eu te amo tanto, Thur... – murmurei contra seus lábios com um sorriso gigante no rosto. Seus olhos brilhavam, me encarando com uma felicidade que eu jamais havia visto antes. 
- Eu também te amo, Lu. – Thur disse com o mesmo sorriso que o meu. – Vamos para Nova York. 




FIM.
XOXO BIA BERNARDO
Então é isso pessoal,espero q tenham amado a web,quero muitos cometários.E já estou avisando para esperarem q eu estou a procura de novas webs.Bjs.


4 comentários:

  1. Cara concerteza foi uma das melhores webs q eu ja li, todo dia eu esperava por ela, mt boa mt boa msm parabens e obrigada por escrevela para gnt

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  2. Ah meu deus que web mais perfeita, amei tudo do começo ou fim.

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