capitulo 24 e 25
Sexta-feira, dia 6 de Novembro, 11:03, educação física.
Girls:
- Não acredito que ele fez isso! - Rayanna exclamou.
- Que idiota! - Sophia disse, nervosa. - Meu Deus, nunca pensei que ele pudesse ser tão imbecil!
- Nem eu. - respondi, catatônica.
- O que você vai fazer sobre isso? - Mel perguntou, pois sabia que eu não deixaria barato uma situação daquelas.
- Nada que ele não mereça. - respondi, dando de ombros.
Elas se entreolharam. Sabiam que minhas vinganças
eram radicais, e não podiam nem imaginar o que eu faria com o lindinho
rosto de Thur, que por algumas horas pensei que fosse um rosto
verdadeiro.
Como pude ser tão idiota?
Nós estávamos descendo a rampa para as quadras,
onde aconteciam as aulas de educação física, e mesmo clima ensolarado
não estava me deixando feliz. Na verdade, tudo o que eu queria era
quebrar a cara de alguém.
E esse alguém sabia quem.
De qualquer jeito, eu meio que já esperava por
aquilo. Quero dizer, ele havia feito isso com todas as outras pessoas
como eu, por que comigo seria diferente? Só por que eu o estava
ajudando? Por que ele olharia por esse lado? Arthur Aguiar não precisava
pensar nessas coisas, pois todos queriam ser seus amigos, mesmo ele
pisando nas pessoas como se fossem formiguinhas.
Ah, mas comigo não seria assim.
Não senhor.
Se ele pensava que eu tinha sangue de barata, estava muito enganado.
Como já diria o grande filósofo Seu Madruga: “A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena!”
Arthur Aguiar que me aguardasse…
Sexta-feira, dia 6 de Novembro, 11:27, diretoria.
Thur:
Bom, por mais que tudo aquilo fosse o pior que
poderia ter me acontecido, eu meio que não estava tão surpreso. Quero
dizer, eu sabia que Lua era osso duro de roer. Claro que nunca pensei
que fosse tão dura àquele ponto, mas tudo bem… Aquele era um modo de eu
me redimir com ela. Ou de ela se vingar de mim, o que se você parar pra
pensar, dá na mesma.
- Arthur Aguiar? - a cabeleira loira e bem cuidada
da diretora Mary apareceu pelo vão da porta. Ao contrário do que a
imagem negativa de senhora malvada dizia, nossa diretora era bem nova e
muito bem cuidada.
Ô lá em casa…
Levantei-me com dificuldade, pois minha bunda ainda
doía. Meus braços estavam esfolados e meu rosto com resquícios de lama
dura. Quem me visse de fora pensaria que eu havia levado o tombo do
século. Ninguém poderia imaginar que tudo aquilo era uma pequena
vingança de uma punk nerd.
Entrei na sala da diretora e ela fez sinal para que eu fechasse a porta.
- Senhor Aguiar… Como vai você? - ela perguntou, batucando com uma caneta na tampa de vidro da mesa.
Sentei-me lentamente.
- No momento não muito bem, como você pode reparar. - respondi, abrindo os braços para que ela pudesse me analisar.
- Sim, isso eu pude ver muito bem. - ela apertou os
pequenos olhos de raposa, estalando o lábio em seguida. - Bom, eu já
ouvi a versão da Alana - ao ouvir esse nome, um calafrio subiu pela
minha espinha -, agora quero ouvir a sua.
- Bom, tudo começou quando…
Flashback on.
Eu estava descendo para a educação física sozinho.
Ouvia Beatles no meu iPod e, de longe, observava Lua, que descia mais a
frente, conversando com as amigas. Enquanto andava e a observava,
tentava criar uma desculpa convincente na minha cabeça para dar à ela.
Tinha consciência do que havia feito, e estava mais do que arrependido.
Não se humilhava uma pessoa daquele jeito, de maneira alguma, ainda mais uma pessoa que estava te ajudando.
E que provavelmente fosse sua obsessão nos últimos dias.
Quando estava quase chegando às quadras, perdi-a de
vista, mas assim que contornei a pista de corrida, encontrei-a em um
canto isolado com Alana Memphis.
Gelei.
O que Lua poderia querer com Alana Memphis, uma repetente do primeiro ano?
Algo estava muito errado ali. Porque, vejam bem, Alana não era o tipo de menina que não faz mal a ninguém.
Ela era amedrontadora.
E não era pra menos: Tinha 1,86m, pesava 172kg,
tinha barba e bigode, lutava boxe, pintava o cabelo chanel de roxo e
tinha dois alargadores de 30mm na orelha.
Na real? Eu me cagava de medo perto de Alana Memphis!
Escondi-me atrás das arquibancadas para poder
ouvi-las melhor, pois sabia que Lua estava aprontando algo contra mim. E
se esse algo envolvia Alana Memphis, eu precisava me preparar
psicologicamente.
- …100 reais e não se fala mais nisso. - Lua sussurrou, pegando duas notas na carteira.
- Fechado. - Alana concordou, com a voz mais grave que a minha, fechando o acordo ao pegar as duas notas da mão de Lua.
Agachei-me como um criminoso, e observei as duas
seguirem caminhos distintos. Tinha a impressão de que Lua estava me
olhando com o canto dos olhos, mas imaginei que fosse somente uma peça
da minha consciência e continuei ali, estático.
Olhei para Alana, que se afastava como um elefante,
e Lua, que balançava a cabeça ao ritmo da música que tocava no seu
iPod, indo em direção às quadras cobertas, onde faria educação física.
Olhei novamente para Alana, e ela se dirigia aos últimos prédios.
Decidi seguir Alana ao invés de Lua, para ver qual seria o seu misterioso plano.
Ledo engano.
Mal sabia eu que era exatamente isso que Lua queria. Como um patinho, caí na sua armadilha.
Segui Alana por debaixo da arquibancada até ela
entrar atrás de um prédio e eu a perder de vista. Saí do meu esconderijo
e caminhei como uma sombra por entre os prédios. Fui encontrá-la
novamente ao lado do vestiário feminino, amarrando os cadarços. Passei
correndo por trás dela e fui para os fundos do prédio.
A tinta amarela da parede do fundo estava toda
preta, e alguns cacos de vidro e pontas de baseados descansavam no chão.
A única coisa material ali era um caixote de madeira, que estava
estrategicamente localizado embaixo da única janela da parede. Olhei
para um lado, depois para o outro. Sem nem pensar, subi em cima do
caixote e abri a janelinha emperrada. Coloquei minha cabeça para dentro
do vestiário e só pude ver Alana olhando com cara de sacana pra mim,
antes de dar um grito ensurdecedor e me assustar. Bati a cabeça na
moldura do vidro e fiquei tonto, me desequilibrando e caindo do caixote
em cima de uma moita de folhas ásperas.
Quando finalmente consegui me levantar, meus dois
braços estavam ensanguentados. Bati com as mãos na minha calça suja de
barro e senti duas mãos segurarem meus ombros.
Virei-me lentamente.
- Me bisbolhotando, Aguiar? - ela perguntou, sarcástica.
Olhei para um lado e depois para o outro.
Antes que pudesse pensar em algo para responder, me
vi correndo pelo campão, com Alana no meu calcanhar. Todos os alunos
que estavam na educação física nos observavam, pois o grito de Alana
despertara a curiosidade em todos, enquanto eu corria esbaforido dela -
nunca pensei que corresse tão rápido.
Corri em círculo por uns bons cinco minutos,
gritando para ela parar pra eu poder explicar o que havia acontecido,
mesmo sabendo que ela já sabia o que havia acontecido, até que tropecei
em um montinho irregular de grama e caí de cara numa poça de lama.
- Isso é pra você aprender a respeitas as pessoas! -
Alana grunhiu atrás de mim, me dando um chute bem dado nas costelas.
Virei-me de barriga pra cima com dificuldade, limpei os olhos e observei
todos os alunos que faziam educação física tirarem fotos de mim com
seus celulares e apontarem para mim, rindo.
No plano de fundo, pude ver Lua.
Ela gargalhava.
Flashback off.
- E foi isso que aconteceu. - terminei, satisfeito com a minha narrativa.
- E você acha mesmo que eu vou acreditar nessa
história fantástica envolvendo uma de minhas melhores alunas, que nunca
me deu trabalho e nunca veio até mim por mau comportamento? - ela
perguntou, me olhando por cima dos óculos Armani preto.
- Hm… Sim? - perguntei, sorrindo como criança.
- Saia já da minha sala, Aguiar. - ela disse,
nervosa. - Dois dias de suspensão pra você, e eu quero seu pai na minha
mesa na quarta-feira com sua suspensão assinada.
- Meu pai? Por quê? - berrei, pois aquele era meu único ponto fraco.
- Sem porquê, Aguiar, saia! Observar garotas no
vestiário seria motivo de expulsão, mas como eu gosto muito do sr., eu
vou perdoá-lo dessa vez. Mas não abuse da minha boa vontade!
Saí da sala puto, batendo a porta.
Se Lua queria guerra, guerra ela teria!
continua.....
Nossa. Vingança cruel.
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