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domingo, 10 de novembro de 2013

Web's de Capitulo Único - Bem Vinda ao Mundo dos Adultos

Bem Vinda ao Mundo dos Adultos

Autora: Bee
Status: Finalizada
Revisada por: Juh
Categoria: Free Fics
Sub-Categoria: Romance/Comédia - ShortFic


Natal, quando eu era criança, tinha um significado mágico e saboroso. Eu sempre ansiava a data. Desde que saía das férias de julho, para ser mais exata. Agosto parecia sempre ser tão próximo de outubro que era ali, coladinho com dezembro. Então, por que não planejar os presentes que eu iria pedir?
Não que eu acreditasse em papai Noel, na verdade sempre achei que crianças com mais de seis anos e que não sabiam que ele era uma lenda, eram idiotas. E as pessoas que me repreendiam por espalhar verdades pelo mundo... bem, essa era a minha mãe.
Agora, eu entendo, mas na época eu me achava superior. Confesso, fui uma criança bem chatinha e isso garantiu uma adolescência bem... como eu poderia dizer? Vamos apenas considerar que eu fui mais sociável e mais irônica. Se House tivesse uma filha perdida e sem muita inteligência, bem, esta filha seria eu.
E aqui, em frente à uma megalomaníaca festa familiar, organizada pela minha tia, eu refletia sobre os anos que se passaram desde que eu comecei a não acreditar em papai Noel. Quer dizer, por muito tempo meus Natais tiveram um clima estranho e após a morte do elo da família - ou avó, como preferir - cada um passou seu Natal como bem entendeu. E eu nunca procurei me socializar fora do contexto de família. Eu ficava apenas me divertindo com os meus presentes e isso estava suficientemente bom.
Quando eu brincava com Barbies, era uma maravilha! Considerando que as comprei e as ganhei até meus... 15 anos? Nossa, eu sentia falta daquelas madeixas plásticas que me faziam cócegas. Mas agora, o que eu ganharia? Uma vela para colocar na banheira? Alguém avisa que não tenho uma banheira?! Um perfume que vai fazer minha irmã espirrar e, por consequência, não vou poder usar? Uma blusa que não vai entrar em mim nem que a mestre do regime apareça e me fale seu segredo?
É esse o problema do Natal, quando você cresce, fica meio chatinho... E agora, mesmo com a reunião da família eu não me sinto como antes. É como se o Natal tivesse passado o conceito feliz para um conceito rotineiro. Chester, vinho, frutas e meus presentes não tão úteis. É, bem vinda ao mundo dos adultos, Luh.

E neste mundo dos adultos, tudo parecia estar deslocado, principalmente eu. Porém talvez isso fosse só reflexo da festa em si. Já que não é normal casais em processo de separação darem festas extremamente esnobes para comemorar o Natal. Mas, a gente não tem escolha quando recebe uma intimação da sua irmã. Que recebeu a intimação de uma amiga apaixonada pelo seu primo. O filho dos donos da festa.
E, como se eu não pudesse ser mais loser que o James Bourne (afinal, ele por mais que não seja loser, vai sempre ter complexo de eu-sou-perdedor-e-a-minha-vida-sentimental-não-presta) eu estava dançando, sem sair do lugar, "War is over". Quer dizer, todo mundo adora a música do "A very merry Christmas, and a happy New Year" ou, até mesmo, a versão da Simone. Mas, eu tenho algum trauma com esta música. Então, eu me sentia tão patética quanto eu poderia me sentir.
Quer dizer, eu estava cantando e dançando - na verdade segurando meu vestidinho vermelho com listras verdes enquanto balançava de leve - enquanto via meus parentes enchendo copos e mais copos de vinho e se divertindo à beça.
E eu poderia apostar - não muito dinheiro, afinal eu estou com 6 reais para não dizer que minha carteira está vazia - que o ponto alto da noite vai ser o carinha que está me encarando. Ele poderia ser meu presente e, se minha mente pervertida permitir pensar assim, ele poderia ser meu novo brinquedo. Não de conotação para maiores de 18, mas só ser meu pequeno agrado sentimental de 2009. Um ano cheio de explosões sentimentais. Ruins, boas e péssimas.
Dei um sorrisinho, lembrando da descoberta de que o que agradava ao meu namorado-em-potencial era desinteressado no que qualquer mulher poderia oferecer. No pedido estranho de casamento que recebi. Isso me fez abrir um sorriso. Era bizarro demais. E o fato de eu sorrir fez com que o garoto abrisse um sorrisinho de lado.
Continuei a sorrir mais e então decidi que iria buscar um biscoito de natal. Peguei um em formato de estrela, afinal aqueles em formato de bonequinho já tinham sido devorados pelas crianças menores... Pestinhas!
E quando eu estava enfiando uma das pontas da estrela na boca... alguém cutucou meu ombro.
- Oi!
- Oi!- Eu dei um sorriso e tirei o biscoito de perto da boca.
- Tudo bem?
- Tudo! Você sabia que se você cortar uma ponta de uma estrela marinha ambas se regeneram? A parte cortada maior e a menor também... - Legal, isso foi pior do que falar sobre o passado afetivo. Ele só disse "Oi"
- Melhor você não comer esta, então. Ela vai se regenerar dentro do seu estômago e você vai ficar cheia até a hora da ceia.
- Isso teve tanta graça quanto um hipopótamo dançando tango. - Eu olhei para ele com minha pior cara de mau humor.

E saí de lá. Eu não tenho culpa de não falar coisas interessantes! E, para mim, isso era muito interessante! Já estava comendo a última ponta da estrela quando achei um lugar para sentar. Era na minha mesa, lógico. Onde mais seria? Bebi um pouco da água que algum - acredite - garçom me ofereceu. E o garoto, pegou da bandeja uma batidinha de coco.
- Posso?
- Você não tem mesa?
- Você tem companhia?
- Você é um penetra!- Acusei-o. A cara de medo que ele fez foi minha confirmação.
- Talvez, na verdade eu tive alguém que me colocou aqui...
- Quem?
- Você.
- Eu? Eu deveria parar de beber!- ironizei.- Ah, eu não bebo!
- Que seja... foi fácil falar "Eu estou com ela, minha namorada perdeu meu convite. Ela sempre perde tudo! Neste ano, quem lembrou do nosso aniversário fui eu!" E a mocinha liberou. Mas não se preocupe... eu moro no prédio. E, como ainda é cedo para eu ir para a festa da minha família... - Ele bebericou o copo. - Aceita?
- Não. Não gosto de beber.
- Tudo bem. É legal de sua parte. Está com raiva de mim?
- Não, eu só acho meio bizarro... afinal, arranjei um namorado de longa data.- Eu disse sorrindo.
- É... isso quer dizer que você está livre para passar o ano novo comigo?
- Eu não sei seu nome... - Revirei os olhos.
- Como não sabe, amor? A-R-T-H-U-R, lembrou?
- AH! Sim, agora sim. E antes que você pergunte...
- Lua, eu sei seu nome. Sua idade, porém ainda insisto no telefone e contatos online.

Antes que eu fizesse qualquer menção de arregalar os olhos ou sair gritando que ele era um maníaco, eu respirei fundo e falei que aquilo era muito estranho. Ele segurou minha mão e olhou nos meus olhos.
- Estranho é você ter conseguido com que eu realmente achasse que estrelas do mar poderiam vir a ser interessantes. Sério.
- Elas são!

Ele fez uma cara de tédio, ainda segurando a minha mão. Ele estava na frente do amontoado de luzes, eu podia ver que um pisca pisca estava estragado, fazendo com que metade do cordão não acendesse. Eu sempre odiei quando isso acontecia.
- Qual o problema? - Ele colocou a minha franja para trás.
- Deve ser chato ser um pisca pisca...
- Como?
- Você só tem atenção no fim do ano e...
- Roberto Carlos também...
- Isso não vem ao caso, mas como eu dizia... algum idiota pode interromper a corrente e deixar que você não seja iluminado. Isso sem contar o fato que é extremamente chato ficar acendendo e apagando, acendendo e apagando...
- Você, realmente, fala o que pensa.
- É... eu nunca disse que eu era legal. E se não fosse Natal eu juro que estaria te batendo por estar tão próximo de mim e ainda querendo que eu saia com você. Mas, eu sei que mesmo que eu dê a você um carro para ir até a minha casa, você não vai falar comigo novamente.
- Não seja tão pessimista! Por um carro, eu iria!

Eu soltei uma gargalhada extremamente alta. Mas ela seria abafada pela quantidade de gente gritando, conversando e pelas músicas dos anos 70, 80 e 90. Aleluia! Alguém lembrou que existem outras músicas! Quer dizer, algumas de Natal são legais... mas elas começam a encher o saco quando você só quer dormir na sua cama fofinha...
- Deus! Eu não escuto essa música desde... desde que eu fui à última festa de formatura! - Eu ri quando ouvi a melodia de YMCA tocar. Eu já disse que são nas músicas 'gays' que você conhece quem realmente está ao seu lado?
- O que deve ter sido há eras...
- Isso não foi simpático! E foi neste ano. - Eu sorri me levantando.
- Onde você vai? - Ele perguntou. Virei com a cara mais perversa que eu poderia fazer.
- Eu? Eu vou dominar o mundo. Mas, para simples mortais, como você, pode parecer que eu estou fazendo um Y, um M, um C e um A com meus braços. - Dei de ombros e logo depois senti duas mãos em meus braços, nas laterais.
- Creio que vá precisar de um ajudante, todo vilão tem. - Ele deu um sorriso lindo. Branquinho, retinho e harmonioso. Ok, talvez eu tenha sorte.
- Tudo bem, pode ser meu assistente burro. Essa coisa de dominar o mundo sempre tem um assistente burro.
- Eu até me ofenderia, mas tudo bem. Eu vou engolir essa. Afinal, você não me dedurou.
- É, e nem alertei que você pode rodar pela festa. Minha tia é capaz de te parabenizar por ser um penetra. Ela é meio estranha.
- Alguma vontade em prender minha atenção? - Ele sorriu, convencido.
- Não, na verdade eu usei a teoria do reverso. Pra ver se você procura outra companhia. Não precisa ficar comigo porque eu estou te encobrindo, entende? - Eu virei para onde estava a maioria das pessoas. Por que todo mundo dança virado para o centro da pista? Sorri, pela primeira vez eu dispensei um garoto sem ser extremamente ruim. Ofender alguém ou fazer uma careta. Eu estava ficando boa nisso!

Eu não sei porque eu os dispenso... é automático, como uma arma que dispara pra direção deles e os atinge em cheio. Mas parecia que meu colega não iria desistir. Eu senti braços envolverem minha cintura e uma cabeça se apoiar sobre a minha. Eu havia reparado nas mãos dele e os dedos foram fáceis de serem reconhecidos. Permaneci imóvel. Envergonhada e sem coragem o bastante para me mover.
- Eu estou com você porque eu quero ficar com você. - Ele sussurrou em meu ouvido.
- Arthur? Você andou bebendo muitas batidinhas? - Perguntei olhando para baixo. Meu rosto quase tão vermelho quanto a roupa do Papai Noel que estava rebolando ao lado da árvore de Natal.
- Não, você não gosta de beber. Não seria engraçado que eu bebesse sozinho. - Ele beijou minha bochecha.

Ok, isso já passou dos limites permitidos. Não vou ficar com um penetra que está sendo incrivelmente fofo comigo. Não fico nem com quem eu tenho algum interesse. Revirei os olhos e soltei as mãos dele da minha cintura. Ele me olhou como se já esperasse aquilo.
- Por que a gente não conversa? - Propus.
- E quanto a dominar o mundo? - Ele riu. - Tudo bem, a música já acabou. Mas se você pedir ao Gnomo que está colocando as músicas, pode ser que você consiga que ele coloque de novo.
- Tá... - Dei de ombros e fui andando para o meio da pista. Querendo me perder ali no meio.

Mas era uma festa de Natal, não algum baile organizado por um grande clube ou algo assim. Era só minha tia megalomaníaca querendo estrear o novo apartamento. Então, logo que eu achei o grupo do meus primos, senti que havia alguém ao meu lado. Eu vi a cara dos meus primos, como se dissessem "Olha, eles vão se pegar!" ou "Dá-lhe Luinha!", com aquele apelido de infância. Fiz minha cara de tédio, percebendo que eu era a única menina da rodinha.
Isso nunca ia acabar?
- Hey, só vim me despedir!- Dei um sorrisinho. Um beijinho na bochecha de cada um dos meus primos e acenei para os acompanhantes deles. Dei um sorriso tímido para o Arthur e fui atrás da minha mãe.

Ela estava tendo uma interessante conversa com minha tia. Cumprimentei-a e parabenizei pela festa. E como se eu tivesse falado que os filhos dela eram lindos, ela abriu o maior sorriso.
- O que você quer, meu anjo?- Minha mãe me perguntou.
- Eu poderia ir pra casa?
- Mas já?- Minha tia praticamente gritou.
- É, estou um pouco cansada.
- Mas, não. Sua mãe ainda está se divertindo! É cedo, meu amor!- Minha tia falou, olhando para minha mãe. - São duas e meia. Querida, nem entreguei seu presente!
- Ah, tudo bem! Mamãe pode pegar para mim. Eu peço pra Talita me levar pra casa. Sem problemas.
- Imagina! Vai tirar sua irmã da festa? - Minha tia ralhou.
- Ela pode voltar.- Dei um sorrisinho. - Bem, provavelmente eu estou indo pra casa. Então, se eu achar uma carona eu ligo pra senhora, mãe.
- Tudo bem. - Mamãe deu um beijinho na minha testa.

Eu saí para procurar alguma carona em potencial e dei de cara com o... é, com ele. Dei um sorriso e vi ele chacoalhar uma chave na minha frente.
- Vai me dar um carro é?
- Não, eu vou te dar uma carona.- Ele entregou a minha bolsa para mim e começou a me guiar para fora.
- Não, nem morta. Eu não vou sair daqui com um cara que eu nem conheço. Potencialmente você não pode me forçar a fazer coisas. Não que eu não tenha noção de autodefesa, mas não. - Eu me virei, com a minha bolsa, esperando a minha irmã aparecer, como se fosse mágica ou algo assim.
- Não seja tola. Eu não sou um malfeitor. E muito menos sou maníaco a ponto de sair estuprando garotas.
- Ah, e como você quer que eu defina um garoto que sabia meu nome, minha idade e agora quer me levar pra casa. E que antes eu nem conhecia?
- Talvez, como um garoto que estudou com você e você nem lembra a cara dele. E que desde o tempo em que você tinha uniformes do Ensino médio tem uma queda por você. Mas, você pode me chamar de maníaco.

Arregalei meus olhos.
- Ma...níaco!- Eu falei, com um fio de voz. Ele abriu um sorriso e revirou os olhos.- Quem era minha professora preferida?
- A de gramática.
- Minha matéria preferida?
- Biologia. Tá, melhor amiga também? Esquece. - Ele falou, frustrado. - Bem, você tem a opção de confiar em mim e chegar na sua casa antes que amanheça... ou ficar aqui andando pra lá e pra cá fingindo que se diverte, enquanto seus primos te olham com essa cara que você odeia enquanto pensam que vamos nos atracar a qualquer momento.
- Não é que eu não confie...
- Você não confia. Eu não posso simplesmente forçar você a isso. Eu posso muito bem ser um monstro na sua concepção. Mesmo quando no fundo... você está sendo um monstro para mim.

Já disse que eu 
odeio melodrama?
- Se eu estivesse sendo o monstro, você estaria aqui?

Ele abanou a cabeça. Como se espantasse um pensamento. Encarou meus olhos, angústia passando por entre as íris. Ele precisava que eu dissesse sim. Mas, por mais que eu tivesse um pouquinho de confiança nele (desenvolvida nesta noite) eu ainda tinha meu bom senso que gritava com uma voz aguda que eu não estaria segura indo para casa, sozinha, com um total desconhecido. Que na verdade parecia ser só um garoto fantástico que havia se interessado em mim há um tempinho. Uma frase: eu preciso começar a beber.
É, a bebida iria me deixar mais impulsiva e eu poderia seguir o caminho que eu realmente estou com vontade de seguir. E esse envolve minha casa com minhas coisinhas quentinhas e meu pijaminha novinho de algodão. Agora, o bom senso estava me dizendo que eu seria mutilada e não teria como usar meu pijama de algodão. E...
- Eu... eu tenho uma proposta. - Falei.
- Qual? - Ele parecia estar perdendo a paciência.
- Você pega o veículo e eu o dirijo até a minha casa. Depois disso, eu...
- VOCÊ O QUÊ?
- Não precisa gritar! - Olhei, ressentida. Eu nem dirijo tão mal. Só não tenho carteira.
- Você tem carteira?
- Você tem?
- Tenho.
- Ótimo, porque eu não tenho e vou precisar de alguém que saiba como dirigir. - ele abriu a boca. Colocou a mão na frente e abanou em negação.
- No. Meu. Carro. Não. - Falou com dificuldade. Homens e toda a adoração por veículos.
- Nada vai acontecer. Além disso, você bebeu.
- Eu já bebi mais que isso.- Ele falou. Na verdade, até eu já bebi mais que um gole de batidinha.
- Você não está confiando em mim... - Cantarolei.
- Você é que tem muita auto confiança. - Ele rebateu.

O problema é que quando eu proponho algo, dificilmente o acordo será diferente do que eu propus. É fácil manipular algumas pessoas para que elas pensem que minha idéia é a melhor. Porém, Arthur parecia ter uma cabeça de concreto e nem meus argumentos de reserva estavam adiantando. Ouvi ele suspirar e entregar a chave para mim.
- Eu espero, realmente, que você não me mate. - Ele falou enquanto olhava para o chão.

Ok, isso me surpreendeu muito. Ninguém que eu conhecia ia deixar que eu dirigisse pelas ruas movimentadas que teriam para minha casa. Mesmo que minha tia more a pouquíssimos metros de mim. Ela sempre dizia que do alto do apartamento dela poderia me olhar, então... AH MEU DEUS! Eu juro que nunca mais saio de pijamas para o quintal.
- Eu... - Sorri. - Eu não vou te matar. Quer dizer, eu ia perder muito. Além de um cara bacana eu iria morrer também. - Peguei a chave e saí saltitando pelo salão.

Não demorou muito para que eu estivesse com pedais e um volante à minha frente. Segui reto e logo após uma descida, uma subida, uma curva, reto a vida toda, outra curva, uma descida, reto um pouco, curva, reto mais um pouco, curva e reto. Pronto. Eu estava estacionando em frente à minha casa. Percebi que no percurso, Arthur vinha segurando o freio de mão e o suporte de apoio. Sabe aqueles conhecidos como 'puta que pariu'? Ele estava atento ao trânsito e parecia estar feliz que a vida dele estava salva. Acariciei sua orelha.
Ele quase saiu correndo do carro. Não era para tanto, mas ele parecia terrivelmente assustado. Qual é? Estamos vivos! Isso é o que basta. Ah, isso sem contar que não levei uma buzinada sequer e que o carro dele está em perfeitas condições. Eu nasci para dirigir. Só a auto escola que não acredita.
- Obrigada e, apesar de tudo isso, quer dizer... você merece um pouco da minha confiança. - Eu disse, olhando para o contador do painel.
- Qual é! Eu mereço muito da sua confiança! - Ele riu. Segurando minha mão que, ainda, acariciava a orelha dele. - E eu fico feliz que tenha me trazido até a sua casa. O que vamos tomar no chá?
- Não seja boboca!- Eu dei um risinho falso.
- É, eu sei. Você vai demorar para me chamar para o chá.
- Sim, eu, como uma britânica, tenho que ser insensível e...
- Luh? - Ele me interrompeu. Eu encarei seus olhos. Eles brilhavam na pouquíssima luz que o poste conseguia produzir. Eu senti minha mão gelar, repentinamente. Eu não sentia vento algum sair pelo meu nariz e não tinha idéia se era meu estômago ou qualquer outra coisa, que no momento estava se fazendo presente. Senti um frio na espinha e tudo que consegui foi sustentar o olhar dele.

Vi sua mão tirar a minha de sua orelha e repousar, docemente, sobre minha perna direita. Eu inspirei ar. Senti o polegar dele acariciar minha bochecha e instintivamente fechei os olhos. Senti lábios pressionando os meus. Não num beijo extremamente apaixonado ou sedento para ser aprofundado. Era só... um carinho. Era bom e por mais que esse tipo de beijo costumasse ser banalizado, com ele parecia ser tão importante, tão relevante e tão... incrível. Era como se por mais que ele tivesse esperado séculos para isso, ele teria toda a paciência do mundo para ir no meu ritmo. E se acostumar com as minhas regras.
Era como se ele dissesse que ele seria meu se eu deixasse ele fazer isso. Não era como se ele pedisse para ser amado. Era como se ele pedisse para eu deixar que alguém me ame. Eu dei um sorrisinho tímido e ele abriu a porta. E antes que eu pudesse puxar a maçaneta da minha, a porta já estava sendo aberta para mim. Dei um dos meus melhores sorrisos.
- Eu vou esperar você entrar. Durma bem. Espero que seus presentes façam o seu Natal ser um pouco melhor. - Dei um sorriso. Pegando a chave na minha bolsa e logo depois me perdendo na imensidão negra que estava no jardim. Abri a porta e tudo que lembrei foi que dormi embaixo do chuveiro e que, como caí na cama, fiquei.

E isso me causou dores no trapézio. Meu pescoço mal dava sinal de vida e eu poderia sentir que precisaria fazer exercícios de relaxamento. Comecei girando meu pescoço, fechando os olhos e tentando ignorar o incômodo. Depois fiz o que eu costumava chamar de 'olhada proibida', segurar uma bochecha para um lado e forçar para o outro. Mas, quando puxava meu pescoço em direção da janela e forçava para a porta, eu pude notar um pequeno embrulho ao lado dos papéis rasgados de ontem à tarde. (Eu sempre abro meus presentes antes!)
Era tudo que eu poderia querer para um momento daquele. Uma caixa de bombons suíços. Eu quase berrei de tanta alegria. Dei um pulo para fora da cama e a passos largos cheguei ao pacote. Tirei o lacinho e para minha total decepção a única coisa que havia dentro da caixa era uma mensagem:

Eu estou com seus lindos bombons, devolvo-os no dia 31.
X Arthur




FIM


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