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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Three Cheers For Sweet Revenge


Capitulo 12 e 13

Cap 12 How You Remind Me
No momento em que senti os lábios de Pedro se prensarem contra os meus, ao contrário do que imaginava, nada senti.
Havia idealizado aquele momento por tantos meses que, agora, não fazia sentido.
Nossos lábios não pareciam se encaixar perfeitamente. Eu não senti nenhuma movimentação dentro de mim. Nenhuma palpitação, agitação. Nada de mãos suado, coração batendo rápido, respiração falhando... 
A única imagem que veio em minha cabeça fora a de Arthur. Seus olhos e seus lábios que me completavam.
Afastei Pedro de imediato, e reparei em seus olhos confusos.
Respirei, jogando a franja para trás, tentando me acalmar. Agora havia alguma agitação dentro de mim.
- Me desculpa, eu... Eu estou confusa.
A verdade era que não havia confusão alguma. Eu finalmente sabia o que queria.
- Mas... Não era o que você queria? – o garoto me perguntou atordoado.
Aquilo era o que eu pensava que queria. O tempo todo me enganando, tentando cegar-me diante da presença de Arthur, e o quanto ele significava pra mim. Eu só não queria ver o que estava bem em minha frente, por medo de admitir que era apaixonada por Arthur e ver o novo eu do garoto me magoar. Eu não podia me dar àquele luxo.
E também tinha a doce vingança. Que me cegara de tal modo que me incapacitou de ver a verdade, de escutar meu coração. A vingança, no fim das contas, era um prato que se comia frio. 
Naquele momento, lembrei-me do caminho que me levou até ali.
E se eu nunca tivesse inventado que namorava Pedro? Será que Arthur e eu estaríamos juntos? Será que seríamos um daqueles casais que eu tanto suspirava ao ver em um romance? 
Com certeza nossas vidas estariam menos complicadas. Giovana poderia ter tentado nos separar, mas eu tinha minhas dúvidas de que conseguiria. Eu não teria me mudado para a Alemanha. Não teria sido expulsa de casa. Poderia ter minha banda com Arthur. Viajaríamos o mundo. Nós poderíamos estar felizes como nunca.
Como eu fui parar ali, naquela confusão? Tantas pessoas e tantos corações partidos... Tudo por um erro do passado?

"Depois do escândalo com Chay, de Giovana me humilhar publicamente, fazer com que meu namorado pensasse que eu era uma prostituta e ter todos os olhares da Drayton direcionados a mim, eu não sabia o que fazer. Estava desesperada. Perambulava pelas ruas pensando em uma solução, em um meio de Pedro ver como aquilo era absurdo. 
Eu jamais ficara com Chay. Ele era meu melhor amigo, minha válvula de escape. Como ele podia acreditar nas palavras cruéis de Caldwell?
Eu ligava desesperada, mas a Sra. Cassiano inventava uma desculpa para não colocá-lo na linha. Batia em sua porta, e nunca o encontrava. Pedro parecia estar não indo mais à escola. Talvez tudo aquilo também fosse humilhante para ele.
Sophia me dizia para dar tempo ao tempo, mas eu não conseguia mais esperar.
Eu não aguentava mais os olhares.
Mas minha mãe insistia que eu devia continuar indo ao colégio e enfrentando aquilo como adulta. Eu não era adulta. Eu não queria ser, queria simplesmente fugir.
Quando resolvi agir, coagi Giovana no corredor em um intervalo entre aulas. Eu precisava saber o por quê. Ela achava que eu estava tendo um caso com Chay?
- Você sabe que eu não fiquei com Chay!
Foi a primeira coisa que pensei e disse. A loira fechou seu armário, que era ao lado do meu, e olhou tediosamente para os lados. Completamente cínica.
- Você é tão boba, ... Tão inocente... – ela rebateu, medindo-me dos pés à cabeça. Colocou as mãos na cintura e me encarou. Nunca havia visto tal expressão. Era um misto de fúria, tédio e diversão. Era uma pessoa que eu jamais conheci. – É claro que você não ficou com Chay...
Foi como um tapa estralado em minha face. Então ela tinha certeza. Então não era uma desconfiança. O que era tudo aquilo?
A garota pareceu perceber meu choque e bufou antes de soltar uma risada irônica.
- Oh , você me cansa! – disse com diversão, aproximando-se. – Essa sua cara de anja, como se fosse a pessoa mais pura desse mundo! Deixe de ser falsa!
Giovana gritava, e me deixava confusa. Eu não era pura. Não era falsa! O que diabos isso significava?
- Eu queria que todos vissem o quão suja você é. Que de pura e de inocente, não tem nada, que é uma verdadeira vadia!
- Do que está falando? Eu jamais fiquei com Chay, por que está me chamando de vadia? 
Eu já tinha o mesmo tom de Giovana, e me segurava para manter o limite da paciência.
- Você ficou com Pedro! Você transa com Arthur por todos os lugares e quer que eu não a chame de vadia? 
- O que você tem a ver com isso? Você é o que, Jesus para me julgar? - rebati, quase agarrando seus cabelos. 

- Vadia. Vadia, vadia, vadia! – Giovana gritava e, num impulso, dei-lhe um tapa tão forte que pude ver minha mão marcada em seu rosto.
A garota suspirou, mostrando o choque em sua face e segurando o local em que eu gentilmente toquei.
- Isso, Lua. Liberte-se! Mostre quem você é!
- Cala essa boca! - ordenei, fechando as mãos em punhos e me controlando para não esmurrá-la. 
Giovana aproximou-se mais de mim, de modo que nossos rostos ficassem muito próximos. 
- Eu vou te tirar do caminho, Lua. Vou te tirar de uma vez por todas. Estou farta de você, de Chay falando o tempo inteiro de você, de Arthur correndo atrás de você, de Pedro babando em cima de você! Tudo é você, você, VOCÊ! Pois você não vai ser ninguém depois que sair da minha vida e de todos dessa escola.
Eu não sabia do que ela estava falando. Estava tão absorta com suas palavras, com o veneno jorrado de seus lábios peçonhentos... Eu não sabia como uma pessoa podia ser como a Giovana... Tão... Mesquinha, infantil, ridícula e medíocre. O que era aquilo, uma briguinha de terceira série?
Caldwell me empurrou e eu tropecei em meus próprios pés, caindo no chão. Por um momento, não sabia o que fazer. Estava tão contemplativa, tão chocada com aquelas palavras vindas da minha melhor amiga, que não conseguia mover.
Vi Giovana pegar o cadeado do meu armário e girar a senha no mesmo. O que ela estava fazendo? Eu queria me levantar, porque cada movimento dela me assustava, e o pensamento sobre o que ela poderia fazer me assombrou. 
A loira tirou um pequeno embrulho de dentro de seu casaco e sorriu. Um sorriso maléfico, que fez tudo dentro de mim se revirar, fez meus olhos formigarem e meu cérebro se congelar. O que ela estava segurando naquele embrulho?
A garota fez o que eu temia. Colocou o embrulho dentro do meu armário e, com um último sorriso e antes que eu pudesse mover um músculo, Giovana gritou.
- Diretor Spancer, aqui!
Olhei para os lados e vi uma pessoa estendida no final do corredor, observando toda aquela cena com uma expressão de choque, ainda assim sem se mover. Calliope.
- O que pensa que está fazendo? - gritei, conseguindo finalmente me levantar e avançar no pescoço de Giovana. Derrubei a garota no chão e minhas mãos começaram a socá-la por vontade própria. Eu sabia o que tinha naquele embrulho. Eu sabia o que Giovana estava fazendo. Ela queria acabar com a minha vida.
Meu punho não se continha e dava murros em seu rosto perfeito.

*


- Por que você quer acabar com a minha vida? POR QUE, GIOVANA? - eu soluçava, gritava, me desesperava, chorava. Como alguém podia ser tão má? Como alguém podia fazer isso com a melhor amiga?
- SOCORRO! DIRETOR SPANCER, SOCORRO! - ela gritava enquanto o sangue começava a escorrer por seus lábios.
No instante seguinte, senti-me sendo puxada e toda aquela cena parecia mover-se em câmera lenta. Meus braços sendo segurados por dois policiais, enquanto o diretor de cabelos ruivos vinha em direção da garota um tanto quanto ensanguentada e estatelada no chão. Ele a levantou, preocupado, e a garota apontou para meu armário. Sua expressão cínica se tornara em uma vitimada. Ela estava se fazendo de inocente, violentada, agredida. 
O corredor estava abarrotado de pessoas. Murmúrios, sussurros, gritos. Todos muito piores do que os de antes. Mas eu não os enxergava. Tudo o que eu via era o teatro de Giovana. Outro policial indo até meu armário e pegando o pacote que a garota havia implantado ali minutos antes.
- Cocaína, senhor.
Encarei o policial. Eu queria gritar e dizer que aquele pacote não era meu, que Giovana tinha armado tudo. Mas som algum saía da minha garganta. Eu tentava, tentava e tentava, mas não conseguia. Tentei me desvencilhar das mãos dos policiais que me seguravam, mas só fui repreendida ainda mais. Eles apertavam meus braços com tanta força que poderiam arrancá-los.
- Então é você que anda traficando drogas na escola? Uma garota como você, Lua? Como foi capaz? – o diretor cuspiu aquelas palavras sem pudor algum. Tudo que eu conseguia fazer era negar com a cabeça, ainda sem emitir som. – Demorou um tempo, mas finalmente a pegamos...
- Ei, o que está acontecendo? - uma voz ecoou em meus pensamentos, e vi Arthur se desvencilhar do mar de pessoas e aparecer na minha frente. – EI, TIRE AS MÃOS DELA!
O garoto gritou com os policiais, e por mais que eu tentasse escapar, eu não tinha forças.
- Tirem-na daqui! – Spancer ordenou, sobre sussurros e murmúrios. Sussurros e murmúrios que machucavam meus ouvidos, que me machucavam como se me estapeassem. 
- SOLTE-A! - Arthur gritou. Ele não podia fazer nada. 
- Me soltem! - consegui dizer, gritando e me debatendo.
- SPANCER, FALE PARA SOLTAREM-NA! – o garoto gritava contra o diretor, e suas vozes pareciam cada vez mais distantes à medida que eu era arrastada por entre aquelas pessoas chocadas. Eu só conseguia ver Spancer negando, enquanto Arthur começava a correr em minha direção, com uma expressão tão desesperada quanto a minha. - Não era meu, Arthur... Não fui eu que... – gritei por entre lágrimas, ainda me debatendo inutilmente.
- Eu sei! Eu sei!
E então ele parou de correr quando os policiais abriram a porta do carro e me jogaram lá dentro."

- Eu preciso ir, Pedro... – afastei-me do garoto, deixando-o ainda mais atordoado. Eu não me importava. Minha consciência estava limpa, e eu nunca me senti tão leve, tão livre... Todo aquele peso fora tirado de cima de mim, e podia ver as coisas como eram. Podia escutar meu coração, agora que ele não estava cheio de raiva e vingança.
Sorri e depositei um beijo em sua bochecha antes de sair do gramado do campo. Eu queria ver só uma pessoa. Queria abraçá-lo na frente de todos, finalmente dizer que o amava. Queria fazer amor sem culpa. Queria simplesmente... fazer amor. Como nunca havíamos feito antes. Ou como havíamos feito pela primeira vez.
Mas eu não o via por ali... Era um amontoado de pessoas, eu me costurei por entre elas, com um sorriso estampado no rosto. Exalava felicidade por ter acabado aquilo, e queria Arthur para compartilhar aquele momento.

Foi aí que meu sorriso se desmanchou. Meus olhos ficaram vazios. Meus pés fincaram-se no chão.
Arthur estava mais à frente, perto do bar. Com um copo de uísque em uma mão, e a cintura de uma garota na outra.
Mas não era uma garota qualquer. Seus cabelos loiros e brilhantes pareciam ofuscar minha visão. 
Seus lábios estavam colados e eles se beijavam fervorosamente.
Senti-me apunhalada. Literalmente. 
Doeu. Algo doía dentro de mim, uma dor tão insuportável que não contive as lágrimas que brotaram imediatamente e caíram sem pedir permissão. Uma dor que consumia cada parte de mim, tortuosamente. 
Arthur a soltou. Sua expressão era de ódio. A expressão dela era de prazer.
Giovana sibilou algo e saiu dali, encontrando com meus olhos.
Ela sorriu de uma maneira que eu já vira antes. Aquele sorriso infernal. 
Veio em minha direção, como se fosse em câmera lenta. Talvez meu cérebro estivesse deixando de trabalhar.
- Viu? Eu sempre consigo o que quero...
Suas palavras fizeram a dor aumentar. Eu estava desmoronando, e não sabia como me mantinha em pé.
Quando ela passou por mim, meus olhos voltaram para Arthur. Ele bebeu o líquido de seu copo em um gole e pegou outro que já o esperava de prontidão. Não tardou em bebê-lo.
E como usual, o olhar de Arthur foi atraído pelo meu.
Os olhos vermelhos, cerrados, e uma expressão que transbordava ódio. Um ódio que eu jamais vira antes. 
E ele também veio em minha direção. Em câmera lenta. Suas mãos em punho, as narinas dilatadas, os lábios prensados, o cabelo desordenado, os quatro primeiros botões da camisa desabotoados. 
Quando finalmente parou em minha frente, eu não conseguia conter o choro que desabava em minha face sem pudor, que me deixava completamente frágil e vulnerável.
Eu não sabia o que estava acontecendo. Por que ele estava beijando Giovana?
- Pare de chorar...
Sua voz era rude, furiosa, seca. Seu hálito estava inebriado de álcool. 
- Arthur, o que...
- PARE DE CHORAR!
Eu suspirei, assustada, amedrontada. O que tinha acontecido?
- Você... – ele parou por alguns instantes, cambaleando sobre os próprios pés, fazendo esforço para se manter firme. Apontou o dedo em meu rosto. – Você é o pior tipo de vadia que existe. Eu pensava que Giovana era a rainha das vadias, mas ela não chega aos seus pés...
Eu nunca havia escutado aquele tom vindo dele. E isso fizera a dor se tornar insuportável. Por mais que eu dizer algo, falhava. Chorar era tudo o que conseguia fazer, e eu me martirizava por dentro. 
- Eu falei pra parar de chorar! – ele gritou novamente, jogando o copo de vidro bem longe. Pude escutar o eco do vidro se quebrando, e de praxe, toda a atenção fora direcionada a nós. - COMO EU FUI ACREDITAR EM VOCÊ? – se descabelou, completamente fora de si. - MEU DEUS, COMO EU POSSO SER TÃO BURRO?
- Arthur, pare de gritar... – pedi num sussurro, sendo aquele o único som que consegui emitir. – Por que você está fazendo isso?
- POR QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO ISSO? ESSE DRAMA? ESSAS LÁGRIMAS? – o garoto começou a rir. – QUER QUE TODOS PENSEM QUE É BOAZINHA?
As palavras antes ditas por Arthur nunca soaram tão cruéis. Eu queria que as lágrimas secassem.
Ele estava drogado, era isso? Giovana o drogara! Era a única explicação para ter deixado Arthur daquela maneira!
- VOCÊ FAZ ESSA CARA DE SANTA... SÓ PRA CONSEGUIR O QUE QUER... – ele mal conseguia se manter em pé, apontando o dedo em minha face e me julgando por algo que eu não sabia ter feito. – E você consegue... Não consegue?
Ele parecia se acalmar, e então vi lágrimas rolarem de seus olhos vermelhos. Puxou os próprios cabelos enquanto sacudia a cabeça.
- Ei, o que está acontecendo? - Pedro saiu por entre as pessoas e a confusão já instalada em seu rosto aumentou ao ver Arthur naquele estado.
- Pedro, é melhor você sair... - Arthur disse sem encarar Pedro, ainda com as mãos entre os cabelos.
- Por que você estava gritando? – o outro quis saber, ignorando o aviso do amigo.
-PEDRO, SAIA DAQUI! 
Pedro estava aturdido, olhando para mim a fim de uma resposta, mas eu nada sabia dizer. Arthur estava descontrolado.
- VOCÊ É UMA VADIA, LUA!
Fechei os olhos, pedindo que aquilo tudo não passasse de uma ilusão, de um pesadelo. Mas a voz de Arthur me trazia para a realidade.
- Vamos sair daqui, ele está bêbado...
Senti os braços de Pedro envolverem minha cintura e finalmente fazerem meus músculos se moverem, mas no mesmo instante senti Pedro sendo puxado e vi Arthur atingir-lhe em cheio a barriga.
- VOCÊ NÃO VAI A LUGAR ALGUM!
- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – vi Micael gritar e aparecer com Sophia, e escutei todos aqueles sussurros e murmúrios voltarem a me atormentar.
- Ela também te enganou? - Arthur ignorou os amigos e se direcionou a Pedro, que tentava se recompor do murro que acabara de levar. – ELA TE ENGANOU PELA MILÉSIMA VEZ! 
O garoto começou a rir, enquanto parecia ainda mais fora de si.
-ARTHUR , PARA! – eu consegui gritar, vendo o desespero me abraçar por completo.
- CALA A SUA BOCA!
Eu nunca o vira daquela maneira. Eu nunca vira ninguém daquela maneira.
Nunca senti tanto medo. Arthur estava me assustando de uma maneira terrível, e eu não conseguia reconhecer parte alguma daquele garoto que estava gritando na minha frente.
- Eu pensava que era burro, mas você, Pedro... Você me supera... – ele dizia com um cinismo estrondoso, rindo na cara de null. – Caiu DE NOVO na mentira dela! - Arthur apontava em minha direção.
Pedro se levantou, balançou a cabeça e veio até mim, puxando-me novamente para sair dali. Daquela vez, eu não conseguiria andar. Eu não sentia mais meu corpo, não sentia mais nada. Apenas as lágrimas que queimavam tudo por onde passavam.
- QUER SABER POR QUE ELA NUNCA TE FALOU SOBRE A VIRGINDADE DELA?
Meu corpo se congelou. Assim como o de Pedro ao meu lado, que parara de andar no mesmo instante.
- CALA ESSA BOCA, ARTHUR! – gritei novamente, indo de encontro com o garoto e empurrando seu corpo com toda a força que tinha. Ele começou a rir, num misto de desespero e fúria.
- Quer saber?
Eu não queria mais ouvir. Não queria que ninguém mais ouvisse. Por que ele estava fazendo aquilo? Por que toda aquela raiva repentina?

E de repente, tudo fez sentido.

Arthur vira Pedro me beijando.
Era isso, não tinha outra razão!
Mas ele não vira que eu empurrara Pedro?
De qualquer maneira, era tarde. Eu não podia mais ficar ali.
- Vamos sair daqui, Pedro!
Meu desespero era avassalador, consumia e corroía cada parte viva dentro de mim.
Puxei o braço do garoto, andando a passos largos, driblando as pessoas para fugir dali.
- ELA NUNCA TE FALOU NADA, PORQUE A PRIMEIRA VEZ DELA FOI COMIGO!
Fechei os olhos. Tudo aquilo tinha que ser um sonho. Não podia ser realidade, aquilo não podia estar acontecendo realmente. 
- COMIGO,PEDRO! SEU MELHOR AMIGO!
O garoto ao meu lado parou de andar. Me olhou de cenho franzido. Soltei seu braço.
- Comigo... - Arthur riu. – Na minha festa de dezesseis anos. Com você no andar de baixo, pensando que ela estava no banheiro...
Em um segundo, Pedro não estava mais do meu lado. Ele e Arthur rolavam no chão, e Pedro esmurrava o rosto de Arthur, enquanto este ria.
- E é verdade,Lua nunca te traiu com Chay! - Arthur disse quando os punhos de Pedro estavam prontos para atingi-lo novamente. – Mas te traiu comigo! DURANTE ANOS E ANOS, ELA TE TRAIU COMIGO SEMPRE QUE VOCÊ VIRAVA AS COSTAS!
Pedro continuou a esmurrar o rosto de Arthur, que começava a cuspir sangue. 
Aquilo era o inferno.
Sim, eu estava no inferno.
Não sabia se fugia. Não sabia se ficava e via meu corpo se desmoronar. 
Estava tudo desabando sobre minha cabeça, e eu estava sendo soterrada pelo meu passado, por aquelas verdades, por aquela sujeira.
Vi Micael puxar Pedro e gritar com os dois. Pedro tentava se desvencilhar dos braços dele, com uma feição de ódio igual à de Arthur. E tudo continuava a desmoronar. Eu estaria em pedaços a qualquer momento.
- POR QUE ESTÁ TÃO IRRITADO? - e Arthur não calava a boca. Por que ele não podia simplesmente calar a boca? Pedro ainda tentava sair dos braços de Micael, enquanto  Arthur cuspia sangue no chão.
- Você é como ela... – ele continuou, apontando para mim com desprezo. – Essa cara de santo... POR QUE SÃO TÃO FALSOS? 
Seu tom agora era de desespero. As lágrimas que antes vi em seu rosto voltaram a rolar e ele se levantou com dificuldade. 
- VOCÊ A ROUBOU DE MIM! VOCÊ SABIA QUE EU A AMAVA MAIS DO QUE TUDO, E MESMO ASSIM TEVE CORAGEM DE ME PEDIR PARA AJUDÁ-LO! PARA CONTAR A ELA QUE ESTAVA APAIXONADO! COMO TEVE CORAGEM?
Arthur chorava, soltando aquelas palavras com angústia, vendo Pedro parar de se debater. Eu sabia que aquelas palavras atingiram-no. 
- Você sabia, Pedro... VOCÊ SABIA!
E eu... Eu não sabia de mais nada.
Eu não sentia mais nada.
Minhas pernas cederam no minuto em que vi tudo girar.
Eu não suportava aquilo. Era demais.
E depois da minha respiração falhar, uma escuridão tomou conta do lugar.
Finalmente, tudo desapareceu.

XOXO BIA BERNARDO,QUERO MUITOS COMENTÁRIOS,ESSE POST ESTÁ MERECENDO.
Cap 13 War of My Life
"Eu estava em frente à devida plataforma que me levaria à França. Eu apertava a bolsa contra meu corpo, numa tentativa de fazer tudo parar de doer. Meus olhos ardiam, minha cabeça doía... Todos ali me olhavam, reparavam no meu estado deplorável, nos soluços que saiam como grunhidos de dor, no delineador que escorria por toda minha face, juntamente com as lagrimas.
Eu tinha que ir embora. Era preciso. Eu tinha que fugir daquela cidade que agora me assombrava. Eu podia ver as luzes dos carros da policia girando em minha cabeça, os sussurros ecoando em minha mente, os olhos chocados que me perseguiam. 
Aquilo tudo não podia ter acontecido comigo. Era um pesadelo, não havia outra explicação. 
Vi alguém parar do meu lado, ofegante. Colocou as mãos sobre os joelhos, de modo que respirasse melhor. Provavelmente estava correndo. 
-Lua - reconheci a voz. Meu coração apertou e minha respiração falhou, soltando um mais novo soluço. -Lua , olhe pra mim! - Arthur se reergueu, parando em minha frente. Era impossível resistir àquela beleza e voz. 
Não olhei, fazendo com que o garoto tocasse meu queixo com uma mão, direcionando meu rosto a si mesmo. 
- Não vá embora - sua voz era mais uma suplica que um pedido propriamente dito. Olhei para o chão. - Por favor, não vá embora... - seu timbre falhou e vi uma lagrima se formar em um de seus olhos. Funguei e olhei para frente, tentando escapar do olhar de súplica que o garoto me lançava. 
- Fique! Fique e lute! 
- É muito fácil para você dizer... - dei de ombros, segurando as lágrimas que ainda queriam cair. 
- Eu estarei aqui por você! Enfrentaremos isso juntos! - sua voz mais parecia um pedido desesperado que uma sugestão. Eu sei que poderia superar tudo com ele do meu lado, mas uma força dentro de mim gritava para que eu fosse embora, implorava por isso. Era muito mais fácil fugir a enfrentar a maré. 
Neguei com a cabeça e novamente olhei para os meus pés. Os olhos persuasivos e cheios de lágrimas poderiam me convencer a qualquer minuto. 
- O que... O que eu vou fazer sem você? - sua voz cedeu ao seu desespero. 
Minha garganta se fechou, e aquela vontade de gritar me sufocava. Apertei meus olhos com força, com a finalidade de fazê-lo sumir dali, e não tornar aquela partida ainda mais difícil. 
- Você vai se virar... Como sempre fez - tentei me manter firme, e aquilo me pareceu a coisa mais difícil a se fazer, no momento em que eu mais precisava de um abraço e de alguém para dizer que tudo ficaria bem. 
- Mas eu... Eu te amo! - minha respiração falhou no instante em que aquelas palavras foram ditas. Meu coração poderia saltar de dentro de mim a qualquer momento, e eu sabia disso. 
O que eu mais queria fazer naquele momento era gritar que o amava de volta, pular em seu pescoço e fugir para algum lugar qualquer. 
As palavras que eu sempre almejei escutar, aquelas que soavam como uma doce melodia e que faziam você ter a sensação de poder flutuar. 
Apesar de elas significarem tudo, naquele momento, elas só serviam para dificultar minha partida. Novamente, eu tinha que ser forte. 
- Você vai sobreviver - forcei um tom frio no momento em que vi meu trem ir parando lentamente. 
Abaixei para pegar minhas malas e andei em direção ao veículo, sem ao menos olhar para trás. "

Acordei com o coração querendo saltar do meu peito. Minha cabeça latejava e eu desejava voltar a dormir para não sentir aquela dor torturante. Era como a pior ressaca da minha vida. 
Abri meus olhos lentamente, me arrependendo no segundo seguinte ao ver os feixes de luz saírem das frestas de uma cortina pastel de mau gosto; eles vinham como raios certeiros em meus olhos. Depois de me acostumar com a claridade, reparei o quão diferente aquele lugar era do meu quarto, ou do quarto em que eu dormia no sítio de Aaron. As paredes eram azuis e não rosas como as minhas. A cama era dura, assim como o travesseiro. Senti que meu braço estava fincado por uma agulha; segui o fio preso na agulha e vi uma bolsa de soro. 
Era oficial: eu estava em um quarto de hospital. Mas como eu havia parado ali? Não me lembrava de nada... 

Na verdade lembrava sim. 
Lembrava que tinha vivido a pior noite possível. Lembrava da voz rude e embriagada de Arthur. Lembrava das palavras horríveis que me acusaram e rasgaram tudo dentro de mim como uma navalha muito bem amolada. 

Era impressionante como eu sempre escutava coisas horríveis dos homens que eu amava; como eles sempre me acusavam. 
Talvez eu merecesse. Ou talvez eu simplesmente fosse um imã para problemas. Ou quem sabe os dois. 
Talvez aquilo fosse uma sina. Quem sabe eu não havia nascido para ser odiada por aqueles que eu amava? E se eu estivesse sendo redimida por meus pecados? 

Mas como eu havia parado ali mesmo? 

Procurei por respostas ao redor do quarto e me deparei com Sophia e Chay sentados num sofá-cama azul marinho em frente à cama que eu estava deitada. 
Eles me encaravam com apreensão, como se esperassem que eu chorasse ou fizesse uma cena. 
Por mais que eu realmente quisesse chorar, eu nada faria. Tudo o que tinha que acontecer, tudo que eu tinha para chorar... Enfim. 

- O que aconteceu? - perguntei finalmente. Quebrando aquele silencio martirizante. Sophia e Chay se entreolharam e hesitaram antes de responder. 
- Você desmaiou na festa, Lua... - Sophia começou, olhando-me com pena. - O médico disse que sua pressão caiu devido ao estresse e o álcool também não ajudou... 

Fazia sentido. E inconscientemente eu agradecia por isso. A cena da noite anterior era mais do que eu podia aguentar. Havia suportado até demais até minha mente e meu corpo finalmente cedessem.

Eles me contaram que Arthur chegou a se preocupar, mas depois simplesmente deu as costas. Quem me pegou no colo e me tirou do amontoado de gente que se reuniu em minha volta foi Pedro. O que me chocou por demasiado. Pensei que ele seria o primeiro a me deixar largada no chão... 
Ele me colocou em seu carro e, junto com Sophia e Micael, trouxeram-me para o Merlott’s Hospital em Woking, Surrey, onde a chácara de Aaron era situada. 
Eles esperaram alguma palavra sair da minha boca. Mas eu não tinha nada para dizer. Eu estava esgotada. 

- Vocês... Poderiam me deixar sozinha por alguns instantes? - pedi sem os encarar, mas sabia que eles perceberiam a suplica no meu tom de voz. Eu os agradecia mentalmente por estarem ali o tempo todo, e sabia que eles sempre estariam. 
Mas, por mais que eu odiasse ficar na presença de minha própria companhia, eu precisava de um momento com a minha consciência. Precisava assimilar todos os fatos, pensar nas conseqüências, pensar no que iria fazer a partir daquele dia. 
Eu estava cansada de vinganças, de mentiras, de hipocrisia. 
Estava cansada daquela pessoa que eu havia me tornado. 

Meus amigos se levantaram, Sophia sussurrou ‘Estarei ali fora se precisar de alguma coisa’, e finalmente me deixaram sozinha. 

Levantei-me daquela cama nada confortável, arrancando o fio de soro do meu braço e abri a janela do quarto. 
O que eu estava fazendo ali... Por que eu havia voltado para a Inglaterra? Teria valido a pena sair da Alemanha para ser massacrada aqui novamente? Nunca odiei tanto meu país como odiava naquele momento. 
Nunca me arrependi tanto de algo quanto me arrependia por ter voltado. Mas não adiantava chorar agora. Simplesmente não adiantava. O que estava feito, estava feito. Eu não podia simplesmente passar a borracha naquela parte da historia, porque no final tudo faria sentido, apesar de eu não o enxergar naquele momento tão opaco da minha vida. 

Eu queria sair dali. Queria sair daquela cidade estúpida e voltar para aquela mais estúpida ainda: Londres. Nunca pensei que odiaria tanto voltar para casa. 
Mesmo ainda não recebendo alta do médico, convenci Sophia e Chay a me tirarem daquele hospital imediatamente. Fugimos rapidamente e no mesmo instante estávamos na estrada em direção à Grande Londres. 

- Eu vou voltar para a Alemanha. - falei rápida e decididamente. Meus amigos me encararam com confusão e indagação. Antes que pudessem falar alguma coisa, me adiantei. - Foi um erro ter voltado... Eu nunca deveria ter voltado... Tudo o que fiz foi magoar a todos, traumatizar a todos. Acabei com tudo. Tenho certeza que tudo estava melhor quando eu estava fora... 
- Isso não é verdade, Lu. Nossas vidas estavam um inferno! - Sophia disse em contrapartida, parecendo desesperada pela minha decisão. - Você não pode simplesmente fugir de novo. Não pode! Você não pode nos abandonar novamente! 
Quando encarei minha amiga nos olhos, eles estavam marejados. Senti meu coração apertar e tornar tudo aquilo mais difícil. 
- E daí que Arthur é um idiota? Ele sempre foi! E Giovana também sempre foi uma vadia! Eles sempre acabaram com as próprias vidas, você não fez nada demais! - ela falava rapidamente. - Olha, não sei o que deu em Arthur para falar todas aquelas coisas horríveis, mas você tem que ser mais forte, Lu. Chega de fugir. Chega! Eu não vou deixar você fugir de novo. Você vai encarar isso de cabeça erguida.
Do jeito como Sophia falava, parecia tudo tão simples... Parecia que seria fácil ir a aula no outro dia, receber todos os olhares de reprovação. Até que eu estava acostumado com eles, mas teria um olhar que eu não receberia: o de Arthur. 
Não discuti com Sophia. Ela não entendia... Não entendia que eu não conseguia ser forte, que coragem não fazia parte da minha personalidade. Passei a simplesmente encarar a paisagem que passava rapidamente pelos meus olhos e deixei que aquele silêncio nos envolvesse por completo. 

Quando joguei as malas em um lugar qualquer da sala, me joguei no sofá fofo e felpudo no instante seguinte. Escutei passos se aproximarem, mas nem me dei ao trabalho de ver quem era; não me importava de qualquer maneira. 
- Oi Lua... - escutei a voz de minha irmã, Bridget. Mas era óbvio que ela já estava sabendo de tudo, mesmo não estando na festa. Fofocas dos alunos do Drayton sempre corriam rapidamente. Principalmente quando a fofoca envolvia Lua Blanco, Giovana Caldwell, Arthur Aguiar e Pedro Cassiano. - Você está bem? 

Assumi que aquela era uma pergunta retórica. Não era preciso responder para saber que eu estava um desastre, certo? 
- Falaram que você estava em uma reabilitação... É verdade? - ela perguntou apreensivamente, bem provável que estava morrendo de medo que eu estourasse a qualquer momento. No entanto, de acordo com as pessoas do Drayton, eu já havia ido para a reabilitação tantas vezes que eu nem me importava mais. Nem me dei ao trabalho de responder. 
- Er... Amanhã é o baile de formatura do último ano... O seu ano... Você... Você vai? 
Minha irmã havia tirado o dia para fazer perguntas idiotas, era isso? Baile de formatura? Depois de tudo? Oh, sim, seria um arraso. 
- Estou voltando para a Alemanha. Infelizmente não poderei ir ao baile... 

Levantei-me do sofá e, sem encarar Brie, comecei a andar em direção às escadas. Tudo o que eu queria era meu quarto. O quanto antes eu arrumasse minhas malas, melhor. Nem precisaria pedir à minha mãe, já que provavelmente seria um alivio para ela me ter longe. Que coubesse ao meu pai a responsabilidade de cuidar da filha inconsequente e rebelde; ela tinha mais o que fazer. 
- Mas... Você não pode voltar, Lua! - Brie começou o discurso que eu já estava farta de escutar. - Quero dizer... E Giovana? Você voltou para se vingar, você não pode voltar! 
- Acontece que eu já estou farta de vinganças, Bridget. - rebati, parando na escada e me dirigindo a ela, com seus olhos azuis pesarosos me encarando. - Elas não levam a lugar algum, não entende? Eu me vingo, ela se vinga, e assim continuamos nesse ciclo vicioso que não nos trará nada de bom! Me custou um tempo a entender isso, mas agora eu entendo! Estou cansada, essa é a verdade. 

Bridget me encarava com tanto pesar, que era como se eu estivesse na beira de um precipício, pronta para pular. Por que todo aquele drama? 
- Giovana conseguiu o que queria, não foi? Queria Pedro, conseguiu. Queria me afastar de Arthur, também conseguiu. Ela venceu, simples assim. Eu posso ser ruim, mas não chego nem perto da maldade de Giovana. 
- E você não vai correr atrás de Arthur? Não vai falar que o ama? Tentar reconquistá-lo? - o desespero de Bridget chegava a ser engraçado. Era eu quem devia estar naquele anseio de ficar e tentar consertar as coisas. Mas acho que as pessoas a minha volta realmente não me viam como eu realmente era. - Vocês pertencem um ao outro! Eu me lembro de quando vocês se beijaram pela primeira vez na casa dele, eu me lembro! E eu me lembro de quando você se revoltou com a mamãe e começou a namorar Pedro... Do tanto que você se sentiu mal, do tanto que chorava e sentia a falta de Arthur... Você devia contar a verdade para ele, Lua! Quem sabe assim... 
- Não vai fazer diferença, Brie. Vai ser melhor para todos se eu for embora. Sem mais confusões, sem mais intrigas... Confia em mim, vai ser o melhor. Eu vou terminar o colégio em Frankfurt e quem sabe ainda não consigo entrar em alguma faculdade - forjei um sorriso, apenas para tentar passar a ilusão de confiança a Bridget. Ela não precisava ver o quão instável e insegura eu estava. Apesar de não ter sido um bom exemplo naqueles últimos meses, eu poderia pelo menos tentar ensiná-la uma lição através do que eu havia vivido. Nunca repita meus erros. 


Consegui convencer Bridget a não me esperar na estação de trem. Eu odiava despedidas. 
Dei um longo abraço em Berta e a agradeci por ter aturado minhas maluquices. Ela disse que aquela casa ficaria muito, mas muito sem graça sem a minha presença. 
Minha mãe não sabia a verdadeira razão por eu estar indo embora, mas ela sabia que eu havia aprontado alguma coisa. Em sua cabeça, provavelmente algo envolvendo drogas. 
Brie ainda tentava me convencer de que ficar e lutar pelo que era o certo, e disse que pegaria meu vestido na Chanel para o baile, caso eu mudasse de ideia. 
Eu não mudaria. 

Assim que cheguei à estação do Eurostar, uma lembrança em particular estapeou meu rosto com força. Fora ali que ele me pedira para ficar e lutar, que juntos nós conseguiríamos vencer qualquer obstáculo. E dissera que me amava. E eu simplesmente dei as costas. Aquilo mostrava o quão injusta eu sempre fui com Arthur. Não queria tê-lo, mas não queria perdê-lo. Queria tê-lo, mas queria me rebelar. O amava, mas fazia com ele me odiasse. E quando eu finalmente consegui deixar meu egoísmo de lado e nos dar uma chance, de alguma forma consegui estragar tudo. 

"- Eu estarei aqui por você! Enfrentaremos isso juntos!"

Eu era mesmo uma vadia, como ele havia dito na festa. Era sim. Uma vadia sem coração que faz de tudo para ter o que quer, sem medir as conseqüências ou pensar em quem eu iria machucar. Sempre me importei com o que eu queria e nada mais. Nunca olhei a minha volta. Nunca parei para medir os danos. 

"- Por favor, não vá embora..."

As lagrimas brotaram nos meus olhos como da ultima vez. A dor de ter algo sendo comprimido dentro de mim voltara. Mas agora, ao invés da vontade louca de ir embora, algo gritava para que eu ficasse. O meu lado egoísta urrava, suplicava, agitava tudo pedindo para que eu ficasse. Eu não podia ficar. Eu não podia bagunçar a vida dele novamente... 

"- O que... O que eu vou fazer sem você? "

Às vezes me perguntava se eu o amava de verdade ou se aquilo não passava de uma obsessão, de um jogo que eu tinha que ganhar. Amar significa sempre querer o bem para a pessoa amada, não? Sempre tentar fazer o bem para a pessoa amada, vê-la feliz seja com quem ela esteja, certo? Se eu o amava, por que não conseguia deixá-lo ser feliz, mesmo que a felicidade dele não me inclua? 

"- Mas eu... Eu te amo! "

Pensar em ficar longe de Arthur novamente fazia cada músculo meu doer em resposta, fazia um vazio se instalar em mim só de pensar. Eu não podia dar as costas novamente. Eu não podia desistir enquanto havia um resto de força dentro de mim. 
Se não era amor, eu não sabia o que era. Por mais nova e ingênua que eu fosse, eu sabia que o que eu sentia era forte demais para ser apenas uma obsessão, um jogo bobo. Eu ainda tinha que aprender a ser mais altruísta, mas eu estava disposta a fazer Arthur feliz. Eu queria que ele fosse feliz. Comigo.

Dei as costas novamente. Mas dessa vez, para a Alemanha. 


*


Bridget havia mesmo pego meu vestido na Chanel. Quando eu cheguei em casa, vi que ninguém estava e fui direto ao meu quarto, onde a roupa estava posta sobre minha cama. 

“Eu sei que não voltaria para a Alemanha. Essa simplesmente não é você. Xx Brie.”

O que me impressionava era o fato de minha irmã saber mais sobre mim do que eu mesma. Eram tantas contradições passando pela minha mente ao mesmo tempo, que ficava difícil saber quem eu realmente era. O baile seria no outro dia, e eu não tinha a mínima ideia do que eu faria. Tentaria me vingar mais uma vez de Giovana e fazê-la ficar longe de Arthur? Sabotaria sua formatura? O que eu precisava fazer para tê-lo de volta? Eu não simplesmente não sabia o que fazer. Mas sabia que tinha de fazer alguma coisa. 


*


- Você está linda, Lua - Brie disse quando eu estava completamente pronta, com o vestido, cabelos presos em uma trança de raiz e uma maquiagem leve. Eu não precisava estar extravagante, afinal, não queria chamar a atenção de ninguém. Exceto de uma só pessoa. 
Sophia estava ali também, maravilhosa, e esperávamos por Micael e Chay que nos levaria ao baile. De limusine. Clássico. 
Quando já estávamos a caminho do Drayton, eu não escondia meu nervosismo. Eu também não sabia se Arthur iria à festa, já que Sophia também não tinha certeza; Micael não conversava com o amigo há dias. Arthur não atendia os telefonemas, mandava a governanta dizer que não estava em casa, e Chay até conversou com Phill, o pai de Arthur, que contara com muito desgosto que o filho havia voltado para a vida de prostitutas, drogas e álcool. 

O ginásio da escola estava superlotado, como era de se esperar. Decorado com rosas brancas e balões prateados, a música saía frenética das dezenas de caixas de som espalhadas pelo local. Não era permitido o consumo de bebida alcoólica, já que éramos menores de idade e supostamente não devíamos beber, mas as bolsas das meninas eram esconderijos perfeitos para a entrada de vodcas clandestinas. 
Sophia escondia uma garrafa de vodka em sua bolsa e logo que sentamos em nossa mesa, tratei de encher um copo com o liquido. Eu não pretendia ficar bêbada, mas eu precisava de uma coragem que só o álcool podia me dar. 
Na nossa mesa estava Micael, Chay, Aaron, Sophia, eu e... Pedro, que havia acabado de chegar. Óbvio que todos prenderam a respiração assim que o garoto se sentou, duas cadeiras distantes de mim. Cumprimentou a todos e, quando era hora de me cumprimentar, sorriu. O ato fez todos se entreolharem e fez meus olhos saltarem das órbitas. Ele sorriu. E não era um sorriso falso... Era um sorriso sincero. Simples. Sem muitos significados. 
Sorri de volta e passei a encarar minhas unhas vermelhas, completamente desarmada. O que aquilo significava, afinal? 
De qualquer maneira, não tive muito tempo para pensar, já que no momento seguinte Sophia me cutucou e apontou para a entrada do salão. Arthur entrava, cambaleando e com cabelos completamente desgrenhados, sem falar em sua gravata frouxa e camisa aberta em alguns botões. Com Giovana grudada em seu braço, sorrindo para quem fosse, como se fossem o casal mais lindo daquele Universo. Claro que ela não se importava nem um pouco com o fato de Arthur estar completamente bêbado e decadente. 
Senti minhas mãos começarem a suar e tremer, meu coração bater tão ridiculamente forte contra meu peito que pensei poder desmaiar a qualquer momento. Não era possível que ele estava naquele estado por minha causa... 

- Sem fraquejar agora... - Sophia apertou minha mão e me olhou com apreensão, e tudo que consegui fazer foi assentir. 
O garoto começou a andar em nossa direção, sem precisamente olhar em nossa direção. Ele provavelmente ainda nem havia notado minha presença. Giovana falava alguma coisa em seu ouvido, completamente extasiada, enquanto Arthur tirava um cantil, onde provavelmente continha vodca, ou uísque. Ele desencaixou seu braço do de Caldwell bruscamente e tomou um longo gole de sua bebida. Quando chegou perto o suficiente da mesa para me ver, seus olhos se arregalaram e sua bebida escapou de sua mão. 
- O que diabos... - Giovana exclamou em tom de choque, enquanto Arthur ainda me encarava. Seus olhos flamejando o ódio que sentia por mim. Tudo o que eu quis fazer naquele momento era me levantar e correr em sua direção; abraçá-lo com todas as minhas forças e dizer que eu o amava como nunca havia amado ninguém. Que eu nunca havia amado ninguém além dele. Beijá-lo ferozmente e depois entrelaçar nossas mãos, arrastando-o para longe dali. 
Mas do modo como ele me olhava, era impossível me mexer. Eu estava completamente imobilizada, como se seu olhar fulminante estivesse me mantendo presa naquela cadeira. 
Ele então quebrou nosso contato visual e simplesmente deu as costas, nem fazendo questão de pegar sua garrafa no chão. Giovana lançou-me um ultimo olhar mortal antes de voltar a seguir Arthur, que gritou para que a menina parasse de persegui-lo e o deixasse em paz. 
Nesse meio termo, eu apertava a mão de Sophia com tanta força e a garota nem ao menos falou uma palavra. Era obvio que a opção de desistir de tudo novamente passou pela minha cabeça, mas eu já estava ali. Não faria sentido ir embora agora. Eu precisava ter coragem pelo menos uma vez na vida. 

Logo aquela atmosfera completamente constrangedora se quebrou entre nós, à medida que o álcool começava a embaralhar nossos sentidos e a nos deixar cada vez mais desinibidos. Micael e Sophia já estavam na pista de dança, se descabelando como um casal de loucos. Aaron também já havia se levantado e agora sussurrava no ouvido de uma loira do segundo ano nas arquibancadas. Entre Pedro e eu estava Chay e mais uma cadeira. É, a atmosfera constrangedora não havia se rompido completamente. 
- Chay, será que você poderia... Me deixar a sós um instante com Lua? - Pedro se pronunciou após longos e torturantes minutos de silencio. Chay me encarou apreensivo. Eu não sei se queria ficar a sós com Pedro... Tinha medo do que ele poderia dizer ou fazer. 
No entanto, decidi que a onda de coragem tinha que ficar comigo durante a noite toda, não importava a situação. 
Assenti veemente, tentando transparecer minha segurança e meu amigo se levantou, mas sem antes sussurrar: 

- Qualquer coisa é só gritar. Estarei bem ali atrás. 

O garoto deu uma piscadela e eu não pude deixar de rir levemente, me sentindo um pouco mais tranquila, mesmo sabendo que Pedro não faria nada contra mim. 
O silencio continuou por mais alguns segundos antes que Pedro pigarreasse. 
- Então, Lua, eu... 
- Me desculpe, Pedro - me adiantei por um impulso. Havia me esquecido como eu havia afetado sua vida também, em como brinquei com seus sentimentos desde o momento em que o conheci. Eu sei que podia parecer muita hipocrisia da minha parte, fazer todas as maldades que já havia feito e agora esperar por misericórdia de todos que eu já havia machucado. Eu não queria misericórdia, mas queria que todos soubessem que eu estava verdadeiramente arrependida. E que nada do que fiz foi com a intenção de magoar alguém. A não ser Giovana Caldwell. 
- Você foi muito errada, Lua. - ele começou, e eu não pude deixar de concordar. - Muito errada por ter brincado com Arthur e comigo do jeito que você fez. No primeiro momento em que descobri, quando Arthur despejou todas aquelas verdades sobre mim... Eu fiquei com tanta raiva, Lua, mas com tanta raiva. - o garoto fechou as mãos em punhos e os olhos com força, como se tentasse afastar a raiva que voltava em cheio para si. - Mas depois quando tive um pouco mais de tempo para pensar, clarear minha mente enquanto você estava internada no hospital, eu me acalmei. Eu sabia que você tinha ferrado com tudo, mas aquela confusão entre eu, você e Arthur era algo que eu devia ter previsto desde o começo. Talvez eu até soubesse que algo acontecia, mas eu não queria admitir isso, nem queria olhar pra você e ter a certeza de que eu te dividia com alguém. Eu queria apenas ter você só para mim, e na minha cabeça era assim. Não vou jogar a culpa toda sobre você, Lua, porque eu também sou em parte culpado sobre isso. 

Quando fiz menção de interrompê-lo e dizer que ele estava completamente enganado, ele voltou a falar rapidamente, nem me dando a oportunidade de dizer que não, ele não tinha a mínima culpa dos meus erros. 
- É verdade o que Arthur disse na festa. Eu sabia que ele gostava de você, ele havia dito desde a primeira vez em que eu a conheci, naquela festa na casa dele. Ele me dissera que era apaixonado por você, mas que não sabia como te dizer, pois morria de medo de te perder. Ele não sabia o que você sentia por ele, mas eu sabia. Desde o momento em que te vi, nem ao menos sabia seu nome ou quem você era, mas reparei o modo como você olhava para ele. O modo como você o abraçava, como você ria para ele... Mesmo nem te conhecendo, eu senti tanta inveja de Arthur, e o achava tão burro por não ter coragem de correr atrás de você... Mas se ele não conseguia ver que você gostava dele, não seria eu quem falaria. Quando passei a te conhecer melhor, eu tinha certeza de que queria você pra mim. Eu precisava te ter. Arthur tinha tudo o que eu sempre quis: toda aquela riqueza e poder, mas eu queria ter você antes dele. Pelo menos uma coisa eu teria que ele não poderia ter.

A cada palavra de Pedro, eu me sentia um pouco surpresa, quase que usada, embora eu não tivesse o mínimo direito de sentir nada. 
O que mais me deixara surpresa era o fato de ele saber que Arthur gostava de mim e eu gostava dele, mesmo que nós sentíssemos o mesmo medo de nos aproximar mais intimamente e acabar por nos afastando. 
Mas eu consegui nos afastar sem ao menos ter tentado ficar com ele. 

- No começo eu até sabia que você estava comigo só para atingir sua mãe, mas eu não importava. Você era minha namorada, e não dele. Arthur nunca mais disse uma palavra sobre você, por mais que eu soubesse que ele ainda gostava de você, e eu via como ele te provocava, como ele fazia de tudo para te irritar e fazer você me largar. Eu sabia que era o modo dele de atingir a mim e a você. E mesmo sabendo que vocês podiam estar juntos e que toda aquela confusão acabaria, eu era muito orgulhoso para te perder pra ele. Você era tudo o que ele mais queria, mas que eu tinha. Você entende agora, Lua? Não é só sua culpa. Nem só minha. Nem só de Arthur. Todos nós fomos idiotas e irresponsáveis nessa história, nunca agimos racionalmente. Sempre tentávamos um atingir o outro. Sempre. 

O que Pedro dizia era verdade. Por um breve momento, acreditei no que ele dizia e não me senti tão culpada como eu vinha me sentindo. Todos nós fomos vitimas da ira, da luxuria, do orgulho, da inveja e da vaidade. Fomos vitimas de nós mesmos e de nossos pecados. 
- O motivo por eu estar falando tudo isso, é que eu finalmente enxerguei a verdade. Nós nunca devíamos ter ficado juntos Lua... 
- Não diga isso, Pedro... 
- O que nós tivemos, eu sei que foi verdadeiro em alguns momentos, mas... Nós dois sabíamos que era forjado desde o começo. Nós dois sabíamos com quem você realmente queria estar, mas ignoramos isso... E eu não tenho o direito de estar com raiva de você nesse momento. E eu queria dizer que eu te perdoo... Mas queria que você também me perdoasse... 

Nós dois nos encarávamos com tanta profundidade, e eu finalmente senti um peso gigantesco sair de cima de mim. Eu estava mais leve, mais aliviada, mais feliz, mesmo que aquilo significasse o fim de um ciclo. E como Pedro mesmo havia dito, nós tivemos nossos momentos sim, e tudo o que eu havia sentido por ele fora verdadeiro. No entanto, eu sempre o usara para esquecer quem tanto perseguia meus sentimentos. 
- Não há o que perdoar, Pedro. - falei sincera, sorrindo de uma maneira que eu não fazia há muito tempo. O mesmo sorriso que ele me lançara quando me vira: um sorriso simples. Sem muitos significados além da cumplicidade que aquele momento representou. 
- Vá fazer o que você veio fazer... - o garoto disse retribuindo o sorriso, fazendo o meu alargar ainda mais. Me levantei da cadeira e passei a andar no meio daquela gente, que por estarem todos tão embriagados e preocupados em curtir sua ultima noite no colegial que nem ao menos pareciam notar minha presença. Muito menos se lembravam dos acontecimentos recentes. Pelo menos não naquele momento. E meus olhos procuravam por aqueles que não queriam me encontrar. 
- Micael, viu o Arthur por ai? - perguntei assim que vi o garoto enchendo seu copo com vodca ali perto. Ele ergueu o pescoço, dando uma olhada geral no lugar. 
- Ele está perto do palco. - Micael respondeu, e quando comecei a andar na direção que ele me deu, segurou meu braço com gentileza e me encarou com apreensão. - Lua, tem certeza de que quer conversar com ele? Eu não acho que ele vai estar disposto a te ouvir... 
- Eu não vou simplesmente desistir dele, Micael. Não vou. - respondi com convicção, nunca tão certa de algo como naquele instante. 
Sorri e dei as costas antes que a recém-adquirida força de vontade me abandonasse. 

Vi Arthur a alguns poucos metros longe de mim. Ele estava escorado no palco, com os olhos perdidos no piso do ginásio e um copo de vodca em uma mão, enquanto as pessoas a sua volta pulavam e dançavam como se aquela fosse a ultima noite de suas vidas. Giovana estava ao seu lado, com uma feição de tédio e decepção. Ela provavelmente achava que Arthur estaria tão animado quanto ela para aquela droga de baile. 
Mesmo no estado decadente em que se encontrava, ele estava tão lindo... A gravata não estava mais no entorno de seu pescoço, mas a camisa branca continuava desabotoada nos primeiros botões. Também não estava mais de terno. Apesar das olheiras escuras ao redor de seus olhos, dando-o a impressão de que não dormia há dias e que provavelmente estava bebendo daquele jeito por um tempo... Continuava incrivelmente lindo. A vontade de abraçá-lo voltou a me atormentar, e eu nunca desejei tanto poder concertar as coisas em um passe de mágica. 
Em um ato completamente impulsivo subi umas escadinhas que davam para o palco e me aproximei do DJ, pedindo para que ele parasse com a música. Todos olharam instantaneamente em nossa direção, surpresos pelo silencio repentino. Gradativamente, todos pararam de gritar e conversar, e agora todos me encaravam atônitos. Todos. 
Arthur desencostou-se do palco e olhou em minha direção, vendo que eu era a razão por todo aquele estardalhaço. 
Logo os sussurros começaram, mas todos estavam pasmados demais para perguntar o que eu estava fazendo ali em cima. Nem eu sabia, na verdade. Me aproximei do microfone situado no meio do palco e o liguei. Encarei minhas mãos, ainda meio surpresa com meu próprio ato. Mas não pude ficar muito tempo sem encarar os olhos de Arthur. Sem ter a mínima idéia do que falar, comecei: 

- Oi... Eu sou a Lua. Vocês provavelmente me conhecem devido a todos os escândalos que envolvem meu nome. Me conhecem por ter supostamente traído meu ex-namorado com Chay. Por supostamente ter contrabandeado drogas dentro do colégio. Por ter sido presa, fugido do país e depois voltado para acabar com a vida da minha melhor amiga... - ri nervosa, vendo o quão ferrada eu já fui (e estava). - Mas ninguém conhece a Lua por trás de todos os escândalos... Ninguém conhece a Lua que sonhava em ter uma banda de rock quando mais nova. Ninguém conhece a Lua rebelde, que sempre quis ser diferente das pessoas mesquinhas que a rodeava. Não conhecem a Lua que era apaixonada pelo melhor amigo e que por um erro, o primeiro que cometi com ele, o deixei escapar. - A perplexidade ainda estava nos olhos de Arthur, mas nada além disso. - Mas eu entendo porque vocês me conhecem apenas pelos meus escândalos. Porque apesar de tudo o que eu sentia de bom por uma pessoa, nunca consegui me entregar a ele. Nunca consegui mostrá-lo o quanto eu o amava. Nunca consegui deixar meu orgulho de lado. Sempre preferi ser acobertada pelos erros, pelos escândalos, a ter que admitir o que eu sentia. O que é o maior erro de todos, já que se entregar ao amor verdadeiro nunca devia ser motivo de vergonha, de fraqueza. É por isso que estou aqui, me fazendo de boba e cometendo o maior dos clichês... Eu sei que isso não vai concertar as coisas que fiz, sei que isso não vai mudar o passado, não vai te fazer esquecer todas as coisas horríveis que te fiz passar... - nós nos encarávamos tão profundamente que eu nem mais me lembrava estar em cima de um palco, sendo observada por centenas de pessoas. Mesmo não querendo me expor ainda mais, não consegui segurar o choro que agora queimavam meus olhos - Mas eu só queria que você soubesse que tudo o que eu fiz, por mais que pareça contraditório e difícil de acreditar, foi por amor. Ou melhor, por medo de te amar. Um medo bobo, ridículo, já que eu sempre te amei, desde... Nem consigo me lembrar. Desde sempre. Eu te amo, Arthur Aguiar. Eu te amo. 

Eu esperava que ele corresse aquela escada e se juntasse a mim naquele palco, dando-me o beijo que eu tanto queria e então todos bateriam palmas. Mas não foi o que aconteceu. 
Vi algumas lágrimas caírem dos olhos de Arthur, e em seguida o garoto empurrou as pessoas a sua frente, passando por elas com pressa em direção a saída do ginásio. Os sussurros agora voltaram a preencher o local. Tudo o que consegui fazer foi descer do palco correndo, fazendo o mesmo caminho que Arthur fizera. Mas antes que eu pudesse segui-lo, escutei uma risada estridente atrás de mim, seguida de palmas vindas de uma pessoa. E eu nem ao menos precisei me virar para saber quem era. Minhas emoções estavam tão aguçadas, que nem ao menos consegui me controlar em não revidar.
- VAI SE FERRAR, GIOAVANA! 
A garota nem ao menos disse nada. Ela provavelmente esperava que eu continuasse correndo atrás de Arthur e a ignorasse, mas não consegui. Segurei meus próprios punhos com o pouco de autocontrole que eu ainda tinha, me impedindo de esmurrá-la até que não sobrasse um dente em sua boca. 
Segurei a barra do meu vestido e voltei a andar rapidamente, enquanto as pessoas automaticamente me davam passagem. 

Assim que sai do ginásio, senti o vento gélido e cortante passar por mim e olhei desesperada para todos os cantos da rua, até ver Arthur bem distante de onde eu estava, andando completamente desconcertado. Passei a correr em sua direção, nem dando importância aos meus pés que estavam sendo massacrados pelos saltos. 
- ARTHUR! - gritei na inútil tentativa de fazê-lo parar de andar. 
Continuei correndo, e quando vi que o garoto não ia parar, puxei seu braço, virando-o para mim. 
Seus olhos estavam inchados e vermelhos, e as lágrimas caiam incessantemente. Relutou a me encarar. 
- Me deixa em paz, Lua... - suplicou com a voz embriagada. Envolvi seu rosto com minhas mãos, obrigando-o a me encarar. 
- Por que você não pode me deixar em paz? - agora seu tom era mais desesperado, e eu sentia cada parte de mim se esfacelar. Eu não queria vê-lo naquele estado... 
- Você sabe que eu não consigo viver sem você... - falei, tentando forçar um sorriso. No passado, sempre quando Arthur me tentava, ele dizia que eu não conseguia viver sem ele. E mesmo nunca tendo admitido, aquela era a mais pura verdade. 
- Claro que consegue! Você não se importa comigo, você diz que importa, mas eu te conheço! Você só quer brincar comigo,Lua , isso tudo não passa de um jogo, e eu não quero mais participar dele! 
O garoto tirou minhas mãos bruscamente de seu rosto e voltou a andar, e eu novamente o puxei pelo braço, segurando-o com força. 
- Não é um jogo, Arthur! O que eu falei é verdade, eu amo você! 
Arthur riu cínica e estridentemente, ainda sem parar de chorar. 
- Se você me ama, por que fez tudo isso comigo? Por que,Lua , por que? - ele gritava. - Por que começou a namorar com Pedro depois de ter me beijado? Por que perdeu sua virgindade comigo e depois resolveu simplesmente me descartar? Por que beijou Pedro na festa do Aaron? 
- Ele me beijou, Arthur! Eu o afastei, você não viu? - eu já começava a ficar desesperada, já chorava tão intensamente como ele e não sabia mais o que fazer. 
- Não importa! Você me decepcionou! É só isso que você sabe fazer, me decepcionar! - tentou novamente se desvencilhar de mim, mas eu envolvi seu pescoço com meus braços. - Me solta! ME SOLTA! 
Ele tentava me empurrar para longe de si, e eu o abraçava com ainda mais força contra mim. 
- Me solta... - ele disse num sussurro em meio de soluços, e eu entrelacei meus dedos em seus cabelos, não contendo as lágrimas que caiam desinibidas. 
- Eu te amo tanto, Arthur... Te amo tanto... Eu não sei mais o que dizer, não tenho mais o que dizer a não ser isso... 
O garoto pareceu cansar de tentar me afastar, mas senti seu corpo pesar sobre o meu. Fiz com que nós dois sentássemos na calçada. Nossos soluços se misturavam agora que a cabeça de Arthur estava em meu colo e seu corpo cedia ao cansaço e ao álcool. Aproximei meu rosto do seu e passei a acariciar seus cabelos, vendo seu choro cessar com o passar dos minutos. Limpei as lágrimas que encharcavam seu rosto e depositei um beijo em sua bochecha. Eu sabia que não havia acabado. Eu sabia que ele não havia me perdoado. Sabia que ele ainda me odiava. Sabia que nós não ficaríamos mais juntos. Eu sabia... 
- Se você me ama de verdade... - ele começou com a voz ainda inebriada e relutante. Senti meu peito apertar, pois eu sabia o que vinha adiante. - Você vai me deixar te esquecer. Você vai me deixar viver minha vida em paz. Sem você. 
Ele falou aquelas palavras tão baixinho. Como se fosse seu ultimo desejo. Como se aquilo fosse o que ele mais queria na vida. 
Uma lágrima solitária caiu do meu olho. Eu não tinha mais o que fazer. Eu não podia mais fazê-lo sofrer. Se era aquilo que eu precisava para provar que eu o amava de verdade... 
E com a pior dor que eu já havia sentido na vida, aproximei meus lábios de seu ouvido e, enquanto acariciava seus cabelos sussurrei: 
- Eu vou deixar. 

PESSOAL ME DESCULPA POR DEMORAR A POSTAR,AS AULAS VOLTARAM,EU FIQUEI MEIO PERDIDA COMO SEMPRE,MUDEI DE CURSO,E AS VEZES Ñ TENHO TEMPO.QUERIA Q VCS ENTENDESSEM.

XOXO BIA BERNARDO.

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