Capítulo
8 p.1 - Denominação.
As palavras que eram
proferidas pelos lábios finos de Chay Suede deixavam-me a cada
segundo mais atordoada. Chegava a ser ridículo o que me propunha e me
impressionava saber que Arthur não mexia um músculo em contestação. Minha
paciência aos poucos se esvaía, assim como a calma dos meus neurônios, aqueles
responsáveis pelo tom de voz, principalmente.
- Não concordo. - Disse rabugenta cruzando os braços - Não sou social, não tenho o dom da palavra e nem sou Barbie para ficar sorrindo o tempo todo. Eu sou a design da revista, não estou apta à uma conferência e muito menos se deve a mim a responsabilidade de salvar a empresa. Por que você não acha outra pessoa para ir?
Chay sorriu discretamente. Encarei suas íris brilhantes e não precisei me concentrar muito para perceber que ele tinha a resposta na ponta da língua. Logo, o olhar do arquiinimigo virou-se para Arthur (lê-se deus grego), que suspirou fundo e pressionou os lábios um contra o outro, relaxando os ombros e virando-se para mim.
- Nós confiamos em você. - disse Arthur, numa tentativa muito das espertas de me desarmar - Você é inteligente, atraente e capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo.
- Pode me chamar de multifuncional também. Máquina multifuncional. Eu ganho a mais por isso, por acaso? - resmunguei irritada.
Thur riu baixinho balançando a cabeça e a bola de 'Vamos convencer a Blanco' passou para Chay.
- Quando você fala de arte e música, Lua, seus olhos brilham. Você se torna social, ganha o dom da palavra e fica muito pior do que a Barbie, sorrindo sem parar. - disse Chay
- E é exatamente isso que nós precisamos nessa conferência em Nova York, Lu. Precisamos de alguém que impressione, que faça com que os acionistas e investidores voltem a pensar na London Music como A revista, exatamente como antes. - acrescentou Thur.
Eles queriam realmente me convencer a viajar para Nova York que, para mim, era uma cidade de fantasmas do passado, fantasmas que ainda me atormentavam; queriam que eu fosse lá, para uma tal conferência a qual faria a London Music voltar a ser a mesma, voltar com todo seu prestígio. Como faria isso? O que diria aos acionistas? O que poderia fazê-los vir? Só se eu fosse uma prostituta de luxo ou algo do tipo. Nesses momentos eu desejava ser poderosa como a Audrey Hepburn ou como qualquer uma daquelas divas de cinema. Eu queria poder fazer aquilo tudo por eles, mas não sabia como. Antes fosse algo que eu soubesse fazer naturalmente, como desenhar, que por acaso era o meu ofício.
Definitivamente eu não era a pessoa que eles procuravam. Eu era aquela que eles desejavam e não era para impressionar acionistas.
- Lu, nós precisamos de você - disse Thur, olhando-me nos olhos daquele jeito completamente encantador e sexy, que apenas ele era capaz de fazer. Não se voluntária ou involuntariamente, mas levei aquela frase a dois sentidos completamente distintos. - E acrescentando, eu não a considero apenas uma design.
Devido à ansiedade e ao turbilhão de pensamentos que faziam prós e contras na minha mente, passei a arranhar levemente meus joelhos descobertos, fazendo caminhos tortos, dispersa. Isso atraiu os olhos de Thur que, ao meu lado, desceu seu olhar maliciosamente para a tensão das minhas pernas, inspirando o ar profundamente. Eu senti um certo conforto com aquilo, era bom ser desejada, bom demais. Desejada e respeitada... Digo, esquecendo a parte do respeitada; suspirei fundo ao notar que finalmente havia chegado à minha conclusão.
- Só pode ser um complô. - falei finalmente, a testa franzida em desconforto. - Eu quero um extra por isso.
- Isso é um sim? - perguntou Chay e eu assenti, balançando a cabeça positivamente e rolando os olhos.
- Birrenta - disse Thur, e eu notei sua voz muito próxima, sua respiração tocando no meu pescoço. Logo, senti seus lábios depositando um demorado beijo em meu pescoço e não demorou para que uma de suas mãos segurassem meu queixo e virassem para o rosto dele. Numa bipolaridade incrível, eu via o rosto dele com uma calma impassível. Decorava cada traço, cada curva, cada toque de perfeição; lia os poros da sua pele, os pontos de barba, as sobrancelhas desajeitadas. Os olhos e boca eram minhas perdições mais impuras, mais viciantes; eu podia passar horas apenas observando-o e mais horas ainda beijando-o; talvez anos delirando nos braços dele. Acordando-me de meu súbito derretimento, Chay pigarreou, mas não por isso eu ou Thur paramos no que estávamos prestes a fazer.
Eu podia sentir meu ego gozar, o poder vingativo o havia alimentado naquele momento. Chay ia sentir a dor que senti quando o vi com Mel, diversas vezes, até mesmo naquela festa. Ele ia ver que havia perdido para o Coringa: Era uma vez Gotham City, eu estava dominada.
Beijei suavemente os lábios de Thur num selinho demorado, apaixonado, puxando o ar com mais força pelas minhas narinas. Mesmo com o aroma avassalador do perfume de Thur, eu ainda sentia, longinquamente, um outro perfume, do outro chefe. Mais presente ainda, era cheirinho de vingança, tão deliciosa vingança. Segurei o rosto de Thur para separar-nos antes que ele resolvesse fazer mais alguma coisa indecente na frente de Chay, como um beijo de verdade. Eu ansiava por sua língua quente, mas não tardei a me afastar - com um breve sorriso - e voltar à posição normal.
- Pornografia - bufou e reclamou Suede, abrindo uma gaveta em sua escrivaninha e pegando alguns papéis.
Por mais que tivesse saciada com uma vingança boba, no fundo do meu coração de neve e gelo, sentia certa clemência por Chay. Mas ele merecia aquilo. Quem havia me trato com tamanha arrogância e prepotência foi ele. Quem havia me feito de gato e sapato foi ele; quem havia judiado da minha paciência e do meu trabalho foi ele. Quem havia negligenciado os meus sentimentos e necessidades humanas, mais uma vez, foi ele. Era um merecedor de cada estocada de ciúme que poderia corroer suas células.
Olhei para Thur e avistei-o sorrir bobo. Era engraçada sua expressão; principalmente para mim, que mal me acostumava com um Thur divertido. Ele ainda me parecia como um muro, um grande muro; eu não sabia quem era ele, ou melhor, qual dos dois Thur's que conheci era realmente ele. Tanto tempo com um chefe insuportável e algumas horas com um cara apaixonante, muito mais do que aparência e charme.
- Então, Srta. Blanco... Já enviei à sua secretária as passagens de ida e volta. Serão três dias lá e, como agradecimento de nossa parte, digo, da parte da Music London, estamos oferecendo-lhe um dia de folga, onde poderá andar pela Big Apple sem compromissos.
- Obrigada por isso.
- É apenas política de empresa. - Chay respondeu friamente,
- Obrigada, política de empresa. - agradeci brincalhona e vi Chay esforçar-se para manter a pose. Diga-se de passagem, eu achava aquela pose dele bem insuportável.
- Você parte daqui a onze dias, ou seja, na quarta-feira da semana que vem. O resto das informações eu já passei para Jen e ela lhe passará mais detalhadamente.
- Tudo bem.
Alguns constrangedores segundos de silêncio permaneceram na climatizada sala e eu encarava minhas mãos, só para não ter que subir o olhar para qualquer um deles. Assustava-me.
- E... Thur não sabia dessa história, não? - perguntei, lutando contra o ar sombrio e pesado que se instalava quando nós três estávamos juntos.
- Não, por isso que ele está aqui. - disse Suede ríspido.
- Hum...Entendo. - falei baixinho. Juntando as informações, acabei por notar que aqueles elogios feitos há pouco haviam sido completamente espontâneos da parte do meu chefe. Que... Meigo?
Faltei engasgar com o adjetivo utilizado. Não suportava relações melosas demais, palavras melosas demais. Grude. Eca.
Relaxei os ombros e então me coloquei melhor na cadeira, ajeitando a saia improvisada para baixo.
- Então é isso. Conferência, viagem na quarta-feira, informações com Jen. - falei pausadamente - Espera, eu vou sozinha?!
- Bem, nós ainda vamos decidir isso. Estou pensando em deixar Emily ir com você, mas não sei ainda, as despesas...
- Eu não quero ir sozinha. Eu não vou sozinha. Arranje-me companhia.
- Você não deu essa condição antes, agora já aceitou ir! - resmungou Chay, sério.
- Aceitei ir, mas posso voltar atrás e recusar. A condição é essa e se você não quiser, problema é todo e completamente seu. - ralhei.
- Meu e do seu outro chefe. - ele falou com uma cara de superior.
- Seu e do meu outro chefe, exatamente. Trabalho é trabalho, não vamos confundir as coisas, não é Suede? Afinal, você é que é o especialista nisso.
- O que você quer dizer com isso, Blanco? - perguntou, a fúria transparecendo em suas feições.
Thur assistia aquilo com certa dose de divertimento em sua expressão.
- Ora ora, mais dissimulação? Como então Mel anda sendo promovida? Tenho certeza que não é pela excepcionalidade de seus textos. - disse, ainda querendo jogar na cara dele a semana passada, mas orgulhosa demais para tanto.
- Você está sugerindo que...
- Não estou sugerindo, Chay, meu velho amigo. - interrompi-o - Estou afirmando, jogando na sua cara a mais pura verdade. Verdade não é uma coisa em que você esteja muito acostumado, não é?
- Arthur, controle sua mulher. - murmurou Chay para Thur, que apenas sorria.
- Ela não pertence a mim... ainda. Para quê controlar essa fera? Ela está me seduzindo desse jeito, não é Lu? - sorriu largamente - irritada e birrenta. Um amor de mulher.
"É que você irritada fica uma gracinha!" Recordei-me da sua frase hilária.
- Deixe Aguiar fora disso. Você pode ser meu chefe e eu sua subordinada, mas eu não sou escrava e muito menos sou otária para não notar seu joguinho. E meu instinto capitalista me informa que você devia aceitar minhas condições se ainda quer ganhar alguma coisa com essa revista.
Chay bufou fortemente, bagunçando os cabelos com uma das mãos numa atitude de desespero.
-Ok, Blanco, que seja.
Sorri vitoriosa.
- Mais alguma coisa, Chay?
- Senhor Suede...
- Chay. - repeti, fazendo-o rolar os olhos em desaprovação.
- Não, minha cara Lu, pode ir. - disse ele, frisando bem o meu apelido. Por mais que havia sido posto com certa ironia, eu ainda podia ouvir sua voz pronunciando meu apelido daquele modo carinhoso, cauteloso. Antes disso tudo. Também sentia-me estranha por estar invertendo os papéis, ora tratando Chay bem e Thur mal, ora tratando Chay mal e Thur bem. Apenas confundia-me cada vez mais.
Inspirei todo ar possível e soltei-o devagar, levantando-me da cadeira.
- E esses papéis, Chay? - Thur perguntou, enquanto ainda levantava-se.
Chay olhou para os papéis em sua mão e fez uma expressão de surpresa.
- Ah, sim, é claro. - disse - Estes são para você. - entregou-me uma leva - e estes para você, sócio.
Examinei os papéis que havia recebido e percebia que eram os folhetos da conferência, fotos e críticas sobre as passadas, além de orientações.
- Obrigada. - disse sincera com um breve sorriso nos lábios.
-De nada, Blanco. - Chay respondeu baixinho.
Os próximos minutos que se sucederam houve uma das despedidas mais tensas que já participei e, salva pelo gongo (lê-se Emily), consegui sair de lá viva e inteira. Eu e Thur descemos juntos o elevador até a garagem e então eu notei que estávamos, digamos, seguindo os mesmos passos. Não tinha noção de quais seriam as próximas ações, principalmente quando estas se referiam a mim. Derrotando meu orgulho idiota e deixando de lá minha fome pelo controle da situação, perguntei:
- Chefe, posso saber onde estamos indo? - perguntei parando de andar. Thur virou o rosto para mim, meio que me medindo; eu estranhei. - Aqui em cima, Thur. - disse rindo e acenando. Ele finalmente tirou os olhos do meu corpo para sorrir e olhar nos meus olhos. Perdi-me naqueles globos Castanhos devastadoramente apaixonantes e sorri sem graça, retribuindo.
Ele veio para perto de mim, maroto, e segurou minha cintura com as duas mãos, puxando o meu corpo para o seu, forçando um choque mecânico que fez todas as minhas células tremerem; satisfeitas. Num processo antagônico se comparado ao outro chefe, este era capaz de fazer com que o ar dançasse feliz nos meus pulmões e eu sentia meu sangue mais puro, mais limpo; sentia meu coração borbulhar. O outro era exatamente e coincidentemente o contrário: o ar não entrava, o sangue não pulsava e meu coração não dava qualquer sinal de vida; era como um choque epiléptico, estático, imóvel, inconsciente.
- Nós vamos para onde você quiser. - sussurrou em meu ouvido. Tirou os cabelos do pescoço, explicitando a pele lisa e vulnerável, deslizando seus lábios quentes e sua respiração descompassada por toda aquela extensão. Comprimi um gemido, apenas sendo capaz de suspirar pesadoramente, a boca semi-aberta.
- Não concordo. - Disse rabugenta cruzando os braços - Não sou social, não tenho o dom da palavra e nem sou Barbie para ficar sorrindo o tempo todo. Eu sou a design da revista, não estou apta à uma conferência e muito menos se deve a mim a responsabilidade de salvar a empresa. Por que você não acha outra pessoa para ir?
Chay sorriu discretamente. Encarei suas íris brilhantes e não precisei me concentrar muito para perceber que ele tinha a resposta na ponta da língua. Logo, o olhar do arquiinimigo virou-se para Arthur (lê-se deus grego), que suspirou fundo e pressionou os lábios um contra o outro, relaxando os ombros e virando-se para mim.
- Nós confiamos em você. - disse Arthur, numa tentativa muito das espertas de me desarmar - Você é inteligente, atraente e capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo.
- Pode me chamar de multifuncional também. Máquina multifuncional. Eu ganho a mais por isso, por acaso? - resmunguei irritada.
Thur riu baixinho balançando a cabeça e a bola de 'Vamos convencer a Blanco' passou para Chay.
- Quando você fala de arte e música, Lua, seus olhos brilham. Você se torna social, ganha o dom da palavra e fica muito pior do que a Barbie, sorrindo sem parar. - disse Chay
- E é exatamente isso que nós precisamos nessa conferência em Nova York, Lu. Precisamos de alguém que impressione, que faça com que os acionistas e investidores voltem a pensar na London Music como A revista, exatamente como antes. - acrescentou Thur.
Eles queriam realmente me convencer a viajar para Nova York que, para mim, era uma cidade de fantasmas do passado, fantasmas que ainda me atormentavam; queriam que eu fosse lá, para uma tal conferência a qual faria a London Music voltar a ser a mesma, voltar com todo seu prestígio. Como faria isso? O que diria aos acionistas? O que poderia fazê-los vir? Só se eu fosse uma prostituta de luxo ou algo do tipo. Nesses momentos eu desejava ser poderosa como a Audrey Hepburn ou como qualquer uma daquelas divas de cinema. Eu queria poder fazer aquilo tudo por eles, mas não sabia como. Antes fosse algo que eu soubesse fazer naturalmente, como desenhar, que por acaso era o meu ofício.
Definitivamente eu não era a pessoa que eles procuravam. Eu era aquela que eles desejavam e não era para impressionar acionistas.
- Lu, nós precisamos de você - disse Thur, olhando-me nos olhos daquele jeito completamente encantador e sexy, que apenas ele era capaz de fazer. Não se voluntária ou involuntariamente, mas levei aquela frase a dois sentidos completamente distintos. - E acrescentando, eu não a considero apenas uma design.
Devido à ansiedade e ao turbilhão de pensamentos que faziam prós e contras na minha mente, passei a arranhar levemente meus joelhos descobertos, fazendo caminhos tortos, dispersa. Isso atraiu os olhos de Thur que, ao meu lado, desceu seu olhar maliciosamente para a tensão das minhas pernas, inspirando o ar profundamente. Eu senti um certo conforto com aquilo, era bom ser desejada, bom demais. Desejada e respeitada... Digo, esquecendo a parte do respeitada; suspirei fundo ao notar que finalmente havia chegado à minha conclusão.
- Só pode ser um complô. - falei finalmente, a testa franzida em desconforto. - Eu quero um extra por isso.
- Isso é um sim? - perguntou Chay e eu assenti, balançando a cabeça positivamente e rolando os olhos.
- Birrenta - disse Thur, e eu notei sua voz muito próxima, sua respiração tocando no meu pescoço. Logo, senti seus lábios depositando um demorado beijo em meu pescoço e não demorou para que uma de suas mãos segurassem meu queixo e virassem para o rosto dele. Numa bipolaridade incrível, eu via o rosto dele com uma calma impassível. Decorava cada traço, cada curva, cada toque de perfeição; lia os poros da sua pele, os pontos de barba, as sobrancelhas desajeitadas. Os olhos e boca eram minhas perdições mais impuras, mais viciantes; eu podia passar horas apenas observando-o e mais horas ainda beijando-o; talvez anos delirando nos braços dele. Acordando-me de meu súbito derretimento, Chay pigarreou, mas não por isso eu ou Thur paramos no que estávamos prestes a fazer.
Eu podia sentir meu ego gozar, o poder vingativo o havia alimentado naquele momento. Chay ia sentir a dor que senti quando o vi com Mel, diversas vezes, até mesmo naquela festa. Ele ia ver que havia perdido para o Coringa: Era uma vez Gotham City, eu estava dominada.
Beijei suavemente os lábios de Thur num selinho demorado, apaixonado, puxando o ar com mais força pelas minhas narinas. Mesmo com o aroma avassalador do perfume de Thur, eu ainda sentia, longinquamente, um outro perfume, do outro chefe. Mais presente ainda, era cheirinho de vingança, tão deliciosa vingança. Segurei o rosto de Thur para separar-nos antes que ele resolvesse fazer mais alguma coisa indecente na frente de Chay, como um beijo de verdade. Eu ansiava por sua língua quente, mas não tardei a me afastar - com um breve sorriso - e voltar à posição normal.
- Pornografia - bufou e reclamou Suede, abrindo uma gaveta em sua escrivaninha e pegando alguns papéis.
Por mais que tivesse saciada com uma vingança boba, no fundo do meu coração de neve e gelo, sentia certa clemência por Chay. Mas ele merecia aquilo. Quem havia me trato com tamanha arrogância e prepotência foi ele. Quem havia me feito de gato e sapato foi ele; quem havia judiado da minha paciência e do meu trabalho foi ele. Quem havia negligenciado os meus sentimentos e necessidades humanas, mais uma vez, foi ele. Era um merecedor de cada estocada de ciúme que poderia corroer suas células.
Olhei para Thur e avistei-o sorrir bobo. Era engraçada sua expressão; principalmente para mim, que mal me acostumava com um Thur divertido. Ele ainda me parecia como um muro, um grande muro; eu não sabia quem era ele, ou melhor, qual dos dois Thur's que conheci era realmente ele. Tanto tempo com um chefe insuportável e algumas horas com um cara apaixonante, muito mais do que aparência e charme.
- Então, Srta. Blanco... Já enviei à sua secretária as passagens de ida e volta. Serão três dias lá e, como agradecimento de nossa parte, digo, da parte da Music London, estamos oferecendo-lhe um dia de folga, onde poderá andar pela Big Apple sem compromissos.
- Obrigada por isso.
- É apenas política de empresa. - Chay respondeu friamente,
- Obrigada, política de empresa. - agradeci brincalhona e vi Chay esforçar-se para manter a pose. Diga-se de passagem, eu achava aquela pose dele bem insuportável.
- Você parte daqui a onze dias, ou seja, na quarta-feira da semana que vem. O resto das informações eu já passei para Jen e ela lhe passará mais detalhadamente.
- Tudo bem.
Alguns constrangedores segundos de silêncio permaneceram na climatizada sala e eu encarava minhas mãos, só para não ter que subir o olhar para qualquer um deles. Assustava-me.
- E... Thur não sabia dessa história, não? - perguntei, lutando contra o ar sombrio e pesado que se instalava quando nós três estávamos juntos.
- Não, por isso que ele está aqui. - disse Suede ríspido.
- Hum...Entendo. - falei baixinho. Juntando as informações, acabei por notar que aqueles elogios feitos há pouco haviam sido completamente espontâneos da parte do meu chefe. Que... Meigo?
Faltei engasgar com o adjetivo utilizado. Não suportava relações melosas demais, palavras melosas demais. Grude. Eca.
Relaxei os ombros e então me coloquei melhor na cadeira, ajeitando a saia improvisada para baixo.
- Então é isso. Conferência, viagem na quarta-feira, informações com Jen. - falei pausadamente - Espera, eu vou sozinha?!
- Bem, nós ainda vamos decidir isso. Estou pensando em deixar Emily ir com você, mas não sei ainda, as despesas...
- Eu não quero ir sozinha. Eu não vou sozinha. Arranje-me companhia.
- Você não deu essa condição antes, agora já aceitou ir! - resmungou Chay, sério.
- Aceitei ir, mas posso voltar atrás e recusar. A condição é essa e se você não quiser, problema é todo e completamente seu. - ralhei.
- Meu e do seu outro chefe. - ele falou com uma cara de superior.
- Seu e do meu outro chefe, exatamente. Trabalho é trabalho, não vamos confundir as coisas, não é Suede? Afinal, você é que é o especialista nisso.
- O que você quer dizer com isso, Blanco? - perguntou, a fúria transparecendo em suas feições.
Thur assistia aquilo com certa dose de divertimento em sua expressão.
- Ora ora, mais dissimulação? Como então Mel anda sendo promovida? Tenho certeza que não é pela excepcionalidade de seus textos. - disse, ainda querendo jogar na cara dele a semana passada, mas orgulhosa demais para tanto.
- Você está sugerindo que...
- Não estou sugerindo, Chay, meu velho amigo. - interrompi-o - Estou afirmando, jogando na sua cara a mais pura verdade. Verdade não é uma coisa em que você esteja muito acostumado, não é?
- Arthur, controle sua mulher. - murmurou Chay para Thur, que apenas sorria.
- Ela não pertence a mim... ainda. Para quê controlar essa fera? Ela está me seduzindo desse jeito, não é Lu? - sorriu largamente - irritada e birrenta. Um amor de mulher.
"É que você irritada fica uma gracinha!" Recordei-me da sua frase hilária.
- Deixe Aguiar fora disso. Você pode ser meu chefe e eu sua subordinada, mas eu não sou escrava e muito menos sou otária para não notar seu joguinho. E meu instinto capitalista me informa que você devia aceitar minhas condições se ainda quer ganhar alguma coisa com essa revista.
Chay bufou fortemente, bagunçando os cabelos com uma das mãos numa atitude de desespero.
-Ok, Blanco, que seja.
Sorri vitoriosa.
- Mais alguma coisa, Chay?
- Senhor Suede...
- Chay. - repeti, fazendo-o rolar os olhos em desaprovação.
- Não, minha cara Lu, pode ir. - disse ele, frisando bem o meu apelido. Por mais que havia sido posto com certa ironia, eu ainda podia ouvir sua voz pronunciando meu apelido daquele modo carinhoso, cauteloso. Antes disso tudo. Também sentia-me estranha por estar invertendo os papéis, ora tratando Chay bem e Thur mal, ora tratando Chay mal e Thur bem. Apenas confundia-me cada vez mais.
Inspirei todo ar possível e soltei-o devagar, levantando-me da cadeira.
- E esses papéis, Chay? - Thur perguntou, enquanto ainda levantava-se.
Chay olhou para os papéis em sua mão e fez uma expressão de surpresa.
- Ah, sim, é claro. - disse - Estes são para você. - entregou-me uma leva - e estes para você, sócio.
Examinei os papéis que havia recebido e percebia que eram os folhetos da conferência, fotos e críticas sobre as passadas, além de orientações.
- Obrigada. - disse sincera com um breve sorriso nos lábios.
-De nada, Blanco. - Chay respondeu baixinho.
Os próximos minutos que se sucederam houve uma das despedidas mais tensas que já participei e, salva pelo gongo (lê-se Emily), consegui sair de lá viva e inteira. Eu e Thur descemos juntos o elevador até a garagem e então eu notei que estávamos, digamos, seguindo os mesmos passos. Não tinha noção de quais seriam as próximas ações, principalmente quando estas se referiam a mim. Derrotando meu orgulho idiota e deixando de lá minha fome pelo controle da situação, perguntei:
- Chefe, posso saber onde estamos indo? - perguntei parando de andar. Thur virou o rosto para mim, meio que me medindo; eu estranhei. - Aqui em cima, Thur. - disse rindo e acenando. Ele finalmente tirou os olhos do meu corpo para sorrir e olhar nos meus olhos. Perdi-me naqueles globos Castanhos devastadoramente apaixonantes e sorri sem graça, retribuindo.
Ele veio para perto de mim, maroto, e segurou minha cintura com as duas mãos, puxando o meu corpo para o seu, forçando um choque mecânico que fez todas as minhas células tremerem; satisfeitas. Num processo antagônico se comparado ao outro chefe, este era capaz de fazer com que o ar dançasse feliz nos meus pulmões e eu sentia meu sangue mais puro, mais limpo; sentia meu coração borbulhar. O outro era exatamente e coincidentemente o contrário: o ar não entrava, o sangue não pulsava e meu coração não dava qualquer sinal de vida; era como um choque epiléptico, estático, imóvel, inconsciente.
- Nós vamos para onde você quiser. - sussurrou em meu ouvido. Tirou os cabelos do pescoço, explicitando a pele lisa e vulnerável, deslizando seus lábios quentes e sua respiração descompassada por toda aquela extensão. Comprimi um gemido, apenas sendo capaz de suspirar pesadoramente, a boca semi-aberta.
Creditos: Fanfics Obession



pura perfeição!! amo d+ essa web
ResponderExcluirLua e Arthur puro amor ^_^
Arthur e sua tara pelo pescoço da lua
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