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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

The Divide

                               

Capitulo 7



                                
Capitulo 7 p. 1 Comporte-se Miss Blanco
Na manhã seguinte, eu acordei disposta. Já havia se passado muito tempo desde que meu pai faleceu e cada vez mais eu tinha a certeza que eu realmente permaneceria naquela casa, e que lutar contra esse fato só pioraria as coisas. 
Por ser inverno nessa época do ano, eu não dispensava o casaco que Katia havia me emprestado. 
Quando eu desci as escadas, eu escutei vozes vindo da cozinha, e não pareciam somente de Pedro e Katia. Caminhei até lá, para ver o que acontecia: 
Lua: Bom dia!
Eu sorri, vendo muita gente em pé, e Pedro conversando com elas. Umas 5 pessoas eu acho e eu nunca tinha visto nenhuma. Eu continuei lá, parada na porta da cozinha, as observando e Pedro veio até mim, com seu sujo macacão de sempre:
Pedro: O Sr. Aguiar contratou essas pessoas para trabalhar aqui. 
Eu abri os olhos: 
Lua: Mais gente? Mas o que ele vai fazer, dar uma festa?
Pedro: Eu não sei, criança. Mas estou a fazer a divisão de tarefas. Quer me ajudar?
Ele esbanjou um sorriso pidão.
Lua: Não, seu Pedro, eu deixo pra você. Mas fico observando. 
 Eu continuei lá, parada porta e as vezes pegava uma das pessoas me olhando de canto de olho. Tinham 2 homens e 3 mulheres, todos bem apessoados, com boa postura. 
Pedro falava tudo em inglês e isso fez com que eu sentisse raiva de mim mesma por nunca ter prestado a atenção o bastante nas aulas de inglês que tinha na escola. Eu ri quando eu lembrei o que eu costumava a dizer: Pra quê aprender inglês se eu nunca vou morar lá?. Que ironia do destino! 
Após conversarem bastante, Pedro lhes entregou pacotes e todos se dispersaram, passando por mim e falando alguma coisa que eu deduzi ser: Bom dia! Logo que saíram, Pedro caminhou sorridente até o meu lado: 
Pedro: Pelo menos você vai ter mais companhia, criança!
Eu sorri e o convidei para tomar café da manhã, que com muita relutância ele aceitou. Então, colocamos a mesa, com poucas comidas, como pão, manteiga, alguns biscoitos e suco. Nos sentamos e logo eu perguntei:     
Lua: Onde está Katia?
Pedro: Foi fazer compras. 
Lua: Hum...E, seu Pedro...O Sr. Aguiar sempre faz viagens longas assim?
Pedro: Nem sempre, mas as vezes é necessário. Ele não diz muita coisa para nós.
Lua: Entendi.
Eu queria perguntar muito mais coisas, mas me contive, eu sabia que Pedro não ia responder nem a metade delas. 
Antes de terminarmos o café, Katia apareceu com poucas sacolas, mas tremendo de frio. E logo a convidamos para juntar-se a nós e tomar uma xícara de café, e ela não recusou. 
No momento eu fiquei sei lá, feliz sabe. Olhava a minha volta e tinha uma mulher gentil, e um homem atencioso e senti saudade de quanto eu, meu pai e minha mãe sentávamos à mesa assim. Talvez Katia e Pedro fossem minha nova família, apesar de serem ótimas pessoas o buraco da perda de meus pais, ficaria aberto para sempre no meu peito.

Antes que pudéssemos terminar o café da manhã, o interfone nos avisava que alguém nos chamava do lado de fora da mansão. Rapidamente, Pedro foi atender e eu e Katia nos entreolhamos. Eu não sei Katia mas eu pensava: Essa casa está movimentada hoje!
Poucos minutos depois, Pedro volta acompanhado de um senhor baixo com barbas ralas e cabelo penteado para trás: 
XxXx: Bom dia!
E eu pensei: Todo mundo deu pra falar português agora? 
Lua: Bom dia, senhor...
XxXx: Oliveira. – Ele estendeu a mão e eu prontamente me levantei da cadeira e o cumprimentei. – Sou Alberto Oliveira, seu professor de inglês.
Pedro estava parado atrás dele, e eu olhei para Katia que continuava sentada na cadeira com expressão neutra, não entendendo nada o que ele falava. E eu tentava entender o quão surreal era aquilo tudo, mas cada tentativa, era uma enorme frustração:
Luar: E o senhor vai me ensinar inglês, aqui? 
Alberto: Sim, Miss. Blanco. 
Eu cocei a cabeça e aproveitei a oportunidade para perguntar:
Lua: Bom, então o senhor poderia me dizer porque todo mundo me chama de Miss? 
Ele fez uma careta e rolou com os olhos, tendo certeza que de teria muito trabalho comigo. 
Alberto: Porque ainda é jovem, suponho que não seja casada, então aqui Senhorita se diz Miss, e Blanco porque nos referimos a pessoas pelo seu sobrenome. Então aqui a senhorita é Miss. Blanco. 
Lua: Hum, entendi. Então... – eu gaguejei. – Vamos começar.

Capitulo 7 parte 2

Ele me perguntou sobre o melhor lugar para começarmos e eu indiquei a biblioteca, achei que nada mais propício. E como eu já imaginava ele era bem rigoroso para um baixo. 
Não perguntou nada sobre mim, como o que eu fazia ali, onde eu vivia e porque não sabia falar inglês... simplesmente começou a me dar aulas, e toda vez que eu errava ( eu errava bastante ) ele batia com uma régua de madeira na mesa, fazendo um barulho estrondoso. O que me assustava.
Horas se passavam e ele não ia embora, e quando meu suor de desespero começava a descer eu me apavorava mais ainda. Eu simplesmente era uma negação com o inglês, e ele só falta me bater, dizendo que era loucura eu não saber nem falar ‘oi’. Mas por mais que eu o escutasse repetir uma palavra 10 vezes, eu sempre repetia errado. 
E ele caminhava pela grande sala, gritando as palavras e pedia que eu as repetisse. 
Eu sei que ficamos horas lá dentro daquele matadouro, o nervoso que eu sentia toda vez que ele batia aquela régua era fora do comum e quando eu estava prestes a expulsa-lo de lá, ele mesmo deu a palavra final: 
Alberto: Eu vou embora. – E assim, recolheu seu maleta. – Mas amanhã eu volto Miss. Eu não sei nada! 
Ótimo, agora eu tinha um apelido! 
Alberto: Entrarei em contato com o Sr. Aguiar, e falarei sobre esse nosso...lamentável encontro.
Eu me enfureci, se ele quisesse me chamar de burra, era só falar! Eu logo me levantei, o acompanhando até a porta, e antes que ele deixasse a casa eu falei:
Lua: E quando o senhor falar com ele, diga que eu o mandei ir à merda! Obrigada! 
E bati com força a porta na cara dele.
Eu não podia descrever o ódio que eu senti do Aguiar naquele momento. Eu seria forçada a aprender inglês? Eu nunca gostei de inglês! E ainda teria que escutar um nanico falar que eu sou imbecil, pode isso? 
Eu sai pisando fundo até a cozinha e Pedro me olhou curioso, observando minha expressão de raiva:
Pedro: Como foi?
Lua: Horrível, Pedro. Eu não sei nada disso, nunca quis aprender. – Eu dizia alto, fazendo gestos com as mãos, raivosa! 
Pedro: Tenha paciência, criança. 
Lua: Não dá. Eu não sei... enrolar a língua e ... falar. – disse fazendo caretas.
Ela ria, para me acalmar.                 
Pedro: Como não? Eu um velho, burro, e feio sei falar, porque uma moça bonita não aprenderia também?
Eu acabei rindo dele. 
Pedro: É só ter paciência, criança. Vai dar certo!
Eu acenei positivamente, e ele encostou o dedo indicativo na minha testa a empurrando de leve e rindo. 
Pedro: Agora vamos trocar essa atadura? Acho que será a ultima vez!
Ele comentou e nos fomos para o jardim.
A tarde diferente da manhã, correu como de costume. Os meus ferimentos da mão estavam quase cicatrizados e em poucos dias eu já poderia tirar a atadura. 
No meio da tarde, eu sentei no gramado, sozinha, observando de longe, Pedro falar com os novos funcionários, que seriam 2 seguranças e 3 faxineiras. Eu não cheguei a falar com nenhum deles, porque não falava inglês, mas eles as vezes riam para mim. E como Pedro falou:  Pelo menos, seria mais gente pra cuidar de mim !
À noite, eu ajudava Katia a por a mesa, com uma pequena e simples refeição, já que o todo poderoso estava fora. Mas como tínhamos mais funcionários a comida tinha mais que dobrado. Pedro me falou que alguns iam para casa cuidar da família e outros ficavam na casa para funcionários que tinha em anexo à mansão, lugar onde o Pedro e a Katia também dormiam. 
Quando estávamos prestes a sentar à mesa, o interfone toca e eu torci para que não fosse nenhum imprevisto. 
Mas antes mesmo de Pedro entrar na casa, acompanhado da visita, eu já imaginava quem era: 
XxXx: Boa noite! 
Eu sorri, indo cumprimenta-la. 
Lua: Boa noite, senhorita Lauren. Como vai?
Lauren: Bem, obrigada. Preparada para a sua aula?
 Eu torci os olhos. 
Luar: Agora? Mas...nós vamos jantar. 
 Eu gaguejei, apontando para o Pedro e Katia que estava atrás de mim, apostos. Ela riu e acenou positivamente. 
Lauren: Eu espero. Onde fica seu quarto? Quero começar a arrumar o nosso material.
Ela dizia, apontando para a grande bolsa de couro que carregava no ombro. 
Eu dei as coordenadas para ela, e pensei comigo:   Agora sim eu entendi porque Pedro falou: O show vai começar!

apitulo 7 parte 3
O jantar se seguiu em silencio, por consideração a mim, eu supus. É claro que eu estava ciente, que se o que Pedro me falou sobre casamento, mas se fosse realmente verdade, seria um desastre. E tudo o que acontecera nos últimos dias só me dava mais certeza de que realmente era isso que ia acontecer, mas o todo poderoso da casa não voltava da tal viagem, dias se passavam e nada. Tudo aquilo só me enojava mais, fazia com que eu tivesse raiva de mim mesma por estar naquela situação.
Eu comi pouco e sem vontade alguma, deixei comida no prato e me retirei, para atender minha visita que me esperava no quarto. Eu subi e bati na porta duas vezes:
Lauren: Pode entrar, Miss. Blanco. 
Eu respirei fundo e abri a porta. E a minha cama estava tomada por objetos, e enquanto eu entrava lentamente do quarto eu olhava tudo o que ela fazia: 
Lauren: Desculpe me apossar da sua cama assim, mas é necessário para começarmos.
Tinha milhares de roupas, incontáveis sapatos altos, livros, revistas e eu pensei se ela tinha tirado tudo aquilo da pequena bolsa que carregava. 
Eu olhei para ela, assustada, mas ela ao contrario de mim, sorria, aparecia ansiosa com aquilo: 
Lauren: Bom, basicamente, eu vou te ajudar em tudo o que você precisa ser para tornar-se uma verdadeira dama. 
Lua: E eu vou ter que usar tudo isso?
Lauren: Bom... estamos começando agora, devemos ir com calma.
 Bom, pelo menos ela não tinha régua de madeira.
Eu me sentia desolada, era como se eu tivesse que me encaixar naquele mundo sabe. Aprender inglês, usar salto alto, e vestidos caros... isso não fazia meu gênero. Eu sempre usei Jeans e o velho all star, não poderia virar uma dama da alta sociedade americana. Mas a boa vontade de Lauren me contagiava, e eu me esforçava um pouco para tentar fazer o que ela me pedia. 
Inicialmente trabalhamos com os livros, que como em muitos filmes eu teria que caminhar com livros em cima da cabeça. 
Ela disse que era para corrigir a postura, para dar leveza ao corpo, que eu não deveria parecer um cavalo caminhando pela casa. E disse também que estudou muitos anos em são Paulo, por isso falava tão bem o português. 
Lauren, ao contrario do senhor Alberto, era muito gente boa, paciente e não parecia ter mais de 30 anos. Tinha olhos verdes, e cabelos castanhos claros, super carinhosa e me adiantou logo que iríamos ter meses de trabalho. 
E foi o que realmente aconteceu. Eu tive
 meses de trabalho com ela e com o senhor Alberto. Um dia desses, no meio da terrível aula de português, Pedro comete o terrível erro de entrar na biblioteca, fazendo o senhor Alberto quase morde-lo de ódio, mas ele teve coragem:
Pedro: Desculpe interromper a sua aula, senhor. Só queria desejar feliz natal para a Miss. Blanco. 
E ele se aproximou de mim, me tanto um beijo na testa e saindo rapidamente do lugar. 
Aquele gesto me fez perceber que minha vida tinha se tornado tão repetitiva que eu esquecera os dias. Era meia noite de natal e eu estava tendo aulas de inglês com um monstro não-religioso. E só de pensar que semanas atrás eu estava saindo com o meu pai para fazer compras de natal eu sentia raiva com o que a vida fez comigo, raiva por cair de pára-quedas nessa, raiva por passar 18 horas do meu dia estudando inglês e etiqueta.
E assim eu passei
 dois meses. Em horas incansáveis, todos os dias eu estudava. Todos os dias eu era obrigada a falar perfeitamente cada palavra em inglês e toda noite eu sentia raiva de mim mesma por me deixar viver nessa situação. Mas um dia isso tudo ia mudar, nem que o todo poderoso tivesse que morrer, pra eu ser livre de novo. E eu faria jus a morte do meu pai e acataria do meu jeito a ultima frase que ele me falou antes de morrer: - Não se esqueça de fazer o dever de casa. E uma dessas noites eu sussurrei para mim mesma antes de dormir: 
Lua: Eu vou fazer o dever de casa, pai. E ele vai se arrepender do dia em que pisou na nossa casa!
Estávamos no final de janeiro, um dia antes do meu aniversário, e ninguém sabia dele. Eu fiz questão de não contar nada pra ninguém, porque com certeza eu já tive aniversários melhores, e mesmo se eu apagasse as velas pra fazer um pedido, não seria possível realiza-lo. Eu já tinha me conformado que meus pais haviam morrido e que eu definitivamente morava nos Estados Unidos. Claro que morar naquela casa sem ter que olhar para do todo poderoso era muito mais fácil, mas não dizia que ele nunca mais fosse voltar, afinal de contas ,ele era o dono daquilo tudo.
E as aulas, aff, as terríveis aulas de inglês continuavam, cada dia piores e mais difíceis mas eu tinha me conformado em tentar fazer tudo certo, porque se eu entrasse na linha e mostrasse pro Donavan que eu sou mais do que aquela criança rebelde, ele veria do que eu sou capaz. Então com horas e horas diárias de aula, sem pausa, sem feriados ou finais de semanas livres eu aprendi o inglês. Bom, vivendo numa casa onde todos os funcionários falavam inglês, era mais fácil você se acostumar com o idioma, no começo até o Pedro começou a falar algumas palavras em inglês nas frases, mas agora ele já falava tudo em inglês comigo e eu o conseguia acompanhar. E era bom para que eu me adaptasse melhor. Mas mesmo assim, eu ainda tinha aulas com o Alberto, que apesar de rigoroso, era um professor bom. 
( Lua começa a falar inglês o tempo todo, a partir desse post )



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