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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Web's de Capitulo Único - À Italiana

À Italiana

Autora: Gigi B. | Beta-Reader: Brunna



Ela se balançava ao doce som do piano, movendo os quadris e a cintura delgada de um lado para o outro, seus cabelos cheios de ondas também a acompanhavam na dança, movendo-se delicadamente por suas costas.
Era Lua Tomazzine. Uma pequena indomável, como gostava de dizer. Sua filiação não era das melhores quando se põe em pauta o quesito “lar, doce lar”, mas era indiscutível o poderio dos Tomazzine na sociedade. Todos sempre sedentos por poder, conquista... Dinheiro.

Mas não Lua, ela era diferente. Gostava da sensação que as coisas perigosas a traziam, não sabia medir as palavras, tinha certa queda por armas brancas, repulsa por compromissos e família. Era um pássaro livre, gostava de esbanjar toda sua liberdade nos narizes daqueles que tinham medo de viver. Costumava dizer que teria tempo o suficiente para ligar para o que os outros pensariam quando estivesse deitada em seu caixão.

Sempre conversava demais, sorria demais, era inconsequente demais, porém, naquela noite em especial, estava calada, sem sorriso algum. Estava somente embriagada, mexendo-se ao som que o pianista ditava.

Do outro lado do salão alguém a observava calma e discretamente, pensando consigo mesmo o quanto seu vestido vermelho a fazia parecer ainda mais tentadora, muito embora tudo nela fosse tentador enquanto envolta na espessa camada de pecado que carregava.

Arthur Aguiar era sem dúvidas um homem ambicioso. Ambição que havia ganhado mais e mais espaço com a morte de seu pai e sua entrada a dianteira dos negócios da família. Era dono de um sorriso encantador, tinha um talento inigualável para oratória, assim como um orgulho que se tocado acarretaria em uma guerra mundial. Sempre fora controlador demais com tudo, afirmava repetidas vezes que deixar o controle das coisas de lado era pedir para perder tudo que conquistara com muito esforço. E foi deixando por um minuto o controle de lado que perdera Lua; iria se condenar até a morte por um dia tê-la deixado escorregar por entre seus dedo como a fina areia do deserto.

O homem ao seu lado não parava de falar algo sobre o comércio em Veneza (ou seria em Toscana?), tudo que queria poder fazer era mandá-lo se calar, mas não conseguia abrir a boca. Não enquanto Lu continuasse embalando-se nas notas do piano, com seu belo rosto torcido em decepção e embriaguez.

Seu coração apertou quando a música acabou e ela finalmente abriu os olhos, encontrando por acaso os seus. O castanho de sua íris ficou levemente mais claro, ele soube que ela choraria.

Um rapaz jovem aproximou-se dela sorrindo, estendendo-lhe a mão quando o pianista emendou outra música. A mulher educadamente recusou, Arthur pôde ler em seus lábios um: “Agora não, querido, não me sinto muito disposta.”. Sentiu-se internamente feliz quando ela sorriu e seguiu em caminho até o que ele pensava ser o banheiro.

Era sua oportunidade, a última, na realidade. Levantou-se e deixou o copo de conhaque sob o balcão do bar, o homem ao seu lado o olhou um tanto ultrajado por ter sido interrompido em seu longo monólogo sobre... Alguma coisa. Não se desculpou ou qualquer coisa do gênero, apenas acenou com a cabeça, indicando que iria sair, e apressou-se em direção ao banheiro.

A porta com um desenho de um homem segurando uma bengala ficava logo em frente da que tinha o desenho da mulher segurando um guarda-chuva aberto no ombro. Arthur parou entre as duas, pensou se deveria fazer aquilo ou não.

— Porra! — um murmúrio chamou sua atenção. Logo o som de metal sendo batido ecoou do banheiro feminino. Ele finalmente entrou.

Estava aparentemente vazio; as portas dos reservados estavam abertas, apenas uma ainda estava fechada. Sabia quem encontraria ali. Antes de seguir até lá trancou a porta de entrada, impedindo serem interrompidos em sua conversa por algum transeunte fofoqueiro.
O banheiro era grande, com grandes pias de mármore e um banco de nogueira perto da parede, em frente ao enorme espelho para, o que pensava Arthur, as mulheres poderem maquiar-se e maldizerem-se sobre o quanto estão gordas ou como seus cabelos nunca ficam como o esperado. Sentou-se no banco para esperar a mulher.

Era capaz de ouvi-la dizer diversos palavrões em italiano enquanto quebrava o reservado em que se encontrava. Ouviu o tampa do vaso sanitário bater com força e o zíper de sua pequena bolsa abrir. Sabia o que viria a acontecer. O som metálico que a pequena cigarreira cheia de vidrinhos compridos com tampinhas plásticas nas pontas, lotados de cocaína, fez ao bater contra a tampa do vaso foi alto. Quase podia ver a cena: Lua vasculharia a bolsa atrás do cartão de crédito e da nota de cem euros que sempre a acompanhavam, morderia os lábios de excitação quando os encontrasse. Despejaria o conteúdo de um vidrinho em duas linhas sobre a tampa e as arrumaria com o cartão de modo que ficasse fino o suficiente para poder inalá-las. Jogaria o corpo levemente entorpecido contra a porta do reservado para então poder sentir-se enérgica novamente. Sairia de lá em dois ou três minutos, tempo suficiente para que se recompusesse e então voltar à festa.

Ele ficou sentado ainda mais displicente quando ouviu a tranca do banheiro em que ela se encontrava abrir, olhou diretamente para lá, esperando a mulher sair.

Lu ajeitava o vestido quando se deparou com o homem sentado no banco do banheiro. Olhou-o com desprezo, caminhando até a pia para lavar as mãos.
— Pensei que você fosse das práticas que joga o pó entre o polegar e o indicador pra não dar muito trabalho.
— Nossa, por que mesmo me sinto tão surpresa em te encontrar aqui? — disse retórica, com certo desdém na voz — Só pra você saber, não sou uma vagabundinha drogada que quer matar logo o tremor nas mãos, pensei que soubesse que pelo menos classe eu tenho. — enxugou as mãos, virando-se para ele. — Afinal, o que você quer, Aguiar?

No fundo ele não sabia como responder essa pergunta, queria muitas coisas, e muitas delas envolviam a garota Tomazzine. Queria tão desesperadamente falar com ela, mas quando parou para pensar, na realidade não havia nada a ser dito. Sabia disso. Só tinha a necessidade de saber que suas palavras, por mais ásperas que fossem, estavam direcionadas a ele. Pois então de certa forma saberia que ainda existia para ela.

— E então...? — insistiu a garota.
— Queria falar com você. — disse simplesmente.
— Sobre o que?
— Eu... Não sei. — murmurou, confuso.

Os olhos castanhos da garota se estreitaram, ela jogou os cabelos para trás e voou decidida até ele, grudando a mão em seu queixo. Arthur não moveu um músculo sequer, apenas deixou a mão pequena e magra da mulher apertar seu rosto numa tentativa falha de lhe machucar.

— Quer ajuda pra escolher o nome da sua filha? É isso? — disse, carregando de sarcasmo a voz — Quer que eu ajude a escolher o vestido pra sua noiva? Ou quem sabe a igreja em que vão casar? — apertou ainda mais seu queixo e aproximou seus rostos — Talvez tenha vindo pra me convidar a fazer um ménage, afinal sou uma 
putana, não sou? — Arthur não acreditou em suas palavras, agarrou seu pulso cheio de ultraje — Foi o que você disse, não foi?

Ela o soltou num impulso e tentou soltar o pulso que ele apertava, sem lhe dar a chance de se libertar. Com a outra mão ela o acertou em cheio na face com um tapa cheio de raiva.

— Me solta, seu... — ela não conseguiu completar a frase, ele a arremessou contra o espelho, ouvindo um “crack” do mesmo ao rachar. Agarrou o frágil pescoço da italiana e a fez olhar em seus olhos enquanto arfava sem ar.
— Faça isso outra vez e eu mesmo te mato, Tomazzine. — rugiu entre dentes, apertando ainda mais a garota que estava prensada entre ele e o enorme espelho — Nunca te mal disse para ninguém, ragazza. Nunca pensei em fazê-lo.

Os olhos da garota quase escorriam lágrimas, estapeou de leve o braço que a sufocava, fazendo com que ele folgasse um pouco mais o aperto. Seu olhar ainda era carregado de desprezo.

— Não é o que parece, Arthur. — sibilou roucamente — Você é um merda, é isso que você é. Quando pensou que poderia me enganar, me trocando pela ragazza americana só por um capricho... Sim, você deixou bem claro que pra você, eu não passava de mais uma putana na sua vida.
— Isso não é verdade, Lu, e você sabe! — rugiu novamente, indo ainda mais para cima dela, levantando-a pelo pescoço.
— Não me chame de Lu como se fosse meu amigo ou algo assim. Eu não te conheço mais, seu bastardo filho de uma porca! — ela deu um soco mal dado em seu ombro, sentindo o ar faltar em seus pulmões, começou a engasgar nas palavras — Não consigo... Respirar. — suas mãos voltaram a bater nos ombros dele consecutivamente até largar seu pescoço.
Arthur não queria ter chego até aquele ponto, machucar Lua não estava em cogitação, mas ela era tão inconsequente com as palavras que o tirava do sério facilmente. Largou-a, deu dois passos para trás, correndo os dedos pelo cabelo de modo nervoso, vendo Lu quase escorregar do espelho ao chão com as mãos no pescoço, procurando desesperadamente por ar.

Se fosse qualquer uma, e não ela, dizendo aquelas barbaridades, ele simplesmente teria mandado com que desaparecessem com ela. Saberia que nunca mais teriam notícias da garota, a não ser no obituário dos jornais. Mas ela não era qualquer uma, por isso ele estava segurando sua cintura ao seu lado, dando sustento a ela, enquanto com uma das mãos tocava de leve seu rosto, tentando chamar atenção dos seus olhos. Quando finalmente conseguiu vê-los, castanhos e profundos, marcados por tristeza e amargura e as pupilas dilatadas pela cocaína, sentiu todos seus órgãos amassando-se dentro de si. Doce remorso.

Contornou com o indicador seus lábios, aproximando-se ainda mais da garota, que embora mantivesse o desprezo no olhar, não se afastou, apenas continuou o encarando com um ‘que’ de curiosidade. Não desconectou os olhares nem por um segundo, apenas apertou as pálpebras quando ele soltou o ar pesadamente perto de seus lábios, sabia o que aconteceria a seguir.

Sentiu seus lábios carnudos serem esmagados contra os de Arthur enquanto ele deslizava a mão por seu cabelo, puxando-a mais para si. Lua o agarrou pela nuca, arranhando-o com vontade, desceu as mãos e o fez tirar o paletó chumbo dos ombros. Ele, por sua vez, já havia cansado de puxar seus cabelos, logo uma diversão melhor era descer sua grande mão pelas costas da mulher e contorná-la pela frente, chegando aos seus fartos seios. Um gemido rouco escapou da boca dela quando ele os apertou, fato que o incentivou a repetir o ato. Ela soltou de sua boca, tombou um pouco a cabeça para o lado, oferecendo-lhe o pescoço para ser beijado, enquanto desatava o nó complicado da gravata que ele usava e desfazia-se dos botões da camisa. Suas unhas compridas arranhavam levemente toda a extensão do tórax ao abdômen dele, dedilhando delicadamente cada músculo que encontrava, contornando-o ao mesmo tempo em que sugava de modo sensual seu lóbulo da orelha. Deixava suas mãos irem até a parte baixa dos ossos do quadril do homem, tentando-o para então voltar lentamente até seus ombros.

Arthur sentia que a cada segundo que passava sua sanidade ia diluindo-se em sua corrente sanguínea indo para um lugar muito abaixo de onde deveria estar. Apertava Lua como se precisassem fundir seus corpos. A textura aveludada de sua pele obrigava-o a querer explorar novamente todos os cantos de seu corpo, pressionando deliciosamente os dedos nas curvas das coxas e dos seios dela, ouvindo-a ronronar ao pé de seu ouvido. Sentiu-a sugar seu pescoço de modo possessivo querendo marcá-lo onde pudessem ver, então fez o mesmo com ela, sugando um pouco acima de sua clavícula, onde o vestido não poderia esconder. Ela o puxou pelos cabelos e o beijou de forma descontrolada.

— Eu te odeio tanto, maledeto. — murmurou com a voz embargada, desfazendo o beijo.

Aguiar, de alguma maneira muito sagaz, desceu até a altura da cintura o belo vestido de seda vermelha da mulher finalmente revelando os seios macios dela que pediam por atenção. Tocou um deles, massageando-o bruscamente, ao outro desceu a boca torturando-o por alguns minutos, até a garota Tomazzine puxá-lo pelo cabelo e tornar a beijá-lo, vez ou outra lhe mordendo os lábios. Tomou impulso e jogou suas longas pernas bronzeadas e torneadas contra o homem, rodeando-o e forçando uma fricção entre suas intimidades.

Era capaz de sentir o membro dele pulsando entre suas pernas, assim como se sentia a beira da loucura com ele brincando de preliminares quando estavam em um banheiro de uma festa importante. Apertou-se mais contra ele e moveu os quadris de cima para baixo, esfregando-se, apressando-o. Recado que foi prontamente atendido.

Arthur deixou algum espaço entre seus troncos para as ágeis mãos de Lua fazerem algum trabalho, enquanto as suas estavam ocupadas em segurá-la pelas nádegas dando alguma sustentação. Beijava e sugava seu pescoço com algum resto de calma quando as pequenas mãos da garota fizeram sua calça ir ao chão e logo agarraram levemente seu membro, massageando-o em lugares estratégicos, como sabia ser de seu agrado. Murmurou algum palavrão nos cabelos da mulher e logo a mordeu. Mesmo com a péssima posição para tal prática ela não parou até ele implorar aos grunhidos ao seu ouvido para que não o torturasse.

Ele afastou sua calcinha para o lado e ela o ajudou a penetrá-la lenta e tortuosamente. Um gemido ou um breve suspiro foi tudo a ser escutado.

Arthur começou a investir contra ela, movendo-se mais e mais rapidamente contra seu quadril. Sentia as pernas da mulher apertarem-se ao seu redor, e numa tentativa um pouco falha de conter os gemidos - que as vezes escapavam – ela lhe mordia o ombro, arranhava as costas sem piedade. Ele sabia ser forte e incisivo em suas investidas, mas tinha ciência de que ela não alcançaria o ápice tão fácil quanto ele, então deslizou os dedos para tocá-la em seu ponto de prazer, sentindo ela se contrair ao seu redor e tornar a morder seu ombro.

Seus corpos já se encontravam suados, Lua respirava com alguma dificuldade. Lançava-se contra ele, rebolando sobre seu membro, tentando acabar logo na sensação de aprisionamento que era a do pré-orgasmo. Seus dedos dos pés começaram a formigar e seu abdômen foi esquentando gradualmente, gemeu por antecipação, apertando-se ainda mais contra Arthur. Os espasmos se espalharam por seu corpo, assim como o calor e o torpor, perdeu-se por alguns segundos no misto de sensações que lhe percorria. Ele foi logo depois, derramando-se dentro dela, abraçando-a forte.

Com alguma dificuldade desceu ela ao chão novamente e tentou sem sucesso beijá-la, pois ela virou o rosto e se pôs a arrumar a roupa e o cabelo desalinhado. Arthur apenas subiu a calça e recolocou o paletó. Viu Lu jogar a bolsa sobre o balcão da pia e abri-la, procurando a cigarreira, fazendo novamente o que havia feito no reservado. Cheirou as duas carreiras de cocaína com certa pressa, segurando em sua testa logo depois.

Olhou-se no espelho vendo suas próprias pupilas dilatarem agressivamente, sentiu a energia dentro de si revigorar. Mas havia uma mescla estranha entre o nojo e a raiva que estava sentindo e a vontade de manter Aguiar ao seu lado. E infelizmente, o nojo e a raiva vinham em maior quantidade.

— Agora já pode voltar gratificado pra sua ragazza americana. — sibilou — Fodeu uma putana no banheiro no meio de uma festa que o pai dela está dando de presente de noivado para ela. Felicidade é o que não falta!
— Pare de falar assim, Lua. Isso é uma ordem.
— Querido — disse sarcasticamente —, você se acha tão dono do mundo... Mas não passa de um nada. É tão desprezível quanto um mendigo na calçada esperando por umas moedinhas depois de tocar violão. Eu poderia ter te feito tão grande, um homem de verdade, não esse garotinho assustado. Entretanto, a sua americana é tão melhor do que eu, não é? Engravidou só pra ter dinheiro e poder ir à Champs Elysées no verão, isso eu posso lhe garantir. — em certo ponto ela parou de simplesmente falar, passando a grunhir com ódio, sacudindo o dedo indicador no rosto do homem — Minha sorte foi nunca ter tido um coração, porque senão todo esse ódio e essa vontade de mandar te matar seriam somente dor e lágrimas. E eu prefiro mil vezes te ver morto cheio de buracos no peito do que me ver chorando e sofrendo por alguém como você. — cuspiu as palavras.
— Pare de mentir pra si mesma, Lua. Eu mesmo te vi quase chorando no salão quando a música acabou. E nós dois sabemos muito bem o motivo. — ele não se mostrava nem um pouco acuado com as palavras agressivas da mulher, nem por seu dedo quase se encostando a seus olhos, apenas pegou novamente seu pulso e a puxou mais para perto — Sinto muito por estar me casando com a Madison e tendo uma filha, foi um erro de percurso.

Lu gargalhou alto, jogando a cabeça para trás. Não podia acreditar que um homem de negócios fosse tão ingênuo quanto ele era.

— Não estava quase chorando por você, Arthur. Estava quase chorando por mim mesma, porque apesar de tudo, tenho muita sorte na vida. Sabe a linda música que estava tocando antes de eu vir para cá? Era meu noivo quem estava tocando... Ele a compôs para mim. — disse em um tom puramente sarcástico, tentando e conseguindo atingi-lo — Porque ele sim me ama, sempre me amou. E nunca vai me trocar por uma yankee qualquer, pois ele sabe o significado da palavra honra.
— E você, Lua? Quem é você pra falar de honra e amor, quando estava agora pouco estava transando comigo em sua própria festa de noivado?
— Alguém muito melhor que você, pois pelo menos eu estou me casando com Pietro por amá-lo, não por uma obrigação. E quanto à honra... Bem, podemos dizer que o que acabamos de fazer foi para honrar meu pai.

Arthur olhou-a cheio de confusão. Afinal, do que estava falando?

— A história do contrabando com os seus amigos yankees deixou papai muito zangado. O que fazer quando somos nós que plantamos as sementes do futuro? — sorriu sarcástica. — Não fique triste, a rapidinha foi legal, mas foi apenas para te manter paradinho aqui.
Ele ficou momentaneamente sem reação, tentando entender o que ela havia dito. O barulho da porta sendo destrancada o fez despertar a tempo de ver três homens conhecidos entrarem pelo recinto: O pai de Lua, seu tio e um capanga deles.

Sabia o que aconteceria, mas não esperava ver aquela que era sua garota sorrindo perante isso. Ela foi até o pai e o beijou no rosto, repetindo o ato no tio. Virou-se para ele cheia de desprezo e sorriu.

— Você escolheu isso, Aguiar. — ao parecer, atualmente seu tom de voz era sempre o sarcástico.
— Perdão o atraso, filha. — murmurou o pai de Lua, fazendo-a virar-se novamente — Obrigado por ocupá-lo para mim.
— Só certifique-se de que ele morra rápido, pai. — sussurrou a mulher. Apesar de tudo, aquele desgraçado ainda tinha algum significado em sua vida.

Ele não parecia assustado ou com medo, muito embora estivesse. No momento ele deveria odiá-la com todas as forças por tê-lo feito perder o controle esquecer-se de que não deveria nunca ter estado ali. Mas não conseguia, pois mesmo seu sorriso sarcástico, seu olhar de desprezo e suas tentativas de machucá-lo... Ele a amava. Sabia disso. Sempre soube. Mas era homem, nunca conseguiria admitir aquilo em voz alta, não enquanto não fosse a última chance.

 Lu... — chamou-a em voz alta pelo apelido. Ela estava quase alcançando a porta, voltou-se furiosa para ele, enquanto os homens na sala apenas o olhavam com curiosidade.
— Não me chame de Lu! — grunhiu pronta para xingá-lo mais.
— Te volgio bene.

Seus grandes olhos castanhos se encheram de lágrimas, sentiu seu coração ameaçar parar, porém continuou forte, tentando mais uma vez agir como se não tivesse sentimentos. Travou o maxilar, assim como as mãos e disparou sem ao menos pensar:

— Então me ame no inferno.

Saiu sem olhar para trás, batendo os saltos contra o chão rapidamente até o núcleo da festa.

Dentro do banheiro, Aguiar sabia o que o esperava, talvez dois tiros no peito, uma surra épica ou que cortassem seus polegares. Ou talvez eles fossem mais ‘velha guarda’ ainda e o fizessem engolir cimento, quem sabe o amarrariam pelos tornozelos na traseira de um caminhão e o arrastariam pela cidade até que seus ossos estivessem parecendo um ralador de queijo. Sabia que nada de bom sairia ali de dentro, desde que entrara na festa sabia que as coisas terminariam mal.

 Arthur, você traiu nossa amizade de todas as maneiras possíveis. — disse o pai de Lua cruzando os braços na frente do peito. — Traiu nossa sociedade e minha filha, traiu toda a confiança da família quando se envolveu com os yankees. Você sabia que estaria sendo caçado por todos nós, então por que diabos veio aqui, moleque idiota? — grunhiu o homem, avançando para cima de Arthur, que continuou imóvel e mudo. — Me responda, agora.
— Vim por Lua, precisava falar com ela. — disse após longos segundos em silêncio.
— Falar o que, Aguiar?
— Nada em específico, apenas falar com ela. — murmurou, tendo como resposta um soco na boca do estômago, o fazendo procurar por ar.
— Fale comigo como um homem, maledeto. Por que veio atrás da minha filha? — o pai de Lua lhe deu outro soco, dessa vez em seu supercílio, fazendo-o soltar um gemido de dor e nada mais. — Vou ter que repetir a pergunta? — dessa vez deu-lhe um chute nas costelas e não parou mais até ele soltar alguns múrmuros inaudíveis com a boca repleta de sangue, abaixou-se mais segurando o rapaz ensanguentado pelo colarinho. — Repita em voz alta, por que veio atrás da minha filha?
— Porque eu a amo. Porque não quero que ela se case com esse babaca. Porque não quero que ela me odeie, mesmo eu merecendo. Eu a amo, Dom Tomazzine, eu amo a maledeta da sua filha. — disse em plenos pulmões apesar da dor no peito e da falta de ar.

O homem o largou com força contra o chão abismado e caminhou até o irmão, que ainda estava com a expressão inabalável no rosto. Sussurram algo entre si e logo ele voltou para perto de Arthur, com um sorriso maldoso no rosto.
— Então você a ama, não é? Bem, nesse caso você não precisa morrer, pois já é castigo suficiente ver a mulher que você ama escapar por entre seus dedos por uma idiotice sua. Não pense que é só eu virar as costas e você vai tê-la novamente, porque se você encostar um dedo que seja nela, eu juro que tiro sua pele, jogo sal em você e te deixo contorcer até a morte. Entretanto — continuou enquanto dava as costas para o rapaz no chão —, você e sua mulher yankee têm até segunda de manhã para desaparecem da Itália, sem contato nenhum com a Família, nunca mais. Caso contrário, a yankee e o bebê vão conhecer a verdadeira dolce vita. Capicce?

Arthur nada disse novamente, apenas ficou calado no chão, digerindo as palavras. Ouviu alguém estalar os dedos e a porta do banheiro bater duas vezes. Não acreditou quando o perfume da Tomazzine o intoxicou, mas ainda assim continuou imóvel com ela parada a sua frente.

— É realmente desapontador te ver vivo, mas ainda mais te ver nesse estado. — a mulher se ajoelhou em sua frente segurando seu queixo, em seus olhos não já havia mais desprezo, somente um pouco de dor. — Droga, Arthur, eu te odeio tanto por fazer isso comigo, é inumano, e ainda assim eu te amo. — o abraçou fracamente, soluçando em seu ombro.
— Eu não queria te machucar. — murmurou ele, percebendo agora que eles estavam sendo observados pelo capanga do Tomazzine. — Lua, eu amo você, só me perdoe antes de eu ir embora.
— Não consigo, não dá. — disse em meio ao choro. — Que merda, Arthur, era pra você ter morrido agora, pelo menos assim nada seria dividido, eu não precisaria me casar com Pietro e a sua yankee não teria nome. — explodiu, afastando-se dele.
— Eu vou embora, você nunca mais vai ouvir falar de mim.
— Machuca do mesmo jeito. Não se perde fácil assim uma marca feita a brasa. — soluçou, limpando as lágrimas em frente ao espelho. — Adeus, maledeto. — murmurou antes de sair pela segunda vez do banheiro.

Não houve beijo de despedida, juras de amor ou proposta de fuga. Nada era seguro naquele meio, não quando se cresce na máfia. Apenas o que ambos tiveram foi um coração tristemente partido e nada que lhes avisasse que ainda restava alguma chance futura, não enquanto existissem aquelas linhas que os separavam chamadas orgulho e responsabilidade.



F I M



Créditos: Fanfic Obession 

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