capitulo 22 e 23
Sexta-feira, dia 6 de Novembro, 9:13, meu quarto.
Lua:
Acordei com alguns passarinhos piando lá fora. Abri
os olhos e meu quarto estava um breu. Olhei no relógio: 9:13. Dei um
pulo da cama. Por que meu pai não havia me acordado?
Ah, claro, ele ainda estava muito puto comigo pra manter qualquer tipo de contato direto.
Levantei-me da cama e abri a janela, sendo atingida
por uma claridade absurda. Tirei minha calça jeans e minha segunda
pele, ficando só de calcinha e sutiã. Peguei meu celular em cima do
criado-mudo e abri as quatro mensagens de texto. A primeira era da
Sophia e dizia: “E aí, morreu e esqueceu de avisar?”, a segunda era Mel,
e era mais direta: “Vc ñ vem pra escola vaquita?”, a terceira era de
Rayanna e dizia: “Hahahaha, acabei de ver um casal de anões na rua
enquanto vinha pra escola!!!”, e a quarta e última mensagem era de
ninguém mais, ninguém menos do que Thur. “Precisa que alguém vá te
salvar?”
Ri sozinha, enquanto procurava uma toalha pra tomar banho.
"Ainda não cheguei a esse ponto, mas precisava de
um cigarro mais que tudo nesse mundo!" respondi, deixando o celular em
cima da cama e indo tomar banho.
Pelo menos aquela festa havia trazido consequencias
boas ao invés de só ruins. Agora eu sabia que Thur se preocupava
comigo. A questão era: Ele se preocupava por interesse ou de verdade?
Capítulo 8 - Pegou pesado!
Sexta-feira, dia 6 de Novembro, 10:37, intervalo do Elite Way.
Guys:
- Eu não acredito nisso! - Pedro exclamou, olhando
Rayanna descer as escadas para o outro pátio com Mel e Sophia. - Sério,
acho que essa foi a coisa mais bizarra que já me aconteceu! Eu fiquei
com a última pessoa do mundo que pensei que ficaria e não me lembro de
absolutamente nada! Agora não sei se foi bom, se foi ruim, se eu gostei,
se eu odiei…
- Relaxa, velho, o churras do Micael é amanhã, você tem o dia inteiro pra descobrir! - Micael disse.
- É isso o que você pretende fazer, Borges? - Chay perguntou, arrancando algumas risadas de Pedro.
- Vai se foder, Chay, a Mel tava se jogando em cima
de você e você não fez nada, nem vem tirar uma com a minha cara… - ele
murmurou, estressado, pois estávamos zoando com ele desde a primeira
aula.
Eu ri e abaixei os olhos, abrindo o celular quando o
senti vibrar. Havia respondido à Lua que eu tinha um maço fechado de
cigarros e só daria à ela se ela viesse maquiada para a escola, como seu
primeiro teste, e ela havia acabado de responder: “Estou estacionando,
pode tirar o maço da bolsa!”. Guardei o celular no bolso e levantei os
olhos, procurando por ela, mas ao invés de encontrá-la, encontrei
Pérola,Michel, Kátia,
Fábio e Carlos, alguns dos nossos amigos do terceiro ano, andando em nossa direção.
Engoli a seco. Aqueles eram meus “amigos” de longa
data. Aqueles que ferrariam com a minha reputação se encontrassem
qualquer coisa de errado nas minhas atitudes ou amizades.
Engoli mais uma vez a seco.
Algo daria muito errado naquela situação. Eu sabia que daria.
- Arthur Aguiar, o queridinho do Brasil! – Faábio
exclamou, me cumprimentando. Pérola sentou-se ao meu lado, depois de
cumprimentar todos os guys, e quando percebi, todos estavam sentados em
volta de nós. - Quando vocês vão começar a tocar nas rádios, eim!? Pra
eu poder dizer que tenho um amigo famoso!
- Ah, cara, espero que logo. - respondi, olhando
mais para o pátio do que para ele. De longe, avistei Lua atravessar os
portões com a mochila nas costas e vários livros nas mãos. Logo de cara
percebi seu All Star preto básico surrado e seu uniforme um pouco mais
feminino, mesmo que ainda fosse alguns números maiores. Seu cabelo,
agora com alguns fios meio dourados, brilhava embaixo do Sol e seu rosto
estava impecavelmente maquiado.
Uma gata!
Eu não disse isso. Não mesmo.
Olhei para o pessoal que havia se juntado na mesa.
Eles conversavam sobre o que teriam que levar ao churrasco de Micael.
Olhei novamente para ela, que agora havia me visto e acenado
discretamente com a cabeça, andando em minha direção. Olhei novamente
para o pessoal, e agora eles olhavam para onde eu olhava.
Ai Jesus, ai Jesus, ai Jesus!
Eu teria coragem de fazer o que meus amigos queriam
que eu fizesse depois de ter ferrado com sua vida com a festa da noite
anterior? Depois de toda a ajuda que ela estava dando? Depois de pensar
nela por um bom tempo antes de dormir?
Opa, contei.
- Por que a esquisita tá vindo pra cá? – Kátia perguntou, se olhando num espelhinho de bolsa.
- Sei lá, ela tem uma espécie de fixação por mim. -
menti, sentindo gotículas de suor se formarem em minha nuca. Olhei para
os guys, que me olhavam desacreditados. Dei de ombros, desviando meu
olhar do olhar de censura deles.
- Que loser. – Carlos comentou, agora fixado nela.
- É… - concordei, rezando mentalmente para que ela
mudasse de ideia e fosse embora. - Mas e aí, vamos para outro lugar? -
perguntei, balançando minha perna de nervosismo. Lua estava se
aproximando e uma bola do tamanho de uma melancia se formou no meu
estômago. - Aqui tá muito sol!
- Não, agora eu quero ver o que vai acontecer aqui! – Michel comentou, com maldade nos olhos.
A cada passo que ela dava meu coração se acelerava
mais. Eu suava frio. Sabia o que faria se ela falasse comigo na frente
de todas aquelas pessoas. Faria o mesmo que sempre havia feito com todos
que tentavam se aproximar de mim e do meu grupo: Seria grosso, nojento e
idiota.
Mas por que tinha que ser ela? Por que ela não percebia que algo estava errado e ia embora?
Ela sabia da minha reputação, viu quem estava ao meu lado, por que simplesmente não ia EMBORA?
Apertei as têmporas com os dedos.
Talvez ela pensasse que tudo o que falavam sobre
mim fosse mentira, porque nunca havia falado comigo antes de eu ter
precisado dela, então meus alvos de zombações eram outros, e seu nome e
de suas amigas só entravam em pauta quando nos cansávamos de zoar as
mesmas pessoas. E agora ela estava ali, chegando perto de mim, e eu
sabia que iria magoar a única menina que fora boa comigo sem segundas
intenções.
Era demais pra mim. Eu teria um infarto ali mesmo.
- Oi, Thur. - ela finalmente disse, ignorando as
risadinhas que ecoaram na mesa. Sabia que os olhares dos guys estavam
cravados nas minhas costas, porque Lua já havia se tornado uma grande
amiga em menos de uma semana, e eu sabia que eles não iriam se meter na
conversa, mas esperavam uma reação de homem vinda de mim, não de garoto.
Que eu tinha certeza que não conseguiria dar. Não em frente àquelas pessoas.
Entre homem e saco de pipocas, naquela situação eu escolheria a segunda sem pestanejar!
Fábio, o mais centrado de todos ali, viu que aquilo não seria legal e comentou:
- Se eu fosse você iria embora daqui.
Olhei para ela, suplicando para que ela entendesse o
recado e saísse dali o mais rápido possível, mas ela simplesmente me
olhou nos olhos, como se não estivesse entendendo nada.
Então eu soltei, de uma vez só:
- Tá falando comigo? - perguntei, levantando a
sobrancelha.Kátia e Pérola soltaram uma gargalhada gostosa, e Carlos e
Michel sorriram sarcásticos.
- Acho que não tem nenhum outro Thur por aqui. -
ela disse, começando a sacar o que estava rolando. Deu um passo pra
trás, na defesa.
- Bom, se está querendo falar com esse Thur aqui,
está perdendo seu tempo. - comentei, entortando a boca num sorriso. -
Ele não está interessado.
- Uuuuuh! - Carlos e Michel soltaram ao mesmo
tempo, Fábiobufou, virando os olhos, e Kátia e Pérola se contorciam de
tanto dar risada.
Senti as mãos de Micael nos meus ombros, me censurando, mas agora que havia começado, não voltaria atrás.
- Por que você não volta pro seu pátio de
perdedores que lá é o seu lugar e deixa quem é agradável aos olhos aqui
no pátio de cima? - perguntei, rindo. Quando vi que os quatro riam tanto
ao ponto de fechar os olhos, fechei o rosto e olhei para ela, tentando
explicar o que estava acontecendo. Mas com certeza ela não entenderia
minha situação. Quero dizer, eu estava sendo um belo de um canalha pra
manter o status quo, sendo que ela, a pessoa que mais estava me ajudando
no últimos dias, estava sendo magoada.
- Me desculpe por atrapalhar. - ela murmurou,
trincando o maxilar e puxando de volta uma gota d’água que quase
escorrera por seu rosto. - Não pretendo mais ocupar seu tempo.
Então ela se virou e foi embora, pisando duro.
- Ai, caralho, Thur, você é foda! – Michel disse, ainda rindo.
- Thur, preciso ir. - Pérola anunciou,
levantando-se e me dando um beijo no canto da boca. - Me liga mais
tarde. - terminou, sussurrando. Kátia foi com ela e as duas sumiram
entre as pessoas. Logo um Fábio emburrado, Carlos e Michel foram também,
me deixando sozinho com Micael, Pedro e Chay.
Virei-me para eles, já esperando a bronca.
- Cara… - Micael começou, mas segurou a língua.
- É, eu sei, eu fui um animal. - eu disse, suspirando. - Mas o que eu poderia fazer?
- O que você poderia não ter feito, não é, Thur? -
Chay disse, visivelmente estressado. - Eu sei que a gente vive zoando o
pessoal, mas nunca humilhamos alguém desse jeito. Ela não merecia isso, é
uma garota legal com um ótimo coração,
- É, velho, sou seu amigo, mas dessa vez você foi muito escroto. - Pedro disse.
Fiquei quieto, pensando na besteira que havia
feito. O sinal bateu e nos levantamos. Fui atrás dos guys, com as mãos
nos bolsos, pensativo. Será que meus “amigos”, que nunca haviam feito
nada para me ajudar, valiam tudo aquilo? Uma posição idiota na escola
era o suficiente para fazer com que eu magoasse uma pessoa tão
especial!?
Eu era assim tão idiota?
- Falou, gente. - Chay disse, assim que chegamos no
primeiro andar. Ele e Pedro tinham geografia, Micael tinha psicologia e
eu tinha educação física. - E, vê se pede desculpas pra Lu!
- É, cara, foi mancada. - Pedro concordou.
- Pegou pesado demais, Thur. - Micael terminou, antes de me deixar ali sozinho, com o maior peso na consiencia.O que eu tinha feito?
continua....
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